quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A EUROPA DOS CIDADÃOS TEM MEDO DOS CIDADÃOS DA EUROPA

A história é fácil de resumir, não tanto de explicar: os dirigentes europeus entenderam necessário dotar a União Europeia (EU) de uma Constituição, semelhante na forma àquelas que regem a generalidade dos seus Estados-membros, a pretexto de que as suas regras de funcionamento, adoptadas ainda antes do alargamento a Leste, não lhe permitiriam funcionar, com um mínimo de eficácia, com 25, 27 ou mais países, mas sobretudo para assinalar a sua vocação de união política pan-europeia, legitimada pelos seus cidadãos. Estes, porém, recusaram uma tal legitimação, pois, como é sabido, franceses e holandeses chumbaram em referendo a ratificação do texto constitucional (como outros teriam provavelmente chumbado, se tivesse chegado a sua vez).



Foi então decretado um período de reflexão – que faremos nós com esta Constituição? – que chegou agora ao fim e cujo resultado é em boa medida o inverso do pretendido com o processo constitucional: para resolver os problemas de funcionamento institucional da União (que, afinal, não exigiam uma Constituição…), o essencial da parte operativa da antiga
Constituição será vertido num projecto de tratado dito abreviado, que não invoca a qualidade de Constituição, que não contém a simbologia e a terminologia de tipo federal que aquela continha (declaração expressa do primado do direito europeu e referências ao hino e à bandeira, assim como a um Ministro dos Negócios Estrangeiros da UE) e que, sobretudo, a pretexto dessa transformação formal, se furtará, em muitos Estados-membros (incluindo provavelmente Portugal) ao voto do eleitorado. E tal será o triste fim do projecto de Constituição europeia: disfarçado de minitratado, por temor ao voto dos europeus!

Como foi possível chegar até aqui, e como explicar agora este indisfarçável fracasso?
O mais simples será invocar o erro de cálculo: a União, como a Comunidade que a precedeu, cresceu sempre segundo uma estratégia gradualista e de pequenos passos, na lógica da qual uma aceleração indevida implicava o risco de desequilíbrio e queda.
A Constituição terá assim surgido antes de tempo e sem a devida preparação: a tese é simples mas também simplista; primeiro, porque a dimensão, importância e complexidade da União hoje justificam bem a existência de uma lei fundamental que estruture a sua ordem jurídica e, segundo, porque do ponto de vista substancial a abortada Constituição se aproximava muito do tratado que irá substitui-la – e (quase) ninguém sustenta que este irá constituir um imprudente salto no escuro.

A diferença, portanto, mais do que no conteúdo, está na forma, e é esta, por uma vez, que explica o impasse do projecto político europeu.

A forma Constituição, por oposição à forma tratado, foi pretendida para radicar a construção europeia nessa entidade de contornos difusos que é o demos europeu, de cujo poder constituinte a UE seria a emanação.
We, the peoples: a União deixaria assim de pertencer antes de mais aos seus Estados-membros, de estar sujeita à lógica de hard power a que obedecem as suas relações de poder e de beneficiar apenas de uma legitimidade política indirecta, por ser mediatizada na sua relação com os eleitorados europeus pelas instâncias nacionais.
Em vez disso, seria numa legitimidade supranacional que ela se fundaria, e numa relação directa com os diversos eleitorados nacionais, funcionando para o efeito como um único eleitorado europeu.
Mesmo que a Constituição europeia fosse, nas insensíveis categorias do direito internacional público, um tratado como os demais a que foi simplesmente atribuída a designação de constitucional, a sua entrada em vigor assinalaria simbolicamente uma mudança de género da UE, que deixaria de ser uma organização internacional para se aproximar decisivamente da categoria de federação supranacional.

A diferença está na forma

A questão é que este suposto exercício do poder constituinte foi na realidade encenado pelas instâncias intergovernamentais vigentes e esteve longe de constituir a afirmação genuína de uma identidade democrática nascente: não foi o demos europeu que impôs a sua Constituição, foi o Conselho Europeu quem lha concedeu, a benefício da sua própria legitimidade.
Ficaram mais uma vez à vista as limitações do voluntarismo político e da engenharia institucional quando ensaiadas no caso europeu: tal como a eleição directa do Parlamento Europeu, a partir dos anos 70, não criou ipso facto uma vida partidária europeia e um debate político europeu, conforme prova a persistente taxa de abstenção que se verifica nas eleições europeias, também não seria a outorga pelas instituições europeias de uma Constituição que faria nascer, como que mecanicamente, um espaço público europeu e uma identidade política europeia, em que os cidadãos dos 27 Estados-membros passariam na sua maioria a rever-se.



Quererá isto dizer que a União Europeia não poderá atingir nunca uma fase constitucional, que será impossível a sua transformação de organização internacional em federação supranacional e que os fiéis depositários da lealdade política dos europeus serão para sempre, e em vez dela, os seus Estados-membros?

Na verdade, o que quer que cada um pense dos méritos e deméritos do Estado-nação e da sua adequação aos tempos que correm, parece por demais evidente que, ao menos na Europa, as velhas nações levam sobre uma jovem construção política como a criada por Jean Monnet uma enorme vantagem, porque souberam produzir ao longo dos séculos mitos e símbolos capazes de gerar afectos e lealdades como a UE não conseguirá tão cedo (se é que alguma vez) gerar.
Isto por um lado; mas por outro é igualmente indiscutível que, tábua rasa feita a mitos, símbolos, afectos ou lealdades, já competem hoje à instância europeia decisões que escapam de facto à capacidade que tem cada um dos seus Estados-membros de decidir (e que estariam por hipótese, numa perspectiva democrática pura, mais bem entregues ao eleitorado europeu do que às obscuras combinações dos governos nacionais) e que, mais importante ainda, os europeus pedem mesmo (a quem saiba ouvi-los) políticas europeias, tomadas em nome de We, the peoples of Europe.


