terça-feira, 6 de junho de 2006

A EDUCAÇÃO E OS...

CACOS DA MINISTRA DA

EDUCAÇÃO


A maior parte dos ministros têm uma terrível tendência para pensarem que antes deles existia uma trovoada e que depois deles reinará o dilúvio.
Por isso, para mostrarem que podem mudar o mundo, sobem à torre mais alta do seu ministério e fazem escutar a sua voz nos quarteirões mais longínquos.
Muitos ministros portugueses querem ficar na história de Hollywood. Ou, mais modestamente, na de Bollywood.

Veja-se o que está a acontecer com a ministra da Educação, verdadeira actriz do minimalismo esclarecido.

Querendo deixar a sua impressão digital na política nacional tem anunciado medidas reformistas sem fim.
Há que elogiá-la pela sua capacidade inovadora.
Todos os ministros que a antecederam anunciaram pelo menos cinco reformas radicais no sector.



























Os resultados de 30 anos de reformas e contra-reformas na Educação geraram mais gases que produziram efeitos estufa que toda a indústria portuguesa.
O ensino está pior.
A disciplina eclipsou-se.
Os professores foram aliciados a atingirem níveis de sucesso escolar para que estivéssemos nos parâmetros da UE e os exames eliminatórios foram desclassificados.
As escolas tornaram-se os fiéis depositários da educação total dos jovens.
O facilitismo grassou.

O que sobra?


Não é um sistema educativo.


São cacos.


Para o qual a ministra

comprou, em vez de cola, um

martelo.



Fernando Sobral

9 Comments:

At 7 de junho de 2006 às 13:29, Anonymous Anónimo said...

QUEM DIFAMA OS PROFESSORES?

Talvez os senhores da FENPROF não saibam mas a marcação de um dia de greve em data encostada a feriados para realizar uma manifestação em Lisboa prejudica mais a imagem dos professores do que uma afirmação mal medida da ministra. E estou a fazer de ingénuo, os líderes da FENPROF têm demasiada experiência política e sindical para não perceberem isso.
A verdade é que a forma como a FENPROF está a reagir a cada medida ou palavra da ministra ultrapassa em muito o que pode ser entendido por luta sindical, e o que o que se pretende é criar situações que criem mal-estar na população, na esperança de a prazo isso resultar numa mudança política.

A FENPROF não precisava de uma encenação nacional contra as declarações da ministra, os encarregados de educação deste país sabem melhor do que o líder daquela organização sindical o que se passa nas escolas.
Sabem que há excelentes professores que dão tudo pelos seus alunos e pela escola, independentemente de quem está no governo, da mesma forma que sabem que nesta profissão, como em todas as outras, há maus profissionais. Se os pais sabem o que se passa na escola a manifestação da FENPROF não serve para nada, e muito menos para proteger a imagem dos professores.

Ao organizar um dia de greve em data anterior a um feriado, que no caso de Lisboa ocorre entre dois feriados, a FENPROF está a catalogar os professores de oportunistas, e, pior do que isso, está a demonstrar impotência usando o feriado como incentivo à greve.
Desta forma a FENPROF não só desprestigia os professores como compromete a eficácia das lutas sindicais dos professores e da Função Pública.

A FENPROF não percebe isto?
É evidente que percebe, da mesma forma que se torna evidente que esta greve pouco tem a ver com objectivos sindicais.

 
At 7 de junho de 2006 às 14:10, Anonymous Anónimo said...

Os pais têm hoje uma peculiar concepção da escola: os professores não só servem para ensinar, mas sobretudo para educar os alunos.
Poucos são os que fogem à regra e à pressão da vida moderna - acompanhado com regularidade os estudos e participando nas actividades escolares dos seus filhos. Quantos perdem tempo com os «deveres de casa»? Poucos certamente. A exigência é outra: espera-se que «a papa» seja feita em troca de um salário mensal. A comunidade paga, eles têm direito. São estes os pais que recebem com agrado a última inovação da ministra da Educação: querem avaliar os professores. Os riscos são evidentes: o que se sobreporá no momento da avaliação sobre quem deveria fiscalizar? O que será mais importante para os pais: avaliar com justiça os professores ou salvar a pele dos seus filhos? A questão não é menor e suspeitamos de que inquina todo e qualquer raciocínio. Mas a popularidade da medida não deverá ser negligenciada. Será um sossego para os pais decidir que a culpa é dos professores. E não dos seus queridos filhos.

