sexta-feira, 8 de junho de 2007

TRABALHO PRECÁRIO, MAIS!

Poul Rasmussen, ex-primeiro-ministro da Dinamarca e pai da chamada flexisegurança, veio a Portugal falar da inevitabilidade do trabalho precário.
E este é primeiro sinal dos tempos: um dirigente socialista a falar de coisas inevitáveis.

Não é que tenha havido coisas que se tornaram inevitáveis com o tempo.

O que aconteceu foi que socialistas, com os tempos, se bandearam para o lado dos que consideram e apregoam como inevitável uma marcha da história contra as pessoas.
Mas adiante.
É que a grande questão foi a de Rasmussen ter vindo falar sobre a chamada flexisegurança para uma classe empresarial que, salvo tão raras como honrosas excepções, quer ganhar de bandeja a chamada flexibilidade nas relações laborais e quanto à segurança depois, talvez nunca, se verá.


Sejamos francos: Portugal está onde está, na cauda da Europa, também porque tem, para lá das excepções, uma classe empresarial de baixíssimo nível, de péssimos hábitos e de piores intenções.
A classe empresarial que cresceu à sombra de favores do Estado, na satisfação para a pedincha de subsídios e de isenções, por conta de expedientes made in Portugal que chocaram a Europa, como as vagas dos salários em atraso ou do trabalho infantil – já para não falar de criações do domínio dos casos de polícia –, só não aplica a escravatura porque não pode e não por qualquer consideração histórica ou humanitária.
De maneira que quando hoje lhe apresentam a novidade da chamada flexisegurança começa logo a deitar contas a quanto poderá abichar aplicando a flexibilidade e cortando na segurança.


Rasmussen disse em Portugal que a mudança leva tempo e não pode ser feita contra as pessoas.
Mas Portugal tem outra fórmula: é mais rapidamente e em força.


João P. Guerra

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1 Comments:

At 10 de junho de 2007 às 01:49, Anonymous Anónimo said...

A ser verdade a previsão da OCDE sobre a Segurança Social em Portugal, confirma-se o logro que são a retórica e a política de "reforma" do governo quanto ao assunto. Foi-nos vendida uma solução de vida ou morte, de tudo ou nada, sendo que a "vida" e o "tudo" eram, com maiores ou menores dificuldades, a sobrevivência do sistema. Ora, um sistema que tem a oferecer menos trinta ou quarenta por cento do que assegurava antes não constitui a sobrevivência de nada, mas antes algo completamente diferente.



Desgraçadamente, por imprevidência e puro preconceito ideológico, o governo decidiu manter um sistema esgotado e, como calmante, o melhor que o ministro teve para dizer durante o dia de hoje foi avisar para a necessidade de os portugueses pouparem mais - como se os descontos que há anos fazem não fossem já "a poupança".



Os portugueses foram encurralados pelo Estado num modelo único e centralizado, que lhes fez uma proposta e com eles acordou uma determinada prestação. Durante a vigência desse acordo (em muitos casos, perto do final dessa vigência), o Estado informa os portugueses que, tendo estes assegurado escrupulosamente os seus deveres - sabe-se lá por vezes com que esforço -, devido à sua (do Estado) profunda incompetência, ser-lhe-á impossível cumprir a sua parte do contrato.



Não se trata apenas da velha ladaínha dos "direitos adquiridos" e da "insensibilidade social". Trata-se, principalmente, do respeito pelas obrigações assumidas, que é um pressuposto fundamental da vida em qualquer sociedade saudável e civilizada. É-o nas relações paritárias entre privados e devia-o ser ainda mais nas relações desiguais de império que o Estado assume com os seus governados.

 

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