sexta-feira, 31 de agosto de 2007

AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU

O Governo resolveu apresentar um novo rosto.
Para felicidade dos portugueses, o Executivo anuncia crédito para estudantes e distribui computadores pelo País.
Generoso, Sócrates revela vocação para as promoções.
A nova estratégia do Governo passa pela lógica da grande superfície – sem sorteio, tudo para todos.

O Governo entrou na nova fase do ciclo político.
Perante o afastamento do Presidente da República e face à pressão dos resultados, Sócrates resolveu garantir a paz social.
Calculista, o primeiro-ministro conhece as exigências da Presidência da União Europeia e sonha com o Tratado de Lisboa.
A nova política do Governo passa pelo adiamento das reformas e, sem contradição, pelo cumprimento do défice.
Sem grande especulação, a política da facilidade e o prestígio internacional garantem a Sócrates um novo mandato.

Subitamente, eis que Guterres renasce com Sócrates.
Agradar e adiar foram os grandes motivos da passividade política de Guterres. Junte-se a descoordenação bem visível no exercício do Governo e o cenário repete-se sem imaginação – Portugal ou o País parado.
Afinal, onde está o animal feroz que existe em Sócrates?
Quando o desemprego atinge os 7.9% e a ETA circula impune em Portugal, o primeiro-ministro desaparece e remete-se ao silêncio.
Talvez Sócrates não seja Sócrates, mas o disfarce de primeiro-ministro é com certeza o bluff político da temporada.

Mas a passividade também atinge a oposição.
O PSD acredita que todos os problemas serão resolvidos com a eleição directa de um novo líder.
Na aparência, uma tese perfeita.
Na realidade, um precioso adiamento.
O PSD necessita de uma descontaminação.
Para os portugueses, o PSD está associado à degradação política do País.
A memória do sucesso cavaquista não entusiasma ninguém.
A promessa de poder em 2009 não convence ninguém.
O PSD habita o território incómodo da perda de identidade política. E parte dessa perda de identidade passa pela experiência governativa de Durão Barroso, pelo fugaz exercício de Santana Lopes e pela recente derrota nas eleições intercalares em Lisboa.
Sem uma real compreensão do que se passou e correu mal, o PSD limita-se a mudar de líder e a polir as setas.
Só quem enfrentar a crise terá futuro no PSD.

E enquanto Governo e oposição se esgotam na inércia do costume, os portugueses assistem com a passividade habitual.


Carlos M.Almeida

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2 Comments:

At 2 de setembro de 2007 às 20:57, Anonymous Anónimo said...

Este Governo parece mais uma reuniao da Tuperware, compram-se coisas entre dois xas.
Esta dos computadores e um negocio que era interessnate saber como e onde param as luvas.
Quando e que o Governo vai pagar pelas licencas a Microsoft?????
Por isso deram os computadores.
E so contos do vigario

 
At 4 de setembro de 2007 às 23:35, Anonymous Anónimo said...

Se as nossas “elites” tivessem feito um pacto de silêncio em torno do Caso Somague os resultados seriam exactamente aqueles a que estamos a assistir, parece que meio país está apostado em que o caso seja esquecido. A “onorata società” portuguesa foge do tema como o diabo da cruz, quase todos evitam falar no assunto como se de sarna se tratasse.

Por cá ninguém fala, no PS, principal adversário político devem ter deixado de ler jornais, os outros partidos ficaram mudos, até o Miguel Portas diz no Parlamento Europeu que não há nada de suspeito, os chamados “senadores”, como Jorge Coelho e Dias Loureiro, ainda devem estar nalguma cave de Cancun à espera que o “furacão” passe, Saldanha Sanches, o campeão televisivo do combate à corrupção e da fuga ao fisco, não se pronuncia, os analistas políticos devem estar de barriga ao sol e o Marcelo optou por reflectir sobre a sua campanha presidencial para daqui a nove anos.

É evidente que ninguém se mete nem com a Somague nem com os amigos do Compromisso Portugal, o preço a pagar por tal pode ser muito alto. Todos juntos representam uma boa quota do mercado de que vivem os que manipulam a opinião pública portuguesa, o mercado da publicidade e o mercado dos pareceres inúteis. Uma intervenção inconveniente pode custar uma campanha publicitária ou um parecer que daria para pagar o Smart para a filha mais velha.

Se estivesse em causa umas notas entregues num saco de plástico por um pato bravo da construção civil não faltariam filas de comentadores às portas dos estúdios das televisões, primeiras páginas com entrevistas às amantes do pato bravo e intervenções dos nossos distintos comentadores. Mas o presidente da Somague não é nenhum pato bravo, a teia de relações em que se movimenta representa uma elevada percentagem do PIB, como diria um qualquer assessor de Sócrates.

Atingir a Somague seria atingir um deles, seria atingir uma rede de interesses que controlam uma boa parte do nosso país, da comunicação social ao sistema político. As “somagues” não pagam apenas a políticos, delas vivem muitos dos nossos académicos, jornalistas, jurisconsultos, consultores, “senadores” e comentadores. Com o seu dinheiro já foram eleitos autarcas, presidentes e primeiro-ministros.

A verdade é que este silêncio não é casual, as nossas elites vivem das mesmas gorjetas que alimentam os partidos, ninguém está interessado em que se fale do assunto, estamos perante uma omertà à portuguesa.

 

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