terça-feira, 4 de março de 2008

O DESABAFO

1. Não sou certamente a única socialista descontente com os tempos que vivemos e com o actual governo.
Não pertenço a qualquer estrutura nacional e, na secção em que estou inscrita, não reconheço competência à sua presidência para aí debater, discutir, reflectir, apresentar propostas.
Seria um mero ritual.

Em política não há divórcios.
Há afastamentos.
Não me revejo neste partido calado e reverente que não tem, segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao secretário-geral na última comissão política.
Uma parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas como qualquer neoliberal; outra parte outrora ocupada com o debate político e com a acção, ficou esmagada por mais de um milhão de votos nas últimas presidenciais e, sem saber que fazer com tal abundância, continuou na sua individualidade privilegiada.
Outra parte, enfim, recebendo mais ou menos migalhas do poder, sente que ganhou uma maioria absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores, como queiram) no final do mandato.

Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ocasionando críticas ocasionais.

2. Para resolver o défice das contas públicas teria sido necessário adoptar as políticas económicas e sociais e a atitude governativa fechada e arrogante que temos vivido?
Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho?
Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete anos de carreira?
Foi o que aconteceu com os titulares e não titulares, uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje.
E premiar o melhor professor ou professora?
Não é verdade que ninguém é professor sozinho e que são necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?

Teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres?
Criar mais desemprego?
Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional?
Penalizar as pequenas reformas com impostos?
Criar tanto desacerto na justiça?
Confirmar aqueles velhos mitos de que quem paga é sempre o mais pequeno?
Continuar a ser preciso apanhar uma consulta e, não, marcar uma consulta? Ouvir o senhor ministro das Finanças (os exemplos são tantos que é difícil escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que nós não entramos nesses jogos, sendo os tais jogos as negociações salariais e de condições de trabalho entre Governo e sindicatos.
Um jogo?
Pensava eu que era um mecanismo de regulação que fazia parte dos regimes democráticos.


3. Na sua presidência europeia (são seis meses, não se esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se eufórico e diz que somos um país feliz.
Será?
Será que vivemos a Europa como um assunto para especialistas europeus ou como uma questão que nos diz respeito a todos?
Que sabemos nós desta presidência?
Que se fazem muitas reuniões, conferências e declarações, cujos vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais.
O que é afinal o Tratado de Lisboa?
Como se estrutura o poder na Europa?
Quais os centros de decisão?
Que novas cidadanias?
Porque nos continuamos a afastar dos recém-chegados e dos antigos membros da Europa?
Porque ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de poder de compra, na qualidade das prestações dos serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro, etc., etc.) os piores lugares?

Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no limiar da pobreza? Que bom seria se o senhor primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras simples, a importância do Tratado de Lisboa para o bem-estar individual e colectivo dos cidadãos portugueses, económica, social e civicamente.

4. Quando os debates da Assembleia da República são traduzidos em termos futebolísticos, fico muito preocupada.
A propósito do Orçamento do Estado para 2008, ouviu-se:
Quem ganha?
Quem perde?
Que espectáculo!
.
No primeiro debate perdi
, dizia o actual líder do grupo parlamentar do PSD mas no segundo ganhei (mais ou menos assim).
Devolvam os bilhetes..., acrescentava outro líder, este de esquerda.
E o país, onde fica?
Que informação asseguram os deputados aos seus eleitores?
De todos os partidos, aliás.
Obrigada à TV Parlamento; só é pena ser tão maçadora.
Órgão cujo presidente é eleito na Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20 anos de existência.
Criado como um órgão de participação crítica quanto às políticas educativas, os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros.
Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez mais o palácio da bela adormecida (a bela é a participação democrática, claro).
E que dizer do orçamento para a cultura, que se torna ainda menos relevante?
É assim que se investe nas pessoas ou o PS já não considera que as pessoas estão primeiro?


5. Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a substituir as políticas eventuais do PSD (que não sabe, por isso, para que lado se virar).
Quanto mais circo, menos pão.
Diante dos espectáculos oficiais bem orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um bem-estar sem fim que um dia virá (quanto sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer:
Aqui há palhaços
.
E os palhaços somos nós.
As únicas críticas sistemáticas às agressões quotidianas à liberdade de expressão são as do Gato Fedorento.
Já agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os abusos da EDP, empresa pública, que manda o homem do alicate cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor...
Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê?
Somos cidadãos castigados!

