COMO DIRIA A D. CONTANÇA:...HABITUEM-SE...[parte II]
O que se exige a Cavaco
Espera-se que os próximos cinco anos sejam diferentes dos últimos dez.
Esperam os portugueses que elegeram Cavaco, acreditando que ele pode ser decisivo para a inversão do ciclo de crise económica e social que outros não foram capazes de vencer.
Os que acreditam, pensam como o novo Presidente – há um caminho que tem de ser seguido; e não há outro.
Os que assim pensam, esperam que Cavaco cumpra e faça cumprir o que ontem enunciou como linhas de força da sua acção política – numa interpretação activa dos poderes presidenciais.
A leitura permite um acompanhamento exigente da acção governativa e limita a estabilidade política à barreira do imobilismo.
Para que os agentes políticos sejam exemplos de cumprimento das promessas feitas; para que à hierarquia de responsabilidade se chegue por critérios de mérito; para que o combate à corrupção se afirme como um amigo da democracia.
Se assim for, haverá legitimidade para que todos sejam envolvidos numa prática de exigência. É este o desafio com que o Presidente da República inicia o mandato, sabendo estar – também ele – sujeito a avaliação.
A Cavaco poucos perdoarão o fracasso.
Muito menos se ele o perdoar a Sócrates.
Raul Vaz
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Discurso de Tomada de Posse do Presidente da República. Clique aqui para ouvir
Senhor Presidente da Assembleia da República
Senhor Dr. Jorge Sampaio
Senhoras e Senhores Deputados
Senhoras e Senhores
Quero, em primeiro lugar, saudar o povo português. Saúdo todos os Portugueses que me honraram com a sua escolha para Presidente da República.
A todos asseguro que darei o melhor de mim mesmo para corresponder à confiança que em mim depositaram, honrando o juramento solene que acabei de pronunciar, quando assumo os poderes e as responsabilidades do cargo de Presidente da República Portuguesa.
Quero ser e serei o Presidente de todos os Portugueses. Aqui reafirmo o meu propósito de fortalecer os vínculos que a todos nos unem e de estar atento às preocupações e anseios de todos os meus concidadãos e, também, daqueles que, não tendo nascido portugueses, escolheram a nossa terra para viver e se realizarem como pessoas.
Ao Senhor Presidente da Assembleia da República que, com tão grande dignidade e saber, dirige esta que é a casa-mãe da democracia portuguesa, agradeço, sentidamente, as palavras de saudação que me dirigiu.
Aos senhores Deputados, legítimos representantes da pluralidade da Nação Portuguesa, manifesto o meu respeito e a minha inteira disponibilidade de leal cooperação, para que a Assembleia da República cumpra com eficácia as elevadas responsabilidades que lhe cabem na construção de um País de mais progresso, justiça e solidariedade.
Aos Chefes de Estado e de Governo e altos representantes de países amigos, que tanto honram o nosso País com a sua presença nesta cerimónia, agradeço e saúdo calorosamente.
Num momento em que as dificuldades que Portugal atravessa estão suficientemente diagnosticadas e reconhecidas, reafirmo ao Senhor Primeiro-Ministro e ao seu Governo a minha inteira disponibilidade e empenhamento numa cooperação leal e frutuosa.
Quero nesta ocasião prestar a minha sincera homenagem ao Presidente da República cessante, Dr. Jorge Sampaio, pela dignidade, patriotismo e profundo sentido de Estado com que exerceu a sua magistratura. É para mim uma honra fazer-lhe a entrega do grande-colar da Ordem da Liberdade, numa outra cerimónia que hoje terá lugar.
Num tempo de sérias dificuldades, como é aquele em que vivemos, são enormes as responsabilidades que impendem sobre os titulares de cargos políticos.
No respeito pelas diferenças e pelo debate de ideias, os Portugueses esperam e exigem dos políticos, que democraticamente escolheram, que deixem de lado divisões estéreis, minudências e querelas que pouco ou nada têm a ver com a resolução dos problemas nacionais. Que não percam tempo e energias em recriminações sobre o passado e pensem no futuro do País, porque é esse que agora interessa.
Os diagnósticos estão feitos. O que os Portugueses esperam dos seus representantes, cada um com a sua própria responsabilidade, é acção, mais acção.
Num momento de muitas preocupações, em que há tanta coisa difícil para fazer, os Portugueses gostariam certamente de perceber que a classe política está, até onde em democracia é possível, disposta a juntar esforços para ultrapassar diferenças e fazer obra em comum.
Há seguramente domínios onde podem e devem ser procurados entendimentos alargados entre Governo e oposição e mesmo com organizações da nossa sociedade civil.
É por tudo isto que me atrevo a deixar perante esta Câmara e perante os portugueses cinco grandes desafios que, nas circunstâncias em que o País se encontra, considero cruciais para abrir caminhos consistentes de progresso. Para eles, os Portugueses esperam, com sentido de urgência, uma resposta da parte dos responsáveis políticos.
O primeiro desafio que quero destacar é o da criação de condições para um crescimento mais forte da economia portuguesa e, consequentemente, para o combate ao desemprego e para recuperação dos atrasos face à União Europeia. Sem isso, tudo será mais difícil.
Na vida das nações, cada geração tem o dever de legar à geração seguinte uma sociedade social, cultural e economicamente mais desenvolvida. É isso que os jovens têm o direito a esperar da nossa geração.
Vivemos num mundo que é cada vez mais global, somos membros de uma União Europeia que se alargou para leste e, por isso, a produção nacional está sujeita a uma fortíssima concorrência nos mercados interno e externo. Esta é uma realidade que se nos impõe.
Para além disso, somos periferia da Europa, estamos geograficamente situados no seu extremo sudoeste. Aparentemente, olhamos para um mundo que nos é adverso. Mas, vendo bem, somos o espaço onde a Europa se abre ao Atlântico, o que pode ser uma enorme vantagem.
Acresce que, hoje, a periferia já não é ditada pela geografia. A periferia é onde mora o atraso competitivo. É este e só este o factor crítico.
O desenvolvimento, a melhoria das condições de vida das populações, moram onde moram a inovação, a criatividade, a investigação e o desenvolvimento tecnológico, a excelência no ensino, onde as universidades interagem com as empresas, onde o Estado não é entrave à actividade dos cidadãos, mas sim uma entidade que regula e fiscaliza o cumprimento das regras de uma concorrência saudável.
