AS DUAS PARTES DO PSD
Desde o princípio que o PSD dependeu de um eleitorado católico e rural e de um eleitorado urbano, mais livre da influência da Igreja, indiferente ou até agnóstico.
Estas duas partes do partido nunca se deram bem e houve conflitos sérios a seguir ao 25 de Novembro e, mais tarde, por causa do que eufemisticamente se chamava a situação familiar de Sá Carneiro ou por ressentimento contra o imaginário grupo de Cascais, que, segundo se dizia, dominava o partido.
Ainda no fim do cavaquismo, o dr. Menezes disparatava, no congresso do Coliseu, contra o elitismo, o sulismo e o liberalismo de Lisboa, em nome do verdadeiro PSD do Norte. E esta divisão (que provocou duas cisões) continua latente, sob uma superfície de concórdia e de relativa unidade.
Conhecendo a história pregressa do partido e o próprio partido como ninguém, Marques Mendes fatalmente hesitou e tergiversou no referendo sobre o aborto. Mas qualquer condenação sumária, além de fácil, é um pouco superficial. Claro que o país mudou: mudou a sociedade, a economia, a cultura. O eleitorado católico e rural já não pesa como pesava e o eleitorado urbano pesa bastante mais do que pesava. Só que Marques Mendes não queria perder nem um, nem outro. Em teoria, a política de abstenção oficial e voto livre devia contentar os dois lados. Sucede que não contentou. Inevitavelmente, à medida que se anunciava a derrota do não, aumentaram as pressões para Marques Mendes se meter numa guerra que não era e não devia ser a dele. E, para seu mal, Marques Mendes cedeu.
A neutralidade de um chefe de partido é, no fundo, impossível. Calado e quieto, Marques Mendes teria enfurecido o não e, de facto, favorecido o sim. O que tentou fazer foi encontrar uma posição intermédia entre o não e o sim e não admira que, para este exercício absurdo, acabasse por adoptar a tese de Marcelo. As coisas, como se sabe, não lhe correram bem. O não perdeu e o sim não lhe desculpa a intervenção e a companhia. Curiosamente, nenhum dos dois lados se lembrou de atribuir o vexame e a derrota do PSD à natureza e ao passado do PSD, que Marques Mendes por força reflecte. O partido mais português de Portugal, sem uma ideologia muito clara e sem sombra de filiação no estrangeiro, era o partido de um Portugal diferente. Será que sobrevive ao Portugal da Europa ou que a parte católica e rural (mais pequena e mais velha) se vai com o tempo separar da parte urbana?
Vasco Pulido Valente
Etiquetas: PPD/PSD
9 Comments:
Aquilo a que assistimos na Câmara Municipal de Lisboa já começa a deixar de ser realidade para se tornar numa história triste ficcionada por Marques Mendes que usa a autarquia lisboeta como o seu laboratório político de brincar. O desastre autárquico de Lisboa é a situação mais visível do desastre político de um líder partidário incapaz de salvar o que resta do seu partido de um desastre eminente.
Onde anda Marques Mendes?
Até ao momento não teve a coragem de dar a cara pelo que se está a passar na CM de Lisboa assumindo a responsabilidade política pela equipa que escolheu para a autarquia da capital.
O destino em manobras
Jurista Foi penoso observar como foi evoluindo, no terreno da campanha, a posição do PSD no referendo. Começou numa neutralidade táctica que libertou dezenas dos seus mais conhecidos quadros políticos para o campo adversário. Passou depois a um conúbio indisfarçado com o "não", a pretexto de ser essa a legítima posição pessoal do líder. Terminou com a adopção de uma acrobática teoria que Marcelo Rebelo de Sousa engendrara para sua própria preservação, mas que fazia perder mil votos para a abstenção por cada um que lograsse cativar.
Tudo isto correu tão mal que o PSD surgiu mais penalizado do que o CDS (que segurou com força a trela do "não" e correu, ofegante, atrás dele durante quinze dias).
Perfilavam-se entretanto novas e delicadas batalhas: as do rescaldo do referendo, com a transferência política da matéria votada para o domínio jurídico da lei ordinária. Era preciso juntar os cacos, cuidar dos feridos, reorganizar trincheiras. Era preciso, pois, fazer esquecer os juízos que a campanha e as urnas instalaram no eleitorado.
