terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

ESTOU FARTO...

Apeteceu-me dizer agora que ando há um ano a aturar as medidas de Sócrates com desculpa de que vai salvar oestado social”.

A bem doestado socialganho menos do que ganhava, pago mais impostos do que pagava, suportei o aumento do preço da gasolina, fumo cigarros com mortalhas feitas de notas de 20 euros, pago portagens por tudo e por nada porque tive o azar de nascer vizinho do Ricardo Salgado (os vizinhos do Belmiro tiveram melhor sorte) e sou um dos beneficiários estatísticos da sua fortuna, vou trabalhar mais anos do que contava, vou ter uma pensão de reforma mais pequena do que o que esperava. E já me estão a preparar para pagar quando recorrer a cuidados de saúde, qualquer dia também vão descobrir que posso pagar mais pela escola primária e aumentam a propina da universidade.
E tenho que ficar calado, todos estes sacrifícios servem para salvar o “estado social”, e como e sou progressista tenho mesmo que me calar, o “estado socialdeve ser mesmo uma coisa boa para que Sócrates passe a vida a falar dele, o problema é que eu devo ser um ignorante, não sei o que é oestado socialnem nunca vi em Portugal algo que se assemelhe a coisa que mereça esse nome.
Serão as pensões do Banco de Portugal?
Como Sócrates convidou Miguel Cadilhe para as alterar e nada fez até agora é provável que o talestado social” sejam as pensões do Luís Cunha, do Miguel Beleza e de outros portugueses conhecidos das colunas sociais.
Se calhar não é
Então o que será o “estado social”?
Também não deve ser o estado a que chegámos porque esse de social não tem nada.
Bem, o melhor é voltar ao título e mesmo sem saber a que “estado social” se refere Sócrates voltar a dizer, eu quero e que o estado social se dane!


J. E. R.

12 Comments:

At 21 de fevereiro de 2006 às 13:08, Anonymous Anónimo said...

"Xuxalistas" no seu pior
Ou
Os tachos para os rapazes...
Quantos foram os contemplados com tachos?

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 14:05, Anonymous Anónimo said...

Cumprido aproximadamente um quarto da legislatura, já há uma ideia clara da identidade do actual Governo. Na política não há segundas oportunidades.

Passou ontem um ano desde as eleições legislativas. Aproximadamente um quarto da legislatura cumprido, já há uma ideia clara da identidade do actual Governo. Na política não há segundas oportunidades para criar uma primeira impressão e a imagem do executivo de José Sócrates está, no essencial, definida. Vale a pena, a este propósito, identificar três dos seus principais aspectos positivos (estabilidade, credibilidade e reformismo), bem como três das suas principais fragilidades (promessas eleitorais, incoerência nos discursos, relação com o PS).

Uma das características deste Governo é a estabilidade. Estabilidade que se reflecte numa postura de maior discrição face à comunicação social, mas que tem como principal virtude ter aumentado a capacidade institucional do executivo e por arrasto da administração. Um governo que alimenta menos casos nos media e que, independentemente da opinião que possamos ter sobre o conteúdo das políticas, concentra o essencial da sua energia na governação, tem maior potencial de mobilização dos actores em torno da sua agenda. Como bem perceberam os portugueses há um ano, a estabilidade política é um bem em si.

A credibilidade do actual executivo resulta da estabilidade, mas também de uma aposta na confiança. Face a uma situação financeira, económica e social muito frágil, a margem de manobra do executivo passa por criar condições objectivas e, em importante medida, subjectivas para que os agentes económicos invistam. Mesmo com os indicadores de conjuntura a persistirem nos sinais negativos, algo pode estar a mudar. Alguns exemplos simbólicos de atracção de investimento estrangeiro, bem como a OPA da Sonae sobre a PT são já consequência de um discurso de confiança do primeiro-ministro, com impacto na mudança das condições subjectivas.

Se estes dois aspectos formam o contexto, a atitude reformista tem ajudado à diferenciação face à anterior experiência governativa do PS. Se havia risco que José Sócrates corria, era o de ser visto como uma versão revista de António Guterres. Pouco tempo bastou para que tal imagem fosse afastada. A vontade reformista, sem olhar a grandes tacticismos, é a imagem de marca deste Governo.

Mas, na economia da governação, têm existido pontos de enorme fragilidade.