Que este caminho está ao nosso alcance demonstram-no muitas das nossas empresas, nos mais variados sectores, que têm elevada produtividade, apostam na qualidade e na inovação e são altamente competitivas nos mercados internacionais.
É este o caminho que tem de ser seguido, porque não há outro.
Não podemos também esquecer que somos um País fortemente dependente e ineficiente em matéria energética e que temos pela frente importantes desafios relacionados com os altos preços do petróleo, com a segurança dos abastecimentos, as alterações climáticas e as exigências do protocolo de Quioto. A sustentabilidade do crescimento da nossa economia passa também por uma política energética ajustada às novas realidades.
O segundo desafio refere-se à recuperação dos atrasos em matéria de qualificação dos recursos humanos.
O futuro de Portugal está indissociavelmente ligado ao que formos capazes de fazer no plano da qualidade da educação dos nossos jovens e da formação dos nossos trabalhadores. Trata-se, não só, de um elemento central da estratégia de desenvolvimento, mas também de um factor decisivo para a realização de uma efectiva igualdade de oportunidades, princípio fundamental de uma democracia moderna.
O combate ao insucesso e abandono escolar não pode deixar de ser uma prioridade de todos os responsáveis políticos, por forma a que uma percentagem maior dos nossos jovens complete o ensino secundário, para o que é crucial o empenho dos professores e a cooperação activa dos pais, na certeza de que a melhor herança deixada aos filhos é a educação.
No mundo em que vivemos é preciso que a escola mais do que ensinar ensine a aprender. Mais ainda, é decisivo aprender a empreender. A empresa de hoje faz apelo a quem seja capaz de empreender, seja ao seu modesto colaborador seja àquele que a gere e organiza. O empreendorismo chegou tarde às nossas escolas e agora é preciso acelerar o passo.
O terceiro desafio é o da criação de condições para o reforço da credibilidade e eficiência do sistema de justiça.
É hoje indisfarçável que se têm vindo a avolumar entre nós as preocupações acerca do funcionamento do sistema de justiça. Não se trata apenas de preocupações centradas na morosidade dos processos judiciais, mas também de sintomas de degradação da credibilidade e prestígio das instituições.
A justiça constitui um valor superior da ordem jurídica, um fim irrenunciável do Estado e a primeira e última garantia dos direitos e liberdades das pessoas.
Constitui responsabilidade inadiável das forças políticas, ouvindo os operadores judiciários, gerar os consensos indispensáveis para se poder assegurar o funcionamento de um sistema de justiça eficaz, caracterizado pela qualidade, pela certeza e pela responsabilidade das suas decisões.
É uma responsabilidade de todos contribuir activamente para que, em Portugal, tenhamos uma justiça que inspire a confiança dos cidadãos quanto à defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, que reprima as violações da legalidade e não seja obstáculo ao desenvolvimento equitativo do País.
O Presidente da República dará sempre o seu apoio às mudanças que se mostrem necessárias ao fortalecimento da legitimação democrática das instituições judiciárias, à garantia da sua independência, ao prestígio dos seus titulares e à eficácia da imprescindível função que a Constituição lhes atribui.
O quarto desafio diz respeito à sustentabilidade do sistema de segurança social.
Tem vindo a desenvolver-se na sociedade portuguesa, tal como noutros países da União Europeia, um crescente sentimento de ansiedade quanto à capacidade do Estado assegurar no futuro o pagamento das pensões àqueles que completam o seu ciclo de vida activa.
É uma questão muito séria, que exige dos responsáveis políticos uma atenção especial.
Urge aprofundar os estudos técnicos e promover um amplo debate nacional sobre a sustentabilidade a médio e longo prazo do financiamento do nosso sistema de segurança social. Seria desejável alcançar um consenso político alargado quanto à estratégia adequada para enfrentar a tendência para o envelhecimento da população portuguesa, a par do declínio da taxa de natalidade.
Um quinto desafio que quero referir é o da credibilização do nosso sistema político, um domínio de crescente insatisfação dos cidadãos que importa não ignorar.
Numa sociedade fundada no princípio democrático, a política é uma das mais nobres actividades, porque tem a ver com a realização do bem-comum e com a preservação e reforço dos interesses perenes de uma comunidade nacional. E, precisamente por isso, a democracia não se esgota em eleições e alternância no poder. Ela é acima de tudo um código moral e é daí que advém a sua supremacia em face dos demais regimes políticos.
Os agentes políticos têm de ser exemplo de cultura de honestidade, de transparência, de responsabilidade, de rigor na utilização dos recursos do Estado, de ética de serviço público, de respeito pela dignidade das pessoas, de cumprimento de promessas feitas.
Um Estado ao serviço de todos, como se exige em democracia, deve ser servido pelos melhores e, por isso, a escolha dos altos responsáveis não eleitos não pode senão nortear-se exclusivamente por critérios de mérito, onde as considerações político-partidárias não podem contar.
Um regime que se funda neste conjunto de valores é um regime que tem de ser firme no combate à corrupção porque, justamente, ela corrói a democracia, porque lhe subverte os valores matriciais, cava injustiças num regime que tem a justiça como princípio essencial e porque prejudica o desenvolvimento.
Exige-se, por isso, em nome da democracia, uma luta permanente e sem tréguas a este seu inimigo: a corrupção. Exige-se firmeza nas leis, que urge ajustar para melhor combater as formas mais correntes de corrupção, e exige-se firmeza na investigação e na punição.
Um dos princípios fundamentais da acção política é o respeito pela dignidade da pessoa humana, de que resulta como corolário que o desenvolvimento é económico para poder ser social. Daí que a busca da coesão social, do desenvolvimento justo que a todos aproveite, não possa deixar de constituir uma prioridade para todos os responsáveis políticos.
Devem preocupar-nos, em particular, aqueles que, em virtude da sua especial vulnerabilidade, se encontram mais expostos à adversidade e ao infortúnio.
Refiro-me, especificamente, aos idosos, aos cidadãos portadores de deficiência, aos desempregados e às vítimas de violência, destacando, de entre todas elas, as mais desprotegidas: as crianças.
A melhoria da justiça social, o combate à exclusão, o apoio aos mais desfavorecidos da nossa sociedade é uma razão superior para fazer com que o País volte a abraçar a batalha da criação de riqueza.
O desenvolvimento para ser justo tem também de ser sustentável, tendo em devida conta a herança que nos compete transmitir às gerações futuras.
As políticas de defesa da qualidade ambiental e de correcção do desordenamento na ocupação do território, quando prosseguidas com bom senso, devem ser encaradas não como limites ao desenvolvimento mas como elementos de inovação e modernização que tornam o País mais competitivo.
