A OCASIÃO FAZ O LADRÃO
A actual Lei das Autarquias, ao permitir que, no executivo camarário, tenham assento governo e oposição, é o espelho fiel de uma administração pública pouco transparente e promíscua, mais fadada para sacudir as responsabilidades do que para as assumir.
Acresce que, para além de manietar os vereadores da oposição ao co-responsabilizá-los pelas decisões (e aos munícipes apenas lhes interessa a decisão, pouco lhes importa a discussão), permite ainda ao presidente da câmara não só colher por inteiro os louros do trabalho dos seus opositores como também desculpar-se com eles sempre que as coisas não correm de feição. Sendo certo que é o presidente da câmara que tem os melhores meios (quando não os únicos) para fazer passar a sua mensagem.
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Quem governa tem muitas vezes de escolher entre medidas de curto prazo extremamente populares, mas lesivas do interesse público, e medidas impopulares, mas necessárias cujos efeitos benéficos são deferidos no tempo. Ora, é precisamente aqui que a limitação de mandatos de cargos políticos aparece como única garantia da prossecução do interesse público por parte dos eleitos.
Com efeito, se não houver limitação de mandatos, é óbvio que a preocupação de quem está no poder (acreditar que pode ser de outro modo é não conhecer a natureza humana) será, em primeiro lugar, a de tomar as medidas que garantam a sua reeleição, mesmo que, para tal, seja necessário sacrificar o interesse público. Sem esquecer que o poder acaba inevitavelmente por criar uma teia de interesses que se vai refinando com o tempo e que não tem outro fim que não seja a de perpetuar o próprio poder.
A limitação de mandatos dos cargos políticos é, sem qualquer sombra de dúvida, a única medida com potencialidade para reformar o nosso sistema político, fazendo com que a política possa ser entendida como um serviço público e não como a defesa do “tacho”.
Alterar a presente lei é, pois, um imperativo da própria democracia. E o sentido da mudança só podia ser um: por um lado, garantir a transparência do sistema, seguindo-se o princípio democrático mais elementar de que quem ganha deve governar; por outro, impedir a institucionalização do caciquismo.
Na minha opinião, isso seria conseguido se fossem introduzidas as seguintes alterações: limite do número de mandatos do presidente da câmara e dos vereadores a tempo inteiro (o máximo dois mandatos de cinco anos); dependência do executivo camarário da Assembleia Municipal, com o consequente reforço dos poderes de fiscalização desta, sendo eleito presidente da Câmara o primeiro elemento da lista vencedora.
REXISTIR
Etiquetas: Câmara Municipal de Ponte de Sor
1 Comments:
O problema é que para reformar o sistema político era necessário legislar. E quem legisla são precisamente os políticos. Ora querer que os políticos façam leis para que se lhes acabe a mama é pedir de mais.
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