ESQUERDA MODERNA? [parte II]
É a esquerda moderna, estúpido!
Este país continua, de facto, a ser um total fantoche ideológico.
Este país continua, de facto, a ser um total fantoche ideológico.
Trinta e tal anos após a revolução dos cravos e continuamos a apelidar de esquerda tudo o que é bom.
A tese decorre da hipótese.
E a hipótese, obviamente com formulação errada (julgo eu, e talvez seja só mesmo um problema meu!?), é a de que se pode ser um liberal de esquerda.
E a hipótese, obviamente com formulação errada (julgo eu, e talvez seja só mesmo um problema meu!?), é a de que se pode ser um liberal de esquerda.
Pode?
A hipótese emergiu em público e numa reunião de faculdade assaz concorrida.
Para dizer que, afinal, havia algum liberalismo posicional no pensamento e atitudes de uma determinada malta perante uma determinada questão, malta tipicamente de esquerda, e que esse liberalismo até era a coisa boa que ofereciam àquela questão para a sua resolução.
Confesso que, num primeiro momento, fiquei meio estrugido.
Num segundo momento, e já refeito do choque, pus-me a pensar: é fantástico como, em Portugal, só a esquerda pode ter opiniões e posições valiosas e sérias.
Num segundo momento, e já refeito do choque, pus-me a pensar: é fantástico como, em Portugal, só a esquerda pode ter opiniões e posições valiosas e sérias.
Quando, por algum motivo, se usa o liberalismo (ou ideias liberais) para a resolução de um problema, e para não lhe chamar de direita (porque da direita só vêm coisas más e nunca opiniões valiosas e sérias!) então chama-se-lhe liberalismo de esquerda.
A moda e o fanatismo da esquerda chegaram a tal ponto que os seus personagens usam e abusam de ideias de direita para as fazerem passar por esquerda.
A moda e o fanatismo da esquerda chegaram a tal ponto que os seus personagens usam e abusam de ideias de direita para as fazerem passar por esquerda.
Pior que isto é dizerem-se convictamente de esquerda, apresentando-se como tal no seio do meio académico onde, putativamente, não há política, sendo as suas posições apolíticas e configurando, apenas, meras soluções para os problemas. Sim, porque política é aquilo que se escreve nos blogs; soluções, que não passam pelos blogs, nada têm a ver com política!
Este país continua, de facto, a ser um total fantoche ideológico.
Este país continua, de facto, a ser um total fantoche ideológico.
Trinta e tal anos após a revolução dos cravos e continuamos a apelidar de esquerda tudo o que é bom. E quando procuramos soluções para os problemas, socorremo-nos de teses liberais para as apresentar como de esquerda liberal ou, ridiculamente, moderna.
Isto só em Portugal!
Ser de esquerda implica usar o Estado e os seus poderes para configurar um modelo social conveniente para o país.
Ser de esquerda implica usar o Estado e os seus poderes para configurar um modelo social conveniente para o país.
O primeiro liberal de esquerda, que aposte num Estado pequeno e de direito, na liberdade individual e nos mecanismos de mercado está, portanto, para nascer!
O problema é que o Estado parece ser, neste momento, grande demais e não há soluções para o país que passem por ele. E, por isso, temos que recorrer ao mercado e às ideias de mercado para dar ao Estado o dinheiro que lhe falta por via do «seu Orçamento». Isto é, em todo o lado do mundo, um engodo.
Em Portugal chama-se esquerda liberal ou moderna!
Para quem venha de fora, e tenha a surpresa de aterrar numa destas reuniões, convém explicar, agora, que os novos modelos de esquerda preconizados pelas universidades para si próprias, nos dias que correm, enfatizam o mérito, o valor individual, a competitividade, o empreendedorismo interno, a avaliação e, imagine-se até, a legitimidade das receitas próprias por recurso ao tão famigerado mercado e por fora do Orçamento de Estado.
As universidades são, portanto, o fantástico mundo onde se forjam e desenvolvem os grandes pensamentos da esquerda liberal!