Se é verdade que a Pátria não é só a língua portuguesa, não é menos certo que ela constitui o maior símbolo de identidade colectiva de um povo que se caracteriza também pela sua vocação humanista e universalista.
Saúdo, assim, de uma forma particularmente calorosa, os países africanos de expressão oficial portuguesa, o Brasil e Timor. A todos nos ligam fortíssimos laços que a história teceu, com todos mantemos relações privilegiadas, falamos um idioma comum, formamos a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Podemos de alguma maneira dizer que constituímos uma comunidade de destino.
Não me pouparei a esforços para valorizar esta comunidade que somos, convicto de que, em conjunto, seremos capazes de construir algo que é muito maior que a soma das suas partes.
“Nesga de terra debruada de mar”, assim qualificou Miguel Torga o nosso Portugal. É tempo de prestar ao mar uma nova atenção. A vasta área marítima sob jurisdição nacional, que nos posiciona como uma grande nação oceânica, ponte natural entre a Europa, a África e a América, encerra potencialidades económicas e um valor estratégico que não podemos ignorar. O mar, para além do seu significado histórico, constitui, para Portugal, uma enorme oportunidade.
Portugueses
É uma ilusão pensar que basta a acção do Governo, da Assembleia da República e do Presidente da República, por mais empenhada e certa que ela seja, para que Portugal ultrapasse as actuais dificuldades e vença os desafios que tem à sua frente.
Como tenho dito repetidamente, neste momento que não é fácil, Portugal precisa de todos. Todos somos responsáveis pelo nosso futuro colectivo. A situação do País é demasiado complexa para que alguém pense que isto não é consigo, é só com os outros.
É errado pensar que o Estado resolve tudo ou quase tudo. O Estado não é o legatário de todos os problemas que nos afligem.
Como Presidente da República empenhar-me-ei para que na sociedade portuguesa, ao lado dos direitos, se afirme uma cultura cívica de responsabilidade, em que cada um compreenda que é seu dever contribuir para o progresso do País, melhorando por essa forma a sua própria situação pessoal.
Ajudem Portugal a vencer as dificuldades, é o apelo que nesta ocasião dirijo a todos.
Portugal precisa de todos os Portugueses numa atitude de dedicação ao trabalho, de rigor e persistência, num esforço redobrado para fazer bem e com qualidade o que lhes compete fazer, numa nova atitude de iniciativa criadora e de um optimismo fundado na certeza de que os nossos problemas não são maiores do que a nossa vontade colectiva de os vencer.
Dos trabalhadores e dos seus sindicatos exige-se uma atitude realista, que possibilite a defesa do emprego e do poder de compra dos salários, no quadro internacionalmente exigente em que se insere a nossa economia.
Precisamos de aumentar a produtividade e ser mais competitivos. Mas não se pense que a produtividade é baixa porque os trabalhadores portugueses trabalham pouco. Pelo contrário. O que acontece é que o trabalho é pouco eficiente e, na grande maioria dos casos, não é por culpa dos trabalhadores.
Se os desafios do presente fazem apelo aos trabalhadores, eles exigem muito dos nossos empresários e gestores. À classe empresarial cabe ser o agente motor da mudança nas empresas, fomentando a modernização tecnológica, a inovação nos produtos e nos processos, promovendo a qualificação dos recursos humanos, incentivando a criatividade e premiando o mérito.
Cabe aos empresários e gestores apostar na especialização em produtos de maior valor acrescentado, na melhoria da qualidade da gestão, na conquista de novos mercados e saber aproveitar as oportunidades que a globalização encerra. É assim que se produz o sucesso empresarial.
Tentar preservar a competitividade à custa de salários baixos é uma estratégia sem futuro.
Às universidades e politécnicos exige-se também que compreendam o mundo novo em que vivemos. Exige-se que apostem na excelência a todos os níveis, que se integrem nas redes internacionais, que vão ao encontro das empresas e com elas interajam por forma a que o conhecimento científico e tecnológico se traduza em reforço da capacidade competitiva do País.
O momento é exigente para os servidores do Estado. A eles se pede que se empenhem em servir melhor os cidadãos e as empresas e que, com o sentido de responsabilidade que os caracteriza, procurem ser agentes dinamizadores da mudança e não travão da vida económica e social do País.
Estou convencido de que são os primeiros a reconhecer a necessidade de avançar na reforma da Administração Pública, de modo a melhorar a qualidade dos serviços prestados, reduzir a burocracia, aumentar a transparência e reduzir gradualmente o peso da despesa pública.
Às famílias e aos professores relembro a responsabilidade que lhes cabe na formação da juventude. Aos pais e à escola exige-se um empenho permanente para que os nossos jovens concluam pelo menos o ensino secundário, por forma a que possam singrar na sociedade do conhecimento e no mundo globalizado.
Às autarquias locais que, ao longo das três décadas de democracia que o 25 de Abril tornou possível, têm dado um contributo inestimável para a melhoria das condições de vida das populações, cabe-lhes agora a responsabilidade de ajustarem a sua acção à difícil situação financeira em que se encontra o sector público português e às novas condições de desenvolvimento que o País enfrenta. A preocupação pela competitividade das empresas e a sua capacidade para criar empregos tem também de ser assumida pelo poder local.
Aos portugueses espalhados pelo mundo, a quem expresso o meu apreço e solidariedade, peço que, na medida em que lhes for possível, lancem um novo olhar sobre as oportunidades de investimento e criação de riqueza no País que é de todos nós.
Senhor Presidente da Assembleia da República
Senhoras e Senhores Deputados
Não é possível pensar a política externa independentemente da realidade interna do País.
A defesa dos interesses de Portugal na cena internacional será tanto mais fácil quanto mais confiantes nos sentirmos nas nossas capacidades. Um país estável e mobilizado, um país que cresce e progride, um país que cria e inova, um país que é capaz de abraçar as oportunidades que se lhe oferecem, será certamente um actor muito mais credível e respeitado na cena internacional.
Eu acredito num Portugal forte e digno da sua História. Um país que traga a esse projecto extraordinário que é a União Europeia uma contribuição própria e uma participação activa. A União Europeia alargou-se e outros alargamentos se preparam. E tal acontece porque a União Europeia é um projecto de sucesso. Neste período de reflexão sobre o futuro da Europa, é bom que não nos esqueçamos disso.
