quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

ALGUÉM VAI TER DE PAGAR A CONTA DO TGV

TGV,

um investimento monstruoso, gigantesco…


Se juntarmos a Ota, e com derrapagens que já sabemos que vai haver fatalmente, estamos a falar de doze mil milhões de euros, o que é uma brutalidade.
Como disse Jerónimo de Sousa, é impossível de acontecer.
É evidente que, para haver dinheiro para isto, mais os mil e quinhentos milhões de euros que vão passar a custar as Scut todos os anos, não há dinheiro para o resto. Tanto quanto sei, o país está com dificuldades, não é rico e, de repente, o Governo parece que tropeçou numa mina de ouro.
Como eu não sei onde é que fica a mina de ouro, tudo isto é um projecto para arruinar o país a médio/longo prazo. É por isso que as pessoas têm de estar mais atentas. Em relação ao que disseram Mário Soares e Manuel Alegre, queria só dizer uma coisa.
Isso de não podermos ficar à margem da linha europeia de alta velocidade, leva-me a perguntar porquê?


Países tão desenvolvidos como a Finlândia, a Suécia, a Noruega estão e não têm problemas. E são países muito maiores, com distâncias muito maiores a cobrir e que precisariam muito mais do TGV do que nós. E não o têm.
Será que não são países desenvolvidos por isso?
Há aqui duas coisas: o Governo já mudou as previsões numa semana.
Na semana passada foi anunciado que o TGV custava sete mil e trezentos milhões de euros e uma semana depois já custa sete mil e setecentos.
Estamos a falar de quatrocentos milhões como se fosse uma ninharia.
Na semana passada previam-se cinco milhões de passageiros/ano na linha Lisboa/Madrid.
Esta semana já se prevê metade: dois milhões e meio de passageiros.
O que, mesmo assim, significa sete mil e quinhentas pessoas a andar de comboio, todos os dias, entre Lisboa e Madrid.
Não sei onde é que elas estão.
Na semana passada o Governo fazia a linha das infra-estruturas – as expropriações, que é o grosso – e os privados compravam os comboios e exploravam.
Esta semana já chegou à conclusão de que a linha para Madrid não é rentável. Toda a gente percebeu: como não há privados, vão dar meias indemnizações compensatórias para ajudar os privados a entrarem.

Ainda esta semana o Tribunal de Contas fez um relatório sobre as concessões das ferrovias e das auto-estradas e tem sido tudo um desastre para o Estado, ou seja, são sempre os privados que ficam a ganhar.
É por isso que eu acho que se devia olhar para isto com muita atenção porque eu não gosto nada de ver estas plateias, sentadas, a ouvir o Governo dizer como é que vai dar cabo do PIB.
Há demasiados negócios, metidos aqui, com empresários.
Isto é a salvação de todas as empresas de construção civil, e não só, na próxima década, na próxima geração. Alguém vai ter de pagar esta conta.
Eu pergunto, por exemplo, porque é que nós, de repente, ainda estamos com um comboio que demora três horas e um quarto para fazer Lisboa/Porto, que é, de facto, uma linha essencial. E, de repente, passamos para o TGV que, ainda por cima, vai ter que dar a volta pelo sul para entrar em Lisboa – é o mais lógico –, e não vai ter ligação directa com a Ota.
Imagina uma pessoa que queira vir de TGV, do Porto, para vir apanhar um avião na Ota: tem de vir a Lisboa, dando a volta pela margem sul, muda de comboio, vai para a tal linha especial e, depois, apanha o avião. E ao contrário: quem desembarcar na Ota para ir para o Porto tem que apanhar o ‘shuttle’, vai para a Gare do Oriente e, em vez de seguir para norte, vai dar a volta pela margem sul para ir para o Porto.
Ou seja, os ganhos de rapidez não vão ser assim tantos quanto isso.
Então pergunto: será que a alternativa não seria um comboio de velocidade elevada, que custa quatro ou cinco vezes menos que este e que, na distância Porto/Lisboa, só ia gastar mais um quarto de hora do que gasta o TGV.
É isso que eu acho estranho em Portugal: ou não fazemos nada ou temos de fazer o maior do mundo.
A maior barragem do mundo – o Alqueva; a maior refinaria – Sines; a maior barragem em África – Cabora Bassa; o maior aeroporto não sei de onde, depois, um TGV extraordinário, como os países luxuosos têm…

Nós não temos dinheiro para estes luxos.


