quarta-feira, 24 de outubro de 2007

VALE A PENA MANDAR OS FILHOS À ESCOLA


Ao longo dos séculos, a resposta a esta pergunta tem variado, mas uma coisa é certa: os pais só mandam os filhos à escola quando nisso vêem um benefício. Nos países protestantes, como a Suécia, os pais desejavam que os filhos soubessem ler, a fim de poderem meditar sobre os ensinamentos da Bíblia, e, nos países com uma forte mobilidade social, como os EUA, os pais ambicionavam que os filhos tivessem um diploma, por pensarem ser essa a via para subir na vida. Quanto à oferta escolar, as situações variaram: os países que procuraram modernizar-se rapidamente, como foi o caso do Japão durante o século XIX, criaram uma rede escolar alargada; os impérios a sério, como a Inglaterra, aumentaram o número de escolas, como forma de subjugar, através da cultura, os nativos.

Pela negativa - e duplamente - Portugal é um caso paradigmático. Aqui, tudo jogou contra a escolarização. Nem os camponeses queriam enviar os filhos à escola, nem, se exceptuarmos uns hiatos temporais, estiveram os governos empenhados em ensinar o povo a ler. Em meados do século XX, o país ainda era uma sociedade rural, onde não só a educação estagnara, como as aspirações populares eram reduzidas. O Estado Novo não estava interessado em industrializar o país, muito menos em formar cidadãos esclarecidos. Foi por isso que chegámos a 1974 com mais de metade da população analfabeta.

A revolução contribuiu para que muitos acreditassem ser a educação o caminho para uma vida melhor. Ao longo das últimas três décadas, os pais fizeram enormes sacrifícios para levar os filhos até à universidade. Não é raro encontrarmos empregadas de limpeza ou taxistas - os indivíduos das chamadas classes baixas com quem os intelectuais têm contacto - que alimentaram sonhos quanto à mobilidade social dos descendentes. Vendo-os desempregados, sentem-se, como é óbvio, ludibriados. É no contexto da estagnação da economia nacional que devemos abordar a questão do abandono escolar. A publicação das recentes estatísticas do Eurostat que revelam que, entre os 18 e os 24 anos, 40 por cento dos alunos - mais do dobro da média europeia - abandonaram a escola levou os responsáveis a prometer o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos. Mas as leis pouca influência terão sobre o que se vai passar. Perante a questão de ter de decidir se devem manter os filhos na escola, os pais interrogar-se-ão sobre duas coisas: em primeiro lugar, se se podem dar ao luxo de passar sem o contributo do seu trabalho (em termos sociológicos, o chamado custo da oportunidade da educação); em segundo, se aquilo que os filhos irão aprender na escola tem alguma utilidade.

Abordei este tema, no que diz respeito ao ensino primário, na minha tese de doutoramento. Entre outras coisas, pretendia averiguar se, durante os primórdios do Estado Novo, a escolaridade era bem vista pela população. Para meu desgosto, a conclusão foi a de que, para a imensa maioria, a resposta era negativa. Era-o nas regiões de propriedade minifundiária, onde uma criança de sete anos já podia tomar conta dos animais, apanhar lenha e ajudar nas actividades domésticas. Prescindir dela, enviando-a à escola, equivalia a uma descida do nível de vida da família. Um jornal de Viana de Castelo descrevia o modo como um camponês encarava a instrução primária em geral e a alfabetização das mulheres em particular. Interrogado sobre se tencionava mandar as filhas à escola, respondeu: "Nada, nada. Elas estão aqui mas é para trabalhar. Qual escola? Se lá fossem, mais tarde não lhes chegava tempo para se escreverem com os namoros". Saber escrever era um luxo destinado aos privilegiados.

Se tivermos em conta que a estrutura social dessa época não deixava antever qualquer mobilidade social, o comportamento deste camponês era racional. Numa sociedade em que as posições hierárquicas dependiam do nascimento, a instrução não proporcionava benefícios. Além de que, numa sociedade analfabeta, não saber ler estava longe de constituir um estigma. Manhoso, Salazar limitou-se a reforçar os traços retrógrados da sociedade que governou. Os resultados estão à vista: os 10 por cento de alunos de sete anos que reprovam na primeira classe são herdeiros de gerações de analfabetos.

