quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

HÁ PRATICAMENTE 100 ANOS


Há praticamente 100 anos, as causas defendiam-se com todo o empenho e vigor, enfrentando-se e afrontando-se adversários.
Os textos não eram subliminares, não tinham retorno possível, os bois eram chamados pelos nomes, eram bem escritos pelos (próprios) autores que eram processados e julgados a seguir, defendidos na barra pelos amigos e correligionários políticos, pagavam multas e não se retratavam ou justificavam.
Hoje, quase 100 anos depois, ainda são publicados, o que revela, para além do interesse histórico-político, valor e a qualidade literária. O artigo de que ora se fala, foi escrito por Guerra Junqueiro no jornal “A Voz Pública” em 2 de Dezembro de 1906, e está publicado pela Lello & Irmão – Editores na colectânea de escritos políticos do autor “Horas de Combate”.


2 de Dezembro de 1906

Todas as tiranias são ferocidades, e acusam portanto, na máscara do homem, a descendência do monstro.

Há tiranias dominadoras e fulgurantes, de olhos de águia, e tiranias lívidas, obliquas, de olhar de hiena. Ambas trágicas: um Bonapartre ou um Filipe II.

A tirania do Sr. D. Carlos procede das feras mais obesas: do porco.
Sim, nós somos escravos de um tirano de engorda e de vista baixa.

Que o porco esmague o lodo, é natural. O que é inaudito é que o ventre de um porco esmague uma nação, e dez arrobas de sebo achatem quatro milhões de almas!

Que ignomínia!

Basta. Viva a República, viva Portugal!


C.

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2 Comments:

At 27 de janeiro de 2005 às 16:54, Anonymous Anónimo said...

Eu diria mais:

... "ESTA CÂMARA MUNICIPAL NÃO CAIRÁ PORQUE NÃO É UM EDIFÍCIO.
SAIRÁ COM BENZINA PORQUE É UMA NÓDOA"

A.FONTES

 
At 30 de janeiro de 2005 às 11:07, Anonymous Anónimo said...

Essa citação demonstra bem o grau de liberdade que se vivia em Portugal nesse tempo. Durante bem mais de vinte anos Guerra Junqueiro publicou por todo o lado e como quis esse tipo de insultos ao Chefe de Estado.
Ninguém o incomodou, e ao contrário recebeu todas as condecorações e louvores possíveis.
Depois, com os assassínios e com a chegada da República, viu-se o que foi.
Tirano, o pobre D. Carlos? A verdade é que os portugueses como Guerra Junqueiro nada sabiam de tirania, a não ser uma imagens literárias.
Os últimos anos de vida viveu Guerra Junqueiro a arrepender-se amargamente de todos os disparates que tinha dito e escrito. Mas era tarde.
Chamo a atenção para o facto de actualmente nem em Portugal nem em nenhum outro dos países da nossa área civilizacional ser possível publicar isso sobre um Chefe de Estado ou de Governo sem ser imediatramente processado criminalmente.
E nos outros países que não são da nossa área civilizacional ainda menos...

 

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