segunda-feira, 25 de julho de 2005

OS PRECÁRIOS EQUILÍBRIOS DO DESPORTO MUNICIPAL

As políticas desportivas municipais devem ser sólidas, publicamente conhecidas e reconhecidas, aceites, com instalações e equipamentos adequados em função das disponibilidades e com a necessária animação que lhes dê uso.
Há décadas atrás, quando o tempo parecia passar mais devagar, em especial na periferia da capital, eram, o associativismo cultural e em particular o desportivo, os pólos agregadores dessas identidades locais.

As idas ao cinema eram mais ou menos esporádicas, a frequência da igreja cingia-se aos devotos, o café da terra também era ponto de encontro, mas o clube local tinha um misticismo especial, que os horários alargados e tolerados, permitiam aglutinar em torno do bar, dos jogos e festas de salão.

Quando uma das equipas desportivas sobressaía, a mística alimentava-se de novo fôlego (agora é que vai ser?), o bairrismo tomava corpo e as direcções das agremiações obtinham os seus momentos de glória.

Ser sócio da colectividade da terra e dos bombeiros voluntários, era ponto de honra para quem não estava de passagem, assim, em relativa calmaria, se consumiam dias, anos, e se as receitas apuradas não permitiam descolar da persistente pobreza de meios, tudo se fazia com a glorificada arte do desenrasca e com o «amor à camisola», que não gerava despesa por aí além.

A entrada de Portugal na Europa desenvolvida, a livre circulação de pessoas e a generalização do profissionalismo à prática desportiva, abalaram irreversivelmente este equilíbrio.

O exercício da democracia autárquica implicou que as sociedades locais se organizassem e que as respectivas estruturas sociais, de forma mais ou menos corporativa, se posicionassem face aos poderes estabelecidos.

Ser presidente ou membro dos corpos directivos do clube desportivo, confere hoje como no passado, um estatuto perante os associados (porventura mais táctico de que anteriormente), que é sublimado nas relações com o poder local.

«Primus inter pares», cada colectividade vale pelo seu peso específico na comunidade, mas também pelas relações cordiais ou de rivalidade que estabelece com o seu município.

Com a exigência de mais e melhores sedes sociais, campos desportivos, pavilhões, piscinas, vieram as múltiplas solicitações para subsídios, dos equipamentos às deslocações das equipas para competir, financiamentos diversos de toda a ordem, que alimentam no fio da navalha esta relação conspícua: a inevitabilidade dos concelhos se afirmarem na sua individualidade através do desporto, e a sobrevivência dos pequenos clubes locais, cuja existência depende da competição e para a qual não têm capacidade de gerar os meios necessários.

Contudo, provindo muitos dos apoios de dinheiro público, o mínimo exigível é a existência de regras claras, assentes em objectivos progressivos, mérito e avaliação de facto, da conformidade entre o esperado e o obtido.

Hoje, quando até a generalidade das secções dos partidos políticos apenas se anima em períodos eleitorais, e fora disso, quando de portas abertas, assumem o papel convivial do antigo associativismo local, é tempo de perceber que a estrutura tradicional dos pequenos clubes locais está ultrapassada, exaurida.

É inquestionável a sua liberdade de subsistir, desde que no essencial através de meios próprios, pela redefinição de objectivos, ou, quando se justifique, através de processos amadurecidos de fusão com outras colectividades, uma abordagem que os municípios podem desenvolver, ajudando a ultrapassar bairrismos residuais.

O desporto é intemporal, tem uma grande aceitação na vida moderna, uma gestão desportiva equilibrada tem de atender à realidade e esta é composta pela promoção da vida saudável, prática e competição desportiva.

As políticas desportivas municipais devem ser sólidas, publicamente conhecidas e reconhecidas, aceites, com instalações e equipamentos adequados em função das disponibilidades e com a necessária animação que lhes dê uso.

Apoiar por simples ambição ou compromisso político, sem regras pré-estabelecidas, os pequenos clubes cuja vertigem competitiva sem sustentação é o caminho para o abismo financeiro, tal como investir em clubes profissionais ou em provas de alta competição, sem o adequado retorno, é caminho a evitar.

