HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Etiquetas: Democracia, Esquerda, Liberdade
15 Comments:
Esquerda? A esquerda está no Governo. Hoje é esquerda por todo o lado: no Governo e na oposição. Já é altura de alguém dizer NÃO!
O José Sócrates e Taveira Pinto são de esquerda?
Eu sou abade da paróquia do condado da Torre.
O 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 ficaram para sempre associados ao imaginário da liberdade e da democracia. Continuam a ser uma referência e uma inspiração. Trinta e quatro anos volvidos, apesar do muito que Portugal mudou, o ambiente não é propriamente de festa. Novas e gritantes desigualdades, cerca de dois milhões de portugueses em risco de pobreza, aumento do desemprego e da precariedade, deficiências em serviços públicos essenciais, como na saúde e na educação. Os rendimentos dos 20 por cento que têm mais são sete vezes superiores aos dos 20 por cento que têm menos.
A corrupção e a promiscuidade entre diferentes poderes criaram no país um clima de suspeição que mina a confiança no Estado democrático.
Numa democracia moderna, os direitos políticos são inseparáveis dos direitos sociais. Se estes recuam, a democracia fica diminuída. O grande défice português é o défice social, um défice de confiança e de esperança.
O compromisso do 25 de Abril exige que se restaurem as metas sociais consagradas na Constituição da República. E exige também uma crescente cidadania contra a insegurança, contra as desigualdades, por mais e melhor democracia.
Não podemos, por outro lado, ignorar a persistência de uma política de agressão, bem como as repetidas violações do direito internacional e dos direitos humanos. Bagdad, Abu-Ghraib e Guantánamo são os novos símbolos da vergonha. Não se constrói a paz com a guerra. Nem se defende a democracia pondo em causa os seus princípios. E por isso, hoje como ontem, é preciso lutar pelos valores da Paz e pelos Direitos Humanos.
Não nos resignamos perante as dificuldades. Como escreveu Miguel Torga – “Temos nas nossas mãos / o terrível poder de recusar.” Mas também o poder de afirmar e de dar vida à democracia.
Os que nos juntamos neste apelo, vindos de sensibilidades e experiências diferentes, partilhamos os valores essenciais da esquerda em nome dessa exigência. É tempo de buscar os diálogos abertos e o sentido de responsabilidade democrática que têm de se impor contra o pensamento único, a injustiça e a desigualdade.
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Manuel Alegre: "Portugueses sofrem porque votaram PS"
Nunca precisei de pedir licença a ninguém para estar onde estou. E, hoje, apetece-me estar aqui!" Foi desta forma que o deputado socialista Manuel Alegre terminou o seu discurso no comício festa "Abril Maio, Agora Aqui".
Um comício-festa que se realizou ontem à noite no Teatro da Trindade, em Lisboa, com o objectivo de denunciar as "desigualdades gritantes que existem na sociedade portuguesa" e que corporizou um manifesto já subscrito por diversas personalidades da Esquerda portuguesa, desde bloquistas, socialistas a "renovadores" do PCP e outras esquerdas independentes. Naquele que foi o discurso mais esperado da noite, Manuel Alegre explicou que o comício-festa mais não foi do que um "acto cultural com contornos políticos" e que o que uniu todos os presentes foi "a preocupação, inquietação e solidariedade para com todos os portugueses que passam momentos difíceis porque votaram nos socialistas". Foi também a forma que este histórico do PS encontrou para responder aos seus companheiros de partido, nomeadamente Vitalino Canas e António Vitorino, que o criticaram por participar num evento que consideram ter sido organizado pelo Bloco de Esquerda para atacar as políticas do Governo. Neste comício-festa marcaram presença nomes da Esquerda portuguesa tão diferentes como os de Helena Roseta, Francisco Louçã, Miguel Portas, Mário Tomé, o ex-tarrafalista Edmundo Pedro, o general Alfredo Assunção (que foi braço direito de Salgueiro Maia), Alípio de Freitas (antigo companheiro de Zeca Afonso) e José Neves, um dos fundadores do PS. Os 490 lugares sentados do teatro Trindade foram escassos para todos quantos queriam assistir ao vivo ao evento - no qual discursaram também o deputado José Soeiro e a professora universitária Isabel Allegro Magalhães -, o que gerou alguns protestos, com algumas pessoas a exibirem os cartões do PS. Como alternativa, foi montado um écrã gigante no espaço Chiado, onde a festa pôde ser acompanhada em directo via internet. Antes dos discursos, houve um momento musical a cargo do vocalista dos UHF, António Manuel Ribeiro, e dos Rádio Macau, que receberam uma grande ovação quando cantaram "Quando uma rosa morre (outra nasce em seu lugar)".