Para quem venha de fora, e tenha a surpresa de aterrar numa destas reuniões, convém explicar, agora, que os novos modelos de esquerda preconizados pelas universidades para si próprias, nos dias que correm, enfatizam o mérito, o valor individual, a competitividade, o empreendedorismo interno, a avaliação e, imagine-se até, a legitimidade das receitas próprias por recurso ao tão famigerado mercado e por fora do Orçamento de Estado.
As universidades são, portanto, o fantástico mundo onde se forjam e desenvolvem os grandes pensamentos da esquerda liberal!
Vergonha!?
Nem pensar.
Continuam a ser de esquerda, pois então. E eu, que sou e sempre fui de uma minoria de direita, apenas mereço pagar o preço e transportar o rótulo de liberal de direita numa sociedade, pós-Estado Novo, de esquerda democrática.
Está visto que não soube, e continuo sem saber, enroupar os meus argumentos em retóricas pífias similares às que descrevo.
Imagine-se agora o leitor participar numa magnífica reunião, em que a maioria dos personagens se diz de esquerda, e a ver serem usados os argumentos da direita liberal, clássica, vestidos como de esquerda e por pessoas de esquerda.
Imagine-se agora o leitor participar numa magnífica reunião, em que a maioria dos personagens se diz de esquerda, e a ver serem usados os argumentos da direita liberal, clássica, vestidos como de esquerda e por pessoas de esquerda.
O paradoxo funciona em todo o lado e, desde que Blair, no Reino Unido, foi eleito à esquerda para governar à direita, a moda pegou.
Lá como cá, ainda por cima cá onde a direita continua a ter, infelizmente, conotações fascizantes, a esquerda será sempre muito maior que a direita.
Sobretudo, e cada vez mais, a esquerda liberal.
É que é isto, para quem não tenha entendido, que configura a esquerda moderna, estúpido!
José C. de Carvalho
José C. de Carvalho
4 Comments:
É evidente que o PSD deve virar-se para si próprio: sem tabus, tem que rever os estatutos e revisitar o seu programa.
I. Não se percebe a ânsia de alguns membros do PSD em ver o partido “virado para fora e rapidamente a fazer oposição ao Governo” sem perder mais um minuto consigo próprio, com os estatutos e com as regras que o enformam.
Como se isto de olhar para dentro e de se repensar seja um erro político e não um instrumento essencial para reforçar alicerces, readaptar estruturas e consolidar opções de futuro.
Quem entende que os partidos devem viver na espuma dos acontecimentos e na lógica efémera dos factos do dia-a-dia, sem que ousem parar para se reequacionar, pensa pequenino. Tão pequenino que acabam por contribuir para o facto de o PSD, apesar de ser um partido de matriz reformista, estar a perder capacidade de inovação, liderança, empatia com a sociedade civil, enfim, força no discurso e impacto na acção. Nada disto é susceptível de ser recuperado em qualquer ‘guichet’ dos perdidos e achados da política. Tudo isto só é passível de vir a ser recuperado se o PSD tiver a capacidade de empreender uma terapia colectiva de autoavaliação que conduza, no mínimo, a um refrescamento dos conceitos, das práticas e dos protagonistas.
É, por isso, evidente que o PSD deve virar-se para si próprio: sem tabus, tem que rever os estatutos e revisitar o seu programa.
Se o PSD não ousar definir o seu sistema de crescimento, como pretende apresentar um para o país?
II. Trata-se de um trabalho que toca diversos patamares e que deve ser desenvolvido a vários tempos.
Ao nível da adaptação dos conceitos – sempre balizados pela matriz doutrinária do partido, mas necessariamente alinhados a objectivos estratégicos definidos na base do conhecimento das circunstâncias que enformam os quadros políticos nacional e internacional – que sustentem um discurso apto a despertar nos portugueses primeiro interesse e depois adesão.
Ao nível da reestruturação das práticas internas, demonstrando que os partidos não se resumem a meros locais de desenvolvimento de joguinhos de intriga interna, de lutas de facções ou de disputas estéreis – do ponto de vista da consolidação e estruturação de ideias – por lugares na distrital x ou na secção y, mas são verdadeiras plataformas de concepção, de discussão e de avaliação de modelos de desenvolvimento do País.
