quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O SUÍCIDIO


De reforma em reforma, a educação em Portugal aproxima-se do seu alegre suicídio.
Mas a triste realidade deste sítio é que quem faz hara-kiri, após cada revolução pedagógica, é o próprio Ministério da Educação.
É simplesmente confrangedor ver ministros, uns após os outros, anunciarem a reforma, e a estrutura administrativa servir-lhe o menu envenenado com que vão chacinando as escolas e o que lá se ensina.

Cada reforma é a forma mais honesta de sucessivos ministros colocarem a sua cabeça no cadafalso.
É curioso como o fazem, encaminhados pela administração que promete reformas pedagógicas e sistemas financeiros mais eficazes e baratos.
É assim que, ano após ano, se fecham escolas, se coloca em causa a existência de faltas como meio disciplinar, se cria o mito das percentagens de sucesso escolar como se isso fosse símbolo de sapiência, se destroem disciplinas que questionam a sociedade (substituídas por outras de vulgaridades e de educação cívica), se colocam professores contra o Ministro, pais contra professores (que foram colocados como responsáveis da educação que não têm em casa) e alunos contra tudo e contra todos.
Há um sinistro e sombrio grupo de gurus pedagógicos que têm, com uma eficiência estalinista, vindo a destruir a escola pública.
Não é por acaso que o ensino privado é, nos rankings, melhor do que o público.
É-o por muitas razões, mas também porque o Ministério da Educação vem, há anos, a disparar sobre o seu próprio parco neurónio. E depois derramam-se lágrimas de crocodilo.


F.S.

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6 Comments:

At 31 de outubro de 2007 às 19:51, Anonymous Anónimo said...

Não me parece que a questão do tratamento das faltas no novo estatuto do aluno mereça tanta agitação por parte de líderes partidários, mas não deixa de ser uma questão a merecer reflexão. Não estou na posse de todos os dados, apenas avalio a medida pela mensagem que representa, aliás, a mesma mensagem que chega a alunos e a encarregados de educação. E a mensagem é a de bandalhice.

O sistema de ensino encontrou a solução para resolver um problema insolúvel na lógica do ensino obrigatório, o que fazer de um aluno que falta e reprova? Claro, encontra-se um esquema para que passe, para que chegue possa concluir com êxito o ensino obrigatório e as escolas poderem livrar-se dele. Mais tarde ou mais cedo alguém vai descobrir que os professores são os culpados pelas faltas dos alunos, se eles faltam é porque o professor não é capaz de os motivar. O que não é novidade, não falta por aí quem diga que se os alunos chumbam é porque os professores não sabem ensinar.

Num país em queda permanente dos níveis de produtividade a mensagem que se dá às futuras gerações é que a bandalhice não é inimiga do sucesso. Só não consigo adivinhar quem vai conseguir convencer estes jovens que os horários são para cumprir quando chegarem à idade adulta e arranjarem um emprego, se tiverem essa sorte.

Nas mesmas turmas teremos dois tipos de alunos, os que não faltam e estudam e os que podem faltar, porque os pais o permitem e o Estado admite. Vamos ter os que seguem a educação dada pelos familiares e os que beneficiam da má educação promovida pelo Estado.

Chego a interrogar-me se alguns dos responsáveis pelo Ensino conhecem mesmo as nossas escolas, duvido

 
At 31 de outubro de 2007 às 19:53, Anonymous Anónimo said...

«A taxa média de insucesso escolar do ensino secundário caiu para 25% percentuais no último ano lectivo de 2006/2007, disse a ministra da Educação em entrevista ao DN. Os números divulgados por Maria de Lurdes Rodrigues indicam uma quebra de cerca de sete pontos percentuais (ou seja, 22%) ao longo do último ano lectivo. E em 2004/05, aquele indicador, que estabelece a média para o conjunto dos 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade, tinha-se situado acima dos 33%.»
No:Diário de Notícias

Basta facilitar um pouco nas avaliações para melhorar o sucesso escolar nos níveis apresentados pela ministra.

 
At 31 de outubro de 2007 às 19:54, Anonymous Anónimo said...