Já dizia Jacques Delors que ninguém se toma de amores por um mercado interno e poderia acrescentar-se que ninguém se apaixona por tratados ou constituições que não são sentidos como necessidades senão como fardos ou imposições, categorias abstractas que se algum conteúdo concreto têm é contrário às expectativas e anseios da grande maioria da população. Tome-se por exemplo a moeda única: à parte a sua dimensão simbólica (largamente insuficiente para redireccionar sentimentos
de pertença do Estado nacional para a União, como é óbvio) e as suas virtualidades no domínio global, que o europeu comum não sente, a sua introdução significou para este, para além de uma indesmentível experiência inflacionária, a realidade de uma política monetária rigorista, que Jean-Claude Trichet se compraz em recordar trimestralmente, em lugar do prometido crescimento. O anúncio da união económica e monetária não gerou nenhuma vaga de fundo em favor do projecto europeu, como a criação de um ministro dos negócios estrangeiros europeu também não a iria criar – e, no entanto, parece evidente que houve, e há, uma política externa europeia possível, pela qual os europeus foram e são capazes de sair à rua, e que uma política económica assente na defesa do chamado modelo social europeu seria igualmente susceptível de unir em seu torno a maioria dos europeus.

Por outras palavras: se a invenção de símbolos ou o desenho de Constituições abstractas não é suficiente para ganhar a confiança dos europeus, políticas concretas poderão sê-lo, e só uma abordagem por assim dizer substantivista da integração europeia conseguirá dar-lhe aquilo que dramaticamente lhe falta: o interesse e o apoio dos eleitores.

É ilusório pensar que a Europa política poderá avançar através do apuramento de formas institucionais apenas, que depois o debate político se encarregará de preencher: não há antes e depois neste processo, e todas as analogias históricas possíveis parecem demonstrar que só se se confundir com causas concretas e substantivas pode a causa europeia aspirar a ser entendida como útil e necessária pelos cidadãos da União. E no essencial, essas causas só podem ser duas: a da defesa da paz e a do modelo social europeu.

A causa da Europa é uma Europa de causas

Com efeito, as históricas manifestações contra a guerra do Iraque, em 2003, a que a posição francoalemã no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ofereceu um importante respaldo político, constituíram o mais significativo acontecimento político pan-europeu das últimas décadas e forneceram uma das únicas fundações possíveis de um consenso maioritário em todos os Estados-membros da União.
A par da paz (no sentido genérico de uma política externa independente, que seja hostil ao conceito de choque das civilizações e valorize a mediação mais do que a força na resolução dos conflitos mundiais), só a defesa do modelo social europeu (uma realidade que, muito em síntese, recobre as múltiplas formas de prevenir que a moderna globalização económica imponha aos europeus as suas piores consequências sociais e ambientais) parece poder constituir uma causa política ao mesmo tempo suficientemente distintiva do Velho Continente e abrangente das suas diferentes parcelas para desempenhar um papel motor e fazer avançar a causa europeia.

Descartada que está a invenção de uma mitologia federalista, a adesão afectiva e emocional dos europeus a uma Europa culturalmente diversa mas politicamente unida só será possível mediante o estabelecimento ou a clarificação de um ethos comum. Ora este dificilmente será viável se assentar apenas em valores abstractos (o famoso patriotismo constitucional), devendo ao invés declinar-se também em políticas concretas, que consubstanciem esses mesmos valores.

Se, para além dos princípios clássicos da democracia liberal (direitos do Homem, autonomia pessoal, democracia, Estado de direito) e do cosmopolitismo (cuja invocação parece particularmente adequada a uma comunidade que pretende realizar a unidade na diversidade do Continente europeu), os valores fundamentais da Europa política se estenderem igualmente à não-violência e à solidariedade, estarão alinhados com aquelas causas orientadoras a ponto de poderem ser entendidos pelo comum dos europeus.

A Europa tem de rever com urgência o seu processo de tomada de decisão e a forma de funcionamento das suas instituições, porque a dinâmica intergovernamental, alimentada pelo alargamento a Leste, pode estar em vias de hipotecar o projecto político europeu; ainda assim, não ficaria resolvido o seu problema de fundo, que é o do divórcio crescente entre as suas atribuições e competências, equiparáveis pela sua extensão e complexidade às de uma administração federal, e
a legitimidade política de que goza, meramente indirecta e comparável à de uma organização internacional.

Em resumo, o processo constitucional falhou porque não mereceu a confiança da maioria dos cidadãos europeus, que recusou às instituições da UE a legitimação que estas lhe pediram.
Mas, como sempre, o eleitorado tinha razão, porque o suposto processo constitucional consistia na realidade num mal disfarçado processo intergovernamental, levado a cabo por um pessoal político que, por vezes, não parece ainda conformado com a entrada dos cidadãos no debate europeu, ocorrida sobretudo a partir do referendo dinamarquês de 1992 e agora sem retorno.


Será possível imaginar uma solução de fundo para esta crise, que reconcilie a Europa dos cidadãos com os cidadãos da Europa?
A curto prazo, parece que não.


António Figueira

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10 Comments:

At 12 de dezembro de 2007 às 23:49, Anonymous Anónimo said...

Análise comparada do Tratado de Lisboa, por Valéry Giscard d’Estaing

Valéry Giscard d’Estaing compara o "novo" Tratado Reformador, o Tratado de Lisboa, com a "velha" Constituição Europeia de que foi um dos principais obreiros.

O público parece ter seguido com pouco interesse o acordo obtido em Lisboa, no seio do Conselho Europeu, com vista à adopção de um novo tratado constitucional. No entanto, penso que muitos gostariam de compreender a forma como os acontecimentos se desenrolaram. Vou tentar responder à seguinte questão: em que é que o tratado de Lisboa difere do projecto de tratado constitucional?

A diferença tem a ver mais com o método que com o conteúdo. O tratado constitucional resultava de uma vontade política expressa na declaração de Laeken, aprovada por unanimidade pelos membros do Conselho Europeu: o objectivo era simplificar as instituições europeias, tornadas ineficazes pelos últimos alargamentos, incutir maior democraticidade e transparência na União Europeia e “abrir a via a uma Constituição para os cidadãos Europeus”. Este objectivo reflectia-se na composição da Convenção, que reunia representantes do Parlamento Europeu e dos Parlamentos nacionais, dos Governos dos Estados-membros e da Comissão Europeia. Para mais, os seus debates eram públicos e todos os textos eram imediatamente publicados na Internet. Todos podiam pesar os prós e os contras de cada proposta. O projecto de tratado constitucional era um texto novo, inspirado por uma vontade política, e que substituía todos os tratados anteriores.

Para o tratado de Lisboa, o processo foi diferente. Foram os juristas do Conselho que foram encarregados de redigir o texto. Fizeram-no com competência e rigor, respeitando o mandato que lhes tinha sido entregue pelo Conselho Europeu em 22 de Junho último. E retomaram a via clássica seguida pelas instituições de Bruxelas, que consiste em modificar os tratados anteriores pela via das emendas: o tratado de Lisboa situa-se exactamente na linha dos tratados de Amesterdão e Nice, ignorados do grande público.

