segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

POR UMA SONORA GARGALHADA, AO RITMO DO MANIFESTO ANTI-DANTAS







Dizem que Armando Vara é o novo nome de Paulo Teixeira Pinto, isto é, que o PS já substituiu o PSD, na função de aliado preferencial da direita dos interesses, isto é, nesse conúbio de oportunismo capitaleiro com o castífero ver se te avias.







Entretanto, recebo cartas electrónicas, onde um socialista de sempre me descreve o país real: o cenário é desolador. Os cérebros estão atrofiados, a mentira é rainha reconhecida, a mediocridade tomou conta de tudo. A escuridão apoderou-se de tudo. Mesmo os que contém alguma capacidade crítica, rapidamente dela abdicam a troco de uns míseros soldos.


Todos estão a funcionar por objectivos, mas são objectivos que se resumem à posse de um automóvel um pouco mais comprido, de uns fatos um pouco mais caros, ou de uma casa com mais uma assoalhada.




No fundo, todos os dominantes procuram o pé de meia, depois de se cansarem das estúpidas utopias que ora nacionalizaram os antigos patrões, ora se tornaram empregados dos novos ricos que os mesmos geraram. Porque, afinal, tudo continua como dantes, isto é, com os eternos donos do poder, dado que apenas variam os feitores, os capatazes, os regedores, os propagandistas e as homilias.

Infelizmente, a classe política a que chegámos satisfaz-se com reformas, aposentadorias e uns lugarzecos na mesa do orçamento ou da fiscalização bancária, assim se tornando patente a impotência de um poder político, fácil presa tanto do neocorporativismo das velhas ordens do partido dos funcionários, como do neofeudalismo do permanecente partido da fidalguia.

E não há pronúncia do Norte, fazedora do agenda setting da oposição, que, na sua metralha de criação de factos políticos, consiga disfarçar o óbvio: o triunfo do cepticismo gerado por Fontes Pereira de Melo, de que Cavaco Silva e o respectivo Bloco Central são os legítimos herdeiros, como se demonstra pela discussão sobre a cabeça que vai engalanar a Caixa Geral de Depósitos onde o CDS já colocou a sua ex-ministra da justiça.
Porque se a escolha recair entre Miguel Cadilhe e Manuel Dias Loureiro, que venha o Proença de Carvalho desempatá-la, dado que Ângelo Correia tem que continuar a fazer discursos de bota abaixo.





E depois de tudo isto, nem Sócrates pode gozar de umas curtas e retemperadoras férias, sempre com esta sarna, com muitos pés de Berardo e cócegas de Menezes, quando estas coisas sempre foram resolvidas eclesiasticamente, atrás das cortinas, ou por debaixo da mesa, de maneira a que a democracia fosse salvaguardada, isto é, que o povão não percebesse quem efectivamente manda, neste mundo esotérico do grande capital, feito de muitas quintas, quintais e quintarolas, onde todos jogam à bisca lambida da canasta, sem que nos emprenhem de ouvida no telejornal.

Ingratos lusitanos, descendentes do Oliveira de Figueira, que não reparam como já escalámos o promontório dos séculos, conquistando um lugar no céu dos princípios.
Hoje não há fome, peste ou injustiça, dado que o presente presépio é esta renascida belle époque, onde as criancinhas já não precisam de aprender o abcedário nem a tabuada, bastando-lhe as consolas da nintendo.




Neste Natal, da conspiração de avós e netos, com as televisões em transmissões tipo RTP-Memória, entre José Hermano Saraiva e Mário Soares, com intervalos de Manuel Oliveira e José Saramago, todos somos sepulcros caiados de branco, escrevendo relatos de além túmulo, na eterna conspiração de avós e netos.
Por outras palavras, precisamos que um qualquer Almada venha emitir novo manifesto anti-Dantas, porque muitos já estão fartos de casacas acolchoadas, sapatinhos de verniz a ombreiras almofadadas, com o consequente conceito de pátria portuguesa.



O meu feliz Natal existiria se meia dúzia de inconformistas se juntassem, saudando o nascer de novo, nem que fosse para a emissão de uma sonora gargalhada ao ritmo do tal manifesto anti-Dantas:


Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi.
É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos!

É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra!
PIM!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é um habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

Não é preciso ir pró Rossio para se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se para se ser salteador, basta escrever como o Dantas!

Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos!

Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões!

Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
ODantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto dele próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Dantas!

E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!

E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa?

Não Mil vezes não!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo!

O país mais selvagem de todas as Áfricas!

O exílio dos degradados e dos indiferentes!

A África reclusa dos europeus!

O entulho das desvantagens e dos sobejos!

Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! PIM!

José de Almada Negreiros

Poeta d'Orpheu

Futurista

E Tudo


JAM

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9 Comments:

At 24 de dezembro de 2007 às 17:12, Anonymous Anónimo said...