 
At 7 de junho de 2006 às 14:12, Anonymous Anónimo said...

Por que é que as reformas são sempre apresentadas num embrulho de guerrilha e de descrédito de todos os profissionais envolvidos?

O debate em torno da Educação em Portugal tem sido, ao longo dos anos, dos mais politizados. O pendor político-sindical da discussão tem tido como consequência a sucessiva substituição de ministros e um ziguezaguear permanente das políticas públicas. Esta semana, mais uma vez, aqueceram os ânimos, a propósito da proposta de avaliação dos docentes pelos pais e das declarações da ministra Maria de Lurdes Rodrigues.

Comecemos pelo princípio. A minha geração foi a primeira a ser totalmente educada após o 25 de Abril de 1974. Um sistema escolar, que estava caduco e inacessível a uma grande faixa da população, teve finalmente a oportunidade de se modernizar e de se democratizar.

Mas, como consequência, surgiram outros factores capazes de distorcer a procura de novas soluções. Um desses factores foi a paixão revolucionária pela igualdade. A igualdade, se bem entendida como a igualdade de acesso ao ensino e de oportunidades dentro do sistema educacional é benéfica, se não mesmo um requisito fundamental de uma sociedade moderna e democrática. O que não se deveria fazer, e muitas vezes acontece, é confundir esta igualdade de oportunidades com um nivelamento por baixo da exigência. Pior ainda. Como o sistema é hipercentralizado e não existe liberdade para os pais escolherem a escola pública onde gostariam de colocar os seus filhos, não existe de facto igualdade de oportunidades.

Situação semelhante podemos observar quando olhamos o problema da perspectiva dos professores. O espírito corporativo instalado e a forma com está organizada a promoção na carreira não permitem uma distinção positiva dos melhores, o que, como é óbvio, nem contribui para a qualidade do ensino, nem para a realização profissional dos professores. É pois urgente quebrar este complexo de igualitarismo politicamente correcto que asfixia o talento e a dedicação de muitos docentes, ao mesmo tempo que permite que, em alguns casos, perdure a mediocridade e a falta de profissionalismo, sem qualquer diferenciação.

Dito isto, em tese não poderia estar mais de acordo com a introdução de sistemas de avaliação que permitam a diferenciação dos professores pelo seu mérito. Mas, quanto à proposta de avaliação da ministra da Educação, sobram duas dúvidas. Uma quanto ao conteúdo, outra quanto à forma. A primeira, já levantada por Fátima Bonifácio num debate televisivo, prende-se com uma eventual “machadada final” na autoridade dos professores que a avaliação dos encarregados de educação pode provocar. A segunda, não é um exclusivo do Ministério da Educação e já é uma marca do Governo de José Sócrates. Por que é que as reformas são sempre apresentadas num embrulho de guerrilha e de descrédito de todos os profissionais envolvidos, em vez de tentar captar os melhores, os mais responsáveis, neste caso dos professores, para que também eles possam ser agentes da mudança e não um factor de resistência?

 
At 7 de junho de 2006 às 14:49, Anonymous Anónimo said...

PÃO E CIRCO

Na Antiga Roma, os Imperadores providenciavam para a satisfação do povo romano que nunca faltasse pão e circo.

Apesar da grave situação económica, do acentuado aumento do desemprego, do futuro incerto na função pública e das más notícias da segurança social, os portugueses parecem apenas preocupados com o futuro da selecção nacional de futebol.