Um momento houve, em 1974, em que tudo pareceu possível. Mas a esperança de que Portugal se pudesse tornar numa sociedade meritocrática está em vias de desaparecer. A maioria dos pais considera, mais uma vez, que não é através da escola que se sobe na vida, mas através de "cunhas". Por outro lado, olha o espectáculo dos licenciados no desemprego com espanto. Muitos, pais e filhos, pensarão duas vezes antes de continuar na escola. O problema do abandono precoce excede em muito o âmbito do Ministério da Educação: é bom que se perceba isto.

É verdade que o objectivo dos nove anos de escolaridade está praticamente cumprido. A isso ajudou, em grande medida, a evolução da sociedade portuguesa, com destaque para o facto de, na economia, o sector primário ter diminuído de forma drástica. Mais do que um bem de produção, os filhos passaram a ser um encargo. Já não há cabras para guardar, nem couves para plantar; vive-se nas cidades, onde as oportunidades para o emprego infantil escasseiam; ser-se analfabeto tornou-se uma vergonha. Em vez de vadiarem pelas ruas, mais vale, pensam os pais, que as crianças fiquem na escola, onde, mesmo que pouco aprendam, estão afastadas do perigo dos gangs. A escola passou a ser considerada um depósito, o que, na medida em que pouco dela é exigido, não é uma vantagem.

Quanto ao prolongamento da escolaridade, em nada contribuirá para diminuir a desigualdade social. A massificação do ensino encarregar-se-á de fazer diminuir o valor desse diploma. Do ponto de vista da mobilidade, o 12.º ano valerá menos do que a antiga 4.ª classe: não porque os alunos saibam menos, mas porque, ao distribuir um bem a todos, fica ipso facto desvalorizado. Os factos mais importantes são a evolução do mercado de trabalho e a melhoria dos curricula. Sem isto, o prolongamento da escolaridade apenas serve para esconder o desemprego juvenil.

Vem isto a propósito de uma reportagem, transmitida no Perdidos e Achados da SIC no último dia 13, sobre o que, passados nove anos, acontecera a um grupo de alunos da Escola Básica 2,3 da Trafaria. O que impressiona não é tanto a indisciplina pretérita, mas o facto de os rapazes estarem hoje a exercer, como se a escola nada lhes tivesse dado, a profissão dos pais (a apanha da amêijoa). No dia seguinte, Nuno Crato comentou o programa, salientando justamente a falta de ambição. O que se esqueceu ou não teve tempo de esclarecer foi que, para se desenvolver, aquela carece de um solo apropriado. Ora, no contexto em que foram educados, surpreender-me-ia que estas crianças ostentassem o achievement syndrome presente em países como os EUA. A existência de expectativas profissionais quanto ao futuro só nasce em sociedades dinâmicas. Infelizmente, não é isso que acontece em Portugal.


Maria Filomena Mónica

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8 Comments:

At 24 de outubro de 2007 às 13:49, Anonymous Anónimo said...

Concordo em absoluto com Maria Filomena Mónica. É crucial pensar para que serve a escola hoje em dia. Voltarei a este tema; agora fico-me por tópicos:

* Ser-se eternamente estudante, fazendo o básico, depois o secundário, depois a universidade, depois o mestrado, depois o doutoramento e finalmente descobrir que a elevada especialização que se ganhou não tem a correspondente procura no mercado?

* Temos ensino técnico? Quando coloca o seu carro a reparar, onde foi formado o seu mecânico? E o seu cabeleiro, aprendeu a profissão na escola ou a cortar mal o cabelo até aprender em algum salão? E o seu electricista, o pintor, o pedreiro, .... Numa pesquisa no Google encontrei algumas destas profissões (link). Ainda não percebi se isto corresponde de facto a uma forma de entrar, com qualificações, no mercado de trabalho (feedback, please!!!).

* A nossa escola é de facto exigente com os alunos ou não passa esta dum ATL com 12 anos de duração?

* Escola depósito vs escola onde se ganham competências para a vida.