Os juristas não propuseram inovações. Partiram do texto do tratado constitucional, separaram-no em elementos, e inseriram esses elementos, um por um, sob a forma de emendas, nos dois tratados existentes: Roma (1957) e Maastricht (1992).

O tratado de Lisboa apresenta-se assim como um catálogo de alterações aos tratados anteriores. É ilegível para os cidadãos, que se vêem obrigados a consultar constantemente os tratados de Roma e de Maastricht, aos quais essas alterações dizem respeito. E, quanto à forma, estamos entendidos.

Quanto ao conteúdo, o resultado é que as propostas institucionais do tratado constitucional – as únicas importantes para os membros da Convenção – se encontram integralmente no tratado de Lisboa, mas numa ordem diferente e repartidas nos tratados anteriores.

Um exemplo: a designação de um presidente estável da União Europeia, que constitui o avanço mais prometedor do projecto, figurava no tratado constitucional no capítulo das instituições e órgãos da União. O artigo 22 dizia que “o Conselho Europeu elege o seu presidente por maioria qualificada para um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez” e prosseguia com onze linhas descrevendo o papel desse Presidente.

Se procurarmos essa disposição no tratado de Lisboa encontramo-la na emenda 16 ao Capítulo III do tratado de Maastricht que diz: “é acrescentado um artigo 9B: o Conselho Europeu e o seu Presidente”. E no parágrafo 5: “O Conselho Europeu elege o seu presidente por maioria qualificada para um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez” e o parágrafo prolonga-se por onze linhas descrevendo de forma idêntica o papel do Presidente

O mesmo exemplo poderia ser dado em relação ao papel e à eleição do Parlamento Europeu. O Artigo 9A do tratado de Lisboa reproduz palavra por palavra o Artigo 20 do projecto de Tratado Constitucional.

A conclusão é evidente. No tratado de Lisboa, redigido exclusivamente a partir do projecto de tratado constitucional, as ferramentas são exactamente as mesmas. Apenas mudou a sua arrumação na caixa de ferramentas. E a própria caixa foi modificada, utilizando um modelo antigo onde existem três cacifos nos quais é preciso vasculhar um pouco para encontrar o que se procura.

Existem no entanto algumas diferenças e três delas merecem uma nota.

Antes de mais, a palavra “Constituição” e o adjectivo “constitucional” são banidos do texto, como se dissessem respeito a coisas inconfessáveis. O conceito, porém, tinha sido introduzido pelos próprios Governos na declaração de Laeken (aprovada na altura por Tony Blair e Jacques Chirac). É verdade que a inscrição no tratado constitucional da parte 3, que descrevia as políticas da União, constituía sem dúvida uma solução menos feliz. A aparência podia fazer crer que se tentava dar-lhes um valor “constitucional”, ainda que o objectivo fosse unicamente o de reunir todos os tratados num só.

Por outro lado, suprime-se a menção aos símbolos da União: a bandeira europeia, que flutua por todo o lado, e o hino europeu que se pediu emprestado a Beethoven. Ainda que ridículas e destinadas a não ser aplicadas (felizmente), estas decisões são menos insignificantes do que parecem. Elas visam afastar toda e qualquer indicação que tenda a evocar a possibilidade de a Europa se dotar um dia de uma estrutura política. É um sinal claro de recuo da ambição política europeia.

Quanto às respostas encontradas para as exigências formuladas em França por certos adversários do tratado constitucional, é necessário constatar que elas são mais cedências de cortesia do que modificações substanciais. A expressão “concorrência livre e não falseada”, por exemplo, que figurava no Artigo 2 do projecto, foi retirada a pedido do presidente francês Nicolas Sarkozy, mas foi retomada a pedido dos britânicos, num protocolo anexo ao tratado que estipula que “o mercado interno, tal como é definido no Artigo 3 do tratado, compreende um sistema garantindo que a concorrência não é falseada”.

Acontece o mesmo com o princípio da primazia do direito comunitário sobre o direito nacional e a mesma coisa ainda com uma declaração de intenções louváveis mas sem conteúdo concreto, sobre os serviços de interesse económico geral cujo texto de referência não foi alterado no tratado.

Em contrapartida, a França vai poder ampliar em mais de um terço os seus direitos de voto no Conselho, graças ao princípio de dupla maioria introduzido pelo projecto do tratado constitucional.

Muito mais importantes, enfim, são as concessões feitas aos britânicos. A Carta dos Direitos Fundamentais – uma espécie de versão melhorada e a actualizada da Carta dos Direitos do Homem – é retirada do projecto e será objecto de um texto separado, o que permitirá que a Grã-Bretanha não fique obrigada por ela. No domínio da harmonização e da cooperação judicial, a Grã-Bretanha vê reconhecidos múltiplos direitos de saída e de regresso ao sistema.

Em resumo: depois de ter conseguido enfraquecer as propostas que visavam reforçar a integração europeia – como a recusa do título de ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia – a Grã-Bretanha coloca-se numa situação de excepção em relação às disposições que lhe desagradam.

É fácil constatar que o texto dos artigos do tratado constitucional se encontra praticamente intacto, mas que se encontra disperso sob a forma de emendas dos tratados anteriores – que foram, eles próprios, reorganizados. É evidente que a opção não vai no sentido da simplificação. Basta consultar o índice dos três tratados para avaliar a dimensão do fenómeno!

Qual foi o objectivo desta subtil manobra? Antes de mais, fugir à obrigação do recurso ao referendo graças à dispersão dos artigos e à renúncia ao vocabulário constitucional.

Para as instituições de Bruxelas, foi uma forma hábil de retomar as rédeas, depois da ingerência dos parlamentares e dos políticos, representada pelos trabalhos da Convenção Europeia.

Desta forma, regressa-se à linguagem que Bruxelas domina e aos procedimentos que eles privilegiam, afastando-se mais um pouco dos cidadãos.

A fase seguinte será a das ratificações. Ela não deve encontrar grandes dificuldades – para além da Grã-Bretanha, onde um referendo levaria certamente a uma rejeição – pois a complexidade do texto e o seu abandono das grandes ambições contribuem para suavizar as suas asperezas.