Antes de mais, a quebra de algumas promessas eleitorais. Numa altura em que a descredibilização da classe política é muito acentuada, nada pior do que dizer uma coisa em campanha e fazer uma outra após as eleições. O exemplo mais acabado disso mesmo foi o aumento do IVA. Com a quebra desta promessa foi dada mais uma machadada na já muito frágil imagem da classe política.

Depois, a descoordenação entre o discurso acertadamente minimalista do primeiro-ministro e algumas intervenções avulsas e estrategicamente improdutivas de alguns ministros. Só nas últimas semanas é possível identificar três casos disto mesmo: quando o ministro Teixeira dos Santos falou na ruptura da segurança social; quando o ministro Freitas do Amaral resolveu fazer doutrina sobre a crise dos ‘cartoons’; ou quando o ministro Correia de Campos pretendeu inovar em relação ao financiamento do sistema de saúde. Em nenhum dos casos se consegue vislumbrar qualquer vantagem para a agenda reformista do executivo, nem para os ministros que proferiram as declarações. Três exemplos de ruído que têm perturbado as prioridades definidas pelo primeiro-ministro.

Finalmente, a relação com o partido. Não é novidade, sempre que o PS vai para o Governo, a gestão do partido é secundarizada.
Os resultados desta opção são já conhecidos: uma derrota eleitoral nas autárquicas e uma gestão desastrosa do ‘dossier’ presidenciais. Esta opção produz, contudo, danos colaterais de maior alcance. Os partidos são essenciais para a intermediação entre governo e a base social que os sustenta. Quando a gestão dessa intermediação falha, é também a própria capacidade de acção do governo que sai fragilizada.

É verdade que a questão central quando os portugueses voltarem a votar em eleições legislativas será a retoma económica. Mas convém ter presente que sendo o crescimento económico o alfa e o ómega do sucesso governativo, aquele não é independente de nenhuma destas virtudes, nem destas fraquezas.

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 14:20, Anonymous Anónimo said...

Onde estão os empregos do José Sócrates?

Segundo dados divulgados 70% dos empregados trabalham a recibo verde, sem nenhuma segurança no emprego.

Socialistas destes, não obrigado.

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 14:24, Anonymous Anónimo said...

Alguém no semanário "O Independente" deu-se ao trabalho de andar a folhear o "Diário da República" desde que este Governo tomou assento nos cadeirões ministeriais, e concluiu que o executivo liderado por José Sócrates nomeou em 11 meses um total de 2148 pessoas (para lugares dependentes de nomeação publicada em DR).
Mesmo descontando a tal brasileira que acabou desnomeada ainda são 2147.
É notável, mas não chega. A este ritmo, pelas minhas contas, só conseguirão cumprir a promessa eleitoral dos 150.000 novos empregos dentro de 64 anos.

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 16:32, Anonymous Anónimo said...

UM ANO DE SÓCRATES
Um ano de Sócrates, segundo o índice geral do Público:

1. Défice abaixo dos seis por cento: Conseguido pelo aumento de impostos (fundamentalmente, o IVA) e por uma maior eficácia na cobrança. A redução das despesas, ensaiada aqui e ali, com muito medo e uma grande tendência para fugir, continua a ser uma figura de propaganda.

2. Plano Tecnológico: Fora o amadorismo e o cheiro a "truque" da moda, é o que as corporações de interesses permitem que seja, por outras palavras, quase nada. Mas sempre deu a oportunidade para uma espécie de "Herman-SIC", com Bill Gates, convidado da noite, e o MIT, conjunto folclórico. Um orgasmo precoce.

3. Reestruturação da Administração Pública: Comissões, comissões, comissões. Quem se quer esconder e ficar quietinho, nomeia uma comissão. A farsa do costume.

4. Ota e TGV: Quando se deve muito dinheiro, só as dívidas nos salvam. Décimo quarto episódio do "Vigarista milionário", uma peça clássica portuguesa.

5. Fim dos regimes especiais de Segurança Social e de Saúde: Aqui, sim: contra a fraqueza a autoridade não cede. Bater nos criados foi sempre uma tradição indígena.

6. Lei das rendas: Com um tresloucado atrevimento, o governo lá se atreveu a um passinho oblíquo para evitar que os centros das cidades se tornem num montão de ruínas. Não resolveu nada, mas com certeza ficou muito bem com a sua inovadora consciência.