* Investimento na educação vs. investimento nas obras públicas.

* Têm os miúdos carga horária excessiva ou não? Sobra-lhes tempo para brincar?

Convido o leitor a dizer de sua justiça.

 
At 24 de outubro de 2007 às 16:23, Anonymous Anónimo said...

Um estudo recente do IEFP sobre a evolução do mercado de trabalho em Portugal no período 2004-2006, está a ser mantido no segredo dos deuses, não sendo sequer do conhecimento dos delegados regionais. Algumas páginas saíram para o exterior e contêm conclusões extraordinárias, se bem que não surpreendentes:

* Globalmente, o número de postos de trabalho criados no nosso país é inferior em 7,8% aos empregos suprimidos;
* Para além da incidência do desemprego nos públicos habituais (mulheres e jovens pouco ou nada qualificados), começa a haver um crescimento preocupante em públicos que normalmente estavam a coberto desse risco (activos qualificados e licenciados de ambos os sexos), crescimento da ordem dos 27,8% com tendência para aumentar;
* Entre os desempregados de longa duração (mais de 1 ano) com idade superior a 50 anos, verifica-se que o tempo médio até à obtenção de novo emprego é inferior em 49,7% entre os não-qualificados relativamente aos qualificados e licenciados;
* Nos critérios de selecção de pessoal predominantes tanto no sector público como no sector privado, o peso de ponderação das variáveis "habilitações académicas" e "experiência profissional" é inferior ao das variáveis "remuneração pretendida" e "disposição para a mobilidade";
* O perfil profissional generalista mais procurado, é o seguinte: indivíduo de ambos os sexos, com idade entre os 25 e os 35 anos e com o 12º ano;
- Quando se trata de pessoal qualificado: recém-licenciado até 25 anos, de ambos os sexos...;
* 84,5% dos empregadores inquiridos admitem que em termos de contratação, tendo que optar entre um trabalhador não- qualificado ou um qualificado e entre um recém-licenciado ou um licenciado experiente, geralmente optariam pelo não-qualificado e pelo recém-licenciado porque podem "ser mais facilmente moldados ao jeito da empresa", "têm menos expectativas em termos de segurança no emprego e desenvolvimento da carreira", "aceitam remunerações inferiores" e estão "mais disponíveis para a mobilidade".

Chega.
Num país com baixos indicadores de desenvolvimento, com graves fragilidades económicas, com reduzida competitividade das empresas, em que se gastam milhões e milhões em "formação profissional" e em que a falta de qualificação dos trabalhadores é considerado um problema candente, constata-se que ser qualificado e ter experiência profissional na realidade é contraproducente no mercado de trabalho português...
Isto faz algum sentido?
Com este tipo de mentalidade poderemos chegar a algum lado?
Que avaliação é que o governo fará desta situação? Como pode o país menosprezar quadros qualificados e experientes?

 
At 25 de outubro de 2007 às 14:43, Anonymous Anónimo said...

Os rankings das escolas secundárias que vão sendo divulgados todos os anos mostram que a massificação do ensino não resultou em maior igualdade social, antes pelo contrário, o sucesso das escolas privadas evidenciam que o actual modelo de ensino gera desigualdades. Os mais pobres poderão ter agora mais oportunidades de aceder ao ensino, concluir a escolaridade obrigatória ou mesmo conseguir um curso universitário, mas isso não significa maior igualdade social.

Há sinais evidentes de que o ensino é gerador de desigualdades, são os mais pobres que procuram as universidades privadas, são os mais ricos que acedem a cursos como medicina ou os cursos mais procurados das universidades públicas. Há desigualdade no acesso aos cursos competitivos e ao nível da qualidade da formação adquirida.

Enquanto estudei vivi numa residência universitária onde muitos dos que lá residiam vieram a Lisboa pela primeira vez quando entraram na universidade, a maioria tinha dinheiro para comer porque beneficiavam de subsídios. Apesar disso metade dos que comigo partilhavam a Residência Universitária Ribeiro Santos eram estudantes de medicina no Santa Maria ou de direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Dez anos mais tarde nenhum estudante de medicina tinha pedido apoio nos serviços sociais universitários.

