quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A ESCADA DE JACOB

O ano que fecha portas foi muito mau. Graves economistas declaram a pés juntos que o próximo será pior. Os adventistas de Sócrates pregam que vivemos no melhor dos mundos. E a maioria de nós esforça-se por amarinhar pela escada de Jacob, na melancólica fé de que chegará lá acima - local incerto e abstracto. O varar do tempo amarrota toda a gente; mas há gente muito mais amarrotada do que outra. E o pior é a alma que se dissolve, a esperança agredida, o sonho desfeito. A televisão formou a ideia de que tudo o que é importante é imediato. Num roldão, deixámos de nos reconhecer e, numa bizarra mistura de serenidade e de impaciência, aceitamos as imposições de uma casta difícil de definir - a não ser por uma notória mediocridade.

O triste povo, de rosto taciturno e alma acabrunhada, designado por Unamuno, desfez a fatalidade predominante, quando se insurgiu contra o opressor. Veio para a rua e ergueu 1383, 1640, 1820, 1910, 1974. O festim durou pouco. A liberdade não tem consequências simples. Exige respostas práticas e decisões amplas. E assistiu-se à desintegração da coesão social, em nome de uma Europa, cujos propagandistas proclamavam o contrário. Um pouco por todo o lado, a democracia é seriamente abalada. Em Portugal, já apenas se manifestam resquícios dela. O que se sobreleva são o medo, a precariedade no trabalho, o desemprego, e a imposição de que o nexo entre o social e o político pertence a dois blocos de interesses: ao PS e ao PSD. Desvalorizada a ideia de bem comum, exacerbou-se os interesses particulares e inculcou-se sorrateiramente o pensamento de que nada há a fazer. Claro que há! Mostra-me o teu talento; não me mostres o cartão do partido, disse Brecht, a um actor que lhe apareceu no Berliner Ensemble, resguardado com o facto de ser militante comunista. E correu com o apadrinhado. A lição não perdura. Estabelecida a vocação da cunha partidária, o instinto de independência moral provoca indiferença e, até, hostilidade. A inteligência, o mérito, a integridade e a habilitação são castigados como delitos. O que se observa, nos tristes casos da BCP e da Caixa Geral de Depósitos, com a disputa da pertença circunscrita aos assim chamados partidos de poder, reflecte o mais atroz impudor. As exclusões permitem-nos concluir que o PS e o PSD perderam o respeito pelos portugueses e a dimensão colectiva que se lhes exige. Aliás, o projecto inscrito na exigência de um mínimo de cinco mil militantes por partido e a revelação dos seus nomes é desprezível, por equivaler a uma estratégia de poder absoluto do centrão. É preciso conciliar os vínculos morais com os traços distintivos das nossas indignações.


B.B.

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10 Comments:

At 26 de dezembro de 2007 às 19:52, Anonymous Anónimo said...

«A prenda de Natal que os membros do Governo decidiram dar este ano ao primeiro-ministro foi um cheque-viagem no valor de quatro mil euros, apurou o Correio da Manhã.»
No:Correio da Manhã

Ora aí aqui está uma boa ideia, ainda que se possa considerar que os ministros são um pouco forretas o que nos leva a pensar que o dinamizador da ideia foi o Teixeira dos Santos.

Faça-se uma subscrição pública para mandar Sócrates de férias até ao fim da legislatura.

 
At 26 de dezembro de 2007 às 20:09, Anonymous Anónimo said...

O maior escândalo do regime em Portugal, a corja dos socialistas no assalto ao BCP, com a conivência do Victor Constâncio, director do Banco Portugal, o mais bem pago, governador mundial de um banco.
Esta corja socialista leva o nosso Portugal ao fundo do mar.
Pobre Pátria a Nossa Entregue a Filhos da Puta tão Grandes como os Socialistas chefiados pelo falso eng. José Sócrates.

 
At 26 de dezembro de 2007 às 20:11, Anonymous Anónimo said...

