'LE STYLE EST L'HOMME'
José Saramago propôs recentemente uma união política entre Portugal e Espanha. Não é por considerar que não temos uma identidade nacional, com todos os seus traços característicos no espaço e no tempo, como a história, a geografia, a língua, a cultura, as tradições, a consciência colectiva. Ele mesmo diz que manteríamos todas as nossas especificidades, ressalvadas as alterações decorrentes dos aspectos políticos envolvidos por essa união.
Não é por se filiar no iberismo mais do que ultrapassado do século XIX, e muito menos por nostalgia das veleidades alimentadas pelas coroas de Portugal e da Espanha, entre finais do século XV e meados do século XVI, de cada um dos reinos anexar o outro em razão de alianças matrimoniais com vocação para a sucessão dinástica. Nada disto o impressiona e, que eu saiba, não é entusiasta da dinastia filipina.
Não é por entender que somos mais fracos, mais pequenos, mais pobres, mais atrasados e mais incultos. Se fosse, teríamos de sustentar uma concepção darwiniana baseada na dominação do forte e do poderoso, como facto consumado, sobre o fraco e o desprotegido. Mas isto estaria em flagrante contradição com as posições políticas que ele tem tomado em relação a Cuba, à Palestina, às ex-colónias, etc., etc.
Não é por propugnar um capitalismo apátrida, para o qual não existem povos nem fronteiras, mas apenas lugares onde a mão-de-obra é mais barata e para onde tende a alastrar uma maior exploração dos trabalhadores, com fins de lucro ganancioso por parte das multinacionais intervenientes no processo. Sempre foi contra isso.
Não é por pretender legitimar que o capitalismo e o patronato espanhóis tomem conta de Portugal. Teria perdido a lucidez, se o fizesse.
Não é por uma questão de modelo político-constitucional. Que se saiba, Saramago não é monárquico, sendo a Espanha uma monarquia hereditária, e nunca se apresentou como defensor de um, nesse caso, inevitável centralismo madrileno.
Não é por ser partidário das democracias representativas de modelo europeu ocidental de que tanto Portugal como a Espanha são exemplos bem sucedidos. Nunca o foi.
Não é por apoiar a nossa integração na Europa. Até publicou A Jangada de Pedra quando Portugal e a Espanha aderiram à Comunidade Europeia, para acentuar a sua concepção de um destino terceiro-mundista para os dois países ibéricos.
Não é por estar de acordo com a livre circulação de pessoas, bens e serviços no espaço europeu, nem por se identificar com o modelo da União Europeia, quer na forma actual, quer na forma federal, quer na de uma Europa das regiões governada por Bruxelas em última instância. Nunca divergiu das posições do PCP em tais matérias.
Não é por pensar a sério que Espanha e Portugal, juntos, fariam uma unidade política mais forte no plano internacional. Perderíamos no equilíbrio entre os dois países e ficaríamos diluídos e diminuídos nas instâncias europeias. O peso da Espanha seria reforçado e o de Portugal neutralizado.
Não é por viver habitualmente em Espanha ou por lá ter casado. Façamos-lhe a justiça de considerar que ele nunca seria capaz de invocar tais razões.
Não é por ser ingénuo. Nunca lhe passará pela cabeça que a população portuguesa, em referendo, viesse dizer "sim" à união.
Saramago sabe que nem com uma engenharia das almas, nem com uma engenharia social ou política ditada pela fria racionalidade da sua própria lógica, o resultado de que fala seria atingido.
Se ainda acredita numa revolução pela cartilha marxista-leninista, poderia pensar-se que, não vendo maneira de acabar com a democracia burguesa na Europa, esta sua construção não só desenharia o fim da independência de Portugal e ainda, ipso facto, o do regime em que vivemos, como implicaria também a queda da monarquia espanhola... Mas essa seria uma outra forma de ingenuidade da sua parte.