No:Jornal de Notícias
"A minha lealdade é para com os que passam momentos difíceis"
Manuel Alegre
Alegre triunfou no comício das esquerdas. Bloquistas, renovadores, comunistas e vários socialistas aplaudiram o discurso do deputado «contra o capitalismo». Alegre atacou o Governo, deu resposta aos dirigentes do PS e, à margem da sua intervenção, prometeu que no futuro vai «encher muito mais salas e as ruas»
O mesmo Manuel Alegre que tinha dividido os partidos da esquerda nas presidenciais foi aclamado por toda a direcção do BE, por comunistas renovadores e pelo ‘povo de Abril’ que encheu duas vezes o Teatro da Trindade.
Metade ficou na rua ou numa sala em que seguiu por um écran o comício-festa «Aqui e Agora», que no início de Junho comemorou «Abril e Maio» e deixou o PS em sobressalto. «Nunca 500 pessoas incomodaram tanta gente», brincaria o vocalista dos UHF, António Manuel Ribeiro, que actuou antes dos discursos.
Alegre foi o último a subir ao palco, mas antes seria entrevistado pelas televisões, num insólito momento, durante um «intervalo técnico» no comício-festa. Era ele o protagonista da noite e desde o começo não defraudou a audiência.
«Estamos a quebrar um tabu: o de que as esquerdas não podem reunir-se», disse, suscitando os aplausos iniciais. Contra «o que é ditado pelos bem-pensantes», Alegre mandou o primeiro recado: «Estamos a mostrar que podemos estar com quem quisermos».
Os destinatários foram os dirigentes do PS que haviam comparado a comparência de Alegre num comício da Oposição de Esquerda ao Governo com um acto de traição.
Afirmando que não tem «uma agenda escondida», lembrou os portugueses que vivem na pobreza e no desemprego, devido às políticas neo-liberais e desafiou:
«A minha lealdade é com esses portugueses que passam momentos difíceis que votaram socialista e agora estão desempregados». A sala levantou-se para ovacionar o deputado do PS.
Alegre demarcou «a fronteira entre a esquerda e a direita». Para quem é de esquerda «A pobreza não é uma fatalidade nem é culpa dos pobres».
«As contas públicas foram consolidadas e o que mudou na vida das pessoas?», questionou, para depois eleger o «défice social» como o que interessa combater.
Na parte mais ideológica da intervenção, Alegre disse que o sentido da iniciativa era o de «dizer essas palavras» como «esquerda» e «socialismo» que não podiam ser proibidas. E, em jeito de manifesto, proclamou: «Contra o capitalismo! De novo o socialismo, contra a Direita!»
Alegre fez a defesa do Estado social e intervencionista, apoiou os funcionários públicos e os professores e disse que o neo-liberalismo «é uma escolha ideológica» ditada pelo FMI e pela UE. «A História não acabou».
Feito o diagnóstico, passou aos objectivos para o futuro. «É tempo de somar Esquerda à Esquerda». Esse é «um caminho» para ser feito «custe a quem custar, doa a quem doer», desafiou.
No caso de a direcção do PS ainda não ter entendido, rematou: «Nunca precisei de pedir licença a ninguém para estar com quem me apetece estar». Foi a apoteose final, com Alegre aplaudido de pé.
A festa de quase
toda a Esquerda
Se no Teatro da Trindade esteve representada quase toda a esquerda (a nomenclatura do PCP não foi convidada), era evidente a presença massiva dos dirigentes do BE.
Francisco Louçã, na primeira fila da plateia, Miguel Portas, Fernando Rosas, Helena Pinto, Ana Drago e quase toda Comissão Política bloquista marcaram presença. O BE era também o organizador do comício-festa: os seus assessores asseguraram a logística.
