sexta-feira, 29 de maio de 2009

ESCOLHAS MORAIS E ACTOS PESSOAIS

O escrutínio de 7 de Junho talvez esclareça alguns equívocos. Durão Barroso não tem a vitória garantida, apesar do apoio de três valentes socialistas: Brown, Zapatero e, claro!, Sócrates.
A Direita, que manda na Europa, através de Bruxelas, torce o nariz quando ouve o nome.
O homem tem sido a encarnação de tudo e a representação de nada.
Não se apoia em convicções, nada fez que deixasse marca, segue a rosa dos ventos. E há quem lhe não perdoe o haver sido o mordomo da Cimeira da Guerra, nos Açores, quando Bush, Aznar e Blair decidiram bombardear o Iraque, enquanto Durão, numa esplanada, bebia um cafezinho.


A sagrada união, que funcionou para a carnificina, resultará, de novo, para a reeleição do português? Nada me move contra ele, a não ser a visão diferente que tenho das coisas e a concepção de carácter que aplico aos homens. Mas a circunstância de ele ter a minha nacionalidade, não obsta a que o não considere um inepto oportunista. Tudo o que ele defende e significa está nos antípodas do meu percurso e das minhas causas. O último Le Nouvel Observateur informa que ninguém defende o presidente da Comissão Europeia, e não encontra grandes simpatias entre a maioria dos deputados. No entanto, os jogos de bastidores, os interesses dos grandes grupos ali dissimuladamente simbolizados dispõem de um poder capital.

A Imprensa portuguesa não diz, por ignorância ou ocultação, mas o dinamarquês Poul Nyrup Rasmussen, o belga Guy Verhofstadt e o italiano Mário Monti são outras das possibilidades. E com muito mais capacidade e íntegra competência do que Durão Barroso. Daniel Cohn-Bendit, o rosto célebre do Maio de 68, e, como Barroso, ex-maoísta, hoje esfuziantemente abraçado às aventuras do mercado, não se cansa de martirizar o português, com qualificativos sulfúricos.

Aliás, lançou uma campanha, Stop Barroso, na qual as acusações de inépcia se associam a ditos e a anedotas devastadores.

Os candidatos dos partidos portugueses não se cansam de tentar despertar os eleitores, para que a abstenção (prevista e previsível) não atinja valores escabrosos. Mas o pessoal está embaraçosamente desligado. E os candidatos, eles próprios, pouco ou nada de esforçam para que amemos uma Europa completamente desconhecida de muitos de nós. De nós e dos outros.

Os europeus ignoram tudo, ou quase, da história, da geografia, da cultura, das línguas do seu continente. Não temamos, caros compatriotas, as comparações: somos tão ou mais informados do que os outros. É penoso assistir a uma vulgar sabatina aplicada aos diferentes povos. Ninguém sabe nada de nada. Então, para que serve a Europa?

A questão (ou uma das questões) reside nesse busílis. Com um peso decisório muito reduzido e limitadíssima capacidade de impor as suas razões, a Europa é uma organização meramente económica, dirigida pelo eixo Berlim-Paris, com Berlusconi a fazer birras porque também quer mandar. O sistema aplicado, o neoliberalismo, causou uma hecatombe de resultados imprevisíveis, mas cujas parcelas são, já, inquietantes. A Europa não é o que desejavam fosse os seus fundadores. É um território de operações para as grandes jogadas financeiras, para a flexibilização proletária, para as deslocações, consoante dita o mercado. A ideia generosa: uma Europa sem guerras, solidária, generosa e equitativa não passa de mito proposto à nossa candura - e não foi, unicamente, deturpada, foi espezinhada. O capitalismo predador, de que toda a gente fala e que pouca gente combate, sobre o qual escassamente se estuda e reflecte, campeia impante. O cortejo de misérias que consigo arrasta é quase inominável. E a Europa de Bruxelas é uma peculiar máscara do abandono e da servidão. Qual o poder de Bruxelas, ante esta impressionante ofensiva? Nenhum. A retórica não dispõe de energias nem de força para se impor ao ruído das castas vencedoras.

Nenhum destes problemas fulcrais suscitam grandes debates entre os candidatos a parlamentares europeus. O folclore da campanha, com distribuição de prendinhas, ou com a demagogia torpe de Paulo Portas, é nada, coisa nenhuma.

Claro que vou votar. Incrédulo, descrente, mas vou votar. Por exigência moral e por imposição de cultura. Levei metade da vida a defender e a pelejar por coisas tão aparentemente absurdas e inúteis como a liberdade de expressão, a liberdade de reunião, o direito ao voto e o dever de cidadania - que configuraria uma traição eu abstrair-me. Votarei sempre. Em desacordo ou em acordo. Reajo de igual modo quanto às decisões sindicais. Sou um dissidente; porém, se o sindicato decretar greve, lá estarei, na primeira linha, sem outro objectivo que não seja o de me representar na minha total liberdade.

