quinta-feira, 9 de agosto de 2007

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

eu em 1951 apanhando (discretamente) uma beata
(valiosa)

num café da baixa por ser incapaz coitados deles

de escrever os meus versos sem realizar de facto

neles, e à volta sua, a minha própria unidade

- fumar, quere-se dizer.



esta, que não é brilhante, é que ninguém esperava

ver num livro de versos. Pois é verdade. Denota

a minha essencial falta de higiene (não de tabaco)

e uma ausência de escrúpulo (não de dinheiro)
notável.



o Armando, que escreve à minha frente

o seu dele poema, fuma também,

Fumamos como perdidos escrevemos perdidamente

e nenhuma posição no mundo (me parece) é mais alta

mais espantosa e violenta incompatível e recon-
fortável

do que esta de nada dar pelo tabaco dos outros

(excepto coisas como vergonha, naturalmente,

e mortalhas)



(que se saiba) é esta a primeira vez

que um poeta escreve tão baixo (ao nível das priscas
dos outros)

aqui, e em parte mais nenhuma, é que cintila o tal
condicionalismo

de que há tanto se fala e se dispõe

discretamente (como quem as apanha).



sirva tudo de lição aos presentes e futuros

nas taménidas (várias) da poesia local

Antes andar por aí relativamente farto

antes para tabaco que para cesariny

(mário) de vasconcelos.



Mário Cesariny de Vasconcelos
Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano
Manual de Prestidigitação
1981,Assírio & Alvim

Etiquetas: ,

1 Comments:

At 9 de agosto de 2007 às 12:32, Anonymous Anónimo said...

Em homenagem ao Cesariny que, se fosse vivo, faria oitenta e quatro anos - o Crespo, sempre bem informado, enganou-se - devorei sozinho uma santola (€ 32, seus cabrões e putas invejosos) e deitei abaixo uma garrafa de Verde da Lixa, terra do meu querido amigo Coutinho, dos poucos homens com "H" grande que tive o privilégio de conhecer e com quem trabalhei, ainda do tempo em que a PJ era viva. Já percebi que os cortesãos do regime se preparam para "lançar" umas coisas dessa "velha desdentada que morava para as bandas de Benfica", como dizia o aldrabão do Pacheco sobre o Cesariny. A ver vamos, como pensava o cego. São todas muito finas, mas não arriscavam um terço do que o Cesariny arriscou. Em sua homenagem - e de tantos desgraçados pantomineiros que por aí arrastam o cadáver - aí vai, mais uma vez, sempre a mesma.

o regresso de ulisses

O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE. PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÂNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC, ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA "ESCRAVA DO HOMEM" E ELA RI ÀS ESCÂNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM. DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÂNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMAS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ESSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM.

 

Enviar um comentário

<< Home