Mas não nos iludamos: há o risco de que os cidadãos se não revejam nesta União Europeia que vamos construindo, seja porque se sentem demasiado longe dos seus processos de decisão, seja porque nela não encontram resposta para os problemas que os preocupam.
Acredito firmemente no projecto de integração europeia. A União Europeia constitui um quadro fundamental para a afirmação dos nossos interesses. Mas é preciso que os nossos parceiros nos vejam como um actor empenhado e participativo, capaz de constituir uma mais-valia.
No segundo semestre do próximo ano, Portugal assumirá, pela terceira vez, a Presidência do Conselho da União Europeia. Teremos, assim, uma oportunidade única, para, repetindo o sucesso que foram as presidências anteriores, reforçarmos a imagem de seriedade e credibilidade que temos sabido consolidar.
A construção de uma relação transatlântica saudável é fundamental para Portugal e para a União Europeia. Enquanto Estados democráticos, abertos ao confronto de ideias, estamos todos, de cada um dos lados do Atlântico, particularmente bem posicionados para compreender a naturalidade da divergência de opiniões e, até, a riqueza que pode advir dessa divergência. Mas, enquanto Estados responsáveis, tudo devemos fazer para evitar que aquilo que nos une e que é o essencial, se veja sacrificado no altar daquilo que circunstancialmente nos divide. Esta é uma preocupação estratégica de Portugal a que nos conduzem as nossas circunstâncias geográficas, o nosso legado histórico, a presença de grandes comunidades portuguesas na outra margem do Atlântico e, não o esqueçamos, uma comunhão de princípios e de valores.
Durante a campanha eleitoral assumi um conjunto de compromissos políticos que faço questão de reafirmar nesta cerimónia solene.
Os Portugueses sabem que sempre considerei a estabilidade o pressuposto essencial do bom funcionamento das instituições e da realização das mudanças necessárias ao desenvolvimento do País. No entanto, entendo que a estabilidade política não é um valor em si mesmo. A estabilidade é uma condição, não um resultado. E para que a estabilidade não se confunda com imobilismo, é necessário imprimir-lhe um sentido dinâmico e reformista.
De acordo com a leitura que faço dos poderes presidenciais inscritos na Constituição, considero que o Presidente da República deve acompanhar com exigência a acção governativa e deve empenhar-se decisivamente na promoção de uma estabilidade dinâmica no sistema político democrático.
Julgo, por outro lado, que os desafios que Portugal enfrenta neste momento histórico exigem uma magistratura presidencial que favoreça consensos alargados em torno dos grandes objectivos nacionais.
É em torno do muito que nos une que o Presidente da República pode exercer uma acção relevante no seu relacionamento com os demais órgãos de soberania, especialmente com o Governo.
Julgo que o País necessita de mais do que mera cooperação institucional, que os Portugueses têm uma ambição maior em relação àquele que, nos termos da Constituição, representa a República e é o primeiro garante do regular funcionamento das instituições democráticas.
Perante os grandes desafios que se colocam a Portugal, entendo que do Presidente da República não se pode esperar uma simples promessa de lealdade institucional em relação aos demais poderes do Estado. O Presidente da República deve empenhar-se numa autêntica cooperação estratégica em torno dos grandes objectivos nacionais, com os restantes órgãos de soberania e, em particular, com o Governo legítimo de Portugal.
Os Portugueses sabem que, a par da estabilidade política, sempre valorizei o diálogo entre os diversos agentes políticos, económicos e sociais. Considero, aliás, que existe uma interdependência essencial entre estabilidade e diálogo. Por um lado, só a estabilidade permite um diálogo autêntico e frutuoso. Por outro lado, o diálogo é um dos elementos essenciais da estabilidade política e da paz social.
É esse o sentido da cooperação estratégica do Presidente da República com os outros órgãos de soberania. Trata-se, em palavras simples, de fazer obra em comum. De todos fazermos obra em comum. Ouvindo os Portugueses, escutando o País, o Presidente da República pode ser um interlocutor privilegiado dos anseios e legítimas preocupações da sociedade civil, sem se assumir como porta-voz de interesses corporativos e sem interferir na esfera própria de competências de cada órgão de soberania.
Além do respeito pela separação de poderes, assumo igualmente um compromisso político de isenção. No exercício das funções em que fui investido, tratarei por igual todas as forças políticas e sociais representativas da nossa sociedade. Serei o Presidente de Portugal inteiro.
No exercício das funções de Comandante Supremo das Forças Armadas, que a constituição atribui ao Presidente da República, considero da maior relevância o reforço da coesão e do prestígio da instituição militar, objectivo que, em permanência, deve merecer atenção prioritária de todos os responsáveis políticos.
Importa que a população portuguesa saiba que as nossas Forças Armadas têm demonstrado um profissionalismo exemplar nas missões externas em que têm estado envolvidas, prestigiando o País e contribuindo para o reforço da sua posição no plano internacional. Acompanharei de perto, em articulação com os demais órgãos de soberania, o processo de reestruturação e modernização das Forças Armadas e estimularei o trabalho conjunto dos ramos, por forma a reforçar a operacionalidade das forças e a promover uma adequada racionalização dos meios.
Saúdo as autonomias regionais dos Açores e da Madeira, realizações frutuosas da nossa democracia, como o testemunha o progresso económico e social registado nessas Regiões nas duas últimas décadas.
Como garante da unidade do Estado e como defensor da coesão nacional, procurarei contribuir para um clima de bom relacionamento e diálogo leal e construtivo entre os órgãos de governo regionais e da República e para que as especificidades das Regiões sejam devidamente tidas em conta, no quadro da solidariedade entre as diferentes partes do todo nacional.
Faz hoje precisamente quinhentos e seis anos que partiu a frota de Pedro Álvares Cabral para a sua viagem imortal de aventura e descoberta. O embarque tinha ocorrido com grande pompa no dia 8 de Março, data fixada para a partida. Todas as condições pareciam reunidas, mas faltou qualquer coisa. O vento mudou, e a frota de Cabral teve de aguardar no estuário do Tejo pelo dia seguinte, 9 de Março de 1500. Foi só então que zarparam todas as naus e caravelas, com as brisas propícias por fim enfunando as suas velas. E dali a quarenta e quatro dias arribaram a uma angra do outro lado do oceano. Porto Seguro, assim a baptizou o Capitão-Mor. Foi aí que desembarcaram em segurança no Novo Mundo.