O actual modelo de acesso às universidades favorece os que beneficiam de melhor qualidade de ensino e de acesso a informação, ao contrário do que sucedia no passado quando ricos e pobres dispunham dos mesmos manuais e das mesmas escolas. Agora a qualidade do ensino a que um aluno acede e os recursos pedagógicos de que beneficiam depende da sua condição económica. Há escolas para todos, mas mais do que no passado há escolas para ricos e para pobres.

Para além de estarem em vantagem no plano social os mais ricos conseguem hoje uma vantagem adicional proporcionada por um sistema de ensino profundamente dualista, onde para uns se procura a excelência e para muitos outros apenas se ambiciona que concluam a escolaridade obrigatória. Os mais pobres andam em escolas onde o objectivo é não chumbar, os mais ricos andam em escolas onde o objectivo é obter melhores classificações. Os mais pobres, quando podem, pagam explicações para não chumbarem, os mais ricos pagam explicações para terem notas ainda mais altas.

O actual modelo de ensino público está a aprofundar as desigualdades, consolidando-as. Os resultados são evidentes, os licenciados em gestão nos cursos para pobres vão para balconistas da banca enquanto os licenciados nas universidades para riscos dão acesso aos MBA, ao doutoramento e a cargos de gestão. Na medicina esta divisão nem sequer existe, os mais pobres foram banidos das universidades.

Não basta assegurar a igualdade no acesso ao ensino importa também que esse ensino proporcione igualdade.

 
At 25 de outubro de 2007 às 14:46, Anonymous Anónimo said...

A hierarquização das escolas é um fenómeno cíclico, como o "El Niño": não se pode controlar e só se serve a si mesma.
O fenómeno é cíclico, e totalmente inócuo, tal como os divórcios do nojento Nicolau Breyner, ou os internamentos da Elsa Raposo: trata-se do "ranking" das escolas.
Vou ser brevíssimo: o actual Sistema de Ensino, cuja finalidade, é, para Bilderberg, baixar drasticamente o nível médio de educação das Sociedades Avançadas, tem como única finalidade reproduzir, em diferentes palcos, as virtudes, taras e vícios das sucessivas castas.
A ideia é velhíssima: já Bourdieu a disparou, só que tem agora o tamanho e a desvergonha com que tudo sucede no sem-tecto-entre-paredes, em que se transformou a Sociedade Contemporânea.
Para mim, criado entre milhares de livros, com cinemateca e meloteca e casa, era-me totalmente indiferente ter passados uns anitos a jogar ao jogo do Cola-Pila, no São João de Brito, ou na E+S de Fornos de Ranholas. Eu já vinha de uma certa casta cultural, e, talvez por isso, odiei a escola, qualquer escola, e andei em poucas.
Este tal "ranking", uma espécie de lista de perícias e pergaminhos nada diz sobre o que é o Ensino, em Portugal..., diz, aliás..., sim..., diz..., diz que ele é tão mau como tudo o resto, quando lhe dá para ser mau, e bom, como tudo o resto, quando lhe dá para ser bom.
E diz apenas esta verdade: as castas cada vez mais escolhem os seus palcos específicos para exporem os seus galões, ou internarem as suas incuráveis enfermidades. Na sua globalidade, o "ranking" nada diz sobre os professores, as diversidades pedagógicas, a grandeza dos esforços, o timbre específico dos alunos: antes nos comunica que a Casta Elevada, de ano para ano, mais diverge da crescente Casta dos Párias, ou seja, que estamos, ano atrás de ano, a reproduzir uma situação Pré-Iluminista, com fortíssimo pendor medieval, como estava previsto. Brevemente, teremos uma estreita bancada dos que detêm o Conhecimento e o Poder, e uma enorme serapilheira, exclusivamente destinada ao analfabetismo funcional, resumindo, numa só Palavra, já nem o Sonho de Cipião, nem o Sonho de Gerontius, mas, antes, o Sonho de Berardo, o "Comendador", em todo o seu esplendor.

 
At 26 de outubro de 2007 às 14:20, Anonymous Anónimo said...

