sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O FAZ DE CONTA

O que na gíria da moda tecnológica se designa hoje por second life é afinal uma velha invenção há muito criada e posta em prática em Portugal: o faz-de-conta.

Durante 48 anos Portugal viveu sob ditadura mascarada de democracia orgânica. Ou seja, os portugueses viviam sob os rigores da polícia política e da censura mas numa espécie de democracia faz-de-conta. Hoje, o regime salazarento poderia alegar que Portugal vivia a democracia faz-de-conta dos avatares, ou seja a ditadura metamorfoseada de democracia. Assim como a própria democracia em que o País está mergulhado poderia reclamar a sua qualidade. É tudo uma questão de palavras.

Portugal é já hoje o 12º país na second life, com uma quantidade de avatares muitíssimo superior às de países como a Suécia, a Suiça, a Dinamarca ou a China. E só não se percebe porque é que no mundo virtual Portugal não vai mais à frente, uma vez que no mundo real anda tão para trás.


Portugal tem os piores índices da Europa em matéria de saúde, educação, bem-estar social, poder de compra e outro factores que colocam o País na chamada cauda da Europa.
Ora porque não há-de Portugal colocar-se no topo da Europa e do Mundo em termos de faz-de-conta?
Porque não há-de Portugal ter um serviço nacional de saúde tendencialmente gratuito, oportunidades de acesso e de êxito escolar para todos, justiça social na distribuição da riqueza e do rendimento, coesão económica e social de todo o território, tudo isto na esfera virtual e nos termos de uma Constituição faz-de-conta?
Assim como assim já são tão poucos os portugueses que acreditam numa primeira vida a sério. Porque não viver melhor uma vida virtual?
Desde que paguem as contas com dinheiro sonante.

J.P.G.

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4 Comments:

At 3 de agosto de 2007 às 17:38, Anonymous Anónimo said...

Com pompa, circunstância e um Secretário de Estado a abrilhantar a inauguração, Portugal passou a ser, desde 27 de Julho, oficial e orgulhosamente o primeiro país do mundo a abrir um Tribunal virtual. Foi no reino da Second Life – Segunda Vida, um jogo de computador tridimensional e on-line em que cada inscrito tem uma personagem que interage com outras, simulando a vida real. O jogo é o último grito da moda e gaba-se de ter mais 8 milhões de jogadores inscritos. Para a simulação ser mais perfeita, há dinheiro convertível em dólares americanos a circular e multinacionais com sedes virtuais - e lucros bem reais.
Para dar aquele ar simplex, tecnológico e moderno que o Governo PS tanto se esforça por ter, lá fez uma parceria com duas instituições de ensino superior para montar aquilo a que chamam E-Justice Center – Centro de Mediação e Arbitragem, que pretende ser uma espécie de mediador para os conflitos que surjam no reino da Second Life.
Diz o comunicado do Ministério da Justiça que esta inauguração assinala «a aposta do Estado português e da Presidência da União Europeia em meios alternativos de resolução de conflitos, como a arbitragem e a mediação». O pior é que não assinala aposta nenhuma a não ser em fogo de artifício para enganar os distraídos.
O que existe hoje no sector da Justiça no nosso país é uma gritante falta de meios e de condições de trabalho dos profissionais, sendo urgente o preenchimento dos quadros de pessoal e a modernização de instalações e equipamentos, sob pena de se continuarem a acumular processos atrasados. O que existe hoje é a desresponsabilização do Estado pela Justiça: o Governo já privatizou o notariado e partes do sistema prisional, ameaça encerrar dezenas de estabelecimentos prisionais e de comarcas do interior do país.
O pior que se passa na Justiça portuguesa é que esta se transforma cada vez mais numa justiça de classe, em que quem tem dinheiro acede a bons advogados e quem não tem fica à porta – sem informação jurídica nem apoio judiciário, sujeito a elevadíssimas taxas e custas. O pior que se passa na Justiça do nosso país é o sentimento de impunidade e de desigualdade no tratamento, que mina o próprio direito democrático.
Os portugueses são pessoas com problemas concretos e uma só vida para viver – e é nessa vida que exigem e lutam por justiça.

 
At 4 de agosto de 2007 às 00:11, Anonymous Anónimo said...

Qul o espanto??
Este Governo, esre PS e tudo virtual.
Que vergonha

 
At 4 de agosto de 2007 às 18:25, Anonymous Anónimo said...

Se ate o diploma do 1º ministro e virtual o que se esperava.
Ainda bem que nao sou func.publico senao aquela atrasadaque levanta processeos despedia-me .
Agora percebo o que nao pecebi quando estive na India, cda pais tem as suas vacas sagradas

 
At 4 de agosto de 2007 às 20:58, Anonymous Anónimo said...

O PORTUGAL DO FAZ DE CONTA...

Mais uma:

«Cerca de mil vigilantes florestais ameaçam entrar em greve a partir das 00h00 de segunda-feira, caso não assinem contratos de trabalho nem recebam os salários que a GNR e o Governo lhes prometeram.
Os primeiros quatro vigilantes entraram ao serviço a 15 de Maio, no início da fase Bravo de combate aos incêndios. “Passámos da tutela da Direcção-Geral das Florestas para a da GNR. Somos todos desempregados e prometeram-nos um contrato de trabalho de três meses e meio”, disse ao CM Mário Santos, porta-voz dos vigilantes florestais.

Depois de terem recebido a promessa de que, no fim de Maio, iriam receber o primeiro pagamento, os vigilantes não só ainda não o receberam como continuam à espera de assinar contrato.»

No: Correio da Manhã
4/agosto/2007

 

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