Para isso, os grandes tácticos sugerem sempre uma manobra de diversão. Mas uma manobra que, para ser credível, deve estar virada, não contra os adversários do PSD, mas sim contra ele mesmo. E aí o destino fez surgir o génio, aquele que por vezes lateja sob os escombros das grandes derrotas: soltar o ilimitado potencial de inépcia, confusão e tiro aos pés da equipa camarária do PSD em Lisboa. Assim foi: e à cratera financeira, às obras paradas, à sensação de uma autogestão omissiva, à ruptura da coligação com o CDS, à auto-suspensão da vereadora do urbanismo, iriam assim suceder delirantes jogadas (como a do seguro de saúde para todas as crianças da cidade) mais o não-suspende-mas-suspende que tirou de cena o vice-presidente e obriga a novas redistribuições de pelouros.
Esta manobra de diversão, porém, descontrolou-se. A ninguém se deseja o dia atormentado e caótico que foi o de sexta-feira, na S. Caetano e na câmara. É uma nova e formidável derrota da imagem do PSD na cidade capital. Agora, bem vistas as coisas, aquilo de que ele precisa é de uma manobra de diversão que afaste da câmara as atenções. Uma coisa que, para ser credível, tem de estar virada, não contra os adversários, mas contra o próprio PSD. Algo digno do génio que por vezes lateja sob os escombros das grandes derrotas."
Sugiro, pois, que o PSD volte ao aborto.
Nuno Brederode Santos
In: D.N.
Obs: um interessante e realista artigo, mas quem diz regresso ao "aborto" diz regionalização, Camarate, CC.Belém, qualquer coisa que faça pensar aos portugueses que este PSD não é senão uma caricatura da própria realidade.
Em última instância até se pode dizer que a integração de Portugal na CEE foi obra de Santana Lopes e que a morte da ditadura do velho Botas derivou dum espirro de Balsemão ao criar o expresso, ou ainda que a fundacionalidade por D. Afonso Henriques decorreu duma inspiração que teve ao supôr que Pacheco Pereira estaria a reescrever os novos estatutos para o PSD.
Marques Mendes demorou mais de um dia, semanas, meses a perceber o atoleiro corruptivo em que se transformou a autarquia de Lisboa: ponto de confluência de Ganchos, Tachos e Biscates, compadrios, corrupção, peculato e nepotismo.
Aliás, há alí crimes a mais para tão escassa teorização criminalística.
Mas adelante...
Ante tanto e tão estranho silêncio, apesar de percebermos que a Capital é o último reduto de Mendes para colocar os amigos e fazer as suas jogadazinhas palacianas, visto que agora o seu ex-amigo Isaltino Morais já não lhe mete as cunhas na Universidade Atlântica, ... perante tão estranho silêncio - é caso para dizer que Mendes sempre foi uma negação para o póquer.
Analisando os seus lances políticos na autarquia de Lisboa, até parece que, no seu entender, não interessa ganhar ou perder, o que interessa é a maneira como se conduz o jogo.
Só que Mendes actua dessa forma porque acha que no jogo político mais vale ter sorte do que jogar.
O problema é mesmo quando não se tem sorte e, ainda por cima, se joga mal...
Um comunista de gravata vermelha, seria a resposta mais expedita!!! Só poderia ser o "arquitecto" comunista do poder local na Capital: o homem da "kúltura" e das artes, e também das luzes psicadélicas que deveria ter vergonha por integrar um partido estalinista que utiliza métodos verdadeiramente anti-democráticos na deposição dos seus autarcas, eleitos democráticamente, como ocorreu o ano passado em Setúbal, ou como sucede hoje com a perseguição política que o partido do sr. Ruben move à deputada Mesquita...
Parece até que dentro daquela cabeça dura não aconteceu a queda do muro, desconheceu o fiasco do comunismo a leste e todas as perversidades da praxis comunista no partido mais retrógrado da Europa: o partido do sr. Ruben.
É este "player" que aparece hoje quase de mão-dada com Carmona, dizendo à turba: as eleições são capazes de não ser a melhor opção...
Estaria ele a pensar - como o seu camarada Jerónimo!!! - numa deposição sumária?
