terça-feira, 19 de julho de 2005

PINTURA

Paula Rego no Museu Rainha Sofia em 2007


Entre as exposições que o Rainha Sofia prepara para 2007 está uma retrospectiva da obra de Paula Rego, a inaugurar em Outubro. "É uma das boas surpresas que temos na programação desse ano", disse Ana Martínez de Igualar, directora do museu na apresentação dos trabalhos de Juan Gris. Para Paula Rego, o Rainha Sofia segue-se a duas importantes exposições em 2004, na Tate Britain e Serralves - enorme sucesso no Porto, com recorde de visitantes.

Paula Rego já esteve em Madrid, em Abril, para um primeiro contacto com o museu, e até já escolheu o comissário, o inglês Marco Livingstone. Marco Livingstone é um dos maiores especialistas mundiais da arte pop, tendo mesmo escrito um dos livros seminais sobre este movimento artístico Pop Art: A Continuing History (Thames and Hudson, 2000). Crítico e comissário de exposições, organizou, entre outras, mostras retrospectivas de R.B. Kitaj, Jim Dine, Tom Wesselmann, Duane Michals e David Hockney.

Conhecedor profundo da obra de Paula Rego, Livingstone escreveu o ensaio O Que Deixamos Ficar para a recente exposição da artista no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto: "Uma das razões pelas quais a sua obra mantém toda a sua força é o facto de ela há muito ter deixado de se preocupar com o que as pessoas pensam", nota. E conclui: "O domínio que tem sobre os seus métodos e a sua auto-confiança são agora tais que também ela poderia dizer das suas obras que "saem assim mesmo"."

A pintora de origem portuguesa disse ainda que depois das férias deverá ir de novo a Madrid para escolher as salas onde serão expostas as suas obras - na primeira visita, já fez um reconhecimento dos espaços. Paula Rego disse também que ainda não começou a pensar na exposição de Madrid, porque está nesta altura a preparar uma outra mostra na Talbot Rice Gallery, em Edimburgo, Escócia, onde, de 6 de Agosto a 24 de Setembro, vai expor pinturas e trabalhos em papel.

Paula Rego fez questão de referir o apoio que recebeu da embaixada de Portugal em Madrid, através do adido cultural João de Melo. "É a primeira vez que um artista português expõe no Rainha Sofia. É uma vitória da Paula Rego, porque o museu é o fórum máximo da arte contemporânea em Espanha. Esperemos que seja uma rampa de lançamento da Paula para a outra Europa que não a conhece, falando de grande público. Ela é essencialmente conhecida em Portugal e Inglaterra", diz João de Melo.

Segundo o adido e escritor, as conversas com os responsáveis do museu começaram no início do ano: "Apresentei três propostas a Ana Martínez de Aguilar - Júlio Pomar, a Paula Rego e a exposição Arquitectura e Design de Portugal, 1990-2004, que esteve no edifício da Trienal de Milão no final do ano passado. Em Abril, a responsável anunciou a sua decisão." "A Paula Rego estava em Madrid nessa altura e reunimo-nos os três. A directora [uma grande admiradora do trabalho da pintora, como disse em Madrid] deu-lhe liberdade total quanto ao número de obras, a escolha das salas, o comissário."

Diz ainda João de Melo que "não há nenhuma obra da Paula Rego no Rainha Sofia, mas provavelmente passará a haver" com esta exposição. "Normalmente, em cada exposição que passa pelo Rainha Sofia, o museu adquire pelo menos uma obra."

João de Melo acredita que a mostra vai agradar aos espanhóis: "Paula Rego não é uma desconhecida em Espanha. Há sempre trabalhos seus na ArCo [feira de arte de Madrid], através da sucursal espanhola da galeria que a representa, a Marlborough, que também já fez exposições no seu espaço de Madrid. Além disso, esteve o ano passado numa colectiva organizada pela embaixada e pelo Instituto Camões, em Barcelona - Cinco Pintores da Modernidade Portuguesa (Paula Rego, Vieira da Silva, Joaquim Rodrigo, Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros)."

O adido português espera que com Paula Rego seja possível "levar mais arte portuguesa a Espanha". "Ainda tenho esperança de conseguir pôr o Júlio Pomar no Rainha Sofia."

Também no próximo ano, adiantou, o Círculo de Belas Artes de Madrid recebe outras duas exposições: Mário Cesariny (15 de Setembro a 31 de Outubro) - a mesma retrospectiva que esteve até Fevereiro último no Museu da Cidade - e a Colecção da Caixa Geral de Depósitos (20 de Abril a 31 de Maio).

José J. Mateus