Os Exames do 12.º ano – Uma nova versão do conto Pedro e o Lobo

Declaradamente, os responsáveis pela tutela da educação não sabem o que fazer com os exames do 12.º ano. Tal como o Pedro, inventaram um lobo com que passaram a assustar os alunos e o lobo nunca mais aparece.
Em 21 de Maio de 2004, num quadro de implementação de um novo plano de estudos para os cursos do ensino secundário, introduziam-se também algumas alterações nas provas de avaliação externa (exames) de cuja prestação depende a aprovação em determinadas disciplinas.
Na altura, quer por aventureirismo irresponsável resultante de saudades de tempos irrepetíveis, quer por inabilidade política resultante da ignorância do estado em que se encontrava a educação no seu país, ou, na melhor das hipóteses, enlevado por ideias românticas de levar a sério a educação em Portugal, quem legislou sobre os exames do 12.º ano não conseguiu prever as consequências da sua utopia.
Com efeito, era determinado que “os exames finais nacionais realizam-se no ano terminal da respectiva disciplina, incidindo sobre as aprendizagens correspondentes à totalidade dos anos de escolaridade em que a disciplina é leccionada” (Portaria 550-D, de 21 de Maio, ponto 5 do artigo 17.º). Ao referir “totalidade dos anos de escolaridade”, o legislador tinha vontade de repor os antigos exames de fim de ciclo sobre as matérias de todos os anos que o integram, como é óbvio.
Não vamos aqui tratar as disciplinas de frequência bienal da componente de formação específica, que têm exame sobre matérias dos dois anos (pelo menos até a estatística do sucesso o tolerar), nem a disciplina de Filosofia da componente de formação geral, que começou por ter exame obrigatório para todos os alunos, que imediatamente passou a ter apenas exame facultativo para acesso ao ensino superior e que, actualmente, desapareceu do elenco das disciplinas com exame e nem para acesso a um curso de Filosofia será exigida como disciplina específica. (Entretanto, em 2008, um aluno poderá entrar no curso de Filosofia da Universidade do Porto com a nota do exame de Geografia, por exemplo). Vamos referir-nos apenas às disciplinas de frequência trienal que são Português, da formação geral, e Matemática-A, História-A, Desenho-A e Língua Estrangeira II ou III, da formação específica, dependendo dos cursos.
Como pretendia o legislador em Maio de 2004, os alunos que iniciaram o ensino secundário em Setembro seguinte tinham de se mentalizar que a prática até então institucionalizada de que matéria saída no teste era matéria arrumada, estivesse bem ou mal sabida ou não sabida, tinha de acabar. Afinal, as matérias dos 10.º e 11.º anos passavam a ser passíveis de voltar a aparecer num “grande teste”, em final do 12.º ano, em Junho de 2007. E a contar com este pressuposto planificaram os professores os seus trabalhos. E a contar com este pressuposto, durante dois anos e meio, foram os professores pressionando os alunos a não abandonar o estudo de matérias passadas, porque o lobo vinha aí.
Chegámos à altura dos exames e, afinal, o lobo não apareceu.
Sob o subterfúgio de que era necessário simplificar processos e dado que ainda havia alunos do plano de estudos anterior com o curso por concluir, determinava-se, já com os exames à porta, que seria realizada apenas uma prova comum a todas as disciplinas de que existisse uma variante trienal, exclusivamente sobre conteúdos do 12.º ano. Por exemplo História, que devia ter três provas, uma para os alunos do antigo plano de estudos, outra para História-A (trienal) e outra para História-B (bienal), ambas da nova reforma, teve apenas uma sobre os conteúdos do 12.º ano do novo programa.
Claro que isto gerou discriminações e arbitrariedades. Enquanto que em disciplinas de que não havia nenhuma variante trienal os alunos tiveram de fazer exames sobre conteúdos de dois anos, noutras, também bienais, os alunos fizeram exame apenas sobre conteúdos do último ano de frequência. E fossem só estas as discriminações e arbitrariedades então cometidas!