O país cansa! Os partidos são necessários à democracia mas temos que ser mais exigentes.
Movimentos cívicos...procuram-se (já há alguns, são precisos mais).
As anedotas e brincadeiras com o olhe que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro não me fazem rir.
Pela liberdade muitos deram a vida.
Pela liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa vontade, o nosso entusiasmo.
Com certeza somos muitos os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias, sobretudo com um governo do Partido Socialista.


Ana Benavente
Professora universitária, militante do PS, ex-secretária de estado do ensino básico de Guterres

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7 Comments:

At 4 de março de 2008 às 19:21, Anonymous Anónimo said...

Valter Lemos, secretário de Estado da Educação, embaraçou o actual Governo pela forma como atacou uma sua antecessora socialista na função, Ana Benavente, que por sua vez tinha considerado que a equipa que dirige o ministério da Educação "não honra o PS".

O embaraço surgiu porque ao disparar sobre Ana Benavente, acabou por atingir, por ricochete, um influente membro do actual Governo, Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, que no tempo de Guterres foi ministro da Educação, tendo precisamente Ana Benavente como sua secretária de Estado. A actuação de Benavente no Governo, disse Valter Lemos, teve como consequência "os piores resultados escolares da Europa".

Manuel Alegre ataca

"Não é normal que um secretário de Estado de um Governo do mesmo partido ataque um anterior secretário de Estado", disse ao DN.
O ex-candidato presidencial achou a atitude "tanto mais estranha quando isso pôs em causa o titular da pasta da Educação da altura, que por acaso é o actual ministro dos Assuntos Parlamentares".

Com que então, os piores resultados da europa, durante um governo socialista, hein?
Não há nada como se zangarem as comadres!...

 
At 4 de março de 2008 às 21:33, Anonymous Anónimo said...

O Professor universitário Vital Moreira, hoje no Público, defende a ministra da Educação, a política do Governo para a Educação no Secundário e ataca os professores que os contestam, em nome dos superiores interesses gerais e abstractos.

“A reforma do ensino público é essencial à sustentabilidade do escola pública, à melhoria do seu desempenho e à correcção dos vergonhosos indicadores nacionais no que respeita ao insucesso escolar e ao défice de qualidade do ensino.
Tínhamos escolas e professores a mais e qualidade e produtividade a menos. A escola funcionava a meio tempo para a generalidade dos alunos e nem sequer proporcionava aulas de substituição no caso da falta de professores. Uma insólita carreira profissional plana fazia prevalecer a antiguidade, e não o mérito, na progressão profissional. Faltava tanto uma genuína avaliação do desempenho como mecanismos elementares de selecção qualitativa dos professores. Um sistema de autogestão no governo das escolas gerava “endogenia administrativa”, défice de autoridade e falta de responsabilidade perante o exterior”.

Assim escreve Vital, para dar conta dos grandes males e dos remédios a tomar agora, com as medidas que aplaude, sem reservas e com o entusiasmo de quem proclama que este governo quer corrigir em quatro anos os erros e omissões de trinta.
Acólitos destes, há poucos.

E valentes!
Nesses trinta anos, inclui, naturalmente aqueles, bem bons, passados nas fileiras daquilo que considera “o radicalismo sindical da Fenprof, instrumento sindical do PCP e que “não deixou margem para nenhum acordo nem nenhuma ponte”.

É esse o requisitório do artigo. Seguído do remédio amargo, bem leninista, para males tamanhos: “no interesse da reforma, a ministra da Educação deve trabalhar para isolar os sectores radicais e conquistar pelo menos a compreensão dos sectores mais moderados.”
Tomem lá - que é democrático.
E ponham-se a pau que o conselho é mesmo para levar à letra.

Vital Moreira, sempre igual a si próprio, também é professor.
De uma Universidade.
Do ensino superior.
Neste grau, os problemas elencados não existem de todo, como é público e notório.
E se existem, poucos falam neles e muito menos quem neles viceja.

Quanto ao problema das escolas e professores a mais, já se sabe que a questão da Moderna, Independente e com professores públicos em turbo-exercicio privado, ou acumulando prebendas honoríficas e pagamento em géneros e espécie, em cargos de relevo social, em instituições públicas e semi-públicas, não é óbice algum ao cumprimento de um horário laboral, de ensino superior.