Coube ao deputado José Soeiro ser o primeiro orador da noite. Num discurso sobre a pobreza e a precariedade, deu como exemplo das injustiças das políticas neo-liberais a situação de Madalena, uma empregada de limpeza do Banco Millenium BCP.
«Não trabalha para o BCP, mas como temporária numa empresa de limpezas. Ganha 2,42 euros à hora. É verdade, no mesmo banco que desbaratou milhões em prémios milionários para premiar a evasão fiscal», disse, exibindo um recibo de ordenado.
O deputado do BE, com 23 anos, era aliás um dos mais jovens na sala. Uma boa parte da assistência tinha idade para ter festejado todos os 34 aniversários do 25 de Abril e do 1.º de Maio, o pretexto afinal para a festa.
O socialista José Leitão, a autarca Helena Roseta (ex-PS), o tarrafalista Edmundo Pedro, o capitão de Abril José Luís Cardoso, os comunistas renovadores Paulo Fidalgo, Paulo Sucena, o vereador eleito pelo BE José Sá Fernandes foram outras figuras no Teatro da Trindade.
Uma presença notada foi a do ex-presidente da câmara de Setúbal Carlos Sousa, afastado do lugar pelo PCP.
Uma frente de esquerda que promete novas iniciativas. Manuel Alegre, depois do discurso, foi cumprimentar os que tinham seguido as suas palavras por vídeo, noutra sala, assegurando que no futuro iriam «encher juntos muito mais salas e as ruas».
SOL
Ontem, Manuel Alegre deu mais um exemplo do que é verticalidade e honradez. Demonstrou que é o único cidadão em Portugal capaz de lançar com sucesso um movimento regenerador da acção política, mobilizador de esperanças, forças e vontades, e capaz de enfrentar a "crise" sem destruir a vida das pessoas! Desesperam os situacionistas e os que querem "quanto pior melhor". Ainda bem que desesperam! Vi na televisão um ex-alegrista rendido ao socratismo, agora ministro, atacar o Manuel Alegre. Os traidores de consciência vendida enojam-me sempre e, por isso, exultei com o seu desespero!
Manuel Alegre, que não te falte a força e a voz, que se somem os apoios e adesões e que leves a tua missão até ao fim, é o que desejo! ESTOU CONTIGO!
Sala completamente cheia.
Outra sala, noutro lugar, com um ecrã gigante a transmitir o comício, também cheia. E muita gente na rua sem poder entrar. Muitos militantes do PS e do Bloco de Esquerda juntos.
Um excelente discurso do deputado José Soeiro.
E um discurso mais contundente do que esperava de Manuel Alegre.
Um comício inédito e um sério aviso a Sócrates.
Devemos, ainda assim, um agradecimento a Vitalino Canas, um dos principais divulgadores desta iniciativa.
Ligo a televisão na SIC Notícias e vejo Miguel Urbano Rodrigues percorrer o mundo das maldades acabando por parar em Cuba, onde viveu quinze anos de quase felicidade. Diz-nos que, ao contrário do que sucede na Europa, todos encontram no desconhecido com que se cruzam um potencial amigo. Provavelmente nunca manifestou solidariedade com que eram presos por não encontrarem em Cuba a felicidade que ele viu, senão perceberia que esses receiam que cada desconhecido com que se cruzam é um potencial delactor ou polícia à civil. No seu mundo não existe Pol Pot, gulags, Coreia do Norte, e o melhor que nos tem para sugerir é o chavismo.
Mudo para outro canal e aparece-me Manuela Alegre a dizer que é possuidor de uma golden share da democracia portuguesa porque a Pide lhe deu uns tabefes antes de ir para Argel, um discurso para velhos já que as gerações mais dinâmicas da sociedade portuguesa, os que nasceram depois de meados dos anos 50 têm acções sem direito a voto na democracia que, pelos vistos, devemos e temos de agradecer a Manuel Alegre. E o que tem Manuel Alegre mais alguns ofendidos por não estarem no governo para propor ao país? Meia dúzia de banalidades ditas com voz poéticas, que temos de ter ideias novas, novos projectos, bla, bla, bla. Só que aquilo que vou ouvindo não passa do modelo de capitalismo paternalista do corporativismo devidamente recauchutado por Abril.