Mas, num país de brandos costumes e onde a impunidade de quem nos governa constitui norma, nada resultou como consequência e o rei continuou a passear a sua nudez. Até porque, acreditava-se, em 2008, tudo iria entrar na normalidade instituída. E o Pedro continuaria a gritar “Aí vêm os exames sobre conteúdos de três anos! Aí vêm os exames sobre conteúdos de três anos”.
Qual quê? Mais uma vez, os exames sobre conteúdos de três anos não vão aparecer em 2008. E os pastores podem continuar a apascentar a suas ovelhas sem grandes preocupações com o lobo, pois, desta vez, o Pedro antecipou-se e já nos disse que estava a mentir.
Com efeito, alegando, mais uma vez, que ainda há alunos do anterior plano de estudos para concluírem os seus cursos, no final deste ano lectivo, os exames de disciplinas trienais vão continuar a incidir apenas sobre os conteúdos do actual programa do 12.º ano. E mais uma vez se contradizem as determinações de 2004.
Há, todavia, uma novidade: em 2008, todas as disciplinas bienais terão exame sobre conteúdos dos dois anos. Esta novidade vem corrigir um dos erros de 2007, ao repor práticas comuns em situações comuns, mas vem também testar como correm as coisas para ver o que se poderá fazer em 2009. E, entretanto, professores e alunos que continuem o seu trabalho neste ambiente de incertezas e de instabilidade.
É que, para 2009, o Pedro já começou a dar indícios de que continua a mentir e que o lobo poderá não voltar a aparecer. Quem tutela a educação actualmente, já vai sabendo o perigo que exames sobre conteúdos de três anos constituem para a estatística do sucesso. E, se até já a Matemática foi uma disciplina de sucesso, em 2007, e voltará a ser, em 2008, como é previsível, como pode o Pedro ir dar cabo de tão bons resultados em 2009, ao fazer aparecer o lobo?
Segundo a jornalista Isabel Leiria, num artigo do jornal Público de 19 de Outubro passado, “o Ministério da Educação ainda não decidiu quais as regras que vai passar a adoptar em relação aos exames nacionais do secundário, mas entende que, para já, a melhor solução é manter a excepção decretada no ano passado”. Como “ainda não decidiu”? Então não existem normas que regulamentam o processo de exames? Então o que é que foi publicado em 2004? Que aquelas determinações de David Justino sobre o novo conceito de exames eram um nado morto, já nós tínhamos percebido. O que não conhecíamos era os engulhos que essas determinações estão a causar a quem quer, a todo o custo, anunciar estatísticas de sucesso, sobretudo, em 2009.
Com efeito, continua a articulista, “Valter Lemos tem mesmo dúvidas sobre as vantagens de uma prova testar os três anos e recusa qualquer ideia de “facilitismo”. Então não havia de ter dúvidas? Então não havia de recusar ideias de facilitismo? Até porque, se admitisse essas ideias, ninguém ia acreditar.
Demagogia! Mais uma vez, pura demagogia!
Então não é que o Secretário de Estado, numa surpreendente e admirável descoberta, considera que “se os programas estiverem bem feitos, com uma lógica de espiralidade, as competências terminais verificadas no 12.º incluem as adquiridas no 10.º e no 11.º”? Ora, como mais adiante considera que “só em História é que pode haver dúvidas”, então tem a certeza de que, nas restantes disciplinas, os programas estão “bem feitos” e a lógica de espiralidade funciona. Então, de que é que está à espera para fazer aparecer o lobo no exame de Matemática e das restantes disciplinas trienais? Por outro lado, se tem dúvidas sobre a dinâmica da lógica de espiralidade em História, é porque considera que os programas não estão “bem feitos”. Que espera, então, para mandar fazer programas “bem feitos”?
A História, com efeito, já não é um engulho para o senhor, é um trauma. Por isso, não interessa fazer bons programas de História porque, mesmo com maus programas, História também ensina a reflectir criticamente sobre todo o mal que esta gente vem fazendo à educação em Portugal.
E está traçado o destino da História.