7. Colocações de professores por quatro anos: Consola saber que de quando em quando a FENPROF concorda com o ministro da Educação.

8. Lei da nacionalidade: Abrir a porta, com o pé firmemente na porta. Quem é xenófobo é o Portas.

9. Medicamentos fora das farmácias: Uma guerra contra o lobby das farmácias que excede as façanhas de Eurico, o Presbítero. Não toca no principal, isto é, no estatuto absurdamente privilegiado da "classe", uma excrescência do século XIX. Não se pode querer tudo.

10. Férias judiciais: Para o parolo ver. Um acto que passa com majestade ao lado dos problemas.

11. Combate a incêndios: Esperemos que da confusão estabelecida, saia luz. Não fogo.
12. Evasão fiscal: A esquerda sempre gostou de tosquiar a carneirada.

13. Fundos da "Europa": A sopa do convento ainda não acabou.
14. Acordo de Bolonha: Atrasado. Quanto mais tarde, melhor. Não se manda um coxo para os 100 metros de obstáculos.

15. Aborto: Por favor, não arranjem sarilhos ao sr. eng.

16. Taxa de carbono: Isso era na oposição.

Fora do índice geral do Público:

17. Nomeações: O Vara, o Gomes, o Oliveira Martins são beneméritos da Pátria e só por acaso criaturas do PS

Vasco Pulido Valente

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 16:42, Anonymous Anónimo said...

QUEM FOI QUE ESCREVEU ESTE TEXTO?

"Estamos perdidos há muito tempo...
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte, o país está perdido"

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 16:52, Anonymous Anónimo said...

Quando se tem um primeiro ministro neoliberal socialista no governo e na liderança de um partido de esquerda?! ou que, na pratica é de pseudo esquerda está tudo dito.
Concordo com o artigo inteirinho. Nunca existiu em portugal um estado social digno desse nome,e as poucas coisas que existiram estão a ser preparadas para serem desmanteladas. 4mil escolas fecham! Só? privatização do SNS ? Ainda não foi feita? e por aí fora. Quanto a socrátes? não obrigado.
O que a mim mais me espanta é a intensa estupidez do normal militante socialista que não vê que tudo isto está levar o partido completamente para o abismo.
Se o ps fôr "esvaziado" de causas para defender, qual é a utilidade de continuar a existir como partido? Mas aquelas alminhas ainda não perceberam que o sr.socrátes e os restantes submarinos neoliberais estão a minar por dentro o ps?
E de facto é assim:já vai faltando a paciencia. Para o ano que vem será outra vez a mesma conversa: vamos construir mais hospitais privados com dinheiro publico para salvar o estado social. Vamos privatizar todas as escolas para salvar o estado social.
Chegará ao ponto em que fecharemos o ESTADO para salvar o estado social.
E, quando na imprensa internacional se afixar um aviso a dizer "vende-se país de 88 mil km2 " a argumentação será ,concerteza, que é para salvar o estado social.
Estado social:o estado com costas largas...

 
At 21 de fevereiro de 2006 às 17:05, Anonymous Anónimo said...

Volvidos um ano da maioria absoluta e José Sócrates á boa maneira guterrista começou a não governar, ou melhor a desgovernar o País.
É simplesmente deprimente olhar para os vários planos de acção do executivo e na forma como as políticas tem sido executadas.Vejamos alguns pequenos exemplos:

Portugal tem hoje mais cinquenta mil desempregados do que há um ano atrás. A promessa divina de Sócrates era criar 150 mil.Pergunto-me: com este caminho Sócrates quer criar ou perder 150 mil ?

O plano técnológico é uma falácia! Não passa de um retalho aqui e acolá, uns investimentos em tímidas medidas, uma panóplia de anúncios de projectos que ainda tem de ser definidos pelos investidores e um mal esclarecido estigma de um ministro pelo MIT. Para cumulo do circo mediático, trazemos cá Bill Gates, juntamos metade do governo ( qual figurantes da "Praça da Alegria"), um primeiro-ministro babado e.... zás eís que surge a fórmula mágica para recuperar o despedaçado sector dos texteis. Santa ingorancia!