UM SÍMBOLO

O nosso banco - o meu banco e o seu banco - devia ser o exemplo da solidez, da segurança, da respeitabilidade: a certeza de que o nosso dinheiro - o meu e o seu dinheiro - estava em boas mãos: mãos sábias, mãos prudentes, mãos de uma inatacável virtude. Sobretudo, se esse banco era o Millennium-BCP, o maior de Portugal, fundado e dirigido por uma espécie de Madre Teresa das finanças, perto da beatificação, o muito venerado Jardim Gonçalves. Mas, de repente, o Millennium-BCP entrou numa agitação inexplicável. Jardim Gonçalves saiu solenemente para a reforma e parece que se arrependeu e quis voltar. O sucessor resistiu. Accionistas peroraram e não se coibiram de insinuar. Assembleia geral atrás de assembleia geral aumentou a confusão. Personagens pouco cardinalícias, como Joe Berardo, ocuparam o centro da cena. E o depositário, entretanto, tremia.

Houve uma OPA, que falhou, e a seguir uma tentativa de fusão, que tornou a falhar, e a seguir uma nova direcção, que logo do princípio tinha um ar efémero. Cada vez se percebia menos da história, quando caiu o tecto. Uma denúncia de ilegalidade e descaminho de 200 milhões chamou ao nosso banco (ao meu e a ao seu), que guarda o nosso dinheiro (o meu e o seu), a Procuradoria-Geral da República e o Departamento de Investigação e Acção Penal. E o caso não ficou por aqui, perdido nesse perpétuo nevoeiro que por aqui sempre afoga devaneios do género. Na pessoa do dr. Vítor Constâncio, veio agora a intervenção majestática do Banco de Portugal e, na pessoa de Carlos Tavares, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), e até a Securities and Exchange Comission, uma autoridade americana, já se meteu zelosamente no assunto. O nosso banco (o meu e o seu), com quem contávamos como se conta com as pirâmides do Egipto, anda claramente aos tombos.

Anteontem, segundo uma fonte fidedigna, Vítor Constâncio ofereceu um conselho aos membros da actual administração: que não se candidatassem à próxima. Nem eles, nem qualquer das luminárias que geriu a coisa entre 1999 e 2007. Dizem, segundo a mesma fonte, que para evitar alguma situação de embaraço. É triste que uma instituição privada (e uma instituição privada desta importância) chegue onde chegou em tão pouco tempo. Não se engana quem desespera do capitalismo português. Corre, de resto, que o presidente da Caixa Geral de Depósitos irá daqui em diante mandar no Millennium-BCP. Simbólico.

Vasco Púlido Valente
No:PÚBLICO

 
At 24 de dezembro de 2007 às 17:13, Anonymous Anónimo said...

Um vizinho e companheiro na passeata canina indigna-se com o episódio BCP e com o "quem apoia quem" dentro do regime de que o referido episódio, aliás, emana. Sugere-me o editorial do José Manuel Fernandes no Público. Santos Ferreira geriu as finanças do PS quando Constâncio (Vitor e não Jorge, como por lapso consta no editorial, ou estaria JMF freudianamente a pensar em Jorge... Coelho?) e Vara é... Vara. Os outros também são do regime, umas vezes do lado do PS, outras do PSD, praticando ampla transumância entre lugares políticos e a gestão pública ou para-pública. Como expliquei ao meu vizinho, os homens do regime são como Júlio César: homens de todas as mulheres e mulheres de todos os homens.

 
At 24 de dezembro de 2007 às 17:16, Anonymous Anónimo said...

Não me apetecia nada falar deste personagem numa véspera de Natal, mas tem-se falado tanto de Bancos, de trafulhices, dos trafulhas, dos golpes de milhões que não podia deixar de apresentar aqui o Presidente do Banco de Portugal, a entidade reguladora que parece não regular grande coisa.
Só quando o escândalo do BCP se tornou publico e caiu nas bocas do mundo é que apareceram a mostrar serviço.
Há muito que muitos temos a ideia da existência de uma banca corrupta, financiadora de negociatas milionárias, de compadrios, de corrupção que vai das empresas aos governos.
Quase sem pagarem impostos mexem em milhões com lucros fabulosos, em momentos em que tanto se fala de crise.
Quem não se lembra de ver o nome do BES aparecer em diversas suspeitas de negociatas, como aconteceu com os sobreiros do CDS, quando o Balsemão resolveu apertar com eles nos seus órgãos de comunicação. Claro que imediatamente apareceu a ameaça de cortes da publicidade do banco que lá se devem ter entendido, a publicidade está aí e as noticias desapareceram.
Agora foi a vez do BCP, mas aí não houve publicidade que os salvasse. Lá teve o Constâncio de fazer alguma coisa e, tais eram as aldrabices, que foi tudo para o olho da rua.
Agora todos só querem que isto acalme e tudo volte a ser como era. Há negócios a serem feitos e outros para fazer.
Talvez por isso o Menezes ande tão preocupado em não perder o comboio.

