quarta-feira, 21 de abril de 2010

AUTOFAGIA


Portugal é, neste momento, um inocente Bambi perdido num território de caça grossa.
Está desarmado contra atiradores furtivos. E os seus dirigentes, entre iludirem o óbvio e pedirem clemência aos céus, continuam a gerir o País como se nada pudesse ser feito.
Os olhos enternecedores de Bambi não o salvarão num mundo que busca alvos para adormecer os seus pecados.
Na sua autofagia, o sistema nascido da revolução financeira dos anos 80 que liquidou a indústria tradicional europeia, procura um novo paradigma para o futuro. E ele está a despontar noutros territórios.

Esta desorientação exige vítimas, chamem-se Goldman Sachs ou Portugal, mas a atenção está virada para outro lado.
A versão americana do capitalismo está em forte convulsão e um novo modelo, onde o Estado é determinante, desenvolve-se na China, na Índia ou mesmo no Brasil.
Será esse o paradigma que se busca?
Os políticos portugueses, claro, são incapazes de discutir um modelo de futuro para o País, quando mais pensarem sobre isso.
Mas deveriam.
Num dos livros determinantes do século XX, Berlim Alexanderplatz de Alfred Doblin, Franz Biberkopf sai da prisão e sofre um choque: a Alemanha, ainda a pagar as dívidas da I Guerra Mundial, tenta sobreviver no meio da corrupção política e da recessão económica e começa a colocar-se nos braços de quem promete segurança, Hitler.
Biberkopf sente que ficará mais seguro se regressar à prisão.

O Rossio ainda não é a Alexanderplatz, mas o resto do cenário está montado.
Então perguntar-se-á: quem matou Bambi?


F.S.

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9 Comments:

At 21 de abril de 2010 às 20:25, Anonymous Filipe said...

A "responsabilidade" é uma batata.
Com toda a “responsabilidade”, resultado das medidas “responsáveis” inscritas no PEC, o Governo inscreveu naquele documento como seu pressuposto uma previsão de crescimento económico para Portugal em 2010 de 0,7 por cento. O FMI reviu hoje em baixa de uma décima, para 0,3 por cento, a sua previsão para o crescimento da economia portuguesa este ano.

 
At 21 de abril de 2010 às 22:59, Anonymous Susete said...

«Trova do Vento que Passa»

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

 
At 21 de abril de 2010 às 23:05, Anonymous Susete said...

È um dos poemas do poeta Manuel Alegre que retrata no meu ver os sentimentos que nós, povo estamos a sentir neste momento .

 
At 22 de abril de 2010 às 18:07, Anonymous Anónimo said...

O País está cheio de poetas...!

 
At 22 de abril de 2010 às 18:17, Anonymous Anónimo said...

e todos da desgraça!!!

 
At 22 de abril de 2010 às 22:30, Anonymous Anónimo said...

Deves estar enganado ,já não á poetas neste país .Portugal está cheio de corruptos, aldrabões ladrões ,espertalhões .

 
At 22 de abril de 2010 às 22:44, Anonymous Anónimo said...

Ainda não é crime ler bons poemas ao menos isso.


LA POESIA ES UN ARMA CARGADA DE FUTURO
Gabriel Celaya

(poema imortalizado pela voz de
Paco Ibañez, livremente traduzido
para português por Pedro Laranjeira)

A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO

Quando já nada nos resta mas ainda assim sabemos
que estamos vivos de esperança mesmo quando derrotados
desdobramo-nos em forças de um cego instinto que temos
vamos à besta de frente e lutamos cegamente a recusar ser domados

Quando o fantasma da morte nos mergulha no olhar
nascem asas de coragem pra confessar as verdades
caem por terra segredos que já não são de ocultar
e partilhamos sensíveis, mesmo quando são terríveis amorosas crueldades

A poesia para o pobre é poesia necessária como o pão de cada dia
como o ar que respiramos treze vezes por minuto
com pulmões desidratados e na voz a asfixia
de gritar por liberdade e mesmo antes da idade ser negro do nosso luto

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

Amaldiçoo a poesia concebida como um luxo cultural de parasitas
que lavam as mãos de tudo, corrompidos de vileza
Amaldiçoo a poesia dos falsos iluminados a parir coisas malditas
enquanto nos vão sugando e pouco a pouco engordando, a apodrecer de riqueza

É para os fracos que canto e em cada verso que invento
faço arma da poesia e grito ao meu próprio jeito
o sopro de um novo alento
e este sopro alimenta a poesia-ferramenta que agora te aponto ao peito

Não são versos bem medidos nem o poema obra-prima
são palavras de revolta por tudo nos ser tão duro
Pega nelas, segue em frente, faz a tua própria rima
mas meu irmão, fá-la já, com a arma aqui está, carregada de futuro

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

PEDRO LARANJ

 
At 23 de abril de 2010 às 12:29, Anonymous Luísa said...

Como é que acham que vai ser o resultado do Eléctrico este fim-de-semana em Viseu?
Se não forem estes a alegrar-nos...
Só se fala em vigarices, oportunismos, corrupção!

 
At 23 de abril de 2010 às 14:07, Anonymous Anónimo said...

O cerco a nós funcionários.
Sr. zá da ponte sei que este comentario não tem nada a ver com o asunto mas é importante divulga-lo.
Já cá tinhamos poucos nazis! Depois das limpezas aos armazéns, o bugalheirinha e o bugalheira acabou com as tolerancias de ponto para atrasos dos trabaladores da camara.
Somos tão bons para encobrir este sistema corruppto e tão bestas para as outras coisas.

 

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