Sabe-se que o governo se prepara para encerrar já para o próximo ano lectivo 4500 escolas. É a lei do menor esforço, da falta de humanismo e cívismo. Como é que sde pode desrespeitar tanto crianças com 6 ou 7 anos, lenvando-as a estudar para fora da sua terra, londe da família, entregando-as um dia inteiro ao Deus dará?

Correia de Campos continua a sua saga rumo ao absurdo. Ele é encerramento de hospitais, mais burocracia no acesso a desconto de medicamentos pelos idosos, capitulação do sector farmacêutico, aumento astronómico de taxas moderadoras para o utente( nem quero acreditar naquela medida do financiamento a 50 ou 75 % por parte do utente!).

E para acabar nada melhor do que um endividamento absurdo á custa do TGV e da OTA, uma maquilhagem manhosa aos números do défice ajudado pelo companheiro de armas Vitor Constâncio e voilá.....

Sócrates no seu melhor.

Triste sina a nossa!

Martinho

 
At 22 de fevereiro de 2006 às 11:51, Anonymous Anónimo said...

Depois de Sócrates os programas eleitorais deixarão de ter qualquer credibilidade, o futuro primeiro-ministro pede ao Governador do banco de Portugal um relatório sobre as contas públicas e com base em projecções pessimistas dá o dito pelo não dito. E se o relatório é feito depois da apresentação do programa de governo nem faz sentido que o Parlamento se debruce sobre este, o debate do programa de governo pode ser eliminado aproveitando-se os dias a ele dedicados para os deputados beneficiarem de um fim-de-semana prolongado

Os governos deixarão de seguir um programa político, passam a orientar-se segundo os recados que vai recebendo de Bruxelas ou do Governador do Banco de Portugal. É como se o país vivesse permanentemente em situação de excepção, como se por cá tivesse ocorrido um maremoto.

Mesmo concordando com uma boa parte das medidas deste governo não posso aceitar que as mesmas sejam adoptadas com o apoio de uma maioria parlamentar que foi eleita com pressupostos diferentes, que propôs um programa eleitoral que foi esquecido e que aprovou um programa de governo que não é considerado. E mesmo que a situação das contas públicas seja difícil, ela era conhecida antes das eleições, a diferença entre os números de Constâncio e os que eram conhecidos apenas se justifica pelo pessimismo típico do governador do Banco de Portugal.

E ainda é menos aceitável que a política seja conduzida com base em bitaiques e ameaças, bitaiques como o do ministro da Saúde a propósito do financiamento do Serviço Nacional de Saúde, ou ameaças como a dos ministro das Finanças que diz que vão ser adoptadas as medidas necessárias se não houver crescimento económico.

Por uma questão de transparência política José Sócrates deveria dizer aos portugueses com que programa de governo está a governar, o facto de contar com uma maioria parlamentar dócil e pouco exigente não o dispensa de respeitar as regras. Se o programa de governo não era o adequado porque na ocasião em que o elaborou estava mal preparado por ser inexperiente, então que promova a sua correcção.

Os ditadores são avaliados pelos resultados em absoluto, o primeiro-ministro de uma democracia é avaliado pela forma como realiza um programa aprovado por um Parlamento democraticamente eleito, numa democracia parlamentar não há governante iluminados e muito menos salvadores. Tanto quanto se saiba nada justifica que Portugal seja governado como se atravessasse uma situação de excepção

 
At 22 de fevereiro de 2006 às 14:10, Anonymous Anónimo said...

A crise do Estado Social adquiriu a imprevisibilidade da bolsa. Sobe de manhã, desce à tarde e espera-se pelo fim do dia para saber onde ficámos.

Também eu gostaria de falar dos ‘cartoons’ dinamarqueses, explicar à classe média o que é o islamismo, e revelar ao povo o sentido da civilização ocidental. Só que vou ter de deixar a outros esse serviço educativo. Porque é necessário, mais uma vez, falar deste governo. A maioria do eng. Sócrates fez agora um ano, e desde então vimos quase tudo. Há uns tempos, tivemos um ministro a anunciar a bancarrota da segurança social, e outro ministro a desmenti-lo no dia seguinte. A semana passada foi ainda melhor. Não foram precisos dois ministros, bastou um. De manhã, o serviço de Saúde jazia no abismo, e era preciso que os utentes pagassem. À tarde, depois do almoço, o serviço de Saúde tinha melhorado consideravelmente, e a mudança do “modelo de financiamento” era apenas uma hipótese. Isto, dito pelo mesmo ministro, com o mesmo ar de seriedade, no mesmo dia. A crise do Estado Social adquiriu assim a imprevisibilidade dos movimentos da bolsa. Sobe de manhã, desce à tarde, e é preciso esperar pelo fim do dia para saber onde ficámos. Obviamente, o mal é nosso, que não compreendemos as subtilezas do ministro, e a culpa é dos jornalistas, que deturpam todos os recados.