A competição proporciona momentos inesquecíveis, «vende» ilusões, mas aos municípios pede-se que construam a realidade, para além das vitórias, empates e derrotas de cada jogo

Luís M. Sousa

7 Comments:

At 25 de julho de 2005 às 16:52, Anonymous Anónimo said...

Os meus parabéns por este artigo.
Assenta milimétricamente na realidade desportiva local e, parece-me, na nacional, de índole semi-profissional e não profissional. O Eléctrico vive à custa da Câmara e a ela deve-lhe subserviência. Não se iludem, pois o presidente do Eléctrico é o Pinto e digo isto não por historias tipo Nelson Castro, mas por experiência minha. Num desacto meu entre um funcionário do pavilhão, na qualidade de arbitro, fiquei prejudicado na qualidade de atleta do electrico e utilizador do pav. Ficou notorio que o Pinto era o juiz da controvérsia, presidente da camara, dos arbitros e do electrico, dono do pavilhão e afins... Mas a sustentabilidade do Eléctrico, e ainda mais agora que está na terceira divisão, passa pelo apoio camarário, depende dele e isso é péssimo para a estrutura autonoma do clube. As grandes empresas não dão dinheiro ao clube, é certo, a câmara tem obrigação de apoiar as instituições concelhias como os clubes desportivos, é certo, mas a verdade é que este facto conduz à concentração de poderes e respectivo abuso. "Os precários equilibrios do desporto municipal" no nosso caso, são equilibrios polarizados e autocráticos, onde o utilitarismo do Eléctrico é integrado no interesse camarário. Não existe sequer um precário equilibrio, não existe equilibrio nenhum, existe uma relação puramente servil. De certo modo pode ser bom, "as coisas vao funcionando e dando bons resultados", mas o clube não é, como antigamente, o esforço e o amor dos seus adeptos, é quase um orgão municipal, melhor, um objecto do Sr. Presidente da Câmara...

 
At 25 de julho de 2005 às 17:44, Anonymous Anónimo said...

Mais uma seta no alvo.

 
At 25 de julho de 2005 às 18:16, Anonymous Anónimo said...

Nao é o pai deste ricardo cardoso que anda a comer da mao do Pinto???

 
At 25 de julho de 2005 às 18:37, Anonymous Anónimo said...

Quantos mais dirão aquilo que já disse? O Ricardo Cardoso só veio confirmar que o presidente da câmara é o "dono" das instituições que dependem dos subsídios camarários, que as controla e manipula da forma que melhor satisfaz aos seus interesses.

 
At 25 de julho de 2005 às 18:37, Anonymous Anónimo said...

Quantos mais dirão aquilo que já disse? O Ricardo Cardoso só veio confirmar que o presidente da câmara é o "dono" das instituições que dependem dos subsídios camarários, que as controla e manipula da forma que melhor satisfaz aos seus interesses.

 
At 25 de julho de 2005 às 18:37, Anonymous Anónimo said...

Quantos mais dirão aquilo que já disse? O Ricardo Cardoso só veio confirmar que o presidente da câmara é o "dono" das instituições que dependem dos subsídios camarários, que as controla e manipula da forma que melhor satisfaz aos seus interesses pessoais e políticos.

 
At 25 de julho de 2005 às 18:58, Anonymous Anónimo said...

Desculpe, mas tenho de o ofender. Você é k anda a comer e é plo cu do pinto. Isso é um boato comuna que demostra a vossa deseperante hipocrisia. Se você é "anonymous", EU não tenho medo de falar. Chamo-me Ricardo Cardoso, tenho 17 anos e o pouco que sei da vida foi o meu pai que me ensinou. Ensinou-me ÉTICA, JUSTIÇA, e uma coisa chamada PROFISSIONALISMO. Não me confunda com ele, ele ensinou-me na primeira pessoa os custos quando se erra nisso. E não, felizmente, o meu pai, não foi, nem é, dependente da camara municipal. E pa comer da-me bolachas e não o cu dos outros...

 

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