Alienados pelo sonho irreal de uma vitória no Campeonato do Mundo de Futebol, os portugueses esquecem os seus reais problemas durante as próximas semanas. Os meios de comunicação social, com especial destaque para a rádio e televisão, alimentam até à exaustão o mito da possibilidade da vitória portuguesa deixando para segundo ou terceiro plano as verdadeiras questões existentes na sociedade portuguesa.

Já não há pachorra para tanto futebol, ele invade-nos as casas ao pequeno-almoço, ao almoço, ao jantar e nos intervalos, permanentemente, nem de madrugada nos livramos de tanta informação sobre os seleccionados, um enjoo!

Endeusados, alguns deles mostram-se mais proficientes durante as saídas nocturnas que a nível do relvado, o que não será de bom augúrio para o desenlace da competição que se avizinha e para aquilo que alguns erradamente designam como um desígnio nacional, a conquista de um campeonato europeu ou, sonho supremo, mundial de futebol.

Enquanto Portugal se mantiver em competição pouco ou nada se ouvirá sobre o desemprego, o atraso em relação à Europa, a mobilidade dos funcionários públicos, o abandono escolar coexistindo com mais de trinta e cinco mil portugueses vítimas da exploração do trabalho infantil, a destruição da nossa floresta pelos fogos florestais e mais um sem número de problemas que nos colocarão a prazo, no último lugar da Europa dos 25.

Ninguem se interrogará como se podem vender 12 caças F-16 de um lote de 25 comprado em 1999 e dos quais 20 nunca voaram, há sete anos que se encontram desmontados e encaixotados, sem haver responsáveis pela inutilidade da aquisição e do dinheiro desperdiçado.

Ninguem se questionará sobre o facto da avaliação dos funcionários da administração não se estender aqueles que verdadeiramente são os responsáveis pelo estado a que tudo isto chegou.

Todos os holofotes e atenções se focalizam no percurso da nossa selecção, Portugal sonha com a impossibilidade e assim quando a realidade se sobrepuser à ficção o despertar vai ser mais uma vezes muito doloroso.

Os deputados até já consensualizaram a alteração dos seus horários para evitarem estarem presentes em espírito na Assembleia mas ausentes na realidade e assim poderem ver os jogos repousadamente e sem pesos na consciência. Máximo da generosidade, aguarda-se a todo o momento que esta flexibilização se estenda a toda a população activa portuguesa.

Poucas são as vozes que tentam moderar as expectativas populares e muitas, com elevadas responsabilidades, as que as alimentam.

Anestesiados, os portugueses sem que disso se apercebam vão tendo circo mas cada vez menos pão.

 
At 8 de junho de 2006 às 11:11, Anonymous Anónimo said...

O cânone do sistema educativo na europa é ditado pela OCDE. Este governo, tendo incorporado as directrizes da dita, esforça-se por implementar um modelo de escola equiparada a uma empresa. Como qualquer presidente de um conselho de administração, a ministra pretende pôr os seus empregados a trabalhar mais (verdade seja dita que faziam o mínimo), com maior produtividade (os gráficos que ela gosta de mostrar), tentando agradar aos pais-clientes (as associações de consumidores nas escolas) e aos empregadores (consumidores dos alunos-mercadorias produzidas nas escolas). Neste mundo perfeito do mercado capitalista falta só uma coisa: o que se ensina e para quê? É aqui que falha a cultura pedagógica da ministra. Preocupada como está com questões de gestão, índices de rentabilidade e reclamações dos consumidores, dificilmente irá olhar para o lastro de vazio pedagógico que a impostura igualitária implantou na maioria das escolas. Entre as pressões do capitalismo global e as condições terceiro-mundistas da nossa economia, resta a "moralização" da instituição-escola para tentar pacificar a sociedade civil. A proletarização progressiva dos docentes será o resultado mais visível desta política. Quanto ao fundamental, as relações pedagógicas, os currícula, os conteúdos programáticos e a formação de homens livres e autónomos(cultos e com capacidade crítica), não se vislumbra nenhuma melhoria significativa.

 
At 8 de junho de 2006 às 13:41, Anonymous Anónimo said...