E perante isto, é preciso repetir: não estão em causa pessoas, mas uma fórmula política. O eng. Sócrates propôe-se fazer “reformas” a partir da esquerda. Só que a esquerda não quer as reformas – incluindo a maior parte do PS. À direita, curiosamente, pouca gente percebeu ainda este problema, que é a chave de tudo. O PS escolheu o eng. Sócrates para ganhar eleições, mas nunca para fazer os cortes e mudanças, que ele, antes de chegar ao Governo, teve o cuidado de não anunciar ou até de negar. A vida governativa do eng. Sócrates está toda marcada por estes equívocos. Não pode fingir que há dinheiro, mas também não pode afastar-se da esquerda. Em suma, não consegue escolher: perante duas opções, adopta um bocadinho das duas. Por isso, ao mesmo tempo que corta a ração aos dependentes do Estado Social, alimenta sempre as miragens do desenvolvimento por intermédio do Estado. Diminui a burocracia por um lado, e cria subsídios cheios de alçapões burocráticos pelo outro. Com este governo, o Estado tornou-se um milagre da física: diminui e aumenta ao mesmo tempo.

Ultimamente, o Governo descobriu um meio simples para realizar esse milagre. O Estado português é o Estado mais centralizado da Europa. Ora, esta centralização permite uma coisa: concentração. Para justificar a concentração, há vários alibis, como a deslocação da população, ou as novas tecnologias. O eng. Sócrates percebeu assim que podia fazer poupanças através da simples retracção do dispositivo burocrático no território. Vai fechar 4000 escolas. Já tem na mira 68 postos de atendimento médico permanente. Gostaria de abolir freguesias. E por aí fora. Num país descentralizado, isto seria impossível. As instituições fariam parte das comunidades locais, e os serviços seriam geridos por elas. Em Portugal, não. Independentemente das leis e dos discursos, quase tudo o que há nas províncias é, na realidade, delegação do Governo central, com atribuições secundárias e poucos recursos próprios. Ou seja, por essas montanhas e planícies pouco há cuja existência, localização ou funcionamento não esteja à mercê de um decreto ou portaria assinados em Lisboa. Previsivelmente, a retirada do Estado vai acelerar a desertificação do interior. Quer escola primária a menos de uma hora de casa? Quer junta de freguesia? Se é novo, ainda está tempo de fazer a mala. Já tínhamos um jardim, agora vamos ter também um Estado à beira-mar plantado.

Poupa-se assim dinheiro? Certamente. Há outras justificações para a retracção estatal? Provavelmente. Mas então a questão seguinte é esta: para que servem as despesas, a que o eng. Sócrates chama “investimentos”, nomeadamente as célebres “SCUTS”, que este Governo nos obriga todos a pagar como um imposto contra a desertificação? Economiza-se em escolas, hospitais, freguesias, e um dia destes em tribunais e repartições de finanças. Mas continua a gastar-se em estradas, supostamente para fixar população em regiões onde depois se fecham escolas, hospitais, etc. – por não haver lá gente. Onde está a lógica? Mas não vale a pena perguntar nada a este Governo. Teríamos uma resposta de manhã, outra de tarde, e um desmentido no dia seguinte. Isto antigamente chamava-se “trapalhada”. E agora, chama-se o quê?

 
At 22 de fevereiro de 2006 às 14:12, Anonymous Anónimo said...

Há um par de meses atrás, por altura da crise do Plano Tecnológico, muitos vaticinavam um futuro pouco auspicioso ao actual governo.

A história é mais ou menos bem conhecida nos seus contornos gerais. Em 1961 a administração de John F. Kennedy decidiu invadir Cuba para acabar com a sublevação Castrista. As tropas americanas desembarcaram na Baía dos Porcos, mas foram rechaçadas pelos guerrilheiros cubanos. Na sequência do incidente surgiu a célebre “crise dos mísseis”, o momento em que o mundo mais próximo esteve de um conflito nuclear em larga escala.