Pouco depois fico a saber que Manuela Ferreira Leite, uma avó tardia que se desdobra entre o PSD e o neto recém-nascido, lá conseguiu adiar a escolha do novo líder parlamentar do PSD, enquanto garante que a sua prioridade é a oposição a Sócrates, como se pudesse ser outra coisa estando o seu partido na oposição. Quanto a ideias novas já sabemos, é a preocupação com os pobres, ao que parece uma matriz do seu PSD porque de alguma coisa serve a designação de sociais-democratas escolhida por esta herdeira da ala liberal, mesmo que essa designação lhe fique tão bem como o casado de inverno que usou na apresentação da candidatura e no discurso de vitória.
Preocupado também com os pobres está Mário Soares mais um “mais velho” deste país, que não dispensa a sua função paternalista sobre a sociedade portuguesa, já mais não pode fazer já que outro velhote cá do sítio ficou-lhe com o Palácio de Belém.
Enquanto o país exclui os mais jovens por não confiar neles, porque prefere tentar repetir o passado em vez de arriscar no futuro, porque opta por défice públicos a pagar pelas novas gerações em vez de lhes dar uma oportunidade, resta-me as notícias as notícias do estrangeiro. Enquanto cá os septuagenários não desgrudam do poder o Partido Democrata dos EUA, vai apostar num jovem que por cá estaria destinado a andar armado em verde-eufémio ou tentando pedinchar o lugar de assessor de um qualquer obscuro secretário de Estado.
É assim a geriocracia à portuguesa, estamos condenados a modelos e conceitos dos anos 60 para evitarmos os problemas do século XXI, porque uma geração que falho se recusa a abandonar o teatro do poder.
Não era a reunião do sótão do Guterres revisitada. Foi a sessão cultural ( palavra-passe) para entrar num chat anti-Sócrates. Há na verdade muita gente farta de um partido socialista mais carrasco do que qualquer neo-liberal da Lapa. O povo está falido mas a classe média também.
Os que estavam no Teatro da Trindade são a consciência alerta, os avançados, os que podem fazer-se ouvir e falar por aqueles que penam no silêncio.
Esta mistura de Alegre com bloquistas e tarrafalistas ( ouvi este nome pela primeira vez) é original e se for avante vai fazer muita mossa nos socristas, aqueles para quem os eleitores são uns clientes que importa servir com marketing e muita mentira.
Ainda hoje ouvi o ministro das finanças dizer debaixo do seu casaco demasiado largo para o seu tamanho, que o governo ia tomar medidas para ajudar os pobres. Quem precisa de ajuda é a classe média e quem precisa de medidas é a classe muito alta, aqueles que usufruem rendimentos livres de impostos e que correspondem a uma minoria que factura mais que muitos milhares de trabalhadores. O que é preciso é acabar com os que ganham muito ( mesmo muito) e fazer subir os que ganham 500 euros e manter o nível de consumo da classe média ( motor da sociedade).
Alegre fez um discurso profundo e que retratou bem a sociedade actual, as frustrações de quem votou socialista e que hoje não tem opção. Ou vota liberal ou vota neo-liberal ou vota na esquerda festiva. E que quando está no poder se comporta como o demonstra o BE na Câmara de Lisboa.
Não sei se depois desta noitada de esquerda Sócrates vai dormir descansado. Eu vou.
... para deixar transida de medo a corja, que a reboque do partido "socialista" governa o rectângulo.
bastou um Homem para que a corja "socialista" percebesse que nas próximas eleições, para além de perder a maioria absoluta pode vir a sofrer uma verdadeira banhada em termos de votos.
por isso é tempo para que a esquerda, as esquerdas - as que em nada contribuiram para a actual situação de miséria que os cidadãos do rectângulo vivem - se unam e façam desaparecer a corja. a corja "socialista e a corja cavaco -leitista (ou será cavaco-leiteira?).
se um só Homem os faz tremer de medo, imaginem os resultados que se conseguirão se, todos nós, as esquerdas unidas se juntarem e derrotarem os parasitas, incompetentes e corruptos que (se) têm governado...
manuel alegre deu o mote.
agora, cabe-nos continuar e ampliar a luta!
força, manuel alegre!
força, para cada um de nós!