Parábola então? Sim. Como já tive ocasião de dizer à TVE, creio que este será o tema de um dos seus próximos romances. "Uma vez que é insustentável, só um Prémio Nobel poderá tentar transformá-lo num exercício de estilo que valha a pena ler. E sabemos, desde Buffon, que le style est l'homme même."
Vasco Graça Moura
Não é por se filiar no iberismo mais do que ultrapassado do século XIX, e muito menos por nostalgia das veleidades alimentadas pelas coroas de Portugal e da Espanha, entre finais do século XV e meados do século XVI, de cada um dos reinos anexar o outro em razão de alianças matrimoniais com vocação para a sucessão dinástica. Nada disto o impressiona e, que eu saiba, não é entusiasta da dinastia filipina.
Não é por entender que somos mais fracos, mais pequenos, mais pobres, mais atrasados e mais incultos. Se fosse, teríamos de sustentar uma concepção darwiniana baseada na dominação do forte e do poderoso, como facto consumado, sobre o fraco e o desprotegido. Mas isto estaria em flagrante contradição com as posições políticas que ele tem tomado em relação a Cuba, à Palestina, às ex-colónias, etc., etc.
Não é por propugnar um capitalismo apátrida, para o qual não existem povos nem fronteiras, mas apenas lugares onde a mão-de-obra é mais barata e para onde tende a alastrar uma maior exploração dos trabalhadores, com fins de lucro ganancioso por parte das multinacionais intervenientes no processo. Sempre foi contra isso.
Não é por pretender legitimar que o capitalismo e o patronato espanhóis tomem conta de Portugal. Teria perdido a lucidez, se o fizesse.
Não é por uma questão de modelo político-constitucional. Que se saiba, Saramago não é monárquico, sendo a Espanha uma monarquia hereditária, e nunca se apresentou como defensor de um, nesse caso, inevitável centralismo madrileno.
Não é por ser partidário das democracias representativas de modelo europeu ocidental de que tanto Portugal como a Espanha são exemplos bem sucedidos. Nunca o foi.
Não é por apoiar a nossa integração na Europa. Até publicou A Jangada de Pedra quando Portugal e a Espanha aderiram à Comunidade Europeia, para acentuar a sua concepção de um destino terceiro-mundista para os dois países ibéricos.
Não é por estar de acordo com a livre circulação de pessoas, bens e serviços no espaço europeu, nem por se identificar com o modelo da União Europeia, quer na forma actual, quer na forma federal, quer na de uma Europa das regiões governada por Bruxelas em última instância. Nunca divergiu das posições do PCP em tais matérias.
Não é por pensar a sério que Espanha e Portugal, juntos, fariam uma unidade política mais forte no plano internacional. Perderíamos no equilíbrio entre os dois países e ficaríamos diluídos e diminuídos nas instâncias europeias. O peso da Espanha seria reforçado e o de Portugal neutralizado.
Não é por viver habitualmente em Espanha ou por lá ter casado. Façamos-lhe a justiça de considerar que ele nunca seria capaz de invocar tais razões.
Não é por ser ingénuo. Nunca lhe passará pela cabeça que a população portuguesa, em referendo, viesse dizer "sim" à união.
Saramago sabe que nem com uma engenharia das almas, nem com uma engenharia social ou política ditada pela fria racionalidade da sua própria lógica, o resultado de que fala seria atingido.
Se ainda acredita numa revolução pela cartilha marxista-leninista, poderia pensar-se que, não vendo maneira de acabar com a democracia burguesa na Europa, esta sua construção não só desenharia o fim da independência de Portugal e ainda, ipso facto, o do regime em que vivemos, como implicaria também a queda da monarquia espanhola... Mas essa seria uma outra forma de ingenuidade da sua parte.
Parábola então? Sim. Como já tive ocasião de dizer à TVE, creio que este será o tema de um dos seus próximos romances. "Uma vez que é insustentável, só um Prémio Nobel poderá tentar transformá-lo num exercício de estilo que valha a pena ler. E sabemos, desde Buffon, que le style est l'homme même."