Quando hoje, tantos séculos volvidos, invocamos a memória colectiva, não pretendemos tão somente celebrar o nosso passado. Pelo contrário! Uma Pátria viva oferece-nos inúmeros episódios exemplares que, sobretudo, servem de inspiração para o presente e nos dão esperança quanto ao futuro.
Desejo que a minha eleição para Presidente da República fique associada a bom tempo para a vida do País, que brisas favoráveis o conduzam no rumo certo, que os Portugueses reavivem a esperança e ganhem o ânimo e a crença que permitam conduzir a nau colectiva para além da distância, da incerteza e do desconhecido, até porto seguro.
Não tenho dúvidas de que os tempos são difíceis. Mas temos à nossa frente um enorme espaço para o optimismo, que é o espaço da vontade, da coragem e do querer.
Tenho orgulho no meu País e na sua História. Por tudo passámos, como povo. Momentos altos, e até de glória, e momentos de dificuldade e mesmo de angústia. Mas estamos aqui. Quando fez falta – e tantas vezes fez falta – mobilizámos o melhor de nós próprios e conseguimos. Estou certo de que vamos conseguir mais uma vez.
Hoje, como ontem, vamos provar que somos capazes de vencer a tirania da resignação e o espartilho do pessimismo. Pela minha parte, estou profundamente convicto de que a nossa determinação é maior do que qualquer melancolia, de que a nossa esperança é mais forte do que qualquer resignação, de que a nossa ambição supera qualquer desânimo. Sei que os Portugueses, tal como eu, não se resignarão a um destino menor.
Na história dos povos nunca é demasiado tarde para realizar o sonho e cumprir a esperança. Nunca é tarde desde que saibamos ser fortes e unidos, desde que tenhamos orgulho no que somos e desde que saibamos o que queremos ser.
O que os momentos altos da nossa História nos ensinam é que somos um povo marcado pela insatisfação. Que nos marca a ambição de fazer mais e melhor. Marca-nos a ideia de que somos agentes da História, senhores do nosso destino. Somos um povo capaz de superar as dificuldades nas horas de prova.
Os Portugueses podem contar comigo.
É para servir os Portugueses e servir Portugal que aqui estou.
Aníbal Cavaco Silva
In:www.presidencia.pt
Daqui a cinco ou dez anos, vai tudo dizer de Cavaco o que se diz agora de Sampaio: bom presidente, respeitador da constituição, etc. Os presidentes têm, à partida, duas vantagens: não têm funções executivas, e por isso podem ser críticos com os Governos ...
Os presidentes têm, à partida, duas vantagens: não têm funções executivas, e por isso podem ser críticos com os Governos (Soares sobre as privatizações, Sampaio sobre o alinhamento de Barroso com George Bush); são eleitos directamente pelo povo e isso torna-os verdadeiros fiscalizadores, uma sábia opção do legislador da Constituinte que reparou o pecado mortal da I República. Mas há uma faceta que vai fazer de Cavaco um presidente diferente de Sampaio: a familiaridade com a economia. Alguns verão nisso uma fonte de problemas. Como aconteceu ontem com PCP e Bloco de Esquerda, ao alegarem que Cavaco fez um discurso interventivo. Não surpreende: quem não tem cão, caça com gato. Importa é que o primeiro-ministro, quando for a São Bento, leve a lição bem estudada. Sampaio precisava de assessores, para a Economia, para perceber certas coisas. Cavaco, devido à formação e experiência, questionará Sócrates na hora... e em profundidade. Isso vai fazer muita diferença: o país de 2011 será muito melhor que o de 2006.
Portugal não é um país onde as revoluções são servidas com luvas de veludo. Uns passam os dedos por ela e arrepiam-se. Outros picam-se nos seus múltiplos espinhos. Muitas décadas de equilíbrios precários tornaram os portugueses mestres nessa arte de colocar um elefante sobre a cabeça e nunca serem esmagados, numa postura de formiga.
A chegada de Cavaco Silva a Belém é, no entanto, a primeira grande ruptura política do período democrático. Da mesma forma como a eleição de Sócrates para São Bento o foi. O país de 1974 não é o de 2006: tornou-se mais forte e mais frágil. Acreditou no futuro, mas sente saudades do passado. Portugal nunca trocou a viola e a guitarra portuguesa pela guitarra eléctrica: vive num Fado. Seja mais clássico, com ecos de Amália, seja mais moderno, com sons de Mafalda Arnauth. Só que se os portugueses privilegiam o equilíbrio, a chegada de Paulo Portas às noites da SIC é um antídoto contra a sesta em que muitos consideram que se vai tornar a série protagonizada por Cavaco e Sócrates. Portas é o David Lynch da política portuguesa. Vai torná-la um perfeito «Twin Peaks»: o que é real, o que é ficção? Portas é o oposto de Marcelo. Faz de um cenário uma realidade ao serviço do que quer. E isso é algo que nem Cavaco nem Sócrates querem.
A presença de Cavaco Silva já se torna evidente na pequena economia que é a vida política portuguesa. A Esquerda, acomoda-se. A Direita, incomoda-se.
Semana de romaria. Fechado para balanço, Portugal acompanhou os “gestos simbólicos” do Presidente-Cidadão. Em graus diversos, os fanáticos da contabilidade agitaram as ideias. Com a leveza do equilíbrio, inundaram a Nação com os retratos de uma década. E em Belém, o retrato de Jorge Sampaio foi revelado à Humanidade.
Mas que nos diz o retrato? Em composição corrente, nivelado por uma diagonal ascendente, Jorge Sampaio dirige o olhar para a esquerda – a expressão inútil, o brilho das lentes, as mãos tensas em pose irritada, o clássico e sereno busto da República. A ficção romântica do Presidente Jorge Sampaio não figura na composição. O que se destaca é a formalidade que se confunde com a rigidez, a dignidade que se afunda no desconforto, a imagem de um homem inseguro perante a consagração da República. Se a arte revela a moral da política, eis a lição completa. E porque o retrato chegou ao fim, fica a máscara de um patriótico silêncio. Com pompa e circunstância, Cavaco Silva tomou posse como Presidente da República. A melancolia constitucional portuguesa, talvez em função de outras balbúrdias passadas, inventou uma longa transição entre mandatos. A racionalidade da coisa ficou bem evidente nestes dois meses – viagens, despedidas, condecorações. Entretanto, a ciência do comentário assombrou a Nação com previsões e diagnósticos. Conclusão óbvia – Cavaco Silva será um Presidente “colaborante” e que poderá ter um “efeito benéfico” na acção do Governo. A coerência é um luxo ao alcance de uma imensa minoria.
