segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

PIRUETAS

Há um ano Sócrates considerou "absolutamente demagógica e fantasista" a proposta da CGTP para aumentar o salário mínimo para 500 euros até 2010! Foi assim que o Primeiro-Ministro catalogou essa proposta e tentou desacreditar a iniciativa do movimento sindical. São palavras espantosas quando comparadas com o tom delicodoce que usou há dias para anunciar o acordo tripartido para subir a remuneração mínima para 500 euros até 2011!

De inaceitável e tola, a proposta passou a ser justa e aplicável; de demagógica e insusceptível de ser sequer discutida, a proposta da CGTP passou a ser credível, negociável e até consensual!...

Apesar das piruetas do Primeiro-Ministro serem costumeiras, a verdade é que a mudança foi tão radical que leva a questionar sobre o que terá acontecido para que Sócrates tenha alterado tanto a sua posição. Eliminando, por redução ao absurdo, a hipótese de ser o resultado de influência patronal, a explicação que sobra consiste, por um lado, num ano de intensa mobilização sindical com participações históricas contra as políticas governamentais e, por outro lado, em mais um ano de agravamento das condições de vida, com sucessivas perdas do poder de compra e salários e reformas insuficientes, com taxas de juro a tornar incomportáveis os encargos familiares e com níveis muito elevados de desemprego.

Esta semana as piruetas atingiram também os socialistas europeus reunidos em congresso no Porto. É difícil acreditar que uma socialista francesa - candidata à presidência do seu país - tivesse defendido que o Banco Central Europeu (BCE) terá de ser controlado politicamente para impedir que, por exemplo, continue - sem ouvir nada nem ninguém - a subir os juros que asfixiam famílias e países. É também difícil imaginar socialistas portugueses a aplaudir o que a francesa dizia. Mas afinal quem é que propôs que o BCE funcionasse assim? E quem é que vota sistematicamente contra a mudança? Não foi (e continua a ser) o grupo socialista? A indignação e a revolta face à injustiça e à arbitrariedade obrigaram Sócrates a mudar de opinião e a admitir como justo o que há um ano dizia ser fantasista e demagógico. Foi essa mesma indignação que obrigou aquela socialista a tentar corrigir o tiro e a manifestar-se contra o funcionamento do BCE. Será sempre a luta a contribuir decisivamente para mudar as políticas contrárias aos interesses das nações e dos povos.


H.N.