O MUNDO NUMA CIDADE
Londres estremeceu com a tragédia dos atentados e mostrou-se resoluta em entregar os responsáveis à justiça.
Nos últimos dez dias, os londrinos prosseguiram a sua vida triunfantes e abatidos, após dias particularmente intensos, como quarta e quinta-feira passadas, sob o olhar atento do resto do mundo. A cidade explodiu de alegria espontânea ao saber-se Olímpica. Estremeceu com a tragédia dos atentados e mostrou-se resoluta em entregar os responsáveis à justiça. Milhões de londrinos expressaram a sua determinação e deixaram claro que a vida da cidade não iria mudar.
Um cidadão anónimo resumiu o sentimento da população numa coroa. E cito-o não apenas pela sua eloquência, mas porque ilustra fidedignamente a resposta de todos os londrinos a estes acontecimentos. “Se pretendem levantar a nossa moral e apelar ao nosso orgulho, então, conseguiram-no. Se querem dar-nos razões para prezar o nosso estilo de vida, então, mais uma vez, conseguiram-no. Se esperavam ver-nos sair, a rastejar, de túneis repletos de fumo e seguir, como se nada fosse, para o trabalho, e prosseguir com a nossa vida, então, conseguiram-no. Se ambicionavam reforçar a nossa coragem e resistência, então, parabéns, conseguiram-no. A arder de medo? Antes pelo contrário.”
O jornal francês Libération escreveu: “Nunca se viu tamanha calma após uma situação como esta.” No fundo, Londres respondeu à sua maneira. Nem melhor nem pior do que Madrid ou Nova Iorque. A barbárie não permite rivalidades. Foi, muito simplesmente, diferente (...).
O carácter de Londres ficou indelevelmente marcado pelo seu estatuto secular de maior cidade portuária do mundo. Londres tinha mais contacto com os diferentes povos do planeta do que qualquer outra nação à época. Shakespeare, embora nascido em Stratford, trabalhava em Londres, e o público que pagava para ver as suas peças vivia do comércio. Há 300 anos, um quarto dos convidados para as celebrações da coroação do Rei Jorge II era composto por estrangeiros residentes em Londres.
Foi esta massa humana que esteve no cerne da criação de um dos maiores centros financeiros mundiais. É verdade que Nova Iorque movimemta maiores volumes financeiros do que Londres, mas isso deve-se ao peso e dimensão do mercado interno dos EUA. Todavia, como centro internacional, Londres ainda hoje supera Nova Iorque. Com efeito, há 1,2 milhões de pessoas que operam nos serviços económicos e financeiros na cidade de Londres, e desses, algumas dezenas de milhar não trabalham directamente para a economia britânica.
Posteriormente, este porto gigantesco tornado pólo financeiro serviu de pilar para a construção de um centro internacional, que é a Londres dos nossos dias. A exposição da cidade a inúmeras culturas serviu de motor criativo a muitas das suas indústrias, transformando-a num dos principais centros mundiais de entretenimento, arquitectura, media, música e publicidade. Simultaneamente, vieram as pessoas. Um quarto dos gestores financeiros intermédios e de topo é estrangeiro e perto de um terço dos londrinos pertence a minorias étnicas. (...)
No ano passado, Londres foi palco de uma exposição que celebrava o primeiro contacto entre a Europa e a Ásia – a Rota da Seda. Uma empresa de software indiana, líder do sector, presenteou Londres com um tipo de publicidade que nem o “Times of India” aceitaria publicar: “Londres é uma cidade em que não só estamos perto do mercado, como nos sentimos em casa ao fim de uma semana”. O elogio não poderia ser maior. Mas também sei o quão fundo os londrinos o sentiram pela forma como reagiram aos acontecimentos da passada quinta-feira. E, embora não conheça Marie Fatayi-Williams, uma muçulmana que veio da Nigéria para Londres porque o seu filho, Anthony, estava desaparecido, também sei que compreendeu os londrinos. “Anthony é de origem nigeriana e nasceu em Londres. Trabalha em Londres e é um cidadão do mundo. Hoje, cristãos, muçulmanos, judeus, sikhs e hindus estão unidos por amor a Anthony”. Está tudo dito.