Um dos temas mais debatidos na actualidade é o da reforma do Estatuto da Carreira Docente (ECD). Todavia, sem ser por acaso, tem-se restringido o debate a um dos itens de classificação dos professores na avaliação que a direcção executiva da escola terá de fazer acerca do mérito do desempenho de cada um dos docentes (artigo 46º do projecto).
A ministra da educação, seguindo a cartilha que caracteriza este executivo, vai-se referindo ao tema como o tem feito com os demais que à sua pasta respeitam: a educação vai mal em Portugal e os responsáveis por tal catástrofe são os professores, por isso há que tudo fazer para os punir.
Depois os indefectíveis do partido e os outros que apenas por acharem que este gabinete faz coisas o querem apoiar, vão refinando a argumentação, a qual, por mimetismo associado à preguiça de muitos comentadores e jornalistas (a maioria dos quais nunca leu nem vai ler o ECD), se vai impondo no discurso corrente.
Uma coisa é certa: uma asneira, mesmo a mais bem disfarçada e ainda que muitas vezes repetida, nunca será mais nada do que isso mesmo, uma asneira.
Diz-se (sobretudo repete-se) que os sindicatos (não se diz os professores por preconceito ideológico) estão contra «porque são sempre do contra», sendo uma espécie de forças de bloqueio das reformas que vão endireitar Portugal. Com isto quer-se tapar o sol com uma peneira.
Vejamos o assunto com alguma objectividade e comecemos pelo princípio:
o sistema de ensino é organizado pelos poderes públicos, concretamente pelos governos, que o moldam de acordo com a sua ideologia ou pelo menos segundo a sua vontade. Daí que a escola actual não seja nem mais nem menos do que aquilo em que os senhores políticos (que nestes 30 anos governaram a pasta da educação) a quiseram tornar.
Na sequência do 25 de Abril de 1974 houve nesta área transformações inevitáveis e positivas, como a democratização do ensino e a garantia do acesso universal. Mas o disparate começou logo a seguir. Intencionalmente desgastou-se a autoridade dos professores e encetou-se o desprestígio da função. Os «cientistas da educação», espécie de sociólogos pós-modernos que se incrustaram na área do poder, conseguiram vender a ideia falaciosa de que aprender não é algo que exija esforço e sacrifício e também que a autoridade (qualquer autoridade) é por natureza opressiva e por isso incompatível com um ensino «moderno». Foram assim afogando a escola numa complexa rede burocrática, desgastando a imagem do professor (esse ente «autoritário»; agora crismado de «privilegiado») e degradando o seu estatuto. O resultado está à vista.
A verdade é que a educação nunca foi encarada, seriamente, como um vector estratégico para o desenvolvimento do país. Os sucessivos governantes mais não fizeram que engendrar esquemas para falsear as estatísticas do «sucesso escolar», como falsearam as regras de apuramento da verdadeira taxa de desemprego ou do exacto valor do défice orçamental. Para enganar quem? A história os condenará. Mas por enquanto a festa continua.
À semelhança do que já fizeram com os juízes, com os funcionários públicos e com outros, estes governantes alijam com facilidade as responsabilidades próprias e atiram as culpas do que está mal para cima de outros, que hão-de servir de bodes expiatórios. E a cereja em cima do bolo vem a ser que a máquina mediática, que tão bem têm sabido olear, lhes vai dando lastro para prosseguir, com altas taxas de popularidade (e só isso verdadeiramente conta). Assim, têm conseguido pôr os portugueses uns contra os outros, sem que estes se apercebam que isto vai tocar a todos (menos aos do costume, como é óbvio).
Os professores não estão, evidentemente, contra o princípio de que as promoções hão-de resultar da apreciação do mérito profissional de cada um deles; como também não são contra a participação dos pais dos discentes na vida da escola; apenas não estão dispostos a ser prisioneiros daqueles. E na verdade parece relativamente consensual que numa sociedade democrática os pais devem poder participar na definição estratégica do projecto escolar e que devem envolver-se nas actividades educativas a que sejam chamados a participar, etc. Mas a avaliação do mérito dos docentes é uma coisa séria de mais para ser posta, ainda que apenas de modo residual, nas mãos deles.
Se se quisesse fazer uma verdadeira reforma do sistema de ensino, com vista a uma transformação radical do país no espaço de uma geração, o caminho era totalmente outro, o que inevitavelmente se reflectiria no ECD. O princípio haveria de ser a verdade (e não apenas a aparência). E a táctica passaria pelo reforço da matemática, da física, da biologia, da língua pátria, das línguas estrangeiras e da história. O resto seriam opções que não contariam para o totobola. O mérito dos professores e dos alunos havia de ser apreciado, claro. Mas com verdade (sempre ela), sem recurso a limites quantitativos para acesso aos escalões mais altos da carreira docente (veja-se o projecto de ECD; Mas porque é que só uma percentagem ínfima há-de poder ser excelente?). E com a assumpção que haveria alunos excelentes e alunos maus, e que estes teriam de ser penalizados (é assim na vida, porque é que não há-de ser assim na escola?). A taxa de «sucesso escolar» cairia drasticamente, para recuperar daqui por 20 anos, quando este já fosse um país diferente.
Ao invés e por incrível que possa parecer, a ministra da educação, a quem se não pode seriamente atribuir qualquer inversão relevante do caminho para o abismo que o sector da educação vem trilhando, tem granjeado a simpatia de muitos comentadores, apenas «porque sim». Porque quanto à reforma que o sistema precisa: nada. E quem ler atentamente o projecto do novo ECD verá que a malha administrativa se adensa, a autoridade dos professores continua a diluir-se e o desprestígio da profissão se acentua. O que é que daqui se pode esperar que não, apenas, o poupar de uns trocos?

