sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

CRISE DE REPRESENTAÇÃO [ parte II ]

1.

Em quem é que eu voto? É a pergunta que mais me fazem. É a pergunta que mais me faço.

2.

Já tive mais certezas do que as que tenho hoje. Há quem pense que é muito simples: critica Santana Lopes, não pode votar no PSD. (De passagem, a mesma crítica não é feita aos "renovadores" que dizem ir votar no PCP, ou aos socialistas que disseram cobras e lagartos de Sócrates e vão votar PS, ou aos bloquistas que vão votar PS. A economia da coerência como arma de critica ad hominem é sempre para os outros...) Mas eu estou em oposição a Santana Lopes e não ao PSD, cujo papel na democracia portuguesa continuo a considerar vital. Seria mau para Portugal que Santana Lopes voltasse a ser Primeiro-ministro, mas seria péssimo que o PSD perdesse o seu papel único no sistema político português. Continuo a pensar que, após a ultrapassagem deste epifenómeno, que não será fácil nem pacífica, o PSD pode reencontrar o seu papel de único partido por onde passam (e passaram) todas as reformas que Portugal precisa. O futuro do PSD diz-me respeito como seu militante e não conto alhear-me dele e por isso uma fina linha de navalha de decisão me pesa. Não se pode ficar de bem com todos. Acontece.

3.

Se Sócrates chegar ao poder - como um infeliz cartaz da JSD e múltiplas declarações de Santana Lopes e Miguel Relvas todos os dias nos dizem que vai acontecer - será o retorno ao adiamento medíocre e dourado. Todos sabem o que penso do guterrismo, não vale a pena repeti-lo. Mas convém ficar claro que se Sócrates chegar ao poder, o primeiro responsável é Santana Lopes. Não é único, Durão Barroso e os unanimistas do PSD que batem palmas a tudo para reservar o seu pequeno lugar, também têm responsabilidades. Mas nunca ninguém enterrou o PSD numa crise de credibilidade tão grande como Santana Lopes, nunca ninguém dividiu o partido tão esterilmente como Santana Lopes. Houve quem dissesse há muito tempo que ia ser assim, desde o tempo da Cadeira do Poder.

4.

Há também responsabilidade nos poucos que podiam pelo menos ter tentado fazer-lhe frente, há cinco meses e agora. A tese que, para derrubar Santana Lopes, é preciso que ele perca as eleições, pode ser boa para os candidatos à sua sucessão, mas é péssima para o partido e má para o país. Fique no entanto a saber-se que muito foi tentado, felizmente sem vir para as páginas dos jornais, para que tal acontecesse. Houve muita gente que não ficou sentada e que tentou. Falhou, mas também não é verdade que muitos militantes, entre os quais me incluo, não tenham tentado persuadir, convencer, sem sucesso.

5.

A favor dos que não avançaram antes, mas o vão fazer a 20 de Fevereiro, há que ter consciência das dificuldades, dos tempos demasiado curtos, dos momentos desfavoráveis, da aceleração com que tudo ocorreu, e da degradação de muitas estruturas do partido que, desde que não lhes mexam nos lugares dos seus dirigentes, aceitam tudo e perdem o sentido do interesse nacional. Neste ciclo de pressa, Durão Barroso tem muitas responsabilidades, porque podia ter sugerido uma sucessão pelo governo, dando tempo ao partido para encontrar uma solução sem ser sob pressão e encomenda.

6.

Dito isto, fique bem claro que o PS não é alternativo aos males do PSD. Isto está de tal modo rasteiro que convém também dizê-lo explicitamente. Lembro a alguns meninos sem memória que quando eles andavam em hotéis a fazer acordos com o engenheiro, ou quando no PSD muitos se acomodavam à inevitabilidade do estado de graça permanente de Guterres e actuavam como se estivessem em bloco central para os empregos, eu fui sempre um duro crítico do guterrismo muitas vezes solitário. Quem criticou a divisão entre PS e PSD dos lugares nos conselhos de administração de algumas importantes empresas, quem criticou a venda da Lusomundo à PT, quem criticou as re-nacionalizações por via das golden shares, quem criticou a passagem dos orçamentos do PS? Não foram alguns dos patriotas da camisola dos dias de hoje.

7.

Discordo por isso em absoluto da posição de Freitas do Amaral no plano político. Insisto: no plano político, porque quanto ao plano moral, os discípulos do dr. Portas são os últimos que têm autoridade para o criticar, dado que a sua casa é o melhor exemplo do oportunismo em estado puro, com a agravante de ser exibido com arrogância e hipocrisia. Freitas do Amaral tomou uma posição de consciência, pouco fácil para quem foi o que foi e é o que é. Merece respeito por isso e discordância política.

8.

Voltaremos aqui.
José Pacheco Pereira

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3 Comments:

At 28 de janeiro de 2005 às 16:51, Anonymous Anónimo said...

"Queremos que nos gobiernen las putas (sus hijos nos han fallado)"

Maria Carme

 
At 28 de janeiro de 2005 às 17:33, Anonymous Anónimo said...

Com tantas viuvas e infelizes

Será quem diria, é mais uma, da alma bondosa desde A Figueira a Lisboa é só curtir, para se curtir o resto fica para trás, o desgraçado do cidadã comum que pague que vá ás malvas, então queriam o que?
A casa do monsanto a ROPM não é justo, coitado do Snr. até foi buscar uma tratadora de imagem, e agora aparecem estas coisas, valha-nos Sta Rita e S.Gregório.

 
At 30 de janeiro de 2005 às 18:48, Anonymous Anónimo said...

Nas próximas eleições além de estarmos a escolher o próximo governo e o próximo primeiro-ministro estamos também a votar em quem queremos na A.R. para representar o distrito de Portalegre...A questão que se põe agora é esse queremos 2 deputados do P.S. ou um do P.S. e um do P.S.D. É essencial que na A.R. haja representantes dos dois partidos com maior expressão no distrito de Portalegre em igual proporção.

JSD-Ponte de Sor

 

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