Se os professores do secundário, dantes, tinham um limite de 22 horas e daí para baixo até chegar ao zero, os professores de universidade, nunca tiveram problemas desses.
22 horas por semana?
Para quem?
Para os escravos dos contratos a prazo ou em serviço de recibo verde?
Isto para Vital Moreira, não é problema sério.
A sério, só mesmo os professores secundários que tinham uma escola a funcionar “ a meio tempo”.

Na faculdade de Direito de Coimbra, onde o professor parece que exerce o ensino, problemas destes não existem.
Até se trabalha à Sexta-feira à noite e ao Sábado de manhã, para arredondar contas de associações de direito privado, sem fins lucrativos e que prestam contas a elas mesmas e em protocolo, aos conselhos científicos de que fazem parte alguns associados.

Isto, comparado como que se passa no ensino secundário, são amendoins.
Peanuts.
Ninharias.

Depois, outro problema grave elencado, é o sistema de autogestão no governo das escolas secundárias que gerava “endogamia administrativa”.
A autonomia do secundário, negada por causa das endogamias, é sempre reivindicada para o superior interesse universitário.
Aí, sim!
A plena autonomia, até financeira, e o autogoverno, em vez de permitirem a “endogamia administrativa”, permitem muito singelamente, a verdadeira endogamia: a dos lugares no ensino, agora mais do que nunca cobiçados como tábua de salvação do desemprego certo.
Filhos de pais, sabem sempre ensinar.
Sobrinhos idem e até primos e outros familiares e amigalhaços, que podem entrar no sistema, em endogamia, essa sim, genuína e desavergonhada.

A autoridade professoral e a responsabilidade perante o exterior, ficam asseguradas, para o secundário e, segundo Vital, com estas excelentes medidas de novos critérios de gestão.
Que servem para o secundário, se funcionarem bem, o que é duvidoso, mas nunca por nunca serviriam para o superior.
Os altos interesses são outra coisa.

Assim, a autoridade professoral, advém muito naturalmente da total ausência de controlo externo ou até mesmo interno, no que se refere à essência pedagógica e à qualidade intrínseca do ensino.
Breve, os professores universitários, fazem o que bem querem e sobra-lhes o tempo para isso.
Ninguém os vai questionar sobre a sua competência, já assegurada previamente, aquando da admissão. Ninguém os vai avaliar novamente, analisando as suas manias e taras. Ninguém os irá incomodar minimamente, através de queixas ao reitor ou ao conselho científico ou pedagógico, enquanto os mesmos não cometerem o crime mais grave que podem cometer e que nem vem no Código Penal: o de lesa-majestade, perante os superiores interesses da Universidade, dirigida pelos pares, uma pouco mais acima.

É sempre assim: quem vê argueiros alheios, está sempre alheado das traves que o cercam.

Para o Secundário, tem uma ministra corajosa, que não cede, em nome do bem público.
Para o Superior, basta-lhes um Gago.

 
At 4 de março de 2008 às 21:45, Anonymous Anónimo said...

“Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar”

Dia 8 de Março lá estarei em Lisboa, na primeira manisfestação da minha vida.

 
At 5 de março de 2008 às 23:25, Anonymous Anónimo said...

A revolta dos professores

Os docentes não suportam mais a indignidade com que têm sido tratados

Há evidências incontestáveis: as manifestações dos professores um pouco por todo o país (Viseu, Guarda, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Portalegre, Setúbal e Faro), que culminarão com a anunciada marcha de 8 de Março, expressam a revolta dos docentes, que não suportam mais a indignidade com que têm sido tratados.