Sem margem para equívocos os acontecimentos recentes no BCP representam a mais descarada intromissão do Estado na economia (privada) desde o PREC, em 1975. Nem mais, nem menos. Em bom português os accionistas do BCP estão pura e simplesmente a ser coagidos a aceitar um take over de uma certa clique (republicana e socialista) sob ameaça de verem os seus activos irem pelo cano abaixo. A prova ? Bom, em que recanto da galáxia é que já se viu o presidente, no pleno exercício dessas funções, de uma empresa, accionista de outra, (a CGD, accionista do BCP) fazer-se ao piso para subir a Presidente dessa ? Jamais, excepto num caso - quando convém ao accionista da primeira (o Estado/PS). Depois, bem depois, ou melhor antes há as performances oportunas de Victor Constâncio, e do Banco de Portugal, que só agora, e logo agora, viram motivo para sussurro, mais as pantominas de Joe Berardo, devidamente amplificadas pelo PGR, angélico e inocente (que vê motivos para inquérito nas 'performances' de Berardo, mas não vê nada de anormal em tudo o resto...) . Deixem a bruma passar, o BCP ter uma nova administração e vão ver que tudo, se vai esfumar. É essa premissa. Eles que cheguem lá, que ainda antes dos lugares estarem quentes todos os mal entendidos se dissolverão. Business as usual. Mal no filme, além do governo, que não hesitou em 'mover' as únicas peças (o duo dinâmico Vara/Santos Ferreira (e a ordem não é arbitrária...)) que inequivocamente mostram à exaustão a sua estratégia, Cavaco que se deixou envolver no lamaçal, Menezes ao reduzir tudo a uma questão de mercearia/deve e haver, entre o Bloco Central e a (auto)proclamada sociedade civil, a provar, mais uma vez, que com privatizações ou sem elas, não passa de um apêndice, que vive, pura e simplesmente, da caridade, e na órbita, deste. Só há uma coisa que ainda não é de todo óbvia - o papel do BES nisto tudo. Os Espíritos não dormem e sempre foram bons nas contas e no resto. Vamos pois ver se no sapatinho, nos próximos meses, não vem afinal o retalhar do BCP... Bem vistas as coisas, sempre foi um corpo estranho...

 
At 26 de dezembro de 2007 às 21:33, Anonymous Anónimo said...

Eu não sei se Armando Vara é "incontornável" na Administração do BCP, como hoje é propagado pelos media. Ignoro igualmente as suas aptidões para a gestão bancária, mas não descarto a hipótese de as possuir. Sei que, com o seu "camarada-inimigo" Fernando Gomes, forma o dueto de gestores mais diabolizado deste país, dir-se-ia que os únicos incompetentes a destoarem numa imensidão de luminárias, capazes de levantarem o mais histérico coro de indignações de cada vez que mudam de cadeira.

Independentemente disto, o que mais dói no "folhetim BCP" é a extrema debilidade do capitalismo português, a incapacidade de, por si só, gerar alternativas para retirar da lama uma Instituição de referência sem se refugiar na asa protectora e interesseira do Estado, perante a qual, directamente ou por interposta supervisão que só mostra diligência perante o escândalo público, vergam todos a cerviz, atentos, venerandos e obrigados.

Tudo isto é triste, muito triste, indiciador da sociedade civil que (não) temos.

 
At 26 de dezembro de 2007 às 21:35, Anonymous Anónimo said...

Armando Vara é um dos homens do momento. Uma vocação perdida para a filosofia (que deixou de cursar a meio) evoluiu para a mais alta gestão bancária e financeira. Sem MBA's, nem graus académicos de economia ou de gestão reconhecidos na área (ou fora dela), consegue, desde 2005, um invejável curriculum vitae na banca: depois do (inesperado) lugar de adminsitrador da Caixa Geral de Depósitos, vai desempenhar funções análogas no Millennium BCP.


Ou seja, Vara conseguiu passar, assim, pela administração dos dois maiores grupos bancários nacionais, um público (o Banco anacronicamente do Estado) e outro aparentemente privado (aparentemente, porque a preocupação e a intervenção de algumas figuras de proa do Estado, relativamente a este grupo, talvez seja, de facto, um pouco excessiva ).

Pelo meio, na qualidade de representante dos interesses do Estado, via Caixa, na PT, lá inviabilizou a "desblindagem" dos estatutos e a projectada OPA da Sonae, sobre este gigante português da telecomunicações... Tudo isto em pouco mais de dois anos.

Poucos (ou nenhuns) banqueiros há, entre nós, que tenham conseguido atingir um curriculum e uma experiência deste nível. O próximo passo?... Bem, o próximo passo de Vara, mantendo, assim e naturalmente, esta evolução, só poderá ser um: Presidente do Banco de Portugal

 
At 27 de dezembro de 2007 às 21:59, Anonymous Anónimo said...

O estado a que chegou a governação socialista mostra e demonstra de novo, como as maiorias políticas acabam por corromper por completo o espírito da democracia. Se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.

O que estamos a assistir em matéria de dança de cadeiras entre a CGD, o BCP e o governo não pode deixar de nos aparvalhar. Pior é difícil de imaginar, mas vai ficar pior, descansem.