 
At 12 de junho de 2006 às 09:01, Anonymous Anónimo said...

Carta Aberta à Sr.ª Ministra da Educação

Esta carta, que será divulgada também na comunicação social, tem como objectivo contribuir para a reflexão acerca da Qualidade da Educação do nosso país.

Neste sentido, e ao invés de contestar ponto por ponto a sua proposta de alteração ao Estatuto da Carreira Docente, os docentes deste país ficam-se pelas suas consequências, o tal efeito prático que a Sr.ª Ministra prefere dissimular num jogo falacioso e perigoso, atirando-nos, pais e professores, uns contra os outros.

Embora tenha surgido como o maior engodo – o de chamar os pais à escola - da história da Educação deste país, na verdade, a avaliação dos Docentes pelos Pais e Encarregados de Educação, representa apenas uma ponta da ponta de um iceberg, uma linha de texto num documento de 54 páginas. Interessa apenas a quem se limita a promover manobras de diversão facilmente identificáveis, parecendo ignorar que nenhum professor sério irá temer se for avaliado de forma séria. É vergonhoso, até para nós que somos portugueses, verificar o calculismo e a facilidade com que a Sr.ª Ministra aborda a questão complexa, como é a de avaliar os desempenhos dos professores, sem o mínimo de profundidade, preferindo, sem olhar a meios, o populismo fácil e bacoco.

Recorrendo a meras hipóteses, se o novo estatuto fosse, numa eventualidade pouco inteligente, aprovado, o docente teria um número fechado de vagas para Muito Bons e Excelentes. Assim, perguntamos nós: e se, num acaso, os professores de uma escola excederem o número premeditado de Excelentes? Escolher-se-iam os melhores dos melhores e passar-se-iam os outros para Muito Bom e os que tinham a dita nota para o Bom? Ou, numa outra eventualidade, rasurar-se-iam as notas, de forma a não se levantarem polémicas no seio de uma escola que se quer unida e sempre controlada?

