segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

RICOS...!



Rico é quem gera dinheiro, dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias.

Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas.

Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma.

O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele.

Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores.

Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado "a luta pelo progresso"? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.

São nacionais mas só na aparência.

Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir às compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal.

Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.


Mia Couto

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7 Comments:

At 24 de janeiro de 2012 às 17:07, Anonymous Anónimo said...

Desculpem por estar aqui a escrever onde o artigo exposto nada tem a ver e peço desculpas ao blog mas, a raiva que sinto no coração é muita e passo a explicar se me permitem .
gosto de ler as actas da nossa câmara municipal (Ponte de Sor ) temos nesta acta de 2012 uma carta de um munícipe de seu nome (NUNO MARTINS FERREIRA ) a dar os parabéns ao senhor presidente Pinto , DA PARTE DELE E FAMILIA até aqui tudo bem o homem pode ter pessoas que gostem dele por isso ganhou mas, qual o meu espanto que ele fala na Delphi fiquei com uma raiva a este senhor que nem sei quem é e, ainda bem e pergunto ! Como ele se atreve a dar os parabéns ao senhor Pinto pelos esforços que ele fez para esta empresa ficar em Ponte de Sor mas, não ficou como se atreve a falar do que não sabe? o que fez o Presidente pelos trabalhadores? Só deu trabalho a quem tinha as mulheres a trabalhar na câmara então os outros ? alguma vez ele e o centro de emprego tiveram reuniões por causa desta pessoas? Ele já procurou saber aonde estão os milhões que vinham para estes desempregados como na Guarda se fez para formação ? Senhor Nuno tenha vergonha se quer engraxar esta no seu direito mas, não use nem tem o direito de usar os desgraçados alguns claro da Delphi para arranjar tacho .
E convido quem tiver um bocadinho de tempo para ler as actas da nossa câmara.

 
At 25 de janeiro de 2012 às 14:19, Anonymous Anónimo said...

Eu leio sempre. E chego a conclusão que a Câmara é gerida por um demente. Como é possivel que os outros vereadores permitem tal coisa?
Eu vi esta carta e só quem não conhece a pessoa é que estranha... é um falcatruas de primeira.

 
At 25 de janeiro de 2012 às 16:04, Anonymous Anónimo said...

"Corajosos" são hoje os que, humilhados e ofendidos, sobrevivem sem ceder à tentação da servidão; os que não traem por um prato de lentilhas.

 
At 25 de janeiro de 2012 às 18:19, Anonymous Carlos Alberto L. said...

Estranho sería não marrarem no mesmo de sempre...

 
At 25 de janeiro de 2012 às 19:02, Anonymous Anónimo said...

Ó Carlos Lopes, abre a pestana e deixa de ser apaniguado!

 
At 26 de janeiro de 2012 às 23:04, Anonymous Anónimo said...

Carlos Alberto ainda tens comer na mesa ?não cuspas para o ar porque Deus escreve direito por linhas tortas ,eu gostava de saber quem és alguém me diz .

 
At 6 de fevereiro de 2012 às 16:46, Anonymous Carlos Alberto L. said...

Só posso dizer que o "L" é de Lopes...

 

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