Mas levantemos a tampa da caixa e olhemos para as ferramentas. Elas estão lá todas, tal como foram cuidadosamente elaboradas pela Convenção Europeia, e são inovadoras e eficazes: a presidência estável, a Comissão reduzida e recentrada, o Parlamento legislador de pleno direito, até o ministério dos Negócios Estrangeiros lá está - apesar do seu chapéu demasiado apertado -, a tomada de decisões por dupla maioria de Estados e cidadãos e a carta de direitos fundamentais mais avançada do planeta.

No dia em que as mulheres e os homens, animados de grandes ambições para a Europa, decidirem servir-se delas, poderão despertar, sob a cinza que o cobre hoje, o sonho ardente de uma Europa unida.

No:Público
"ÚLTIMA HORA"

 
At 12 de dezembro de 2007 às 23:58, Anonymous Anónimo said...

No próximo dia 1, termina oficialmente o maior problema que a humanidade enfrenta e oficiosamente deixam de existir quaisquer outros de semelhante gravidade. Pela primeira vez na História, os mais bem intencionados dos seres humanos conseguirão tornar o planeta Terra habitável, saudável ou, numa palavra, agradável.

Como sempre acontece quando um problema é resolvido, também neste caso algumas vozes se levantam em protesto; bem, não se levantam lá muito, ele é mais uns murmúrios e umas rosnadelas, e assim. Ainda restam por aí uns quantos (pouquíssimos) criminosos que alvitram coisas vagas e soezes como o seu “direito à escolha”, por exemplo; que “nos meus pulmões mando eu”, dizem eles; que se alguém quer dar cabo da sua própria saúde, isso é com cada qual, dizem eles; dizem também, entre duas baforadas do seu nojento vício, que os antitabagistas militantes são uma cambada de pides ressabiados, delegados do Santo Ofício no armário, patrulheiros higienistas, sádicos, pervertidos, racistas, nazis.

Tretas. Não é nada disso.

A legislação está aí, clara e transparente, os meios de repressão a postos, a opinião pública em geral perfeitamente formatada e de acordo: a partir do próximo primeiro de Janeiro, fumar é crime. Pim.

Aquilo que por fim se conseguiu não tem nada a ver com a liquidação de qualquer liberdade individual, muito menos a liberdade de escolha ou o direito a cada um decidir aquilo que é melhor para si próprio. O que agora toma forma de lei geral, universal, transversal, vertical, horizontal, etc. e tal, está completamente isenta de qualquer intenção menos abonatória: não existe nela qualquer atitude persecutória em relação a modos de vida, hábitos pessoais, idiossincrasias ou sequer ao carácter específico deste ou daquele indivíduo.

Fumar não é, nunca foi, um acto individual; pelo contrário, é iminentemente colectivo, pela simples razão de que se um fuma, então toda a gente em volta dele está fumando também. Por conseguinte, em nome da liberdade e da saúde dos outros, muitos, é absolutamente necessário que alguns, poucos, deixem de empestar o ambiente. Isso é igualmente benéfico para os próprios, nitidamente, e é algo que apenas espíritos doentios e mentes maldosas poderão persistir em negar ou sequer objectar alguma coisa a respeito. É também, ou principalmente, a esses mesmos viciados que se dirige a legislação do primeiro de Janeiro: há que fazê-los ver a luz, forçá-los a viver num ambiente saudável ou, em última análise, em não sendo outra coisa possível, espetar com eles no chilindró. Talvez assim se curem por si mesmos, sem dar outras despesas e maçadas à boa sociedade. Nos casos de maior renitência ou relapso, e ainda no que diz respeito àqueles que se atreverem a levantar cabelo, há que persistir na cruzada, sem desfalecimentos nem hesitações, uns banhos gelados de agulheta, umas chapadas nas trombas ou umas quantas pauladas valentes pelos lombos. Se não vai a mal, pior para eles, essa corja abjecta.

Os números falam por si e os cadáveres estão aí, à vista de quem quiser ver, para o provar à saciedade. Essas cifras, essas terríveis estatísticas, não foram nunca exageradas, mistificadas, aldrabadas. As fotografias dos cadáveres, a 256 cores, ou mais, ilustrando o cancro do pulmão e de outras maleitas ainda mais aborrecidas, não foram retocadas ou de alguma forma trabalhadas para inspirar terror. Quase nada nessas fotos ou nos filmes, documentários, estudos, documentos, palestras e conferências sobre o assunto, e também quase nada nas manifs de catarse do Mal brônquico se refere à emissão e à inalação de milhões de toneladas de fumos dos escapes dos automóveis ou dos altos fornos industriais. A seu tempo, é claro, também resolveremos essas chatices, mas para já aquilo que pretendemos - haja calma, uma coisa de cada vez - é lixar os fumadores de uma vez por todas.

Note-se que absolutamente nenhuma das pessoas mais dedicadas à causa do antitabagismo tem a mais ínfima espécie de ressentimento pelo facto de lidar mal com o prazer em geral e com os prazeres alheios em particular. Ninguém é movido por instintos predatórios, e muito menos com raiva incontrolável ou mal resolvida, contra aquilo a que os monomaníacos chamam “pequenos prazeres da vida”. Nem um só desses justos militantes sente o mais ínfimo gozo por poder, com autoridade moral, institucional e legal, mandar alguém apagar um cigarro. Nenhum, mas absolutamente nenhum, imagina sequer estar ele próprio viciado, já a um nível de dependência física e psíquica, no poder do mando; nenhum necessita da sua dose diária, cada vez mais sistemática e obsessiva, desse pó de mando, desse apetitoso autoritarismo. Todas estas maldosas alegações não passam, por conseguinte, de efeitos colaterais de que tipicamente padecem os fumadores.

Enfim, companheiros: conseguimos. Essa é que é essa. Poderemos agora, porque atingimos os nossos objectivos, tranquila e impunemente confessar que o velho e relho argumento do “fumo passivo” era uma patranha para enganar totós. Foi uma galga muitíssimo bem esgalhada (hihihi, ai que riso) e serviu na perfeição para a nossa estratégia, superiormente delineada. Sim, porque afinal, reconheçamo-lo sem medos, se não fosse essa belíssima e inocentérrima patacoada, não teria sido nada fácil chegar a isto, a este nosso primeiro primeiro de Janeiro não-fumador.