Vasco Graça Moura
Etiquetas: Iberismo, José Saramago, Literatura
4 Comments:
DE facto este sr Vasco mete do.
Ele ainda nao passou o periodo de ressabiado do seu partido ter censurado Saramago e a seguir engolir o Nobel.
Insurge-se contra a aliança com Espanha? Embora custe dizer os politicos espanhois sao inteligentes enquanto os nossos sabemos como sao.
A ver se dao um premio qualquer ao sr Vasco para lhe alimentar o ego
O V Graça Moura mostra aqui, e mais uma vez, a lucidez com que olha para as coisas.
E hoje começa a ganhar relevância a justa idéia de que a proposta de Saramago para o Nobel foi fruto de um arranjo político de circunstância.
Este ultimo anonimo deve pensar que o comite Nobel e Portugues, ond eo Presidente da Republica condecora tudo o que mexe em Belem.
Ca esta a mentalidade do Portugues, nada o enaltece,de facto qualquer Pais fica honrado com um Nobel em Portugal os Vascos com a sua dor de corno morrem de inveja.
Pode nao s egostar d e Saramago mas nao s elhe pode tirar o merito.
E a mesma razao que Manuel Oliveira e masi respeitado no estrangeiro que ca no burgo.
que nojo é viver num território (como diz o monstro de boliqueime) governado por uma corja que 'expulsa' os seus cidadãos, sejam eles trabalhadores ou reformados, e os obriga a procurar trabalho ou assistência "no outro lado":
La mejor atención sanitaria de la que dispone Galicia atrae a los municipios gallegos limítrofes con Portugal a miles de ciudadanos lusos, muchos de ellos jubilados, que deciden trasladar su residencia a la comunidad autónoma. Este fenómeno es especialmente patente en la provincia de Ourense, que concentra nueve de los diez ayuntamientos con mayor proporción de extranjeros de Galicia. Pese a que se trata de localidades que llevan perdiendo habitantes durante los últimos años, con una población bastante envejecida y apenas nacimientos cada vez son más los extranjeros de origen portugués que deciden empadronarse en estos municipios.
Carballeda de Valdeorras encabeza el ranking de ayuntamientos gallegos con mayor proporción de extranjeros en relación a su población -un 15 por ciento-, le sigue a A Mezquita, Oímbra, Verín, Lobios, Entrimo, O Barco y Padrenda, todos ellos de la provincia de Ourense y próximos a Portugal. Sólo la localidad lucense de Burela, que ocupa el noveno puesto, se sitúa entre los diez municipios con más porcentaje de inmigrantes debido a la fuerte presencia de caboverdianos que trabajan en el sector pesquero. En décimo lugar, hay otro ayuntamiento ourensano, Castrelo de Miño, también próximo a la frontera lusa.
La razón de que estos municipios de Ourense tengan una proporción de extranjeros tan elevada es, según algunos de sus alcaldes, la cercanía con Portugal y el hecho de que Galicia ofrece mejores prestaciones sanitarias que el país vecino, lo que motiva a muchos ciudadanos lusos a mudarse al sur de la comunidad autónoma, sobre todo tras la jubilación.
Fuentes del Sergas confirman también que cada vez son más los vecinos lusos que, aun manteniendo su residencia en Portugal, se desplazan hasta el Hospital de Verín para recibir atención sanitaria.
Según las últimas cifras de población a enero de 2007, en Galicia residen 81.000 extranjeros, de los cuales 15.470 proceden de Portugal. El 74 por ciento de estos portugueses se instala en Pontevedra y Ourense por ser las provincias limítrofes con el país luso.
Esta afluencia de ciudadanos lusos ha convertido a Ourense en la provincia gallega con mayor porcentaje de extranjeros en relación a su población. En Ourense están empadronados 5.400 portugueses y en Pontevedra más de 6.100.
agora, gostava que os que se 'indignam' com as propostas do saramago mostrassem a mesma indignação... se não for maçada...
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