O consultor das fundações Oriente, Aga Khan Portugal, Stanley Ho, da comunidade Bocha-sanwasi Shri Akshar Purushottamni Sanstha e do governo de Cabo Verde, provedor do trabalho temporário e porta-voz e deputado do PS, Vitalino Canas, disse hoje que o comício em que participou ontem o deputado socialista Manuel Alegre "foi uma realização crítica ao PS e ao Governo" sem propostas alternativas para combater a pobreza e a desigualdade. Não era e não foi essa a finalidade do comício-festa que se realizou ontem no Teatro da Trindade. Mas Vitalino Canas, a quem a organização do comício deve um agradecimento público pela sua contribuição decisiva para a projecção mediática que o evento obteve, não quis deixar de realçar o incómodo que este causou num partido que, bem instalado no poder, nega uma realidade que bate à porta de milhões de portugueses e assiste ao crescimento de uma alternativa num espaço político que há muito abandonou: a esquerda. Uma esquerda que existe, que resiste, que se galvaniza em torno de uma esperança que renasce à medida que cresce a consciência de que existe uma alternativa.
Tal como o título do poema "Há sempre alguém que diz não" está na hora de dizer não. Não ao estado deplorável a que chegou a a política de hoje, onde não se sabe exactamente qual o partido que governa. É de Esquerda? É de direita? É do Centro?
Não é por acaso que os partidos do centro direita e direita têm dificuldade em apontar alternativas. Elas já estão a ser implementadas. O que irão eles fazer quando chegarem ao governo. Porque vão lá chegar!
A não ser estas manifestações, como as que acabámos de assistir, consigam ganhar consciência e capacidade critica para se automobilizarem e fazer renascer algo de novo no quadrante político português. Espaço há, assim haja vontade.
Depois de Canas, o sr. Lello. O sr. Lello, que agora é das "relações internacionais" do PS - como é que um partido com as responsabilidades do PS não tem vergonha de apresentar pessoas como o sr. Lello fora de portas? -, também veio "malhar" em Alegre. Com um argumento de merceeiro. O PS pagou a viagem a Alegre para ir aos Açores, logo o deputado não pode andar por aí a falar por si e, muito menos, em "ética", alegou Lello. Mentira, disse o PS dos Açores. Foi o governo regional que pagou a coisa para o bardo lançar um livro e tudo coincidiu com as "jornadas parlamentares" da seita. Não simpatizo com Alegre. Mas ao pé destes anões, Alegre parece-me um gigante.
O ex-dirigente desportivo do clube de Valentim Loureiro, engenheiro José Lello, acusou Manuel Alegre de «parasitar o grupo parlamentar» do PS, viajando às suas custas para lançar um livro nos Açores. O Governo Regional dos Açores, insuspeito de simpatias com a oposição, já desmentiu, dizendo que Alegre foi aos Açores convidado pela direcção regional de Cultura e foi ela que pagou as despesas. Não é segredo que estou longe de ser um fã de Alegre. Mas quando entram no debate político os lellos desta vida há que montar o cordão sanitário. Se, como dizia o senhor, «na política é necessário haver rectidão e hombridade», talvez seja altura do PS começar a esconder algumas figuras. Ou deixam a oposição sem nada que fazer. Como diz Ana Gomes, «com defensores destes, por que há-de o PS preocupar-se com os detractores?»
ALEGRE, O BLOCO, A POESIA E A FATAL IGUALDADE NA POBREZA
Não há nada como passar uns dias num país nórdico, como a Suécia, para perceber que o problema português é exactamente o oposto daquele que, em nome de uma autoproclamada "esquerda", se defendeu esta semana no comício do Teatro da Trindade, em Lisboa.
No evento, onde Manuel Alegre se juntou a dirigentes do Bloco de Esquerda, este disse que ser de esquerda "é uma imprudência", mas que era imprudente "desde a juventude" e que isso, enfim, era "uma festa". Por isso Portugal precisaria de "mais esquerda" para fazer "renascer a esperança", "a alegria" e as "canções cantadas em comum". Tudo porque "as pessoas gostam de estar juntas".