Mas ai. Nem de propósito. Agora andam por aí uns tipos (mas esta malta não desiste?) a apregoar uma coisa que é os cigarros sem fumo. Diacho. Bem, e agora, hem, companheiros? O que havemos de inventar para lhes lixar o esquema? Com isto, onde já se viu, assim o paleio de chacha já não cola. Há que derrubar, e é já, essa coisa dos “cigarros sem fumo”, caramba! Há que pôr essas cabecinhas a trabalhar, como dizia o outro, “é urgente”, vá lá, depressa, desenrasquem aí outra coisinha mimosa, assim uma frasezinha lapidar do género da outra, sei lá eu bem, assim de repente, ó chatos do caraças. Sinceramente, não me ocorre porra nenhuma.

Isso depressinha, ouvistes? Quando não, não tarda nada temos aí esses malditos viciados outra vez a dar à nicotina, ao nosso lado no café, no autocarro, no avião, na mesa do lado, na casa do lado, em suma, em todo o lado. E isso, é claro, nós não vamos permitir. Ai isso é certinho.

 
At 13 de dezembro de 2007 às 21:13, Anonymous Anónimo said...

E votas em quem Carlos B? Devias era de estar dentro com as merdas que fizeste aqui na biblioteca e que não se souberam...

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:26, Anonymous Anónimo said...

Hoje de manhã fiquei surpreendido ao saber que o Governo tinha sido simpático dando-me os 1,4€ que gastaria em viagens no Metro e que ainda poderia visitar os museus à borla. Aceitei os trocos do Metro, mas quanto a uma ida ao museu ficou para outra ocasião pois a hora de almoço, ainda que cada vez dê menos para almoçar, não permite grandes vadiagens. Ainda assim tive sorte pois fui dos poucos que se apercebeu das borlas, muitos usam passe e outros pagaram o bilhete na mesma.

Esta opção para festejar a assinatura do Tratado teria sido mais interessante se tivesse ocorrido na época medieval, por estas horas estariam a ser assados uns porcos no Terreiro do Paço, oferecidos pelo Rei ao povo pobre de Lisboa. Sempre era uma esmola mais confortante e até eu trocaria o bilhete do metro por uma boa febra de leitão.

É evidente que mais leitão, menos leitão o Tratado é um passo importante para a Europa e o facto de ser assinado em Lisboa foi um momento feliz para a cidade, temos que o agradecer aos seus obreiros, a Chanceler Angela Merkel que abriu um caminho que se encontrava bloqueado e José Sócrates que teve a capacidade de concretizar o que havia sido projectado.

Mas a forma os lisboetas foram envolvidos já me parece pouco digna e lamentável pois a assinatura acaba por ser uma cerimónia para poderosos. Convenhamos que dar meia dúzia de borlas não é a forma mais elegante de envolver os cidadãos num Tratado que é seu, nem de projectar a imagem de Lisboa como grande capital europeia. Pode ser mesmo entendido como um gesto de desprezo e falta de consideração.

Pela importância histórica deste Tratado eu esperava maior envolvimento da cidade e dos seus cidadãos, maior classe nas iniciativas governamentais. Para a história fica a passagem por Lisboa dos dirigentes europeus, em comitivas barulhentas, protegidas e blindadas, umas borlas medievais para ajudar o orçamento dos pobres e uma cerimónia mediática para entronização dos governantes. O momento merecia mais, melhor e com mais classe.

E depois queixem-se ao ouvirem alguns dizerem que o Tratado foi feito nas costas dos eleitores e de que os europeus estão cada vez mais afastados dos políticos e das instituições europeias…

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:31, Anonymous Anónimo said...

O momento assinalava a subscrição da "Carta dos Direitos Fundamentais" que integra o "tratado" assinado esta manhã em Lisboa. Na sua língua de pau, o senhor presidente em exercício foi confrontado com o protesto de alguns eurodeputados. Reclamavam o recurso ao referendo como método adequado para ratificar democraticamente o documento dos Jerónimos. Foi vaiado e aplaudido ao mesmo tempo no Parlamento Europeu. Cá fora, Sócrates reagiu "à Sócrates". Falou de "folclore democrático" e acusou os que o apuparam, e que defendiam o referendo, de "anti-europeus". Sócrates é fortemente deficitário de cultura democrática. O ar crispado com que aguentou o protesto vale mais do que mil palavras sobre a matéria. É pena que o Parlamento português, tão bem abastecido de monos reverentes, não seja também mais reactivo. O dormente Jaime Gama, como se viu no debate mensal, adora anestesiar o conflito com retórica processual. E Sócrates aprecia este género de respeitinho paroquial que, por muito que lhe custe, a Europa não lhe tem. Há três anos, em Roma, os líderes europeus também se sentaram à volta da fogueira para assinar o tratado de Roma. Vinha aí a "constituição europeia". Não veio. Dois referendos - e um em especial, o francês - ditaram a sua prematura morte. Apesar da propaganda ("um tratado mais modesto", como eles dizem, mas essencialmente a mesma coisa), convém lembrar que a cerimónia de hoje é quase só espectáculo. Quando sair dos Jerónimos para o eléctrico da Carris, a direcção da UE não tem a certeza de nada. O verdadeiro lance do tratado de Lisboa começa aí, quando passar das canetas douradas dos dirigentes para a cabeça dos povos da Europa. Começa ou acaba.

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:33, Anonymous Anónimo said...

A nova hierarquia das borlas:
- "Europeu" almoça à borla;
- Lisboeta anda de electrico sem pagar;
- O deserto e a paisagem vão ao museu ver os quadros.

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:34, Anonymous Anónimo said...

Às 12h49, hora de Lisboa
Foi oficialmente aberta a fuga ao referendo prometido.

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:35, Anonymous Anónimo said...

Caneta de prata usada para matar lobisomem.
Ou seria bala de prata para assinar tratado?

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:36, Anonymous Anónimo said...

referendo, sim! tratado europeu, não!!!

 
At 13 de dezembro de 2007 às 22:46, Anonymous Anónimo said...

Em honra do Tratado de Bilderberg, Lisboa, 13/12/2007


Que saudades daquele dia em que o fatinho do “Engenheiro” foi à modista, para enfiar reforços nas joelheiras, que o coitado estava sempre de joelhos, a palhaçona, e se tivesse cona, era terreno livre e pano esfregado de Bilderberg, naquele abrir as pernas do usucapião.