Não pretendo alinhar no coro das previsões. Sinto-me demasiado confortável num registo mais solitário – o único registo compatível com duas ideias articuladas. No entanto, alguns sinais iluminam o cenário.
O primeiro-ministro visitou a Finlândia. E na Finlândia encontrou a “utopia social-democrata”. Seja ‘chic’ ou radical, a Esquerda portuguesa delira com o sonho mediterrânico de um Portugal nórdico. Regressado ao País, o primeiro-ministro ocupou-se com a celebração do novo “empresário lusitano”. Numa curiosa movimentação, o eng. José Sócrates reafirma a sua identidade social-democrata ao mesmo tempo que apela para o mundo liberal dos empresários. A coincidência com o “programa” do Presidente Cavaco Silva não poderia ser mais evidente.
O sr. Paulo Portas inaugurou na SIC-Notícias o seu novo projecto político Em pose “cosmopolita” e ‘cool’, o comentador iniciou a nova “batalha cultural” com um duplo objectivo – contrariar as patrulhas ideológicas da Esquerda, educar a sensibilidade política da Direita. A benefício da civilização local, o sr. Paulo Portas pretende tão somente a refundação da Direita portuguesa. Curiosamente, a refundação da mesma Direita que elegeu o Presidente Cavaco Silva.
O novo Presidente da República acabou de tomar posse. Mas a presença de Cavaco Silva já se torna evidente na pequena economia que é a vida política portuguesa. A Esquerda, acomoda-se. A Direita, incomoda-se. E finalmente, Portugal move-se.
O que Cavaco disse é que tem uma agenda para o País, que acha que o Governo deve governar, mas que vai ver essa acção através da sua agenda.
O Governo faz um ano no domingo. O Presidente faz hoje um dia. Governo e Presidente estão condenados a viver juntos por alguns anos ou, possivelmente, por muitos anos. Qualquer análise que se faça neste momento é um exercício de adivinhação. Por melhor que se conheça Cavaco Silva (e todos conhecemos) ou José Sócrates (vai-se conhecendo), a verdade é que só o passar dos dias é que nos vai mostrar como vão ser as relações entre os dois.
Para já temos um discurso curioso, que será dissecado ao longo dos próximos dias. Escrevo o artigo pouco depois de ele ter sido lido. Mas já há quem diga que Cavaco se excedeu. Não acho que se tenha excedido, mas acho que excedeu as expctativas.
Cavaco Silva escolheu para o seu discurso o caminho menos fácil. Podia ter feito um discurso redondo, mais ou menos vago e muito institucional. Mas optou por um caminho mais programático, aproximando-se claramente da área do Governo. Não acho que isso seja mau. Mas é diferente do que, por exemplo, Sampaio teria feito.
Os 5 desafios que Cavaco Silva enunciou são óbvios. A sua importância é clara e não há ninguém que duvide disso. Mas houve alguns pontos do discurso (sobretudo na Segurança Social e no Sistema Político) que colocaram avisos ao Governo. Quando o novo Presidente diz que vai acompanhar a acção do Governo com “exigência” está a falar a sério.
Vale a pena citar Cavaco Silva quando diz que “considero que o Presidente da República deve acompanhar com exigência a acção governativa e deve empenhar-se decisivamente na promoção de uma estabilidade dinâmica no sistema político democrático”. A frase é curiosa, perfeitamente constitucional, mas é claramente ‘border line’.
Este é talvez o ponto chave de um discurso muito aplaudido pelo PSD (que, no fundo, não tem razão nenhuma para estar feliz). O que Cavaco disse é que tem uma agenda para o País, que acha que o Governo deve governar, mas que vai ver essa acção através da sua agenda.
O problema da agenda de Cavaco Silva não é muito grave porque coincide, em muito, com a de Sócrates. Quando o primeiro-ministro diz que “o pior ainda está para vir” está a dizer o que Cavaco pensa. Há muitas coisas no País para a qual os dois olham da mesmíssima maneira. Mas também há coisas em que divergem e há, acima de tudo, os partidos.
Para Cavaco o PSD já não é um grande problema. Dez anos depois está desligado da máquina e já não deve favores a ninguém (ou já caducaram). No Governo a situação é diferente: o PS tem uma maioria absoluta, uma agenda ideológica (pouco, é certo) e um aparelho de Estado à sua espera. Neste campo há, seguramente, muita coisa em que Cavaco e Sócrates se vão entender.
O passado, para isto, conta muito pouco. Mas se olharmos para o ano que acabou podemos dizer, com alguma segurança, que Cavaco nada teria feito contra o Governo nas crises com a função pública, no choque com os militares, na redução de benefícios sociais ou nos cortes orçamentais. Mas calculo que tivesse chocado com o Governo na OTA e no TGV, na saída de Campos e Cunha e nas nomeações que agitaram o Verão.
Não é preciso acreditar no “eterno retorno” para saber que muitos destes episódios se repetem. Vamos ver se vão afectar a “estabilidade dinâmica do sistema político democrático
A vinda de Bill Gates a Portugal foi um facto positivo, e só não o foi mais porque o governo teve uma crise de Billgraxa e os nossos governantes esqueceram-se de que eram ministros e quase não resistiram à tentação de pedir um autógrafo ao homem mais rico do mundo. Mas só é um facto positivo na medida m que a sua vinda a Portugal chamou a atenção para o país, porque no que se refere a negócios talvez não tenha sido assim tanto, a não ser para a Microsoft.
Um milhão de portugueses a aprender o Office da Microsoft significa um potencial de vendas de um milhão de pacotes de software, que aos preços mais baixos se traduz numa receita potencial de 660 milhões de euros. Significa também que a Administração Pública passa a consumir quase em exclusivo os produtos da Microsoft, enfim, Portugal arrisca-se a ser o primeiro país “powered by Microsoft”.
Enquanto todo o mundo se vira para software open source, desde o muito badalado MIT à NASA, da «administração pública britânica ao banco central brasileiro multiplicam-se as instituições que aposta no open source, enquanto o governo português parece só saber da existência do software da Microsoft.
Como se explica que um Estado que anda de alpargatas se comporte neste domínio como se fossemos um dos países mais ricos do mundo? O que explica que quase toda a AP portuguesa use aplicações como o Office ou o Explorer quando poderia usar o OpenOffice ou o Firefox, poupando muitos milhos de contsos e promovendo a disseminação de softwre open source?