 
At 31 de outubro de 2007 às 19:58, Anonymous Anónimo said...

A Ministra da Educação entrou em novo ciclo de investida comunicacional.
Na segunda-feira no CCB foi a apoteose, mas o verdadeiro delírio continuam a ser, para mim, as entrevistas, que permitem uma leitura mais demorada e a detecção de imensas incongruências, inverdades e completos devarios retóricos.

A entrevista publicada ontem dia 30 no DN - coincidência, claro, o facto de ter sido o primeiro a publicar os rankings - é um verdadeiro compêndio para citações de Maria de Lurdes Rodrigues, quase desde a primeira frase.

Aliás o título escolhido «Provavelmente nenhum aluno chumbou por faltas no último ano» é um rematado disparate a dois níveis: antes de mais porque, se MLR andou hoje a divulgar as estatísticas do ano passado, saberá obrigatoriamente se alguém chumbou por essa razão; por outro lado é um disparate porque, obviamente, houve quem chumbasse por faltas e todos nós temos conhecimento directo disso. Só que à senhora Ministra resvala sempre o discurso para este tipo de tiradas, facilmente desmentíveis, que apenas cobrem de ridículo logo à partida, tudo o que afirme em seguida.

Mas comecemos pela primeira resposta que dá à pergunta colocada sobre o facilitismo trazido pelo projectado Estatuto do Aluno, que os entrevistaqdores decidiram colocar sob o prisma da crítica política de Paulo Portas e não das críticas dos professores. Mas leiamos:

O anterior estatuto - de 2002, negociado e votado num tempo em que o CDS/PP era governo - era um estatuto burocratizado. Um professor para repreender um aluno quase que tinha de meter um requerimento. Era bloqueador do acto pedagógico de prevenir, de corrigir, de repreender. O acto pedagógico é um acto de autoridade de um professor sobre adolescentes ou crianças. O que fizemos foi tornar o acto pedagógico um acto de autoridade natural. Se é preciso repreender, repreende-se sem prejuízo dos direitos dos alunos. Reserva-se à escola a decisão das medidas punitivas de comportamentos não desejados. E as escolas devem ter um regulamento que é claro para os alunos e para os pais. E é a isto que o CDS - que tanto gosta de falar de autonomia - quer-se substituir, dizendo o que fazer aos alunos absentistas. Vou dar um exemplo que é uma caricatura: com o anterior estatuto, nas zonas de trabalho infantil, os alunos podiam faltar um ano inteiro e tudo era justificado pelos pais e a escola não tinha nenhuma maneira de intervir.

Só este parágrafo é um formigueiro de erros de facto, meias verdades e insinuações pouco transparentes.

Vejamos:

* O anterior estatuto do aluno, de 2002, da autoria de David Justino aligeirava bastante o procedimento burocrático imposto na anterior passagem do PS pelo Governo e pela Educação. Tinham sido Marçal Grilo e Ana Benavente a criar um procedimento verdadeiramente kafkiano para tratar das questões disciplinares. Não percebo se MLR desconhece mesmo isto, se apenas decidiu enveredar pela meia-verdade nas suas declarações.
* Se o CDS estava ou não no Governo é irrelevante para o valor de uma lei. No caso até era o PSD que estava no ME. Nessa altura, quem não sei se ainda estava no CDS era o actual secretário de Estado Valter Lemos. De qualquer modo, esse não é argumento que valha na defesa do actual Estatuto.
* «O acto pedagógico é um acto de autoridade de um professor sobre adolescentes ou crianças. O que fizemos foi tornar o acto pedagógico um acto de autoridade natural». Sinceramente tento perceber a substância destas frases e relacioná-la com o contexto disciplinar, mas não consigo. Alguém que me ajude.
* MLR afirma que no regime anterior, em algumas zonas, os alunos podiam faltar o ano todo e os pais justificavam as faltas e tudo ficava bem. Que agora é que, eliminando as faltas injustificadas é que o controle vai se r efectivo. Volto a não perceber isto. Para já, porque os DT’s, pelo menos os normais, não justificam faltas o ano inteiro com indícios de trabalho infantil. Em seguida, porque MLR parece desconhecer a legislação que ainda está em vigor e que não aceita justificações ad hoc. Depois porque isso implicaria que, afinal, o abandono escolar ainda seria maior do que o oficial. Por fim, que eliminando as faltas injustificadas não se resolve nada, apenas se institucionaliza a balda, assumindo como regra a pior das práticas. O resto são puras vacuidades.

E já agora, se o acto de reprender deve ser exercido sem colocar em causa os direitos dos alunos, porque enão fazer o mesmo em relação aos delinquentes? Mas, afina, que rigor é este, que exigência é esta? Estamos na quinta dimensão?

Mas fiquemos com a pérola seguinte, verdadeira peça de antologia para os anais do enterro da Educação a Portugal, pelo menos para quem leva isto a sério e não como um programa dos Malucos do Riso (sem desprimor para os autores do dito que, por comparação, eram bem mais sérios no que faziam):

Acabamos com o anterior conceito de falta justificada ou injustificadas. Há faltas. E a escola tem de ter a possibilidade de decidir se aceita a justificação. Este estatuto não fomenta as baldas, pelo contrário. As escola passam a poder interpelar os alunos e os seus pais e a intervir. Faltou? Fica a trabalhar na escola até mais tarde, para compensar. Não foi submetido à avaliação contínua? É submetido a avaliação extraordinária. A exigência é muito maior.