Portugal acrescia às centésimas ao ano,
O seu plano de inclinação em direcção ao Abismo,
Mas o abismo era só para alguns,
Os que não viviam na Economia Paralela,
Nem mandavam na Noite Criminosa do Porto e Arredores,
E tudo é arredores do Porto, em Portugal,
Como a raiz do nome já outrora, antes, explicava.
O Cavaco,
Esclerosado,
Já só arrancava folhas do calendário,
Para poder ter escrito no epitáfio do campanário,
Com um lindo menino jesus daqueles da Maria e do Carlos Cruz,
A dizer “reinou dois mandatos, sobre uma bomba de gasolina do tamanho de 10 000 000 de habitantes”,
E secava sempre a última gotinha na fralda do Constâncio,
Um Presidente, Um Governo, Uma Maioria
Da Osteoporose.

Na altura,
o Isaltino ainda era só suspeito


(Pai, já fui Ministro!...)


De ter mandado betonar de Pedrouços inteira a Oeiras,
E era um herói local,
A cara regional de todos os outros que adoravam ser com ele,
Mas não podiam,
pois a baixaria é um dom natural,
Como os diplomas da “Independente”,
Ou se nasce com eles, ou
Tem de se mandar um cartãozinho,
Para desbloquear “aquela enorme angústia”.

Era um país onde os escroques não se demitiam,
E subiam nas sondagens da palermagem,


um país de bananas,


governado

por um filho da puta,


só à espera do segundo mandato para
mandar dar porrada em toda a gente,
uma espécie de neo-miguelista da Lusitânia retardada.
Portugal fazia maratonas de cadeiras de rodas com a Bulgária, a Roménia e o Cazaquistão
para ver qual ficava com a Cauda da Europa e da Ásia,
na Economia e na Educação
E o Grande Timoneiro ia sempre pendurado no estribo,
e já não era agora um ex-maoísta e neo-oportunista,
mas a respeitável puta Durão Barroso,


a soldo do Mundo inteiro dos Negócios,
com um iate sempre à espera dele,
nas poças pegajosas da Cova da Piedade,
e já nem a Sousa Uva se queixava de ter um marido com os cornos sempre enfiados nas navegações profundas,
coitada,
estava fibromiálgica,
-- qualquer posição lhe arrancava gemidos --,
era uma doença da moda, dava para estar semanas inteiras deitada,
e de perna aberta,
a servir de “guichet” nos Entrefolhos da Incultura Londrina,
-- quanto não tem de se ser puta para chegar a tão vis cargos… --,
sem mexer uma anca,
só passando por debaixo do Pinto da Costa,
homem honrado dos tiros da porta de discoteca.


Um dia, a Fátima Felgueiras,
mais o saco azul dela,
por onde o valente cabrão que tocava o diapasão,
tinha feito deslizar os “moneys” da concessão dos tratamentos dos resíduos a uns gajos franceses, cujo nome já esqueci,
descarrilou nas contra-curvas do IP-5,


a ESTRADA ASSASSINA,


-- até a Maria, de Centro-Esquerda, ia para lá andar de trenó,
nos dias de grande humidade,
para aproveitar as inclinações,
era uma espécie de Sierra Nevada, mas sem neve,
só poças de sangue,
"nunca senti nenhum perigo, havia só aquela emoção da montanha russa da Feira Popular, também só lá andei uma vez, ficava muito longe da Vivenda Mariani, do Heron-Castilho, das sardinheiras de Belém" --,
já estamos na linha da frente,
da parte de trás,
direita
esquerda
volver
o PELOTÃO DA FRENTE,


a patinar no Pulo do Lobo,
e nos safaris de elefantes de tromba rija, no Quénia,
quando não havia a variante do mulato de Salvador da Bahia,
de cada enterradela, havia cem decretos-lei que saltavam por aquelas bordas,
naturalmente,
como bonbons,
bem-bom,
e Malta já foi um refugo,
para consolar a Câncio,
a quem já nada dava prazer,
e que tinha aprendido com o Guilherme de Melo como uma senhora se deve comportar quando anda na esfrega com uma “m’lher” falsa d’Armani.
o Soares, senil, soltava bitaites na Praia dos Tomates,
mas ía ainda mais nu do que o próprio Rei,
mais o bêbedo do diz “NÃO”,


era sim-sim, senhor doutor,
caladinho que nem um rato,
quanto mais hipopótamo, mais alto,
"filho, os ossos da tua Economia já só parecem uma filigrana, por mais sondagens católicas que compres ao monhé da SIC-Notícias...",
as câmaras não largavam aquelas brancas de cinquentão vaidoso,
era uma espécie de Marco Paulo da Rua Castilho,
presunção e água-benta,
e sempre entalado entre dois amores,
um mais moreno e, o outro, a tomatada empalidada,
deus lhe perdoe,
ao cair dos noticiários,
completamente controlados,
entre gritos de “isso-passa-aquilo… não”
já só enfardava fatias de bolo-rei,
como o Cavaco d’outrora,
era Natal o ano inteiro,
-- mas só para alguns --


NATAL,

MAS SÓ PARA ALGUNS,


"atão,
senhor engenheiro,
isto vai,
ou não vai?..."
E ele fazia “jogging”,
A passear as hemorróidas por um Central Park Virtual,
No fundo, sempre a fugir de si mesmo,
"Não sei,
eu não leio jornais,
vivo numa E-realidade,
Irrealidade,
De Computadores obsloletos a 30 “contos”,
De tempo da peixeirada,
Para sacar um par de mamas decente da Net,
São só três horas de ligação,
E,
Para além do “Rio das Flores”
já não leio mesmo nada..."

O desemprego galgava durão-socraticamente por ali acima,
as gajas dos têxteis todas em casas de alterna,
Setúbal na soleira da porta,
As Brasileiras a fazerem tudo o que as Mães de Braganza pensavam ser pecado,
Mas tinham os maridos a praticar, mesmo ali ao lado,
e
a Agricultura vendida e revendida por tuta-e-meia, por uma bichona de bigode do Gran Canale, já na fase da peste da “Morte em Veneza”, a pensar no sacar ainda um broche ao puto andrógino
-- varreu-se-me o nome, não do puto, o do Ministro –
com os filhos dos latifundiários,
pagos para não produzirem,
todos no negócio da “branca”.

