A Guerra Fria terá começado, portanto, a 5,5 milhões de graus centígrados – temperatura estimada do núcleo da explosão da bomba de Hiroshima – e quente prosseguiu (vietnamitas, angolanos, guineenses, moçambicanos bem o sabem).
Às 8:15h da manhã de segunda-feira, no Japão (00:15h em Lisboa), fez-se um minuto de silêncio pelas 140.000 vítimas da bomba de Hiroshima, lançada a essa hora há 62 anos (se fosse um minuto por cada vítima, ficaríamos mais de três meses em silêncio). O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, depositou uma coroa de flores em memória dos mortos e comprometeu-se a trabalhar pela abolição das armas nucleares em todo o mundo – compromisso que, feito naquele lugar (precisamente no ponto onde a bomba caiu), tem um peso específico.
Hoje, o que se lembra é Nagasaki – vítima da “fat boy” (por ser maior do que a de Hiroshima) lançada já sobre um Japão derrotado, sem outra razão aparente além da de testar (ou exibir) o potencial destrutivo do plutónio (a de Hiroshima era de urânio). As vítimas em Nagasaki foram 80.000. Civis.
A versão oficial (de que aquela teria sido a maneira mais rápida e, portanto, mais branda que se arranjou para acabar com a 2ª Grande Guerra) até poderia explicar Hiroshima, não Nagasaki. E, hoje, o que prepondera é a convicção de que aquelas não foram as últimas bombas da 2ª Grande Guerra mas as primeiras da Guerra Fria – eram os Estados Unidos a mostrar à União Soviética que já as tinham (uma de urânio e outra de plutónio).
A Guerra Fria terá começado, portanto, a 5,5 milhões de graus centígrados – temperatura estimada do núcleo da explosão da bomba de Hiroshima – e quente prosseguiu (vietnamitas, angolanos, guineenses, moçambicanos bem o sabem). Muito se matou (logo, muito se morreu) na Guerra Fria: frios são os cadáveres; a guerra foi quente – ferro e fogo, como desde sempre.
E quente prossegue esta, a que ainda não se conseguiu dar nome: “Série de atentados mata pelo menos 43 civis no Iraque” – é a de hoje no “Público”. O que seria da contabilidade mórbida do Iraque sem o “pelo menos”? É todos os dias “pelo menos 43”, “pelo menos 36”, “pelo menos 48”... Mas, vá lá, ainda se conta – ou tenta contar – os mortos. No ano do cinquentenário da Hiroshima e Nagasaki trabalhava eu no “Jornal do Brasil”. Fui ao arquivo microfilmado para ver a edição de 7 de Agosto de 1945. Nenhuma referência ao número de vítimas de Hiroshima.
Não se dizia sequer que seria incalculável. Simplesmente nenhuma menção. O texto não tinha menos do que 10 mil caracteres. Nenhum dedicado às vítimas. As atenções íam todas para a bomba, apresentada como uma maravilha do engenho humano. E os civis não foram mortos por engano. Foram eles próprios o alvo – o alvo físico, porque o alvo estratégico estava a milhares de quilómetros dali, possivelmente em Moscovo.
Já fomos piores do que somos. Também já fomos melhores. Não há linha contínua – nem para o bem nem para o mal. Não há tendência que não possa ser contrariada – para o bem ou para o mal.
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A Guerra Fria terá começado, portanto, a 5,5 milhões de graus centígrados – temperatura estimada do núcleo da explosão da bomba de Hiroshima – e quente prosseguiu (vietnamitas, angolanos, guineenses, moçambicanos bem o sabem).
Às 8:15h da manhã de segunda-feira, no Japão (00:15h em Lisboa), fez-se um minuto de silêncio pelas 140.000 vítimas da bomba de Hiroshima, lançada a essa hora há 62 anos (se fosse um minuto por cada vítima, ficaríamos mais de três meses em silêncio). O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, depositou uma coroa de flores em memória dos mortos e comprometeu-se a trabalhar pela abolição das armas nucleares em todo o mundo – compromisso que, feito naquele lugar (precisamente no ponto onde a bomba caiu), tem um peso específico.
Hoje, o que se lembra é Nagasaki – vítima da “fat boy” (por ser maior do que a de Hiroshima) lançada já sobre um Japão derrotado, sem outra razão aparente além da de testar (ou exibir) o potencial destrutivo do plutónio (a de Hiroshima era de urânio). As vítimas em Nagasaki foram 80.000. Civis.
A versão oficial (de que aquela teria sido a maneira mais rápida e, portanto, mais branda que se arranjou para acabar com a 2ª Grande Guerra) até poderia explicar Hiroshima, não Nagasaki. E, hoje, o que prepondera é a convicção de que aquelas não foram as últimas bombas da 2ª Grande Guerra mas as primeiras da Guerra Fria – eram os Estados Unidos a mostrar à União Soviética que já as tinham (uma de urânio e outra de plutónio).
A Guerra Fria terá começado, portanto, a 5,5 milhões de graus centígrados – temperatura estimada do núcleo da explosão da bomba de Hiroshima – e quente prosseguiu (vietnamitas, angolanos, guineenses, moçambicanos bem o sabem). Muito se matou (logo, muito se morreu) na Guerra Fria: frios são os cadáveres; a guerra foi quente – ferro e fogo, como desde sempre.
E quente prossegue esta, a que ainda não se conseguiu dar nome: “Série de atentados mata pelo menos 43 civis no Iraque” – é a de hoje no “Público”. O que seria da contabilidade mórbida do Iraque sem o “pelo menos”? É todos os dias “pelo menos 43”, “pelo menos 36”, “pelo menos 48”... Mas, vá lá, ainda se conta – ou tenta contar – os mortos. No ano do cinquentenário da Hiroshima e Nagasaki trabalhava eu no “Jornal do Brasil”. Fui ao arquivo microfilmado para ver a edição de 7 de Agosto de 1945. Nenhuma referência ao número de vítimas de Hiroshima.
Não se dizia sequer que seria incalculável. Simplesmente nenhuma menção. O texto não tinha menos do que 10 mil caracteres. Nenhum dedicado às vítimas. As atenções íam todas para a bomba, apresentada como uma maravilha do engenho humano. E os civis não foram mortos por engano. Foram eles próprios o alvo – o alvo físico, porque o alvo estratégico estava a milhares de quilómetros dali, possivelmente em Moscovo.
Já fomos piores do que somos. Também já fomos melhores. Não há linha contínua – nem para o bem nem para o mal. Não há tendência que não possa ser contrariada – para o bem ou para o mal.
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