Miguel Sousa Tavares

4 Comments:

At 15 de dezembro de 2005 às 14:53, Anonymous Anónimo said...

OS "XUXALISTAS" DO GOVERNO ESTÃO "LOUCOS"?

OITO E OITENTA


Enquanto continua o delírio acerca do TGV, que agora segundo o ministro Mário Lino vai criar 100 000 empregos, convinha que se considerassem alguns 'detalhes'.
Quanto vai custar uma ligação Porto/Lisboa de TGV, e de avião, via Ota?
Só isso - 'quanto' vai custar, e depois comparar com quanto já custa um bilhete da Ryanair para Londres.

O actual modelo de desenvolvimento, para além da insustentabilidade económica, arrisca-se a conseguir o inacreditável - o Porto, por exemplo, ficar mais 'perto' de Londres, e de Paris, e da Alemanha (via low cost) que de Lisboa.
Nos entretantos, e enquanto se mantém, por absoluta teimosia, as SCUTS temos custos, onde há portagens, absolutamente mirabolantes, que permitem à BRISA ser literalmente das empresas do sector mais rentáveis da galáxia.
Ou oito ou oitenta.


P.S. A Varig já não vai ser da TAP

 
At 15 de dezembro de 2005 às 15:26, Anonymous Anónimo said...

A corrupção…

A corrupção, nas suas variadas formas, é tema que só raramente pontua o debate político, embora lamentavelmente a sua prática seja bem mais frequente. Agora mesmo, um relatório da organização Transparency International, divulgado no Dia Mundial das Nações Unidas contra a Corrupção, veio revelar que os partidos políticos são considerados em todo o mundo como a instituição mais corrupta. Isto em 45 dos 69 países abrangidos pelo inquérito, no qual foram ouvidas cerca de 55 mil pessoas. E note-se que, neste "barómetro mundial da corrupção 2005", são precisamente os inquiridos dos países ricos a expressarem a sua opinião sobre os partidos políticos. A sondagem, da Gallup, revela ainda que 57% dos entrevistados considera que a corrupção aumentou nos três últimos anos.

O tema remete-nos para a notícia que na semana passada veio a público sobre as investigações da PJ em 400 autarquias do país. E a propósito, vale citar aqui o fiscalista Saldanha Sanches, em recente artigo assinado no Expresso:

"Já não é apenas a rapinagem tradicional de autarcas e as derrapagens do preço das obras públicas que o Tribunal de Contas denuncia com apavorante regularidade sem que o Ministério Público dê qualquer sinal de tentar transformar a denúncia em acusações contra pessoas concretas. São também as suspeições que pesam sobre os negócios públicos ou os reais motivos da construção de elefantes brancos. Tudo contribui para o ambiente de suspeição generalizada. E não é que os processos não comecem: a Polícia Judiciária já devia ter instalações permanentes em algumas câmaras. O problema é que estes e outros processos começam mas não acabam…"

 
At 16 de dezembro de 2005 às 11:16, Anonymous Anónimo said...

«O presidente do grupo Sonae, Belmiro de Azevedo, defendeu ontem, num encontro do Clube Português de Imprensa, que o TGV e o aeroporto da Ota "não são prioritários". Na visão do empresário, vivemos uma situação de crise na qual não se enquadram "projectos megalómanos", como definiu estes dois investimentos.»

 
At 17 de fevereiro de 2010 às 05:06, Anonymous Anónimo said...

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