O da Economia já nem aparecia,
Só tinha estatísticas de putas e campos de golfe,
Do tráfico da heroína e do plutónio ficava mal falar:
Por muito menos, tinha a “Air Luxor” fechado as portas,
Com duas velhinhas com mochilas de 400 quilos,
Deus lhes perdoe,
-- É preciso ser mesmo muito velha, foda-se, para fechar uma companhia aérea com cadeados de Cocaína!... --,
Mas isso era a Retoma: por cada uma que fechava, havia cem outras que abriam,
A recibos verdes,
E com nome novo,
Para satisfazer os eternos vícios das Narinas do Poder,
“sniffar” é viver.

A Ota era uma derrota.

Um dia, veio o Mugabe,
E olhou-lhe bem para os olhos,
“olha lá, ó “Engenheiro”, quem do teu Governo é paneleiro?...”,
E todos assobiavam para o ar,
Excepto a Senhora Lourdes Rodrigues,
Em que só pegavam orangotangos em extinção,
E mesmo assim só numa de vazar colhão,
E a da boca grande,
Casada com o Carrilho,
Discretamente colocado em Paris,
Ao pé do Ferro Rodrigues,
Sabe-se lá por que intimidades,
E o país inteiro fantasmeava empresas e sacava fundos para a amigalhada,
os assessores e os senhores tutores da Casa Pia,
Para quem já só tinham sobrado os surdos-mudos,
Depois do material decente ter andado na Canzanada,
Enrolados com o pessoal poderoso.
As grandes obras do Regime eram a Inocência de Paulo Pedroso, a Eleição do Maior Português “Ever” e o “Atelier” do Lagoa Henriques,
Amigalhão do João Soares,
Que já nem com Viagra na boca lá ia,
Mamar na putalhada,
coitadinho.

ERAM TUDO

NOVAS

OPORTUNIDADES,

MAS

SÓ PARA ALGUNS,

300 000 diplomas do 12º Ano passados em 3 meses,
Deixavam prever a Globalização dos Doutoramentos,
Em 10 anos de Sistema,
Ia chegar o dia em que se venderia a chaputa no Bolhão,
Com um Canudo de Harvard na outra mão,
Mas era a Harvard dos saloios,
Tirar um Curso… ai, que Vilar de Maçada,
Quando a coisa podia ser mais maneirinha,
Um bilhetinho e umas noites passadas com o motorista no banco de trás,
À porta da Universidade,
E um passou-bem, ao Professor,
“Como está, Sr. Ministro!?...
Já está quase concluído, Senhor Doutor!...”,
e tudo o que não ia por dinheiro lá passava no travesseiro.

Tudo o que metia trafulhice,


neste Great Socratik

Disaster,


acabava sempre mal,
mais as escutas apagadas,
e as leis retroactivas, para poupar os que pegavam de empurrão,
e a palavra de ordem era a de SACAR,
mas saudavelmente:
Um Camelo na Cultura,
Um Manoel de Oliveira, cheché e centenário,
E um Saramago, de cadeirinha de rodas, a vomitar grécias atrás de grécias do Feio,
e Os Lindos Olhos na Educação
-- a "Mariana", em qualquer sítio do Mundo, andaria a rodar só filmes de terror –-
Mas cá fechava Universidades de Diplomas ao Sábado, e entalava o Ensino Público no torniquete da carteira recheada,
Vales o que compras!...,
Graduas-te no que pagas!...
o Walter Lemos era Secretário de Estado da Ignorância -- Secundário prâ quê???... –depois de tantas faltas injustificadas,
Nulo, até à quinta-feira


THE

GREAT SOCRATIK

DISASTER


parecia o Grande Funil dos Analfabetos,
As novíssimas oportunidades do sabe-chão,
a galope para o fundo do cóccix europeu,
E asiático e africano,
e o outra mascava bolo-rei;
a Maria
-- burra com'às casas --
fazia tricot,
uma mantinha para os dias de Inverno,
que deus no-lo traga brando,
-- roubada no avião, como rezava outrora o Portas

-- (Grande voz nessa altura,

ASSIM REGRESSASSE ELE!...) --

Mas não pode:
De cada vez que abre a boca,
As Secretas da Paneleira põem-lhe um processo antigo em cima.
Querida,
para si,
o Mundo é uma manta e uma côdea,
e o Taveira,
por detrás,
já se esquecera de enrabar,


"--Srª Dª. Maria Cavaco Silva,


que pensa

das enrabadelas

da Casa Pia?...


-- Eu não acredito nessas coisas;


sexo,


só para procriar,


e a semente deixada em vaso próprio,
e mesmo assim, com cautelinha,
cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém...,
mas deixe-me estar sossegada,
que estou a ver um programinha do Sr. Hermann José,
Quando ele se põe a imitar os Gatos Fedorentos -- só à metralhada... –
Parece mesmo o meu maridinho a falar,
Não gosta de quando o Aníbal abre a boca...

O Mundo, agora, é um Berardo,


A zanzar nos arredores da merda,


E falar encriptado de moscardo

Adoramos: parece um milho transgénico,
À caça de Apitos Dourados.
"Era tudo tão bom nesta altura,
o dia começava pela manhã e acabava à noite,
a hora era a mesma da Venezuela,
E o criminoso Khadafi levantava as saias para lhe mostrar o Mangalhão
-- era dia de Cimeiras de Cooperação, e não havia Orgasmo de Cópula que lhe falhasse --
para se poder começar a especular e a dar golpadas na Bolsa mais cedo,
ano terrível,
de seca,
mas com o sol a pôr-se grandiosamente nas dez horas do seu Verão prolongado,
as vacas ainda não andavam loucas,
E a Função Pública não era o tiro ao alvo favorito dos vícios privados dos Amigos do Alheio
e a própria sida só dava ainda nos animais,
Com as galinhas todos constipadas,
Para o povinho andar sempre num perpétuo Pânico,
-- Ordem explícita de Bilderberg!... --,
Que pagava fortunas para o Laden gaguejar papéis antigos, nos quais já nem ele mesmo acreditava,
Uma bomba aqui, outra ali,
Que coisa era essa, para um país solenemente assentado no tráfico de armas?...