Certamente não é por questões de qualidade já que as aplicações da Microsoft não justificam o preço que se paga por elas. Então porque será? Porque será que muitos dirigentes da informática do Estado se comporta como adeptos de clubes, assim como o cidadão comum é o do Benfica ou do Sporting, alguns dos nossos gestores de informática são ferrenhos defensores desta ou daquela empresa, porque será?
E, já agora, uma pequena perguntinha aos admiradores governamentais de Bill Gates que tanto falam em Plano Tecnológico: o que promoveria mais o Know how inforático nacional, usar as aplicações fechadas da Microsoft ou promover a comunidade de informáticos que usam e manipulam as aplicações open source?
Quanto vai custar a Portugal esta nossa tendência para a subserviência e para as encenações governamentais?
A TODOS OS QUE DISCORDAM DESTE BLOG, LEIAM SFF
Há coisas q discordo. Isto de discordar desculpem se me vêm com bocas do xuxualista, etc, etc...SE alguem quiser postar um comentário em resposta a este que o venho com pelo menos alguma rigorosidade e racionalidade de critérios.
A primeira coisa q discordo é o critério de selecção dos textos do ZE DA PONTE. São opiniões individuais, só vem a este blog quem quiser, etc, e tudo bem, concordo. Mas O ZE DA PONTE aqui simbolisa aqueles que também comentam aqui e que, parecendo muitos, parece que seguem todos a linha de raciocinio do ZE DA PONTE. (Sem contar é claro os comentários de de outros analista, politicos nacional, que o autor do blog, e muito bem, disbonibiliza para dfender a tese do que é postado.)
Se falarmos no âmbito da Ponte de Sor, não tenham duvidas, porque aqui só comenta (pelo menos parece, sem que o seja possível, já que não é possível criar um blog em q a amostra populacional do concelho seja uma minoria que não vota TAVEIRA PINTO) quem o proprietario do blog acha que deve comentar. Sendo isto tecnologicamente impossível, deduz a hipotese de a maioria dos nomes que por aí aparecem serem maioritamente inventados pelo ZE DA PONTE, ou seja, um blog postado e comentado pela mesma pessoa. Normelmente, os blogs de opiniões claramente divergentes do quadro mental da maioria, não chegam sequer a ser comentados, muito menos defendidos por tanta gente e com tanta vêemencia!
Um exemplo: espantoso que a nota imformativa da Câmara evidencie factos, que aqui não são sequer comentados ou analisados, são puramente desprezados, ou tendo como pressuposto que os factos são puras calúnias. E isto é grave, já que implica, partindo do principio de ser esta a forma de cidadania existente em P de Sor(pensando q os comentários NÃO são feitos pelo próprio, não só é uma descredibilização completa do ente públicO como um explícito ataque á legitimidade dos orgãos em funcões.
E isto é fácil exemplificar: AFINAL Q HISTÓRIA É ESSA DA PJ NA CÃMARA? É JUSTO OS PONTESSORENSES TEREM DE FICAR ENGAIOLADOS NAS QUIZILIAS PESSOAS DE TAVEIRA PINTO E JOSÉ AMANTE?? DESCULPEM-ME A EXPRESSÃO MAS EU TOU ME A FODER PRO PASSADO, QUERO É SABER DO PRESENTE E DA VERDADE DO PRESENTE PARA CONSTRUIR UM FUTURO PARA A CIDADE.
E construir o futuro, insisto, é com debate construtivo, com empenhamento de cidadania em tudo quanto é lado, desde que racional é claro! Quando tanto falam no complemento dos blogs para a liberdade de expressão e o debate de ideias, então façam-no não distorcendo a realidade.
SE O SR ZE PA PONTE VEM DEFENDER O SR ZE AMENTE, está absolutamente livre e no seu direito, mas apenas útil se o justificar. O mais estranho é parecendo ou querendo parecer este blog a "vóz da ponte de sor", ou o sitío onde a "verdade doí dói dói e vai doendo blá blá blá", sendo estritamente comentado na mesma linha de pensamento...
A TODOS OS CIDADAOS E EM PARTICULAR A TODOS OS VEREADORES QUE ME ESTÃO A LER, e voces ja escreveram por aqui, RESPONDAM-ME: qual É A VERDADE?
Sr JOAQUIM LIZARDO, que o levo por alguem coerente e idóneo á função q desempenha: Q RAZÕES O LEVOU A VOTAR CONTRA A PUBLICACAÇÃO DA NOTA? A veracidade do esclarecimento,( Q PONDO POSTA EM CAUSA É GRAVE) ou a forma com que elA foi feitA, e no fundo, esta mesma quilizia pessoal taveira - amante que deve deixar de ser O fundamental para o debate? Se foi esta segunda opção concordo prontamente. Se a ela juntar a primeira, terá, tal como a outra parte, de me apresentar factos e discorrer proposições insofismaveis deles. Não concorda que, sendo eu eleitor, mereço um esclarecimento? Sinceramente discordo da forma como é feita a Comunicação Social da localidade, seja o ecos do sor seja a ponte, sempre com algum receio ou pelo menos a ideia de que não valerá a pena, discutir aprofundadamente a política local. Por isso considero devido(dada a situação existente) que surgam as partes aqui a comentarem e a explicitarem a veracidade dos factos. Com isto é obvio que a confirmar-se a veracidade daquela nota, primeio ZE AMANTE morreu politicamente, seja eleito, seja como voz critica, já que ironicamente sobre o semblante comunista, na verdade cometeu ele proprio peculato e "roubou" dinheiro dos nossos impostos para uma instituição privada sobre a sua alçada. Segundo, o sr JOAQUIM LIZARDO tem de se vir de facto justificar pelo voto contra. E a ausencia de uma explicação cabal acerca da sua orientação de voto, induz um desalienamento completo da sua responsabilidade como verador - usufruir ao eleitor da máxima informação (e claro, verídica) para um voto mais responsável.
Isto digo-o sendo simpatizante do PSD, ou se preferirem um claro avesso ao racidalismo e um apregoador do racionalismo. Só peço que me seja apresentada a verdade para eu proprio possa votar coerentemente, e não por simplesmente ser do grupo A ou B.
Andas muito enganado nos números das portas.
Abre os olhos ou compra uns óculos.