Sinistramente, primeiro-ministro, ministra da Educação e secretários de Estado começaram por incendiar a sociedade contra os professores. Entre outras, propalaram falsas ideias (que nesta coluna desmenti, com recurso a estatísticas da UE), segundo as quais os professores teriam fartos privilégios, ganhando mais que os colegas europeus e trabalhando menos que eles, apesar de serem (assim insinuaram) os responsáveis principais pelos elevados níveis de abandono e de insucesso escolar que caracterizam o sistema de ensino. Depois, seguiram-se as previsíveis medidas “moralizadoras” das quais recordamos três:
1. O horário de trabalho dos professores foi drasticamente aumentado. A incontinência legislativa deste governo inundou as escolas de decretos, portarias, despachos e circulares, que tornaram a vida dos professores num inferno de cumprimentos burocráticos inúteis. As alterações das reduções de tempo de serviço em função da idade e da própria idade de reforma, como é sabido, tornaram mais penoso o exercício profissional em contextos de maior debilidade física. Escravizaram-se muitos professores, obrigando-os a permanecer nas escolas sem condições nem motivo (a farsa e a desumanidade de muitas “aulas de substituição”) e vergaram-se muitos outros a exercícios profissionais próprios de auxiliares ou de amanuenses. Quem resista fisicamente e queira cumprir, pode ter que trabalhar hoje mais de 50 horas por semana. Como contrapartida, reduziram administrativamente os salários e aprestam-se agora a “depurar” o sistema, recambiando para o quadro dos disponíveis, com as desumanas consequências inerentes, os professores doentes, que consagraram vidas inteiras à Escola e ao ensino.
2. A fractura da carreira única em duas, com a emergência dos professores titulares, foi servida por um processo escabroso. É impossível descrever ao cidadão comum o quadro de injustiças cometidas. A insanidade que queimou carreiras e dedicações de vidas à aleatoriedade dos últimos sete anos, provocou chagas incicatrizáveis no tecido social das escolas. É simplesmente insuportável que um estalar de dedos ministeriais ponha à frente dos melhores muitos dos menos preparados, dos menos formados, dos menos experientes, dos menos competentes.
3. O modelo de avaliação do desempenho que se quer impor é insensato e irresponsável: como compreender que se seja penalizado por parir ou ficar viúvo? É tecnicamente medíocre: a formulação de descritores, por exemplo, entrou em roda-viva de apressados improvisos (vide o escabroso caso debatido na Assembleia da República), quando a validade de qualquer deles passaria obrigatoriamente por exercícios de pré-testagem, que não estão previstos. É leviano nos prazos que impõe: é factualmente impossível cumprir um digrama de execução daqueles em coincidência com o período de maior concentração de tarefas escolares. É fantasioso numa sujeição a emanações teóricas e científicas de órgãos que, previstos, nunca foram constituídos: onde está o decantado conselho científico? Está eivado de critérios ridiculamente subjectivos: como se mede a relação de um professor com a comunidade?
Num debate televisivo recente, a ministra ripostou a uma interveniente que não interessavam as pessoas mas sim as políticas. Enganou-se. São as pessoas que definem as políticas. E quando na defesa dessas políticas permitem que se crie o ambiente que hoje se vive, transformando as suas relações com a sociedade que governam num caso continuado de tribunal, só sobra uma solução: a saída dessas pessoas.

Santana Castilho,
Professor do ensino superior

 
At 5 de março de 2008 às 23:30, Anonymous Anónimo said...

É o ponto de não retorno.
José Sócrates percebe que chegou ao fim da estrada.
A manifestação do próximo sábado em Lisboa, não vai ser mais uma manifestação de professores.
Vai ser o buzinão de José Sócrates. O estado de graça já tinha chegado, depois do estado da desgraça.
A hora é de finados e nem um comício de desespero de apoio ao falhado presidente do conselho de ministros irá retomar o fôlego da governação.

 
At 6 de março de 2008 às 22:23, Anonymous Anónimo said...

Caríssimas colegas
Caríssimos colegas

Antes de mais, os meus mais sinceros parabéns pela organizacão do vosso movimento. Já há bastante tempo que temia ver os professores em Portugal e os professores portugueses no estrangeiro perto de cair num marasmo inoperacional relativamente às prepotências, injustiças,ilegalidades, indecências, etc,etc,etc, do nosso Ministério da Educação. Estou satisfeitíssima por ver que tal não é verdade, pelo menos no que respeita aos docentes em Portugal.
Os professores portugueses no estrangeiro encontram-se, a meu ver, ainda num estado de inacção que me custa compreender, apesar de desde 1998 terem sidpenalizados de todos os modos possíveis pelo ME, a título de uma falaciosa e irreal “poupança.l

Sou, desde 1982, professora de Língua e Cultura Portuguesas no Estrangeiro, e pertenço ao QND da Escola B 2,3 Mestre Domingos Saraiva no Algueirão.
Tenho sido sempre activa sindicalmente,encontrando-me no momento na Direcção do SPCL (Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas).

Conheço bem os sistemas de ensino da Alemanha e da Suíça, os dois países em que trabalhei longos anos.

Por isso, envio-vos aqui várias informações sobre os docentes e o ensino nos dois países, informações estas que poderão usar do modo que vos for mais útil, e onde poderão ver que os professores mais explorados da Europa, são, sem sombra de dúvida, os docentes portugueses.