Talvez se vislumbre uma resposta se se conhecerem melhor os dezasseis pontos em que o hipotético docente será avaliado, previsto no artigo 46º do hipotético novo estatuto:

o professor será avaliado pelos resultados escolares dos alunos. Explicar-nos-á a Sr.ª Ministra como pode um professor de uma má escola, e em muitas “má” será sempre um doce eufemismo, ter o mesmo nível de qualidade na sua avaliação de um colega seu numa boa escola? Será então que os professores têm as mesmas medidas e oportunidades de uma boa avaliação? Ou, por outro lado, bastará que se avalie positivamente os alunos, independentemente da realidade?
o professor será avaliado pelas taxas de abandono escolar? Certamente que no Ministério ainda andam à procura de uma resposta coerente a esta pergunta. Imaginemos que existe uma comunidade de etnia cigana numa escola ou que em determinada localidade, e não são assim tão poucas, os pais querem retirar os filhos da escola para que trabalhem com eles. Como pode o professor ser penalizado por uma situação como esta onde a responsabilidade não lhe cabe? Não se deveriam criar medidas coerentes para um mundo real? Neste caso como seria, então? Seriam penalizados todos os docentes daquela escola ou apenas daquela turma? Não será esta uma medida oportunista, em que se acusam os professores da incompetência, de um governo que não cria segundas verdadeiras opções para os jovens que abandonam o ensino ou que simplesmente querem mais? Não será esta medida economicista, visto que, deste modo, os professores ficam limitados na sua avaliação, o que prejudica seriamente a sua progressão e,naturalmente, os impede de subir de escalão e vir a auferir um melhor salário?
apreciação do trabalho colaborativo do docente? O que significa exactamente trabalho colaborativo? E para colaborar com o quê? Ou com quem? Terá a Sr.ª Ministra intenção de instigar ao mau ambiente na sala de professores ou a de tornar menos transparentes algumas avaliações? Haverá aqui uma vontade de tornar ambíguo o que se quer simples e preciso? Talvez, na sua visão, “dividir para reinar” faça um sentido que não cabe nesta profissão!
apreciação realizada pelos pais e encarregados de educação. Consegue a Sr.ª Ministra avaliar com a exacta certeza uma pessoa que nunca viu e cuja imagem foi construída apenas por uma criança ou pelos comentários de outras? Serão todos os pais capazes de avaliar os professores através de quase nada? É essa a avaliação que pede aos professores, quando se trata de avaliar os seus alunos? Avaliar com pouco? Mas sempre num nível positivo, de forma a não transtornar os pais? A Sr.ª Ministra quer que nós acreditemos que uma avaliação realizada desta forma irá ser objectiva e transparente? Muito embora cada um dos pontos tenha um peso, que ainda não se conhece, tal questão parece-nos irremediavelmente condenada ao fracasso, pelo menos se observada de um ponto de vista sério e rigoroso.
avaliação através da observação de aulas? Quais são os critérios adoptados pela Sr.ª Ministra? Imaginemos que decorre a avaliação de dois docentes distintos em dois locais diversos. Cada um dos quais está a ser medido por um hipotético professor titular. Imaginemos que são duas escolas em meios diferentes. Encontra-se a Sr.ª Ministra capaz de nos assegurar que ambas as avaliações serão correctas ou que, sendo invertidos os lugares, os docentes manteriam a mesma qualificação ou quase? Nestas contas entram factores demasiado subjectivos. Numa mesma escola, o mesmo professor pode obter dois níveis diferentes, se for avaliado, por exemplo, por titulares de distintas sensibilidades. Suponhamos, por outro lado, que a aula corre mal, porque o professor está engripado ou porque os alunos vieram de uma visita de estudo. Será sério avaliar todo um ano escolar com três visitas à sala? Será sério fazer depender a progressão na carreira desta forma?
Os docentes passariam a ser avaliados em dezasseis pontos ou itens de classificação como lhe chama a Sr.ª Ministra. Destes, quinze são perfeitamente subjectivos, e um deles, o que respeita à assiduidade, o único preciso porque se trata de um número, a Sr.ª Ministra trata-o com a ligeireza que parece ser o seu maior dom.