É difícil imaginar um discurso mais vácuo e sem significado concreto. Na verdade, se Alegre quiser encontrar, todas as semanas, lugares onde se juntam mais de 500 pessoas para "estarem juntas", celebrarem a "alegria", falarem de"esperança" e entoarem canções "em comum" bastar-lhe-á ir a uma missa católica. Em boa parte delas, sobretudo em algumas paróquias, é exactamente isso que acontece. E mais depressa se ouve lá o Hino à Alegria do que estrofes como as entoadas naquele teatro: "Quando a corja topa da janela/Quando o pão que comes sabe a merda/O que faz falta..." e por aí adiante. É provável que encontre lá mais "festa" e letras menos agressivas.
O exemplo serve apenas para sublinhar o vazio de uma mensagem que pode ser servida por uma voz tonitroante ou até pela poesia, mas que não ultrapassa, em última análise, o círculo vicioso de uma autoproclamada esquerda que, como disse outro companheiro de comício, José Soeiro, este dirigente do Bloco, tudo se centraria em garantir a justiça social e a igualdade. Ora, sucede que justiça social só rima com igualdade se, no discurso político, à permanente invocação de direitos se acrescentar a defesa da responsabilidade e se entender a solidariedade não como uma missão longínqua do "Estado" antes como algo que integra o dia-a-dia. Uma noite com os colaboradores da Comunidade Justiça e Paz a distribuir comida pelos sem-abrigo de Lisboa ou um dia nos armazéns do Banco Alimentar contra a Fome seriam por certo menos in do que uma noite no Lux, mas muito mais instrutivos sobre o outro Portugal que não aparece nem nas bancadas da Assembleia da República, nem nas manifestações da CGTP, muito menos nas celebrações, ou "actos culturais", do Teatro da Trindade.
Aquilo que na Suécia, só para citar um exemplo, podemos encontrar é uma sociedade onde os elevados níveis de equidade social (uma formulação mais rica e mais progressiva do que a velha "igualdade social") caminharam sempre a par com a liberdade e a responsabilidade. É por isso que custa ver Manuel Alegre sentado ao lado de militantes, como os que vieram dos partidos fundadores do Bloco de Esquerda, para quem sempre se pode sacrificar a liberdade em nome da igualdade. Em Dezembro de 1974 Alegre teve, no primeiro Congresso do PS após o 25 de Abril, um papel central na separação de águas entre os que defendiam o socialismo antes de tudo o mais e os que só entendiam o socialismo "em liberdade". O facto de estes mais de 30 anos terem demonstrado, à saciedade, que a ideia original do socialismo é incompatível com a de liberdade - ao contrário da ideia de social-democracia ou de social-cristianismo, os dois pilares sobre os quais assentou a construção europeia -, ainda há quem não entenda que "uma sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade acaba por ficar sem nenhuma delas, ao passo que uma sociedade que coloca a liberdade à frente da igualdade acaba por ter um grau mais elevado de ambas".
Apesar desta frase ser de um autor que dificilmente associaríamos à Suécia (Milton Friedram), a verdade é que se algo diferenciou a Suécia da maior parte dos países do Velho Continente foi o seu pioneirismo na defesa da liberdade. A Suécia já tinha uma lei que garantia a liberdade de imprensa antes de estalar a Revolução Francesa (o Reino Unido não tinha uma lei, mas tinha a prática), a Suécia esteve entre os primeiros países europeus a reconhecer os direitos da mulher e a permitir uma liberdade sexual só possível porque acompanhada por um elevado sentido de responsabilidade. Um exemplo anedótico: no Aeroporto Internacional de Gotemburgo não há casas de banho separadas para homens e mulheres, mas também não há atropelos nem abusos. E se tudo está organizado e limpo, isso não sucede porque prevalece a autoridade, mas porque não se imaginam irresponsabilidades que ultrapassem os excessos alcoólicos de sábado à noite. E a naturalidade com que, no dia seguinte, muitos se juntam numa igreja, não longe do relvado onde muitos se estendiam, em fato de banho, para beneficiar de um raro dia de calor, para contribuírem para uma obra social. Tudo antes de, segunda-feira, se apresentarem na fábrica da Volvo de forma pontual para trabalharem com rigor e elevada produtividade.
Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal, razão pela qual enquanto se pedir apenas igualdade sem ao mesmo tempo fazer a pedagogia da responsabilidade, do trabalho e da exigência não é apenas querer-se poesia no lugar da política: é deixar-se levar em nome da poesia para a alegre pobreza. E o tempo dos pobretes mas alegretes já lá vai, felizmente.
José Manuel Fernandes
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