Na altura Kennedy estava rodeado de alguns dos melhores cérebros da nação americana. Entre o grupo de conselheiros mais próximos, encontravam-se Robert McNamara, que acumulou cargos como os de presidente da Ford ou do Banco Mundial, e o próprio irmão do Presidente, Bobby Kennedy, que na altura era Procurador Geral dos EUA. Foi este círculo restrito que aconselhou o presidente a tomar a referida decisão.

Sendo estes os contornos gerais da história, os investigadores dos processos de decisão tentaram compreender como é que uma simples decisão, como esta, pode desencadear uma cascata de erros fatídicos. Foi desta investigação que surgiu o conceito de group think (pensamento em grupo), reminiscente de noções como ‘newspeak’ ou ‘doublethink’ introduzidas por George Orwell na sua novela “1984”. O referido conceito foi proposto pelo psicólogo Irving Janis, num livro precisamente intitulado ‘Groupthink’, publicado em 1972. Foi esta obra que consagrou a invasão da Baía dos Porcos como um ‘case-study’ clássico das teorias da decisão.

O que tem sido constatado por estudos posteriores, é que os mesmos factores que marcaram este caso, estão sistematicamente a emergir em muitos outros processos de decisão, tanto no interior de governos como no âmbito da tomada de decisões estratégicas por parte de empresas. Esses factores incluem: o assumir-se o mundo como simplesmente composto por “nós” e “eles”; a redução da decisão a um grupo muito restrito e a pressão sobre os membros para eliminar opiniões divergentes. Neste contexto, o temor de se afirmar perspectivas que vão contra o “pensamento dominante” instala-se. Mesmo quando a crise já foi despoletada, as informações transmitidas através das cadeias hierárquicas tendem a ser sistematicamente filtradas, por receio de se expressarem pontos de vista que, embora possivelmente baseados em circunstâncias factuais, desafiam o consenso instalado.

Foi como alternativa a este tipo de sistemas de decisão que surgiram nas décadas mais recentes técnicas que procuram eliminar alguns dos perigos subjacentes ao “pensamento em grupo”. A chamada prospectiva estratégica, por exemplo, é um processo de decisão através do qual se ventilam de forma sistemática opiniões divergentes. Neste processo procura-se identificar acontecimentos “escondidos”, capazes de lançarem o sistema em análise para trajectórias completamente imprevisíveis e indesejáveis.

A discussão deste ‘case-study’ clássico das teorias da decisão tem como objectivo alertar para o perigo de algo idêntico poder estar a passar-se entre nós.

É sabido que apenas há um par de meses atrás, por altura da crise do Plano Tecnológico, muitos vaticinavam um futuro pouco auspicioso ao actual governo. Entretanto, o anúncio público de algumas decisões e iniciativas de grande porte, alterou nas semanas mais recentes o ‘mood’ dominante. Muitos voltaram a acreditar na possibilidade de existir “luz ao fim do túnel”. Pensamos, contudo, ser precipitada tal mudança de percepções.

Sendo sem dúvida positivo o ‘drive’ produtivista da equipa de Sócrates, o que é verdade é que um governo não pode ser louvado apenas por “tomar decisões”. Por mais qualificados que sejam os conselheiros – os de Kennedy eram-no e não duvidamos que os de Sócrates também o sejam –, o que se verifica, quando as decisões decorrem em circuito fechado, sem incorporação de perspectivas diversas, é uma enorme probabilidade de muitas dessas decisões saírem completamente erradas.

Na verdade, os exemplos já aí estão. Temos mesmo algumas decisões capazes de afundar um país. O TGV constitui um excelente testemunho desta possibilidade.

 
At 22 de fevereiro de 2006 às 14:18, Anonymous Anónimo said...

Este governo é uma espécie de doente psiquiatrico - tem a doença bipolar - e as inerentes variações de humor: numa semana são os grandiosos investimentos, as bilgaitadas, isto agora é vai ser....
na semana seguinte, acordam para a realidade e percebem que esta choldra não tem solução e, então lá vem anunciar (em tom ameaçador) que vão implementar novas medidas que, novamente, vão afundar ainda mais a nau....

 

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