Sempre que se equaciona a possibilidade de eleições antecipadas na Capital, em resultado do clima de corrupção e de ingovernabilidade gerado por este executivo psd, o Sr. Ruben de Carvalho, com assento na Sic e no DN, qual pastor evangélico que mais parece querer converter o mundo numa Festa do Avante permanente, lá está ele na esquina na câmara a ser filmado, naquele seu enfadonho e monocórdico tom, contemporizando, adiando com paninhos quentes a actual situação de podridão a que chegou este executivo de Carmona. Isto é deveras estranho, pois o vereador comunista deveria ser aquele que mais se devia bater por eleições intercalares, e não o primeiro a contemporizar com Carmona neste reino da Dinamarca que converteu Lisboa numa lixeira a céu aberto.
Por que razão, então, este paradoxo tem lugar, e logo vindo dum comunista, por regra, revolucionário por natureza?
Não vamos aqui explicitar o talento meio brujesso que o sr. Fontão tem para mentir, ou para ocultar que era arguído por causa do lastimoso caso Epul (no qual se atribuiu verbas indevidamente), aqui o que urge saber é quais os factores que calam Ruben de Carvalho, parte do PS e algum cds, já que o BE é o único partido que reclama essa opção.
Terão eles medo de quê?
De quem?
Porquê?
Será medo de Carrilho, trucidado em campanha pela máquina do psd, além de que a sua personalidade cola mal aos lisboetas; propôr o nome de To-Zé Seguro é assim a modos que mandar o porteiro da PT negociar com Belmiro as condições da OPA; desconhece-se que candidato o PCP terá caso haja eleições intercalares, e não creio que o nome de Ruben reflicta alguma mais-valia, que só creio existir na organização da Festa do Avante e na inclusão nela de grupos terroristas e doutros vândalos que por lá passam.
O ano passado, recorde-se, Marcelo Rebelo de Sousa também lá aportou, em vez de mandar outro mergulho no Tejo.
Dito isto o cenário não me parece animador para a oposição ao PSD em matéria de poder local em Lisboa. Nesta conformidade, colocar-se-á inevitavelmente a questão: quem é que o PS e PCP irão apresentar como cabeça de cartazes nessas eventuais eleições intercalares?
Tanto mais, e por paradoxal que seja, é o PSD o partido que, neste momento, melhor candidato tem para ganhar novamente as eleições.
Eis o paradoxo.
Apesar de loira, Paula Teixeira da Cruz não é própriamente lerda, antes pelo contrário: é combativa, assertiva, tem traquejo político, comunica de forma fluída e fica bem "on tv", esteve bem no referendo ao aborto - demarcando-se do "nim" de MMendes -, ou seja, é alguém com capital político, é mulher de Paulo Teixeira Pinto, é destemida e ambiciosa, e afigura-se como o rosto potencialmente vencedor caso a opção seja a de fazer eleições intercalares.
É por estas razões que o sr. Ruben revela o esplendor do seu cinismo e hipocrisia, querendo fazer-nos a todos de idiotas.
Quando o que efectivamente se passa é uma coisinha simples: o organizador da Festa do Avante deveria ter mais cuidado com o que diz aos lisboetas e aos portugueses, é que ele não pode nem deve medir o que pensa pela bitola afunilada da Soeiro Pereira gomes onde ele se formatou, num partido que expulsa, humilha, trucida e que, de súbito, abandona os seus correlegionários quando deixam de interessar ao pcp.
Confesso que fico sempre muito enjoado quando vejo o sr. Ruben no écran do meu televisor, e quando começa a falar tenho de desligar o som.
No fundo, o seu cinismo colado à sua hipocrisia dão a mediana da sua idiotia política. E enquanto procura ocultar a estratégia-de-ganha-tempo do seu partido estalinista os portugueses, todos eles, já perceberam bem de quem é que o intelectual orgânico do pcp tem medo: de Paula Teixeira Cruz.
Antes ela do que MMendes...
O Melhor candidato à Camara de Lisboa,não tenho dúvidas..seria o Dr.Mário Soares..
A ARCA DE NOÉ
José Miguel Júdice saiu do PSD, a bater com a porta. Até aqui nada de surpreendente. Não foi o primeiro, não será com certeza o último. Mas nos 25 anos que por lá andou, o dr. Júdice não parece ter percebido que o PSD não é um partido, é uma coligação. Verdade que os grandes partidos são sempre, de certa maneira, coligações. Basta ver o PS, com a sua ala maçónica (hoje, coitada, a desaparecer), a sua ala "social-democrata" (se a palavra ainda faz sentido) e a sua ala "esquerdista" (que vem do grupo de Sampaio e passou ao Purgatório com Ferro). De qualquer maneira, as facções do PS pertencem a uma mesma família e, apesar de tudo, não se excluem reciprocamente. O PS (e as suas ramificações) tem uma longa história em Portugal, que vem de Afonso Costa e vai até Sócrates, sem nenhuma ruptura irremediável. E tem uma identidade, que deriva da França: do Affaire Dreyfus, de Jaurès, de Blum, da Frente Popular e até, infelizmente, do Le Monde, do Observateur e de Mitterrand.