Ao nível da atracção de novas capacidades e de novos protagonistas que ajudem a promover a credibilização da actividade da própria organização –z dando-lhes o espaço suficiente para sobreviverem às lógicas castradoras de quem os vê como ameaça a um certo ‘status quo’ útil aos mesmos de sempre.
III. E este é o momento ideal para o fazer.
Porque situando-se, circunstancialmente, o arco político entre Belém e S. Bento, e não entre a oposição e o Governo, esta, não estando focada sob a atenção geral, tem uma margem para se recolher e fazer o tal exercício de autoavaliação.
Acresce ser este o único caminho que poderá conduzir a dois objectivos: preparar o tempo do PSD e contrariar o arco político Belém/S. Bento.
IV. Nesta caminhada todos são necessários. Não se admitem sectarismos dos que dirigem, nem dos que gostariam de dirigir.
O momento é suficientemente determinante para convocar todas as vontades. A ideia de que há quem se resguarde para oportunidade futura, fazendo de tudo isto um jogo em que o vencedor é um “eu” qualquer, é uma ideia que diminui e que cava mais fundo o distanciamentos entre o partido e os portugueses .
Nota: os portugueses registaram a atitude de Mário Soares ao ter abandonado a cerimónia de tomada de posse do novo Presidente da República sem que o tivesse cumprimentado – será esta uma forma moderna de pisar a bandeira nacional? Os portugueses registaram esta atitude tal qual registaram a de Manuel Maria Carrilho ao não ter estendido a mão ao seu adversário. E se Soares tivesse tido idêntico comportamento público antes das eleições, certamente que a sua votação teria sido ainda mais humilhante (e justa).
Fica a certeza de que não pode ser grande quem não vê para além da sua própria dimensão.
Há duas formas de emagrecer o Estado, reduzindo as funções que lhe estão atribuídas, ou reduzindo ou limitando os quadros de pessoal, os dirigentes e os serviços ao necessário e adequado ao desempenho eficaz dessas funções. Defendo o emagrecimento do Estado pela eliminação dos desperdícios, e oponho-me à privatização das funções do Estado, com o mero objectivo de as converter em oportunidades de negócios e mais tarde vender as empresas ao melhor preço.
Com uma classe empresarial que não é capaz de tomar conta do recado, a privatização dos serviços públicos apenas resultaria na conversão dos impostos que pagamos para os suportar em receitas de empresas privadas. E prefiro pagar impostos que são decididos na AR por deputados que sou eu que escolho, do que pagar facturas a preços decididos por administradores escolhidos por accionistas. Se os nossos empresários, que naturalmente defendem as virtudes da privatização das funções do Estado, querem fazer-me mudar de opinião, então que comecem por as demonstrar na gestão das suas empresas, designadamente naquelas que vendem serviços fundamentais para o país.
Emagrecer o Estado implica reduzir o número dirigentes, eliminar serviços desnecessários, reduzir quadros de pessoal não especializado, concentrar os recursos dos organismos nas suas áreas de negócio recorrendo à prestação de serviços (facility management). Isso implica reestruturar, gerir criteriosamente os recursos humanos, financeiros e materiais, eliminar abusos e desperdícios, adequar a dimensão e estruturas das organizações aos seus objectivos e mudar culturas e mentalidades, algo que não se faz nem nunca foi feito.
Defendo o recurso intensivo ao facility managment, mas não nos termos actuais, em que o Estado paga por serviços sem qualidade, a empresas que nem cumprem as suas obrigações, favorecendo empresas duvidosas. O Estado deve gastar menos, mas também deve gastar melhor, a despesa pública deve ser gasta de forma a estimular as empresas competitivas e não as oportunistas que são as que, à custa de múltiplos expedientes, ganham os concursos de transparência duvidosa. Não é aceitável, por exemplo, que a segurança do ministério das Finanças seja assegurada por funcionários de uma empresa de segurança que nos tempos da ministra Manuela Ferreira Leite tinha os salários em atraso. Se do ponto de vista a eficácia da despesa rside na poupança,na perspectiva da economia também depende do que, de como e de a quem se compra.