Agora tentem com pobres

As cinco escolas privadas que alcançaram a média mais alta na primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário são todas católicas, três delas ligadas à Opus Dei. O colégio Mira Rio, em Lisboa, que este ano ocupa a primeira posição na lista de escolas com melhor média é frequentado apenas por raparigas, cada uma acompanhada individualmente por uma preceptora, sendo a disciplina de Religião e Moral obrigatória desde o pré-escolar até ao 12º ano. Em declarações à Lusa, Clara Ledo, directora do colégio, não tem dúvidas em afirmar que o programa de ensino e as actividades extracurriculares são tão importantes como "a formação espiritual e religiosa das alunas".

 
At 26 de outubro de 2007 às 14:27, Anonymous Anónimo said...

Formula de DEUS - Os ingredientes:

Tem a ver com o facto de procurarmos desenvolver uma educação integral em que são importantes não só o aspecto académico e humano mas uma atitude de serviço para com os outros, uma ideia de serviço da comunidade, a formação de pessoas honestas, honradas. Desta formação faz parte uma componente cristã que é ministrada por sacerdotes e outros membros da prelatura da Opus Dei, que todos os anos, no início do ano lectivo, são nomeados por pedido da cooperativa. A OD nomeia os capelães e os professores de Moral e Religião, que são cristãos correntes. Mas além destes sacerdotes que são nomeados para executarem uma pastoral junto dos alunos e das famílias, as pessoas dizem que os colégios são da OD por causa da perspectiva da santificação do trabalho.

Isto quanto aos princípios norteadores do projecto educativo. E agora quanto a política de admissões:

A admissão do aluno é precedida de uma entrevista com os pais, na qual explicamos qual o nosso projecto educativo. (…) Temos 25 alunos por ano por colégio. Como temos quatro colégios, recebemos 150/ano.

E quanto à separação entre os sexos, não apenas entre turmas mas entre os próprios colégios, será possível saber o porquê:

Não lhe chamo segregação. Este projecto adoptou desde o início a ideia de formação diferenciada, porque achamos que deve ser tratado de forma diferente aquilo que foi criado de forma diferente. Consideramos que homens e mulheres crescem e amadurecem a ritmos e velocidades diferentes e têm necessidades e sensibilidades e interesses diferentes.

Já agora, por quanto fica o pacote pedagógico-espiritual:

Como temos educação desde o pré-escolar (3 anos) até ao 12º ano, os valores variam, mas andam entre os 300 e os 450 euros/mês. Se quiserem alimentação ou transporte ou actividades extra-curriculares têm de pagar à parte.

São as palavras, também no suplemento de hoje do DN, um pouco acima das da ministra que temos, de Jorge Maciel, director da cooperativa Fomento que possui as três escolas que encimam o top elaborado por aquele jornal.

Pronto. Está explicada a fórmula do sucesso, com natural ajuda divina, o que é sempre um plus. Agora resta a todos os defensores da bondade do sistema privado, com base nos resultados dos rankings, confirmarem se é este o modelo que querem generalizado na escola pública. E já agora expliquem-me onde é que aqui encaixam as medidas do ME em matéria de disciplina e avaliação dos alunos.

Eu não sou poeta, nem fingidor, por isso acho que este tipo de ensino deve permanecer um elemento do conjunto e não a regra.

Confesso que sou laico e moderadamente republicano, mas nunca me senti propriamente socialista, muito menos nos dias que corem.

 
At 28 de outubro de 2007 às 15:17, Anonymous Anónimo said...

Foram divulgados os rankings das escolas relativos ao ano lectivo de 2006/2007. Permanecem os mesmos fenómenos de sempre. As escolas de topo do ranking são escolas privadas que conseguem sobreviver apesar de competirem com escolas públicas que não cobram propinas. As médias das notas que resultam da avaliação interna são superiores às médias obtidas em exame nacional. Esta discrepância é maior nas escolas com piores resultados nos exames nacionais, o que indica que os concursos de acesso ao ensino superior são viciados por escolas que inflacionam as notas internas. Os rankings continuam a indicar que as escolas do litoral têm melhores médias que as escolas do interior e que as escolas próximas de bairros ricos têm melhores médias que as escolas próximas de bairros pobres.