Sim o que acabaram de ler não foi inventado por nenhum humorista. Nem é uma peça voluntariamente de non-sense. São declarações de uma Ministra da Educação de um país da UE. É certo que é uma Ministra convidada por alguém que tem do trabalho escolar uma concepção muito sui generis, que aparentemente acredita que tudo se pode fazer não estando lá. Mas não voltemos a episódios tristes.

Pelo menos Maria do Carmo Seabra dava mesmo o ar de se estar nas nuvens e nas tintas para tudo isto. Como Benavente, atrás dela acabou por vir alguém que provou que, afinal, ainda não tínhamos batido no fundo em 2004.

O buraco pode ser sempre maior.

 
At 2 de novembro de 2007 às 16:32, Anonymous Anónimo said...

Não vi a entrevista que a ministra da Educação concedeu ontem à RTP, mas acredito no que dizem hoje os jornais. Assim, no contexto da discussão sobre o fim da reprovação ou da retenção dos alunos que ultrapassem o limite de faltas (injustificadas ou justificadas, agora tanto faz), devo atribuir­‑lhe esta frase: «A avaliação tem que incidir sobre o conhecimento: sabe, passa; não sabe, não passa». Registe­‑se, em primeiro lugar, que a avaliação parece ter deixado de ser sobre as famigeradas competências (na linguagem do «eduquês», como diria o Nuno Crato) e se virou agora para o conhecimento. Deixou de lado, porém, o sentido de responsabilidade, ao instituir a ideia de que a frequência é irrelevante, de que a avaliação contínua é para desprezar, porque basta um acompanhamento atento das matérias para se ir passando de ano, mesmo que o aluno só apareça de vez em quando, talvez até para se divertir às custas dos que insistem em não abandonar as aulas. Podem até faltar todos, e de nada interessa o trabalho dos professores, virado para a criação de um sentido de cumprimento do dever por parte dos seus alunos, visto que o único dever que a ministra agora quer implementar é o do conhecimento. Mas não poderiam as disciplinas, nesse caso, passar a ser leccionadas à distância, por teleconferência, quiçá para uma sala vazia, no caso de todos os alunos terem decidido ficar pelo café naquele dia?

 
At 2 de novembro de 2007 às 16:36, Anonymous Anónimo said...

A actual ministra da Educação, cujo currículo relevante passa pelo ISCTE, um curioso viveiro de governantes, deu ontem entrevista à RTP.
Naquela pose de altivez ministerial, coada pela linguagem sociologicamente encriptada, de matriz iscteriana, a ministra falou por duas ou três vezes, de desconexão. "Estar desconectada" ou "conectada", foram tempos verbais, passivos, usados em modo esquisito pela ministra, referindo-se a realidades que a mesma aparentemente domina, através de relatórios estatísticos.
Sobre o ensino, verdadeiro, real, e dos seus problemas concretos que se verificam ao longo dos anos, conta a estatística como método de análise sociológica. Por isso mesmo, passo à transcrição de um texto do blog do Jumento, onde desta vez se aprende o que já alguns sabem:

O actual modelo de acesso às universidades favorece os que beneficiam de melhor qualidade de ensino e de acesso a informação, ao contrário do que sucedia no passado quando ricos e pobres dispunham dos mesmos manuais e das mesmas escolas. Agora a qualidade do ensino a que um aluno acede e os recursos pedagógicos de que beneficiam depende da sua condição económica. Há escolas para todos, mas mais do que no passado há escolas para ricos e para pobres.
Para além de estarem em vantagem no plano social os mais ricos conseguem hoje uma vantagem adicional proporcionada por um sistema de ensino profundamente dualista, onde para uns se procura a excelência e para muitos outros apenas se ambiciona que concluam a escolaridade obrigatória. Os mais pobres andam em escolas onde o objectivo é não chumbar, os mais ricos andam em escolas onde o objectivo é obter melhores classificações. Os mais pobres, quando podem, pagam explicações para não chumbarem, os mais ricos pagam explicações para terem notas ainda mais altas.
O actual modelo de ensino público está a aprofundar as desigualdades, consolidando-as. Os resultados são evidentes, os licenciados em gestão nos cursos para pobres vão para balconistas da banca enquanto os licenciados nas universidades para riscos dão acesso aos MBA, ao doutoramento e a cargos de gestão. Na medicina esta divisão nem sequer existe, os mais pobres foram banidos das universidades.
Não basta assegurar a igualdade no acesso ao ensino importa também que esse ensino proporcione igualdade.

 

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