segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

SÓCRATES: AUTO-RETRATO

Deixou de fumar, começou a fazer jogging, agora corre a meia maratona. A saúde conta. Não é autoritário, nem reservado, nem austero, nem arrogante, é firme. A firmeza vem da vontade, a vontade vem da convicção. É um português que serve. Gosta mais, de resto, de servir o país nos momentos difíceis do que nos momentos fáceis. Não fala, santamente, de sacrifício. Fala, santamente, de missão. É fiel à sua missão e não pretende outra recompensa. Sofre por vir nos jornais; como o outro, não gosta de ser falado. Viveu sempre dividido entre a acção e a contemplação e o pensamento. Há, dentro dele, um permanente paradoxo. A política, no fundo, não passou de uma soma de casualidades. Mas dará sempre o melhor de si. Quem não ficará extasiado com este exemplo?

Um homem de família, um homem simples, que tenta ver os filhos: disciplinadamente. Um homem tolerante. Ouve as críticas. Respeita a opinião alheia e espera que respeitem a dele. Quando não está de acordo, não está: e não esquece que foi escolhido pela maioria do povo para cumprir o melhor para esse povo. Muito obsessivo com o trabalho, não se considera um workaholic. Tem pena de não ler, por falta de tempo. No Verão, lê obsessivamente, impelido talvez pelo seu lado contemplativo e de pensamento. Este Verão, leu três livros, dois livros de história e um romance. Admira Ortega y Gasset, um bom filósofo, que escreve bem. Quanto a poetas, não admira nenhuma personalidade viva, com a presumível excepção de Manuel Alegre, de que retira um indescrito prazer.

Acredita que nada impede Portugal de se tornar um país moderno, competitivo, com uma boa educação e com protecção social. Quer um Portugal aberto e dinâmico. Acha Portugal muito aberto. Reafirma que é de esquerda, como provam a Lei do Aborto e as leis da paridade e da procriação medicamente assistida. Pensa que a perspectiva socialista é a de pôr o Estado ao serviço dos mais pobres. Sabe que ainda existem bolsas de pobreza. Insiste em que os países que controlam o défice são mais livres. Mais democráticos.

Isto o que é? Não é uma pessoa, não é um político, não é um ente reconhecivelmente humano. É uma montagem publicitária: polida, vácua, inócua. O herói de plástico, uma invenção. É José Sócrates, o primeiro-ministro.


Vasco Pulido Valente

Etiquetas:

4 Comments:

At 10 de dezembro de 2007 às 23:28, Anonymous Anónimo said...

Contaram-me - porque eu não li - que, na entrevista ao El Pais, reproduzida esta semana pelo Expresso, o senhor primeiro-ministro menciona que calça sapatinhos Prada. Como é que o mundo sobreviveu até hoje sem saber que o 1º ministro português usa Prada? Na primeira entrevista, Sócrates tropeçava a cada frase numa citação. Nesta, já vamos nos seus reais pés. Espero que, à míngua de ideias, a próxima revele o underwear preferido. A "modernidade", de que Sócrates se reclama, não se contenta com menos.

 
At 10 de dezembro de 2007 às 23:30, Anonymous Anónimo said...

José Sócrates em entrevista ao jornal El País,( citada pela Única do Expresso). Estudada ao pormenor de aparecer fotografado ( por um filho de Pina Moura que trabalha para a Prisa), acompanhando um filho pequeno, vale a pena transcrever:

José Sócrates- Um dos meus autores favoritos é Ortega y Gasset, recordo a impressão que me causou A Rebelião das Massas. Ortega escrevia com muita clareza. Nos anos 30 já dizia que o conceito moderno era o pleno; porque tudo estava pleno de gente, os bares, os teatros...e a consequência era a ascensão da opinião do homem médio. Creio que Ortega defendia que devemos alimentar os que conseguiram que sejamos melhores para acabar com a mediocridade do homem médio".
(...)
El País- Que clássicos portugueses prefere?

J.S.- Camões e Pessoa. Somos um país de poetas, mas uns são melhores do que outros, claro.
(...)
"Tenho uma capacidade crítica muito severa, não me agrada nada fazer figuras ridículas".

Vê-se...

Aliás, José Sócrates, enquanto apreciador esclarecido de Ortega y Gasset, deve ter lido esta passagem do referido livro:

El imperio que sobre la vida pública ejerce hoy la vulgaridad intelectual es acaso el factor de la presente situación más nuevo, menos asimilable a nada del pretérito. Por lo menos en la historia europea hasta la fecha, nunca el vulgo había creído tener "ideas" sobre las cosas. Tenía creencias, tradiciones, experiencias, proverbios, hábitos mentales, pero no se imaginaba en posesión de opiniones teóricas sobre lo que las cosas son o deben ser — por ejemplo, sobre política o sobre literatura. Le parecía bien o mal lo que el político proyectaba y hacía; aportaba o retiraba su adhesión, pero su actitud se reducía a repercutir, positiva o negativamente, la acción creadora de otros. Nunca se le ocurrió oponer a las "ideas" del político otras suyas; ni siquiera juzgar las "ideas" del político desde el tribunal de otras "ideas" que creía poseer. Lo mismo en arte y en los demás órdenes de la vida pública. Una innata conciencia de su limitación, de no estar calificado para teorizar, se lo vedaba completamente. La consecuencia automática de esto era que el vulgo no pensaba, ni de lejos, decidir en casi ninguna de las actividades públicas, que en su mayor parte son de índole teórica.

Hoy, en cambio, el hombre medio tiene las "ideas" más taxativas sobre cuanto acontece y debe acontecer en el universo. Por eso ha perdido el uso de la audición. ¿Para qué oír, si ya tiene dentro cuanto falta? Ya no es sazón de escuchar, sino, al contrario, de juzgar, de sentenciar, de decidir. No hay cuestión de vida pública donde no intervenga, ciego y sordo como es, imponiendo sus "opiniones".

 
At 11 de dezembro de 2007 às 13:19, Anonymous Anónimo said...

O QUE É QUE SÓCRATES TEM EM COMUM COM O PAPA?
São os sapatinhos, mas não é pela cor, é pela preferência de ambos pela marca Prada, amos calçam sapatinhos caros.
Confesso que quando li a entrevista que Sócrates deu ao El Pais não reparei neste pormenor curioso que não escapou aos olhos do jornalista (ou será que Sócrates lhe descriminou as marcas da indumentária), reparei na preferência de Sócrates em matéria de calcantes no Portugal dos Pequeninos.

Como uns sapatinhos da Prada custam mais do que um salário mínimo nacional arrisco-me a sugerir que passem a ser usados como unidade de referência, os vencimentos dos dirigentes e funcionários do Estado poderiam ser expressos em sapatos Prada, assim, o Presidente da República ganharia dez pares de sapatos, o primeiro-ministro assim por diante, etc.
No momento dos aumentos dava-se mais um par de sapatos para Sócrates e como não é possível dividir os sapatos os funcionários do Estado teriam direito a uma lata de graxa no neste Natal ou, se for se for dinheiro a mais, um par de atacadores.

 
At 12 de dezembro de 2007 às 12:25, Anonymous Anónimo said...

Agora imaginem se a entrevista focava engenharia era melhor que ver o Gato fedorento a nivel do comico.
De facto este governo parece saido duma serie Monty Phiton

 

Enviar um comentário

<< Home