Estes resultados demonstram o fracasso de uma certa utopia de escola pública. Aquela utopia que nos diz que a escola pública acabará com as diferenças sociais e produzirá igualdade de resultados entre pessoas de meios sociais diferentes. São os próprios defensores dessa utopia que, perante os rankings, o reconhecem. Como os rankings mostram que as escolas mais bem classificadas são escolas privadas, os defensores da utopia da escola pública são forçados a alegar que os resultados das escolas privadas se devem à origem socioenonómica dos seus alunos. Dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico.

Os defensores da escola pública alegam ainda que as escolas privadas de topo têm melhores resultados porque seleccionam os seus alunos. Segundo eles, a escola pública é uma escola que não discrimina ninguém. Ora, este é mais um indicador de que o conceito de escola pública que defendem é utópico. A melhor escola para um dado aluno é aquela que tem, não apenas os melhores professores, os melhores métodos e as melhores instalações, mas também os melhores colegas. Nenhum pai quer que o filho tenha colegas que perturbam o ambiente escolar. As escolas melhores são aquelas que seleccionam os seus alunos. As escolas da utopia não podem fazer essa selecção e serão sempre medíocres. São os pais, os professores e o próprio Ministério da Educação os primeiros a recusar e a conspirar contra a utopia. Os pais mais bem informados tentam colocar os seus filhos nas escolas com o melhor ambiente socioeconómico. A formação de turmas de elite dentro das escolas públicas é uma prática comum. As políticas do Ministério da Educação levam os melhores professores para as escolas das zonas economicamente mais favorecidas. A utopia é irrealizável.

 
At 28 de outubro de 2007 às 15:17, Anonymous Anónimo said...

No exame do 9.º ano de 2006-2007 houve 72,8 por cento de negativas na disciplina de Matemática (37 por cento no ano passado) e 13,6 por cento de notas negativas na disciplina de Português (45,5 por cento no ano passado). Não é preciso ser bruxo para perceber que o maravilhoso progresso na proficiência em Português se deve a uma mudança dos critérios de classificação, que a Matemática, como é óbvio, não permite. Isto basta para provar que o ministério pensa principalmente na sua imagem estatística. Desde que os números pareçam "bons" ou, pelo menos, não assustem ninguém, o ministério está feliz. Mesmo quando das 20 escolas com melhores resultados só uma é pública e o fracasso do ensino do Estado se tornou mais do que evidente.

O "Estatuto do Aluno", aprovado anteontem, simboliza esta política de fraude e artifício. Em si próprio o "estatuto" não traz nada de novo. Na essência, volta à filosofia de Marçal Grilo (do governo Guterres), segundo a qual nenhum aluno, fizesse o que fizesse, devia sair ou ser forçado a sair de um "sistema" que, em princípio, era um substituto da família. Seguindo esta ideia insigne, o "estatuto" vem agora abolir o limite de faltas com ou sem justificação. Uma criança do básico ou do secundário pode, portanto, ignorar a escola sem qualquer espécie de consequências. Nem sequer perde o ano, porque o Estado substituiu todo o curso da aprendizagem "normal por "provas de recuperação", que pelo nome já indicam a sua natureza e o seu fim. E, se as "provas de recuperação" falharem, o Estado inventará com certeza outras para "recuperar" o irrecuperável.

O "estatuto" anula a autoridade e a responsabilidade da família e promove a indisciplina e a violência na escola. Pior ainda, proclama oficialmente que o ensino é inútil. De facto, se até o Parlamento protege quem falta, nada justifica perder tempo com aulas. Foi a isto que levou o "exemplo da Finlândia" e os computadores de Sócrates. Mas, como os números não descrevem a realidade, as taxas de insucesso e de abandono irão descer e a imagem estatística de Portugal irá melhorar. Maria de Lurdes Rodrigues criou uma fama de bom senso e coragem. Nunca acreditei muito nessa propaganda. Suspeitei sempre que ela não seria capaz de resistir à influência corruptora do ministério. Não resistiu.

 

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