Alemanha

Avaliação dos docentes

Têm, de 6 em 6 anos, uma aula ( 45 minutos) assistida pelo chefe da Direcção escolar. Essa assistência tem como objectivo a subida de escalão.
Depois de atingido o topo da carreira, acabaram-se as assistências e não existe mais nenhuma avaliação.
Não existe nada semelhante ao nosso professor titular. Sempre gostava de saber onde foi o ME buscar tal ideia. Existem, claro, quadros de escola.
Não existe diferença entre horas lectivas e não lectivas. Os horários completos variam entre 25 e 28 horas semanais.
As reuniões para efeito de avaliação dos alunos têm lugar durante o tempo de funcionamento escolar normal,nunca durante o período de férias. Sempre achei um pouco preverso os meninos irem de férias e os professores ficarem a fazer reuniões…
Tanto na Alemanha como na Suíça, França e Luxemburgo, durante os períodos de férias as escolas encontram-se encerradas! Encerradas para todos, alunos, pais, professores e pessoal de Secretaria! Os alunos e os professores têm exactamente o mesmo tempo de férias. Não existe essa dicotomia idiota entre interrupções lectivas, férias, etc.
As escolas não são centros de recreio nem servem para “guardar” os alunos enquanto os pais estão a trabalhar.
Nas escolas de Ensino Primário as aulas vão das 8.00 às 13 ou 14 horas.
Nos outros níveis começam às 8 .00 ou 8.30 e terminam às 16.00 ou, a partir do 10° ano,às 17.00.
Total de dias de férias por ano lectivo : cerca de 80 ( pode haver ligeiras diferenças de estado para estado)
Alunos

Claro que existem problemas de disciplina. Mas é inaudito os alunos , ou os pais dos mesmos, agredirem os professores. A agressão física de um professor por um aluno pode levar à expulsão do último.
Os trabalhos de casa existem e são para serem feitos. Absolutamente inconcebível que um encarregado de educação declare que o seu filho/filha não tem nada que fazer trabalhos de casa, como acontece, ao que sei, em Portugal.
É terminantemente proibido os alunos terem os telemóveis ligados e utilizarem-nos durante as aulas. As penas para tal são primeiro aviso aos pais, depois confiscação do telemóvel e por fim multa.

Suíça

Tal como na Alemanha, os professores só são assistidos durante o período de formação e para subida de escalão.
Durante os períodos de férias as escolas encontram-se, como na Alemanha, encerradas.
Os horários escolares são semelhantes aos da Alemanha. Até ao 4° ano de escolaridade, inclusive, não há aulas de tarde às quartas-feiras, terminam cerca das 11.30.
No início das aulas os alunos cumprimentam o professor apertando-lhe a mão e despedem-se do mesmo modo. Claro que não há 28 ou 30 alunos numa classe, mas no máximo 22.
O telemóvel tem de estar desligado durante as aulas.É dada grande importância aos trabalhos de casa. A não apresentação dos mesmos implica descida de nota final.
Total de dias de férias : cerca de 72 ( pode haver diferenças de cantão para cantão) .
Vencimentos
Só uma pequena comparação … na Suíça um professor do pré- primário no topo da carreira recebe 5.200 francos mensais líquidos ( cerca de 3.400 euros),mais ou menos o dobro do que vence um professor em Portugal no topo da carreira…..

Caras / Caros colegas:

Espero não ter abusado da vossa paciência com a minha exposição. Porém, acho que ficou claro que, se o ensino em Portugal se encontra em péssimo

estado, a culpa não é dos professores, mas sim de um ME vendido aos empresários, que tem como objective actual a quase extinção da escola pública, para que a mesma produza analfabetos funcionais, que trabalharão sem caixa médica e sem subsídio de férias , porque nem sabem o que isso é, e se souberem, não poderão reclamar porque não saberão escrever uma carta em termos…. Isto para não mencionar as massas que se entregarão à criminalidade, prostituição, etc.

Um grande abraço para todas /todos da colega

Teresa Soares

 
At 7 de março de 2008 às 23:22, Anonymous Anónimo said...