O BCP, surgido, e ressuscitado, crescia em desnaturadas dezenas por cento de lucro, e era o BES e o BPI, mas toda a gente achava natural, porque a divina ou era divina, ou surgia por causas naturais;
a Amália já não era era viva,
e era pena
nem viva aquela santa Lúcia que ainda tinha visto a Senhora,
mas tínhamos o Mourinho da Mafia Russa, e o Madeirense que só entesava de saltos altos, e aquela da carapinha pintada de louro, que mostrava uma goela que nem a Senhora de Boca Guedes;

Construimos a Casa da Música,
um horror,
que custou, como sempre, trinta vezes mais do que os arranha-céus com que Xangai redesenhava o Mundo,
e na Defesa íamos de vento em popa:
Só Afeganistões e Rotas do Ópio,
E soldados trapalhões, a brincar às granadas na Bósnia, que nem sabiam onde ficava, tempos menores aos pés do Grande Cavaquismo,
em que íamos para a Guerra do Golfo na carcaça Gil Eanes,
um velho porão,
à Solnado,
de transportar sacos de batatas;
e os Americanos,
quando viram aquilo,
puseram-no logo num porto de retaguarda,
não fosse afundar-se e bloquear o Golfo,
coisa boa,
o Ministro da Defesa,
sucessor do pedófilo Eureco de Milo,


a reserva moral do P.S.D.,


Vice-Rei do Norte,
com primeira dama de honor, o "Major" Valentim Loureiro,
que distribuía,
já não me lembro bem,
se fogareiros, se micro-ondas
(pelo nível, suponho que fossem fogareiros…),
o Ministro da Defesa,
sucessor do Vice-Rei dos Putos
-- um borra-botas cujo nome se me varreu --,
quando descobriu que aquilo era mesmo sucata,
foi para o largo dos Açores,
tentar enfiar-lhe o cavername no fundo do Mar,
com munições do tempo do Gungunhana,
aquela merda estoirou toda fora do previsto,
era Sua Excelência aos berros,
PREGO A FUNDO!...
que ainda apanhamos com algum estilhaço nos palitos!...,
e apanharam,
e não foram poucos,
a raiva popular todos os dias lhes dava com estilhaços nos cornos,
eram ministros das finanças atrás de ministros das finanças,
com as contas públicas no mais vergonhoso descalabro,
E o Cadilhe,
e a pirosa casa do Cadilhe, nas Amoreiras,
e o Borges de Macedo,
parecia um pelicano,
com a queixada a arrastar,
e a Ferreira Leite posta na rua,
porque já nessa altura trocava os zeros todos,


era o PAÍS DOS ZEROS,


dos zeros do Catroga,
dos zeros do Lá Féria,
dos zeros da Beleza e dos irmanastros,
da Beleza velha,
que dava golpadas na secretaria do Ministério da Saúde,
dos zeros da Dona Branca,
dos zeros do Pedro Caldeira,
dos zeros dos poemas de um labrego que era deputado, e fazia rimas à Manel Alegre,
mas ainda mais pobre,
dos zeros dos putos sacados pela noite à Casa Pia, para visitarem Ministros e Embaixadores,

"-- Srª. Dª Maria Cavaco Silva, que pensa da Pedofilia?..."


"-- Credo, que horror,

graças a deus

que essas coisas

não "há-dem" haver nunca

em Portugal!...

Olhe, desculpe

não lhe poder dar mais atenção,

mas estou a ver este programa cultural

do Sr. Nicolau Breyner..."

Dos zeros e da pobreza,
apesar dos 3 orçamentos,
mas como poderia haver orçamentos que resistissem, com tanta mão a ROUBAR!...

ERA SEMPRE NATAL,

MAS SÓ PARA ALGUNS,

Foi-se à urnas e levaram duas carimbadelas
de seguida


"NÃO!...",
nas Legislativas,


e "NÃO!..."
no Cavaco para Presidente,
coitado,
pensava que se branqueava em dez semanas de DEZ ANOS de imundície, pilhagem e regresso à barbárie.
Nem dez anos,
nem cem anos, filho!...,
O problema foi quando o Sócrates te deu a mão,
E te puxou para os poiais de Belém,
Era a dupla-maravilha,
-- Mais a Maria, a fazer publicidade aos “Swatch”,
Que lhe ficavam… “giros”,
Como aquelas chitas em que ela se enrola --,
Um, a fazer, em quatro semestres, dez milhões de vezes pior do que o outro tinha feito em dez mais um ano de ensaios

THE GREAT SOCRATIK

DISASTER!...

Foram todos votar na fraca figura do Zé,
Que fazia falta
eram os pés-descalços todos,
Da Esquerda Caviar
A falar de Revolução,
Mas a Revolução foi pôr a Maria José Morgado a servir de cobertor a tudo o que podia arder,
Mais o marido a aconselhar empréstimos de 400 000 000 de Euros,
Quantia que o cidadão leitor jamias verá,
Mas terá de pagar em seu nome e gerações vindouras,
Grandes cabrões, 60 000 votos a comprometerem nações inteiras

Ó, António,


telefona lá ao teu pai

a dizer que já és

“torrado” e presidente!...


Pai,


já sou chamuça!...,

E as criancinhas a nove euros à hora, fingiam o Ensino de Sucesso,
Mais as velhas de Mafra, que passavam para dar um beijinho a um tal de Sr. Sócrates que diziam que ainda era filho, parece que adoptivo, do Doutor Salazar,
Que grande homem,
Vamos todas votar nele outra vez,
Coitado do homem, só quer é governar,
E vai governar para sempre,
Deixem-no trabalhar,
Nem que seja com maioria simples,
Porque simplesmente maioritário,
Eu seja cego, surdo e mudo,
Qualquer partido do Parlamento imediatamente com ele se coligará,
O CDS, por causas naturais;
O PSD, por coincidências de 500 anos de convergência;
O BE, porque foi criado, mesmo, para essas duras horas de angústia,
E o PC, com o pretexto de os puxar um bocadinho mais para a Esquerda.
A Esquerda,
Em Portugal,
Cu do Mundo,
Chama-se, neste dia aziago,
Hora histórica da nossa Demissão,

BILDERBERG,

E descobriu dois fantoches de cauda presa e rabos de palha,
Para fazer passar o Tratado do Sonho de todos os Hitleres, Estalines e Napoleões: A Alemanha, da Chancela-Fufa, mais a França, de Napoleão IV, e a Inglaterra, céptica, mas de Maddie ao colo,
O sonho de todas as video-vigilâncias,


E Portugal ficará do tamanho do Luxemburgo,
Mas com o peso real de um Mónaco,
mais os seus velhos vícios todos, e a má-consciência, do tamanho de uma desgraça igualíssima às infindáveis estepes da Grande Rússia,

que foi nisso que esta corja nos tornou.

 

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