Releio André Gorz, um dos grandes pensadores do nosso tempo: Temos de fazer com as nossas forças entendam o seu imenso poder. E o poder reside nas nossas mais pequenas opções. Ser livre é uma escolha pessoal; mas, antes de tudo, é um acto moral.


B.B.

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12 Comments:

At 29 de maio de 2009 às 21:37, Anonymous L. said...

Concordo!
Em absoluto com o novo imposto sugerido pelo capacho Moreira - candidato da corja - para os "nós" europeus...
Um imposto que taxe a estupidez (dele)...

Nota: Inspirado no provérbio "se a estupidez pagasse imposto estavas todo carimbado"

 
At 29 de maio de 2009 às 23:52, Anonymous Anónimo said...

O que é que isto tem a ver com a Cidade de Ponte de Sor ?.
Se a moda pega, começo a fazer cópia de artigos dos jornais e a colar aqui para a malta se entreter a ler.

 
At 30 de maio de 2009 às 00:06, Anonymous Anónimo said...

CÁ VAI ALHO
Europeias:
Não me calarei sobre o caso BPN - aviso de Vital Moreira a Ferreira Leite
29 de Maio de 2009, 22:57


Marinha Grande, 29 -- O cabeça de lista do PS às europeias, Vital Moreira, avisou hoje a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, que não se calará sobre o caso Banco Português de Negócios (BPN) até ouvir uma explicação da sua parte.

"Alguém devia dizer à líder do PSD uma coisa elementar: neste caso [do BPN] quem pede explicações não é ela são os cidadãos portugueses. Neste caso, quem tem o dever de dar explicações é ela e não eu", declarou Vital Moreira no jantar comício da Marinha Grande.

 
At 30 de maio de 2009 às 13:36, Anonymous J:M. said...

Dias Loureiro versus José Sócrates:
-DIAS LOUREIRO
-Existem suspeitas vagas sobre Dias Loureiro, embora ainda ninguém lhe tenha atribuído um crime concreto. Terá participado num negócio fictício em Porto Rico? Terá mentido ao Parlamento?
-JOSÉ SÓCRATES
-Charles Smith foi filmado a dizer que José Sócrates recebeu dinheiro para aprovar o Freeport. José Sócrates foi o responsável pela aprovação do Freeport nos últimos dias de um governo de gestão.
-DIAS LOUREIRO
-Autoridades portuguesas dizem que Dias Loureiro não está a ser investigado.
-JOSÉ SÓCRATES
-Autoridades portuguesas dizem que José Sócrates não está a ser investigado.
-DIAS LOUREIRO
-Nenhuma autoridade estrangeiras está a investigar Dias Loureiro.
-JOSÉ SÓCRATES
-As autoridades inglesas estão a investigar José Sócrates.
-DIAS LOUREIRO
-Oliveira e Costa diz que Dias Loureiro mentiu. Tinha interesse em dizer que mentiu.
-JOSÉ SÓCRATES
-Charles Smith foi filmado a dizer que José Sócrates recebeu dinheiro para aprovar o Freeport, mas depois desmentiu a acusação. Tinha interesse em desmentir.
-DIAS LOUREIRO
-Dias Loureiro não é arguido.
-JOSÉ SÓCRATES
-José Sócrates não é arguido.
-DIAS LOUREIRO
-Na SLN Dias Loureiro desempenhava funções privadas e tinha responsabilidades perante privados.
-JOSÉ SÓCRATES
-No Ministério do Ambiente, José Sócrates desempenhava funções públicas.
-DIAS LOUREIRO
-Dias Loureiro era Conselheiro de Estado, nomeado pelo Presidente da República. Desempenhava cargo com pouco poder e baixo risco para o sistema. Foi dito que Dias Loureiro descredibilizava o Conselho de Estado.
-JOSÉ SÓCRATES
-José Sócrates é conselheiro de Estado. Até ao momento, ninguém se lembrou de dizer que a sua presença no Conselho de Estado descredibiliza a instituição.
-DIAS LOUREIRO
-Dias Loureiro não era primeiro-ministro.
-JOSÉ SÓCRATES
-José Sócrates é primeiro-ministro. Desempenha um cargo de muito poder e alto risco para o sistema.
-DIAS LOUREIRO
-Dias Loureiro não podia ser demitido pelo Presidente da República.
-JOSÉ SÓCRATES
-José Sócrates pode ser demitido pelo Presidente da República.
-DIAS LOUREIRO
-Investigação do caso BPN prosseguiu de forma normal.
-JOSÉ SÓCRATES
-Investigação do caso Freeport parou durante 4 anos. Lopes da Mota está a ser investigado por ter feito pressões sobre responsáveis pelo processo.
-DIAS LOUREIRO
-Cândida Almeida nunca deu entrevistas sobre o caso BPN.
-JOSÉ SÓCRATES
-Cândida Almeida deu uma entrevista sobre o caso Freeport.
-DIAS LOUREIRO
-Dias Loureiro demitiu-se.
-JOSÉ SÓCRATES
-José Sócrates não se demitiu.