O professor Vital Moreira, também blogger no causa nossa, lamenta-se por causa das reacções de comentadores ao seu último artigo no Público, sobre a política educativa deste Governo e da contestação à mesma, pelos professores.
Refere que a maior parte dos comentadores discorda do escrito, tendo algumas das mensagens de resposta ao mesmo, sido "insultuosas e mal-criadas" ( sic).
Acha que a única crítica com alguma validade de apreciação- as outras ficam a caracterizar os malcriados- seria à afirmação no sentido de que "o protesto visa defender os seus "interesses profissionais".
Está enganado, mais uma vez.
A crítica que lhe fazem, incluindo também os habituais "mabecos" da escrita em blog, não tem a ver com a honestidade de uma posição intelectual, susceptível de discussão.
Tem essencialmente a ver, com a sua posição de defensor, por vezes à outrance, das posições do poder político actual, executivo, onde está representado de modo directo e familiar. Tem a ver com a defesa de opções políticas concretas que não fundamenta devidamente, senão através de postais simples de ideias feitas e afirmações correntes, tidas como indiscutíveis e evidentes e por vezes contrárias às evidências ( caso do referendo, perdão, não referendo ao Tratado europeu) .
Os artigos no Público, arrazoam por vezes, em complemento de ideias consabidas e já colocadas em postaizinhos de duas frases.
Tudo isto seria irrelevante, caso Vital Moreira fosse um comentador anónimo ou com credibilidade diminuída, como é o caso patente da sua companheira de escrita, no blog em causa.
É por isso que Vital Moreira pode dar-se ao luxo do insulto subtil ou ainda da grosseria escondida. É também por isso que faz por ignorar os "mabecos" do costume que lhe "tentam morder as canelas".
Se Vital fosse anónimo, mesmo com nome próprio como é um avatar que anda por aí, a escrever em blogs, nada disto contava e ninguém lhe passava charuto.
Mas não é o caso. Por força da sua posição política de força, prestigiada pela ocupação de cargos públicos e currículo político, Vital Moreira erige-se como núncio de medidas e programas de governo e ao mesmo tempo acólito fervoroso das mesmas medidas e remédios para os males que configura como indiscutíveis. Dá conselhos directos a governantes. Dá palpites de estratégia e táctica. Recebe convites para assistir a conferências de gente importante. Dá palpites privados, certamente ouvidos, sendo membro de associações de carácter privado com relevância pública ( CEDIPRE).
Participa ou participou ( continuará no Conselho Geral e de Supervisão da EDP?) em corpos sociais de empresas públicas e dá pareceres consultivos em hospitais públicos ( de Coimbra); é solicitado para dar ( vender?) pareceres ao Governo sobre matérias de governação.
Enfim, é uma figura pública que escreve o que escreve, colocando-se acima da turba e neste caso, afrontando os professores do ensino Secundário, como afrontou outros profissionais de outros ofícios, sem assumir plenamente a sua condição de classe, a não ser a de apaniguado do poder, para tentar perceber a razão profunda de tão grande mal-estar.
Vital Moreira, é um guerreiro político. Não um menino, mas um maduro que não medrou democraticamente. Vital Moreira, conseguiria sobreviver numa ditadura qualquer, desde que lhe fosse próxima ideologicamente. Conseguiria arranjar argumentos para a defender com unhas e dentes metafóricos, tal como já fez no passado.
O caso do professor Vital, é por isso, um caso pessoal. Não deve estranhar que as críticas que lhe fazem, sejam também ad hominem. E que diferem das críticas ad persona, embora por vezes, perigosamente andem lá perto. Neste caso, porém, quando sucedem, sibi imputet. Vital Moreira, põe-se demasiadas vezes a jeito para o efeito. Responde à letra, com luvas contundentes.
E a mediocridade do actual poder político governativo, dá-lhe ampla rédea, agora segura pelo mesmo, porque o cavalga pelo lado da influência de facto, para se postar como cavaleiro andante da dama desse poder.
Quem escreve contra o que Vital Moreira escreve, do modo que o indivíduo não gosta, trata-o, afinal, como ele trata sempre os adversários: com amplo desprezo crítico. As palavras podem ser mais melífluas ou mais adocicadas, mas o espírito, esse, é patente e notório: Vital Moreira não tem qualquer respeito por ideias alheias que lhe tirem o tapete confortável que anda a ajudar a tecer e que tem essencialmente a ver com uma única coisa: poder de mandar nos outros, segundo as ideias próprias, sem legitimidade directa, para tal.
Quem não entender isto, a meu ver, não entende os escritos de Vital Moreira. E é essencialmente por isso que lhe presto tanta atenção.

 

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