Sócrates está naquela curva do mandato em que vale a pena valer tudo. Ou agora ou nunca.
O que fizer agora ainda não será lembrado nas próximas eleições e portanto: o fartar vilanagem tem de ser já. O povinho tem memória curta. O povinho não tem mesmo memória.
Um político que prometeu e não cumpriu em áreas tão sérias como os impostos e o emprego, um político que não tomou uma única medida que tenha beneficiado quem quer que seja, a não ser os interesses do grande capital ( pareço o PCP mas é a verdade), um governo que aniquilou a classe média, tirou regalias sociais, que destruiu o pouco que havia do estado social, ainda aparece nas sondagens com um excelente resultado.
Os portugueses perderam a noção de tudo. Satisfazem-se com um pérfido poder de compra, a possibilidade de uns endividamentos, umas larachas de TV e férias pagas a prestações.
Perdemos a qualidade e pior: perdemos uma cultura responsável de vida e de cidadania.

Com um primeiro-ministro licenciado pela sorrelfa, a mediocridade instalou-se na sociedade portuguesa e alastrou a todas as áreas da sociedade. No Estado e nas empresas. Nas escolas e nas famílias. Até os padres mudaram. Tornaram-se modernos, light, e esqueceram o latim.
É uma análise catastrofista e amarga mas convenhamos que é difícil não se ser amargo num país que demora 15 anos a construir um túnel inútil no Terreiro do Paço, que fez estádios de futebol e fecha hospitais, que tem o pior ensino da Europa, embora o mais caro, que tem uma saúde cara, estúpida, incompetente, digna de um país do terceiro Mundo... Temos uma justiça anacrónica que não permite o crescimento económico e que deixa injustiçados muitos... Estes últimos anos, depois do Guterrismo, ficamos com todos os índices estatísticos contra nós, a não ser o da mortalidade infantil, o único item onde crescemos e melhorámos. E sabem porquê ? porque foi sempre o mesmo grupo a tratar do assunto e os políticos esqueceram-se de ali fazer mexidas.

Se Pinho for para a CGD já nem vai poder haver adjectivos. Mas esta maioria absoluta que os portuguesinhos elegeram está um brinco. Não parece haver grandes contestações: vamos pagar mais impostos, aceitamos pacificamente a nova lei sobre o tabaco, aceitamos tudo. Sócrates é um sortudo

 
At 27 de dezembro de 2007 às 22:00, Anonymous Anónimo said...

Armando Vara é uma grande figura da democracia portuguesa.
Foi ele que inventou as matrículas com letra K quando foi secretário de estado, foi ele que inventou a tolerância zero nalgumas estradas assassinas em que o Estado não investiu um chavo, foi ele que esteve envolvido na célebre Fundação para a Prevenção e Segurança e foi ele que Jorge Sampaio obrigou demitir através de um ultimatum a António Guterres, por causa das broncas com a célebre fundação.
O homem fez de morto político e acabou por entrar para a administração da Caixa onde antes, muito antes, tinha sido um modesto, mas já ambicioso, empregado de balcão.

Vara é unha com carne com Sócrates e tem um percurso político e académico que parece clonado do primeiro ministro. Ambos têm uma formação académica de alto gabarito, licenciados na Universidade Independente. E se Sócrates teve o brio de ver a sua licenciatura passada a um domingo, Armando Vara teve a sua licenciatura passada três dias antes de entrar como administrador da Caixa Geral de Depósitos.

Agora está de volta ao sucesso. E aí está outra vez o transmontano a subir a corda a pulso socialista. Como tem saber e talento para tanta subida não se sabe, mas que Vara salta bem na dita que ninguém duvide.

Vejam este extracto de uma notícia do Público, ainda deste ano:

Ex-professor de Sócrates envolvido no projecto
Morais, GEPI e construtora da Covilhã fizeram moradia de Armando Vara
20.04.2007 - 09h03 José António Cerejo, PÚBLICO
Armando Vara, quando era secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna, recorreu ao director-geral do GEPI (Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações do MAI) e a engenheiros que dele dependiam para projectar a moradia que construiu perto de Montemor-o--Novo.

Para fazer as obras serviu-se de uma empresa e de um grupo ao qual o GEPI adjudicava muitos dos seus concursos públicos.

Com 3500 contos (17.500 euros) o actual administrador da Caixa Geral de Depósitos e licenciado pela Universidade Independente tornou-se dono, em 1998, de 13.700 m2 situados junto a Fazendas de Cortiços, a três quilómetros de Montemor-o-Novo. Em Março de 1999 requereu à câmara o licenciamento da ampliação e alteração da velha casa ali existente.

Tratava-se de fazer uma casa nova, com 335 m2, a partir de uma quase ruína de 171 m2. O alvará foi emitido em 2000 e a moradia, que nunca teve grande uso e se encontra praticamente abandonada, ficou pronta meses depois. Já em 2005, Vara celebrou um contrato para a vender a um particular por 240 mil euros, mas o negócio acabou por não se concretizar.