O PSD não tem nada disso. Depois do "25 de Abril" reuniu a multidão heterogénea, que não queria ou podia ser "de esquerda" e que, embora no fundo não desaprovasse Marcelo, aceitava a necessidade de mudar. Sá Carneiro, um opositor notório à Ditadura, dentro da legalidade e da ordem, e nessa altura um homem da Igreja, serviu naturalmente de ponto de reunião. A direita encontrou no PPD (um nome exacto) o refúgio que o CDS, sem currículo de "resistência", fora do governo e com um terrível cheirinho a saudosismo, não estava em posição de lhe dar. Ao princípio, Sá Carneiro tentou filiar o PPD na Internacional Socialista e não conseguiu. A partir daí, a confusão ideológica não parou de crescer e o PPD acabou por se tornar numa espécie de arca de Noé, em que embarcou a fauna inteira que o novo regime excluía: reaccionários, populistas, conservadores, sociais-democratas, Emídio Guerreiro, João Jardim, a Santa Madre Igreja e um ou outro liberal envergonhado.
Nem o "cavaquismo" impediu ou atenuou esta balbúrdia. Descobrir hoje, como descobriu o dr. Júdice, que o PSD é "muito equívoco" excede a imaginação. E pedir hoje a Marques Mendes, como pediu o dr. Júdice, que finalmente esclareça se o PSD é da "direita" ou do "centro-esquerda", liberal ou conservador", agride o bom senso. Como toda e gente sabe, o PSD voa, voa e voa e é de quem o apanhar. O que é não conta e nunca contou.
Vasco Pulido Valente
MAIS UMA DO PPD/PSD:
Alberto João Jardim há muito que se tornou numa caricatura da democracia e dele próprio. Contribuiu para um certo modelo de desenvolvimento que qualquer líder regional conseguiria implementar se beneficiasse dos recursos, do tempo no poder e das maiorias absolutas de que ele desfrutou nestas últimas três décadas de reinado absoluto. Hoje, a Madeira vive de e para o turismo, mas não passa dum albergue de 3ª Idade para a classe média-alta do Norte da Europa que lá aporta para usufruir do sol, das piscinas e da gastronomia.
É disto que o pobre Alberto se gaba, pobre Alberto sempre igual a si próprio: truculento, conflituoso, impertigado, ofensivo... tudo no seu velho estilo peixeiro com muitos perdigotos à mistura.
Trinta anos de poder, quase uma década para tirar um miserável curso de Direito e depois ficar com uma média de 11 Val. Alberto pensa como fala, sempre com os "tomates" na boca...
O berro do PSD rasca e enrascado
O falatório semi-independentista de Alberto João não passou de um grito do PSD rasca e enrascado, num momento em que o partido se afunda na imagem de personagens como o próprio Alberto e na incompetência e inaptidão politica de Marques Mendes.
O PSD rasca dos autarcas caciques e caceteiros que se habituaram a viver à custa de rotundas, do aparelho partidário alimentado por cimento armado, dos advogados que recebem em dinheiro e em espécie. O PSD enrascado de um Marques Mendes que em dois anos de oposição só conseguiu fazer oposição a si próprio, afundando-se um pouco mais cada semana que passa, tendo o seu ponto mais baixo sido atingido na noite do referendo.
Num momento em que se encontra sem saber o que fazer, afundado num envolvimento oportunista na campanha do referendo e cada vez mais envolvido no descalabro da Câmara Municipal de Lisboa, restou a Marques Mendes recorrer ao seu companheiro de infortúnio da Madeira.
O discurso de Alberto João não passa de um berro do PSD rasca e enrascado, que para proteger privilégios e desviar a atenção da pequenez de Marques Mendes, não hesita em tentar lançar uma pequena crise. Só erraram num ponto, o Alberto é pouco mais importante em termos eleitorais e políticos do que o presidente da CM de Faro.
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