A Sr.ª Ministra não se nega a coarctar aos docentes qualquer esperança, ainda que infeliz, de poderem assegurar o seu desempenho se caírem doentes numa cama. O professor passa, assim, a ser obrigado a cumprir 97% do seu serviço lectivo, se quiser progredir na carreira. À priori, esta medida parece ser finalmente a resposta aos pedidos dos pais e encarregados de educação dos nossos alunos. Será assim tão óbvia e tão simples esta leitura? Três por cento de faltas como máximo, representa cinco dias de faltas por ano? Explique-nos, por favor, a Sr.ª Ministra como justifica o facto de não poder estar doente. Fazemos notar que não falamos apenas de nós próprios, aqui também cabe a assistência à família. Repare a Sr.ª Ministra que os professores lidam com crianças, cerca de vinte e cinco por cada uma das cinco turma (em média, claro está), e que estas mesmas crianças adoecem e se constipam e nos constipam. E nós sabemos que às vezes mais vale ficar um dia em casa e recuperar a saúde, do que prestar um mau serviço público. Os docentes têm um grande respeito pela sua profissão. Nenhum professor sério falta para ficar a dormir. Teremos que “contagiar” toda uma escola necessariamente, em nome da graduação profissional, uma vez que só serão devidamente justificadas as doenças em regime ambulatório.

Por outro lado, repare Sr.ª Ministra, pois talvez ainda não o tenha feito, que a grande maioria dos docentes está deslocada da sua casa, longe dos seus familiares. Esta enorme massa humana que se desloca pelo país, em milhares de quilómetros mensais, aos princípios e fins-de-semana, em veículo próprio, e que entrega dinheiro ao estado nos impostos de combustíveis, está muito sujeita a ter contratempos na estrada ou com a mecânica do seu automóvel, e que, a partir de agora, estes mesmos cidadãos manterão esta distância durante três e depois quatro anos!

No que diz respeito às mães ou futuras mães, não compreendemos como pode a Sr.ª Ministra querer avançar com um estatuto que as espartilhará – a maternidade é um direito protegido pela Constituição da República Portuguesa. É-nos dito que, no decorrer desse ano, a docente não será avaliada, pelo que a mãe terá nesse ano a mesma classificação que lhe for atribuída no seguinte, ou seja, bastar-lhe-á faltar seis dias para que não progrida na carreira dois anos. Saberá a Sr.ª Ministra o complexo que é cuidar de uma criança durante os primeiros meses e anos de vida? Numa primeira fase, a do período do parto, o novo estatuto salvaguarda as mães para depois as deixar desamparadas numa segunda fase, como se a maternidade se esgotasse no acto de “dar à luz”.

Contempla alguns destes dados na sua proposta, Sr.ª Ministra, ou prefere tratá-los com a distância da sua demagogia? Como quer a Sr.ª Ministra estabilidade docente, aquela que tanto aclama, convencendo apenas quem ignora a realidade do que é ser educador, se qualquer uma das acções que toma vai no sentido de criar instabilidade e insatisfação? Como quer a Sr.ª Ministra docentes produtivos e colaborativos se instiga ao fascismo redutor, como se lidasse com gente disposta a rebaixar-se aos seus pés sem que lhe fosse levantado um par de olhos? Como quer a Sr.ª Ministra um alto nível de rendimento escolar e uma enorme qualidade para a Educação quando atira medidas laças para cima de uma mesa, onde se discute o futuro?

Este é um assunto sério, Sr.ª Ministra, nenhum professor está aqui para brincar! À Sr.ª Ministra interessa ter os pais do seu lado, independentemente dos meios, o que lhe interessa são os fins economicistas, cada vez mais sublinhados por cada medida que assina.

Pretende convencer os professores deste país que um tecto ao fim de doze anos de carreira é um objectivo para quem tem que ser avaliado e classificado todos os anos? As demagogias criadas para iludir a opinião pública são os instrumentos de trabalho utilizados pelo estado, mas do tempo da outra senhora, quando a Sr.ª Ministra ainda tinha a esperança de viver numa democracia – se é que teve…

Parece-nos que todas estas medidas foram lançadas ao ar para justificar o trabalho de alguns caciques que há muito não leccionam e que pululam de gabinete em gabinete na esperança, certamente vã, de lhe apresentar algum trabalho, uma vez que, somente quando já não tiver professores no seu ministério, vossa Senhoria ficará plenamente satisfeita.

