quarta-feira, 5 de setembro de 2007

UM GOVERNO TOXICODEPENDENTE

«A lei manda dar seringas e apreender a droga»



O Governo socialista prepara-se para dar início à distribuição e troca de seringas nas prisões. No entanto, o tráfico e o consumo de droga continuam a ser proibidos o que significa que os guardas, para darem cabal cumprimento às leis da República, devem, por um lado, distribuir seringas aos presos, e, por outro, apreender-lhes a droga. Mas a ser assim, para que querem os presos as seringas?

O que é mais revoltante nesta questão da troca de seringas é, todavia, o cinismo do Governo de dar seringas que custam 10 cêntimos, mas obrigar os presos a comprar a droga cujo preço, dentro da prisão, é sempre mais caro, porque não basta comprá-la, é necessário subornar quem os vigia e controla.

Não era mais humano dar-lhes a droga e obrigarem-nos a comprar as seringas?

Com a distribuição das seringas, o Governo, além de legitimar o tráfico de droga dentro das prisões, abdica totalmente da possibilidade de as prisões, pelo menos, se tornarem espaços livres de droga e, desta forma, permitirem a recuperação dos presos toxicodependentes. Porque se o Governo reconhece que nem no interior das prisões, um espaço totalmente fechado e vigiado, consegue acabar com o tráfico e consumo de droga, então o melhor é deixar-se de hipocrisias e assumir publicamente aquilo que, no fundo, toda a gente informada já sabe: que o Governo português, tal como a economia europeia, está toxicodependente. Esta é, aliás, a única razão por que nenhum Governo europeu é capaz de levar a cabo um combate sério ao tráfico de droga. É que, se o fizesse, a economia europeia, pura e simplesmente, entrava em colapso, em virtude de os fluxos de capitais provenientes desta actividade serem hoje absolutamente essenciais para podermos manter o nosso padrão de vida.

Já agora gostaria também de saber se, com a proibição de fumar nas escolas e nos hospitais, o Governo também tenciona distribuir cinzeiros aos médicos, professores, funcionários, doentes e alunos para que não deitem as beatas para o chão.


REXISTIR

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5 Comments:

At 5 de setembro de 2007 às 17:53, Anonymous Anónimo said...

O cinismo e a hipocrisia do Governo são de facto impressionantes. É quase como a lei do aborto em que era proibido fazer abortos mas não sucedia nada a quem os fazia. Era proibido mas se se fizesse o que acontecia? Nada. Mas era proibido.

 
At 5 de setembro de 2007 às 17:53, Anonymous Anónimo said...

O cinismo e a hipocrisia do Governo são de facto impressionantes. É quase como a lei do aborto em que era proibido fazer abortos mas não sucedia nada a quem os fazia. Era proibido mas se se fizesse o que acontecia? Nada. Mas era proibido.

 
At 5 de setembro de 2007 às 17:54, Anonymous Anónimo said...

Só espero que o Governo também distibua cinzeiros para eu não necessitar de deitar as beatas na casa de banho do Centro de Saúde.

 
At 5 de setembro de 2007 às 18:28, Anonymous Anónimo said...

Parabéns pela crónica.

É a triste realidade deste Portugal Moderno

A. Soares

 
At 6 de setembro de 2007 às 13:43, Anonymous Anónimo said...

No país onde vivo se comprar um carro que vá um poço além de um equivalente ao Carocha torno-me de imediato suspeito de corrupção, há uma lei que manda que me seja instaurado um processo disciplinar ainda antes de me perguntarem de onde veio e, por via das dúvidas, o processo deve ser comunicado ao Ministério Público. Como sou funcionário público sou, por definição, um potencial criminoso.

No país onde vivo uma empresa que vive de obras públicas oferece gorjetas de cinquenta mil contos mas beneficia de uma lei feita pelos políticos que determina que a gorjeta a políticos não constituem crime. São os mesmos políticos que decidiram que basta eu comprar algo reservado aos ricos para me tornar arguido, primeiro sou investigado e depois é que me perguntam donde veio o dinheiro. Melhor sorte teve o PSD e a Somague, toda a gente sabe de onde veio e para onde foi o dinheiro e não foram investigados.

Só um idiota poderia ter pensado que a Procuradoria-Geral da República iria considerar que uma gorjeta tão generosa seria indiciadora de outros financiamentos ilegais e que a estes poderiam estar associados favores políticos, merecendo uma investigação extensiva às relações entre a empresa(s) e o(s) partido(s). O Ministério Público não procurou saber se houve favores, como não procurou não os encontrou e como não os encontrou chegou à conclusão óbvia, não houve crime.

Vivo num país onde uma empresa leva uma idosa a tribunal porque roubou um sabonete numa das suas lojas e uma outra empresa dá gorjetas de cinquenta mil contos a políticos. A mesma justiça que gastou o dinheiro dos contribuintes com um julgamento idiota mas não se deu ao trabalho de investigar que serviços justificaram uma gorjeta tão generosa.

Temos uma justiça para quem uns são deficientes e outros são manetas, os deficientes são os da mesma casta social, os que estão e vivem no poder, por coincidência os que decidem as mordomias de que devem beneficiar os magistrados (por exemplo, porquê um juiz do Tribunal de Contas recebe um subsídio de residência livre de impostos?). A justiça a sério está reservada aos outros, aos manetas, aos que devem viver com medo de algum dia caírem nas malhas do tribunal, aos que devem tirar o chapéu sempre que se cruza com o doutor juiz, aos que podem ir para a cadeia se forem apanhados em flagrante a roubar um papo-seco.

Querem que vos diga o que penso dos assaltantes de bancos? Que são parvos, em vez de comprarem armas deveriam inscrever-se numa qualquer universidade para serem doutores, comprar uns fatos riscados, inscrever-se no PSD e irem à Universidade de Verão, se ainda estiverem em idade para isso. Assim já poderiam receber gorjetas bem maiores do que conseguem nos bancos e sem esperar pela abertura retardada dos cofres. E se a sorte política estivesse do seu lado até poderiam vir a indicar o nome do próximo PGR.

 

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