BOA SORTE SENHOR PRESIDENTE
COMEÇO por fazer esta confissão, se calhar indevida: nunca votei em Cavaco Silva. Nem nas três vezes que se candidatou a primeiro-ministro, nem nas duas que se candidatou a Presidente. Sei que muitos dizem o mesmo, mas no silêncio das urnas votaram nele: não foi o meu caso e, dizendo-o agora, acho que mereço credibilidade. Por razões que adiante resumirei, fui sempre muito crítico daquilo a que se chamou o «cavaquismo», muito embora lhe reconheça seriedade e empenho enquanto governante. E os dez anos seguintes, em que ele esteve em pousio político, à espera de nova oportunidade para Belém, não me foram suficientes para apagar da memória aquilo de que não gostei anteriormente.
Mas, a partir de anteontem, Cavaco Silva é o meu Presidente, como Jorge Sampaio o foi até lá. Nesta matéria, aliás, sou bastante inflexível: a única pessoa que trato por Presidente é o Presidente da República, seja ele quem for. Estive dez anos na RTP, onde toda a gente tratava os presidentes do Conselho de Gestão por «senhor presidente» (será que ainda continuam a fazê-lo?) e eu nunca o tratei como tal, assim como não trato por presidente os presidentes dos clubes de futebol (incluindo o do meu), das Câmaras Municipais ou de qualquer outra coisa - conforme é costume da boa gente portuguesa. Porque sou republicano, acredito que o respeito devido a um Presidente da República começa por aí e, mais do que uma manifestação de respeito pela pessoa ou pelo cargo, é uma manifestação de respeito pela República e por mim próprio.
Obviamente, só posso desejar boa-sorte ao novo Presidente da República - caso contrário, ou estaria a desejar mal para o país, ou faria parte daqueles que acham que o cargo é rigorosamente inútil e que a única coisa que se espera de um Presidente é que faça umas digressões pelo país, passe revista às tropas em ocasiões solenes, elabore uns discursos rigorosamente despidos de conteúdo político, se desloque em visitas ao estrangeiro onde lhe é absolutamente vedado ocupar-se de política externa e distribua, de vez em quando, umas condecorações pelos amigos e suplicantes.
Ora, eu não acho que o cargo seja inútil e despido de conteúdo político - há mais vida para lá da «bomba atómica», em Belém. A questão, obviamente, está em saber gerir com mestria - e com resultados úteis para o país - essa ambígua demarcação do que sejam ao certo os poderes presidenciais, matéria tão discutida na última campanha eleitoral e condenada a continuar a ser entusiasticamente discutida até à eternidade pelos nossos constitucionalistas. Pessoalmente, acho que não se perderia nada em concretizar alguns desses poderes ou, pelo menos, em demarcar bem as suas fronteiras. Mas sabe-se como os juristas detestam leis claras, que todos possam interpretar de forma mais ou menos pacífica e igual - talvez tenham medo de perder o emprego. É com isso, pois, que vamos ter de continuar a viver. É com isso que Cavaco Silva vai ter de viver nos próximos dez anos - assim tenha saúde, porque vontade de se recandidatar certamente que também a ele não lhe faltará, quando chegar a ocasião.
A avaliar pelo seu discurso de posse, o novo Presidente, tal como muitos anteciparam na campanha mas agora quase todos negavam, vem com vontade de fazer coisas e de não se conformar com o que ele próprio chamou «o imobilismo»: não será uma estátua em Belém nem em digressão pelo país. Não é necessariamente um mal, desde que a sua agenda política própria - que a tem, inegavelmente - não entre em colisão com a do governo.
Na Assembleia da República, Cavaco Silva, não obstante as cautelas da praxe, foi suficientemente explícito em zonas de tradicional ambiguidade, para se poder razoavelmente concluir que, pelo menos à partida, ele faz questão de se distanciar da agora tão elogiada magistratura do seu antecessor. Certas passagens do seu discurso foram, a meu ver, elucidativas. Assim, quando ele, em lugar de dizer que actuará dentro do quadro dos seus poderes constitucionais, disse que actuará «dentro da interpretação que faço dos meus poderes constitucionais». Assim, quando substituiu a «cooperação institucional» dos discursos de campanha pela «cooperação estratégica» do discurso de posse. E assim, quando, referindo-se explicitamente às suas relações com o Governo, falou em fazer «obra comum». Ora, como se sabe, quem tem de fazer obra é o governo - o Presidente limita-se a vigiar que o Governo o faça de acordo com a Constituição. A «cooperação estratégica» não passa por fazer «obra comum»: passa por um fazer e o outro vigiar de alto (nem sequer controlar, porque essa é a função da Assembleia).
Mais sintomático ainda, é quando Cavaco Silva enuncia como programa do seu mandato aquilo que verdadeiramente é um programa de Governo. Quase nada de política externa ou de defesa - as únicas zonas onde ainda partilha constitucionalmente algum poder com o Governo; e nada sobre a qualidade da democracia e os direitos de cidadania, que lhe cabe vigiar. Em vez disso, a reforma da justiça, do ensino e qualificação profissional e do financiamento da segurança social. Tudo, curiosamente, não apenas matérias da estrita competência do Governo, mas também matérias que era suposto terem sido resolvidas com as célebres «reformas da década», que ele anunciou ter feito e, como se vê, não fez.
De facto - e aí reside o essencial da minha crítica ao «cavaquismo» - Cavaco Silva teve dez anos privilegiados para governar e fazer as reformas de que o país precisava e gastou-os a fazer estradas, hospitais e pouco mais. Deixou a justiça em roda livre, aumentou o «monstro» da Administração Pública sem a reformar, deixou a educação entregue aos sindicatos e as verbas para formação do Fundo Social Europeu entregues a vigaristas sem escrúpulos, e a Segurança Social na antevéspera da falência. Tudo aquilo que ele agora anuncia ir exigir que este Governo faça e que ele não fez, quando tinha maioria absoluta, uma enxurrada de dinheiros europeus e uma situação económica internacional invejável, com juros baixos e energia barata. Seja por má consciência, seja por vontade séria de ver o país libertar-se finalmente das razões do seu crónico atraso, a verdade é que Cavaco Silva, se escolher ir por aí, só encontrará neste Governo o mais inadequado dos bodes expiatórios para os males de que o país sofre. A opinião pública tem a percepção de que este é o primeiro Governo em muitos, muitos anos, que começou verdadeiramente a tentar mudar o estado de coisas e a enfrentar os poderes estabelecidos a todos os níveis da sociedade. E, logicamente, espera que o Presidente o ajude, e não que o atrapalhe.
Que a sorte e o talento dêem ao novo Presidente a sabedoria de perceber o que pode e deve fazer e o que não pode e não deve fazer.
Miguel Sousa Tavares
In: Expresso
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