O Estado não só gasta muito como gasta mal e, talvez pior do que isso, muito do que gasta é consumido na sua própria burocracia.
Gasta duplamente mal, por má gestão e porque graças a um modelo de concursos idiota e mal conduzido tende a comprar a empresas menos competitivas.
Apesar da imensidão de funcionários o Estado não é capaz de dar resposta eficaz a muitas necessidades, não é capaz de gerir os seus edifícios, a imensidão de funcionários auxiliares está “atacada” por bicos de papagaio, não faz qualquer esforço de poupança dos consumos de energia ou de telecomunicações, o seu actual modelo de gestão, quase intacto desde os tempos de Salazar não se adequa à realidade de hoje.
E quando muito se fala em poupar e importante distinguir entre poupar e cortar, e é por não entenderem essa distinção que os nossos políticos têm falhado sistematicamente.
Poupar implica gerir e gerir pressupõe mudar, enquanto cortar é a decisão mais simples e ineficaz, corta-se na despesa em Setembro para que as aquisições acabem por ser feitas em Dezembro.
A solução passa por uma profunda reestruturação na gestão dos recursos financeiros, materiais e humanos, e isso implica a adequação dos edifícios às necessidades, a concentração dos recursos no ‘core’ dos serviços e o recurso intensivo à contratação de “facilities”, beneficiando dos ganhos de eficácia do facility management.
Limpezas, telecomunicações, manutenção de edifícios, refeitórios, vending, jardinagem, arquivo, segurança são alguns dos muitos serviços para os quais o Estado não tem vocação nem consegue assegurar com padrões mínimos de qualidade e eficácia.
O resultado são edifícios porcos e mal mantidos, níveis de higiene e limpeza inaceitáveis, arquivos espalhados pelos cantos, tabernas em vãos de escada, consumos ilimitados de energia, e, em consequência de tudo isso, baixos níveis de qualidade.
É necessário emagrecer o Estado mas isso só faz sentido se a modernização dos métodos não ficar por fazer.
Eu não desconsidero o Presidente da República, o Presidente de todos os portugueses. É legítimo, vale. Respeito-o, não o gostando. Porque o meu não gostar vale tanto como valem os votos que o levaram a Belém. Isso, para mim, não tem espinhas. Mas nunca cometeria o mau perder e a arrogância de falta de educação democrática de assistir-lhe à tomada de posse e não o cumprimentar, ou ficar com o rabo enfiado na cadeira quando se despede o anterior Presidente ou se saúda o novo. Nisso, os do CDS/PP e os deputados esquerdistas radicais mostraram-se dignos de Soares, o homem que se julgou Buda da democracia portuguesa e que ameaça retirar-se da política com o mau perder falido dos perdedores birrentos.
Nunca gostei de Cavaco. Não vejo como alguma vez consiga gostar dele (sem lhe retirar a hipótese de me surpreender). Ele que fique com a Presidência, sendo meu, nosso, Presidente. Mas não me tirem o desgosto para com esta personagem que me dá a sensação frustante de reduzir o país a uma paróquia de fura-vidas, self-made-men, tias laranjas, mestres de obras, laudatórios e lambe botas, banqueiros disfarçados de anjos, analfabetos a fingirem de literatos, navegadores falhados de naus encalhadas e apodrecidas, monárquicos republicanos, republicanos monárquicos, senhor engenheiro para aqui, senhor doutor para acolá, como está senhor professor, olá senhor general, contabilistas e alpinistas de palmeiras.
Não gostando de Cavaco, não lhe retirando respeito e legitimidade, o que não lhe perdoo, sobretudo, é, conluiado com Sócrates, ter-me baralhado a escrita referencial das coordenadas políticas. Agora, como entender a coisa? Se o PS é de esquerda e governa, Cavaco é de direita e foi a direita que o meteu em Belém, se a esquerda e a direita se entendem tão bem, onde acaba a esquerda e começa a direita? Isto é só no começo? Estou cá para ver. E rever, se necessário
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