 
At 30 de maio de 2009 às 13:37, Anonymous Anónimo said...

Os dias em Portugal são sempre surpreendentes. Hoje será dia de presunção de inocência ou de condenação na praça pública? Vital Moreira acha que hoje é dia de condenação na praça pública:

Vital Moreira liga “escândalo” do BPN a figuras do PSD.

“Certamente por acaso, todos aqueles senhores são figuras gradas do PSD. E estamos à espera que o PSD se pronuncie sobre essa vergonha, que é justamente a roubalheira do BPN”, disse Vital Moreira, no encerramento do comício de Évora, citado pela “Lusa”.

O constitucionalista da Universidade de Coimbra considerou ainda que “o caso BPN é um escândalo vergonhoso e uma roubalheira”.

“Esse caso do BPN devemos condená-lo, devemos denunciá-lo, porque é um escândalo, uma vergonha de utilização dos dinheiros da economia para efeitos puramente criminosos”, frisou

Amanhã volta a defender a presunção de inocência.

 
At 30 de maio de 2009 às 13:38, Anonymous Anónimo said...

A característica mais marcante destes quatro negros anos de maioria absoluta do PS é o reforço, generalização e consolidação do fenómeno da corrupção.
Na legislatura que ora termina, nem Governo nem Parlamento produziram qualquer medida eficaz contra a corrupção.
Pelo contrário, tentaram legitimá-la e até incentivá-la.

 
At 30 de maio de 2009 às 13:40, Anonymous Henrique said...

Votar, a responsabilidade dos abstencionistas pelo resultado final é muito maior do que a de quem vai votar. É segurar a caçadeira, encolher os ombros e deixar outro disparar. Ao menos desviem o tiro.

 
At 30 de maio de 2009 às 13:41, Anonymous A.F. said...

O selectivo purismo
de um discurso incoerente,
este miserável sectarismo
de um político indiferente.

A falta de verticalidade
num responsável político,
espelha a futilidade
do seu discurso monolítico.

A baixeza argumentativa
do discurso doutoral,
é uma velada tentativa
de condicionamento eleitoral.

 
At 30 de maio de 2009 às 16:24, Anonymous JOSÉ said...

Vital Moreira continua a falar na "roubalheira" no BPN, secundando a atitude geral do seu partido afectivo, no sentido de ser um "caso de polícia".

Quanto mais Vital Moreira insiste na ideia, mais se torna evidente o seu sectarismo, ao esquecer o papel negligente e também perto do "caso de polícia", do regulador do Banco de Portugal que pertence ao seu partido afectivo: Vítor Constâncio.

É precisamente esse sectarismo que o impede de se dar conta disso. E foi essa negligência grosseira que custou milhões ao Estado. A todos nós. E a alguns accionistas e particular

 
At 30 de maio de 2009 às 16:28, Anonymous Anónimo said...

Parece que se abre uma janela de oportunidade pró Lopes da Mota vir a treinar o Benfica...

 
At 30 de maio de 2009 às 18:39, Anonymous J.G. said...

Num jantar na Marinha Grande - no tempo em que Soares lá foi agredido, Vital ainda estava ao lado dos que o agrediram - o candidato Vital dirigiu-se à presidente do PSD como a "ela". "Ela" para cá, "ela" para lá «tem» de dar explicações ao candidato Vital sobre o BPN.
Para além de ordinário - Ferreira Leite é uma senhora e um professor de Coimbra tem obrigação de distinguir uma senhora de, por exemplo, uma Ana Gomes - Vital não parece estar à altura do cargo cosmopolita a que se candidata. Para secundar Vital, o invisível presidente da CML fez uma gracinha sugerindo que o PS não tem vergonha, nem do seu admirável líder nem do seu improvável candidato.
Nem na cara, acrescento eu.
Um bimbo será sempre um bimbo. Mesmo que lhe tenham colocado o António Manuel (ex-assessor de Sampaio em Belém) por perto para controlo imediato de danos.

 
At 31 de maio de 2009 às 18:06, Anonymous N.A. said...

A mesma merda e as mesmas moscas
O sui generis bastonário da Ordem dos Advogados, atirando a tudo que mexe, de vez em quando lá acerta num pardal.

Ao considerar que "o não voto" pode ser utilizado também para expressar descontentamento em relação ao que se passa actualmente com a justiça, acertou em cheio e daí, o incómodo.

O que entendo não ser grande contributo para a democracia e, essencialmente para o comum cidadão, é continuarmos a viver na mesma merda, rodeados das mesmas moscas.

 

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