 
At 24 de dezembro de 2007 às 19:17, Anonymous Anónimo said...

Esta Democracia está podre por dentro e já se começa a ver alguns toques dessa podridão do lado de fora.

Qualquer dia cai, de tão podre que está.

Cai, cai.............

 
At 25 de dezembro de 2007 às 14:33, Anonymous Anónimo said...

«O convite feito por Carlos Santos Ferreira a Armando Vara para integrar a próxima administração do Banco Comercial Português (BCP) está a acentuar as divisões existentes entre os principais investidores do grupo financeiro e que pareciam ter sido suavizadas, num primeiro momento, com a intervenção do Banco de Portugal (BdP).»
No:Público

Das duas uma, ou a Opus Dei consegue converter Vara ou este leva o Millennium para o inferno.

 
At 25 de dezembro de 2007 às 14:49, Anonymous Anónimo said...

Um dos grandes problemas das empresas estatais é que, estando suejeitas à pressão política, não premeiam o mérito.
Ao contrário do que acontece em qualquer empresa privada, escolhem para administradores pessoas sem currículo nem preparação, apenas porque são de um determinado partido político.
Numa empresa privada, porque tem de pensar no lucro dos seus accionistas, tal seria impossível.

Um exemplo.
Ao contrário do que aconteceu há uns anos na Caixa Geral de Depósitos - que nomeou para a sua Administração um dirigente socialista que tinha como única experiência bancária ser funcionário de balcão numa dependência da CGD em Mogadouro e nenhuma preparação económica ou financeira -, aos accionistas de um banco como o Millenium/BCP nunca lhes passaria pela cabeça oferecer um lugar relevante a alguém sem preparação, apenas por essa pessoa ser do PS.
A banca estatal é prejudicial para economia: é dirigida por clientela política, faz favores e ajuda os amigos em vez de se dedicar aos seus negócios.

 
At 25 de dezembro de 2007 às 14:50, Anonymous Anónimo said...

-Uma OPA do consórcio PS/CGD ao BCP, sem passar pela CMVM. Pormenores desconhecidos, dado o acordo do comendador, que assim deixará de transmitir informação na praça pública.

 
At 25 de dezembro de 2007 às 14:52, Anonymous Anónimo said...

O Chapallimaud teve a mãozinha do ESTADO para comprar o Totta, com os resultados conhecidos…

O BCP teve a mãozinha do ESTADO para comprar o Sotto Mayor….

O BCP quando entra em descalabro tem a mãozinha do EATADO para se aguentar…

E defendem estes banqueiros a iniciativa privada,

POIS…

 
At 28 de dezembro de 2007 às 19:58, Anonymous Anónimo said...

A escaramuça levantada em torno da eventual subida de Armando Vara aos céus do BCP - abençoado por várias extraordinárias figuras de accionistas, desde o improvável Berardo ao ex-jornalista Ulrich cuja intervenção foi considerada "decisiva" pelos "especialistas" - vale a pena? Quando ele foi para a administração da Caixa, levantou-se idêntica escaramuça. Aí, porventura com mais razão do que agora. Agora, se bem que curta, o homem já possui alguma biografia na matéria. E não deve ser constantemente perseguido por ter tido a ideia de criar uma fundação paralela à então Prevenção Rodoviária Portuguesa, por ter concluído um curso superior na defunta Independente, numa premonitória antecipação das "novas oportunidades", ou por ter sido sócio de Sócrates e de outros numa empresa de gasolinas na Amadora onde foi candidato a presidente de câmara. Como diria o velho Shakespeare, ele é o que ele é. A questão, parece-me, é outra. Vara não deve nada do que é presentemente na banca à banca. Deve-o apenas ao currículo partidário e governativo. Ele e outros, de outros ou do mesmo partido. Assumir isto, os tais extraordinários accionistas assumirem isto, representa uma mudança de paradigma relativamente ao maior banco privado português - e, por tabela, ao sistema bancário nacional -, já que a CGD faz, por natureza, parte do bolo repartível entre o "centrão" mais um: o PP depois da reciclagem no governo. As últimas desvergonhas perpetradas pelas derradeiras administrações do BCP, nas quais só agora Constâncio reparou, autorizaram o avanço das patrulhas partidárias. Uma carreira puramente partidária, boa, má ou assim-assim, passou a ser mais cotada do que uma carreira exclusivamente ao serviço da gestão bancária. A culpa é de Armando Vara?

 

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