Ken Livingstone (*)
(*)Presidente da Câmara de Londres
Nos últimos dez dias, os londrinos prosseguiram a sua vida triunfantes e abatidos, após dias particularmente intensos, como quarta e quinta-feira passadas, sob o olhar atento do resto do mundo. A cidade explodiu de alegria espontânea ao saber-se Olímpica. Estremeceu com a tragédia dos atentados e mostrou-se resoluta em entregar os responsáveis à justiça. Milhões de londrinos expressaram a sua determinação e deixaram claro que a vida da cidade não iria mudar.
Um cidadão anónimo resumiu o sentimento da população numa coroa. E cito-o não apenas pela sua eloquência, mas porque ilustra fidedignamente a resposta de todos os londrinos a estes acontecimentos. “Se pretendem levantar a nossa moral e apelar ao nosso orgulho, então, conseguiram-no. Se querem dar-nos razões para prezar o nosso estilo de vida, então, mais uma vez, conseguiram-no. Se esperavam ver-nos sair, a rastejar, de túneis repletos de fumo e seguir, como se nada fosse, para o trabalho, e prosseguir com a nossa vida, então, conseguiram-no. Se ambicionavam reforçar a nossa coragem e resistência, então, parabéns, conseguiram-no. A arder de medo? Antes pelo contrário.”
O jornal francês Libération escreveu: “Nunca se viu tamanha calma após uma situação como esta.” No fundo, Londres respondeu à sua maneira. Nem melhor nem pior do que Madrid ou Nova Iorque. A barbárie não permite rivalidades. Foi, muito simplesmente, diferente (...).
O carácter de Londres ficou indelevelmente marcado pelo seu estatuto secular de maior cidade portuária do mundo. Londres tinha mais contacto com os diferentes povos do planeta do que qualquer outra nação à época. Shakespeare, embora nascido em Stratford, trabalhava em Londres, e o público que pagava para ver as suas peças vivia do comércio. Há 300 anos, um quarto dos convidados para as celebrações da coroação do Rei Jorge II era composto por estrangeiros residentes em Londres.
Foi esta massa humana que esteve no cerne da criação de um dos maiores centros financeiros mundiais. É verdade que Nova Iorque movimemta maiores volumes financeiros do que Londres, mas isso deve-se ao peso e dimensão do mercado interno dos EUA. Todavia, como centro internacional, Londres ainda hoje supera Nova Iorque. Com efeito, há 1,2 milhões de pessoas que operam nos serviços económicos e financeiros na cidade de Londres, e desses, algumas dezenas de milhar não trabalham directamente para a economia britânica.
Posteriormente, este porto gigantesco tornado pólo financeiro serviu de pilar para a construção de um centro internacional, que é a Londres dos nossos dias. A exposição da cidade a inúmeras culturas serviu de motor criativo a muitas das suas indústrias, transformando-a num dos principais centros mundiais de entretenimento, arquitectura, media, música e publicidade. Simultaneamente, vieram as pessoas. Um quarto dos gestores financeiros intermédios e de topo é estrangeiro e perto de um terço dos londrinos pertence a minorias étnicas. (...)
No ano passado, Londres foi palco de uma exposição que celebrava o primeiro contacto entre a Europa e a Ásia – a Rota da Seda. Uma empresa de software indiana, líder do sector, presenteou Londres com um tipo de publicidade que nem o “Times of India” aceitaria publicar: “Londres é uma cidade em que não só estamos perto do mercado, como nos sentimos em casa ao fim de uma semana”. O elogio não poderia ser maior. Mas também sei o quão fundo os londrinos o sentiram pela forma como reagiram aos acontecimentos da passada quinta-feira. E, embora não conheça Marie Fatayi-Williams, uma muçulmana que veio da Nigéria para Londres porque o seu filho, Anthony, estava desaparecido, também sei que compreendeu os londrinos. “Anthony é de origem nigeriana e nasceu em Londres. Trabalha em Londres e é um cidadão do mundo. Hoje, cristãos, muçulmanos, judeus, sikhs e hindus estão unidos por amor a Anthony”. Está tudo dito.
Ken Livingstone (*)
(*)Presidente da Câmara de Londres
1 Comments:
Porque será que brigam as pessoas, seja por causa de outras pessoas, seja por causa de coisas ou animais?
Sim, porque esta é que é a essência do problema. E, por estar tudo interligado, o inocente de imediato pode apanhar por tabela, apesar de, em última análise, ser difícil alguém estar inocente. Devendo então Deus ser a interdependência.
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