Junho de 2006

Um grupo de Professores desrespeitados

 
At 12 de junho de 2006 às 09:07, Anonymous Anónimo said...

Experiência piloto em escola do Lumiar
Pais dão nota negativa a professora


A Escola Básica do 1º ciclo de São Gonçalo, no Lumiar, vai estar encerrada amanhã, por decisão dos professores, depois de uma docente ter sido agredida anteontem por familiares de um aluno do estabelecimento.

O incidente ocorreu pela hora de almoço, quando a professora em causa, que é coordenadora da escola e membro do conselho do SDPGL, se encontrava dentro do estabelecimento de ensino. A docente, que está na escola há quase duas décadas, terá chamado a atenção a um aluno, com cerca de 13 anos, que estava a atirar cascas para o chão. Este terá ignorado o aviso da professora, que fez menção de lhe segurar a mão para que o jovem apanhasse as cascas, mas este recusou-se a fazê-lo.

Segundo o relato da dirigente sindical, "pouco tempo depois" terá entrado na sala onde estava a docente um casal, aparentemente familiar do aluno, que a insultou, tentou arremessar-lhe à cabeça um balde de lixo de alumínio e lhe bateu na cara e na cabeça repetidas vezes até que os restantes professores e auxiliares conseguiram por cobro ao ataque.

A professora, de 50 anos, foi assistida pelo Instituto Nacional de Emergência Médica na escola e vai ficar de baixa, adiantou Maria Conceição Pinto.

Público

 
At 14 de junho de 2006 às 14:46, Anonymous Anónimo said...

Quando entrei para o liceu, em 1973-1974, havia um reitor, livros de ponto para os professores e faltas para os alunos. Mau comportamento, por exemplo, era uma falta - grave - e dava direito a ser expulso da aula, e, em casos mais sérios, do liceu. O liceu, o D. Pedro V de Lisboa, era tido por "progressista". Apesar disso e das balbúrdias do PREC, manteve-se sempre, tanto quanto me lembro, um módico de disciplina. As novas "pedagogias" que entretanto foram sendo introduzidas nos infantários e nas escolas primárias, assentes sobretudo na consideração da criança como um bibelot a quem só se pode falar, ensinar jogos idiotas e a dormir umas sestas, mudou radicalmente a noção de aluno. Sem ela, a disciplina caiu na rua. O aluno passou a ser visto quase como um utente de um serviço público - a escola -, só com direitos, e não alguém sujeito a um código disciplinar de direitos e de deveres. Por consequência, a função do professor foi sendo desvalorizada e, agora, chegámos ao rídiculo de termos pais e alunos a sovarem metodicamente os docentes. É preciso também atentar na geração paternal, a maior parte dela constituída pelos "filhos de Abril" a quem notoriamente faltou um berço e, em tantos casos, "educação" e sentido cívico. Sem autoridade, as escolas públicas - os liceus - soçobram mais tarde ou mais cedo na pura anarquia. Excitar a ignorância contra os professores, metendo tudo no mesmo saco, revelar-se-á a curto prazo desastroso. A ministra da Educação que, e bem, pretende disciplinar a função docente, deve igualmente prestar atenção aos alunos e não permitir o verdadeiro assalto que alguma boçalidade familiar se permite fazer às escolas em nome dos sagrados direitos dos broncos dos filhinhos. Não há que ter medo das faltas por mau comportamento e da expulsão de delinquentes das escolas pagas pelo dinheiro dos contribuintes. Caso contrário, a autoridade - da instituição e dos professores sobre os alunos - jamais conseguirá impôr-se num lugar - a escola - onde verdadeiramente tudo começa ou tudo pode acabar.

 

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