Onde a história perde a banalidade é quando se vê quem projectou e construiu a moradia. O projecto de arquitectura tem o nome de Ana Morais. Os projectos de estabilidade e das redes de esgotos e águas foram subscritos por Rui Brás. Já as instalações eléctricas são da responsabilidade de João Morais. O alvará da empresa que fez a casa diz que a mesma dá pelo nome de Constrope.

A arquitecta Ana Morais era à época casada com António José Morais, o então director do GEPI, que fora assessor de Armando Vara entre Novembro de 1995 e Março de 1996. Nessa altura, recorde-se, foi nomeado director do GEPI por Armando Vara - cargo em que se manteve até Junho de 2002 - e era professor de quatro das cinco disciplinas que deram a José Sócrates o título de licenciado em Engenharia pela UnI.

O Bcp continua no bom caminho como se pode ver

 
At 28 de dezembro de 2007 às 19:46, Anonymous Anónimo said...

«Quando o governo é de uma cor política a presidência da CGD ou o governador do Banco de Portugal não pertencem, ou em determinadas situações os dois, não pertencem ao partido do governo», salientou Rui Gomes da Silva. O dirigente social-democrata responde desta forma à acusação de que Luís Filipe Menezes tenta «meter cunhas» para a escolha de um social-democrata para a CGD, feita esta quinta-feira pelo ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira

Ouvi que estreava hoje o filme “Call Girl” de António-Pedro Vasconcelos. Lembrei-me logo que já tinha visto, há pouco tempo, aparecer por aí uma Call Girl de Gaia, ar de valentona e disposta a tudo para atingir os objectivos. Esta, mostrava ter todos os defeitos da politica, um vale tudo e muitos vícios privados sem grandes publicas virtudes. O PSD saiu de um problema pequeno, chamado Marques Mendes para se meter num bem maior chamado Luís Filipe Menezes. A Gaiata, como carinhosamente gosto de lhe chamar, bem paga para lhe fazerem o visual e a imagem. (30 mil euros por mês) mais algum tempo de antena nas notícias. O que a empresa de imagem não consegue fazer é controlar aquilo que ele depois diz, e aí têm sido só disparates. Em linguagem figurada, uma autentica loira (que me desculpem as loiras que lerem isto, mas não resisti). Quer mandar em tudo, quer poder, e quando fala não o consegue esconder essa obsessão. Mudar de opinião é coisa normal, defender agora aquilo que criticava antes não preocupa. Consegue dizer as maiores parvoíces da maneira mais descabida como se fosse tudo normal. Pobre partido que tem tal líder e depois ainda se dá ao desplante de vir confirmar a existência de negócios de conveniência com o PS, mostrando que interessam mais os lugares que as ideias.
Se esta Gaiata é a alternativa que há para a Sócretina, estamos bem tramados.

 
At 28 de dezembro de 2007 às 19:52, Anonymous Anónimo said...

No seu esforço para simplificar a burocracia o ministro das Finanças acabou de adoptar a "demissão no dia", o gestor é presidente da administração do maior banco público e no dia seguinte é candidato à presidência da administração do principal concorrente privado. Parta tal bastou uma visita de cortesia a Teixeira dos Santos.

Isto é algo que só sucede no mundo do futebol onde o treinador de uma equipa pode ser treinador e ir disputar o campeonato num clube rival. Bem isto só é possível em campeonatos com poucas regras como é o campeonato português onde vale tudo, se fosse noutro campeonato o Teixeira dos Santos certificar-se-ia de que o treinador não estaria a dar o golpe do baú.

Aliás, nem mesmo no futebol nacional isto sucederia, recordo-me que quando se colocou a hipótese de Mourinho ir para o Sporting foram muitos os sócios do Sporting que se opuseram. Mas aposto que alguns dos sócios que se opuseram a Mourinho e que são sócios do BCP não ter agora a mesma posição.

 
At 28 de dezembro de 2007 às 19:55, Anonymous Anónimo said...

MILLENNIUM LANÇOU OPA SOBRE OS SEGREDOS DA CGD

«São três os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) que vão integrar a lista para o conselho de administração do Banco Comercial Português (BCP). Carlos Santos Ferreira, que ontem apresentou ao ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a sua renúncia ao cargo de presidente da CGD, vai incluir na sua equipa, além de Armando Vara, o nome de Vítor Fernandes, administrador da Caixa responsável pela área seguradora.»
No:Diário de Notícias

Isto é o capitalismo português no seu melhor, o maior banco privado compra os segredos do maior banco público a preço zero.

Manifeste-se a indignação ao ministro das Finanças e pergunte-se a Constâncio se considera esta manobra eticamente aceitável.»

 

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