quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

A VERDADE É COMO O AZEITE...

CENTENAS DE BLOGUES QUE POR AÍ EXISTEM...

Foi nestes termos que Freitas do Amaral, ministro dos Negócios Estrangeiros, se referiu aos blogues na sua intervenção na Assembleia da República a propósito do transportes de carne para tortura supostamente promovida pela CIA.
Tal referência surgiu depois de enumeradas várias fontes sem provas e visou uma desvalorização generalizada dos blogues, classificando-os como não credíveis.


Pois é senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, já que os blogues não são credíveis, aqui vai uma anedota deste governo: num ministério uma assessora de um ministro que não concordou com um resultado de um concurso em que participou recorreu do resultado do mesmo apresentando um parecer jurídico elaborado pelo próprio ministro.
Será o Professor Freitas do Amaral capaz de adivinhar qual foi o ilustre jurisconsulto governamental?


Não ligue senhor ministro, não vale a pena preocupar-se com piadas sem provas nem fundamento feitas por um dos muitos blogues "que por aí existem".
Mas se o bichinho da curiosidade o roer diga, que nós publicamos aqui o nome da funcionária e do ministro em causa.

JUM

13 Comments:

At 14 de dezembro de 2005 às 10:19, Anonymous Anónimo said...

Aumentam suspeitas de voos secretos


Investigação reforça suspeitas sobre a CIA

Uma investigação do Conselho da Europa reforçou as suspeitas da existência de voos secretos da CIA para transportar presumíveis terroristas que terão sido "detidos e levados para outros países" através da Europa, foi hoje anunciado em Paris.

"Processos judiciais em curso em alguns países parecem mostrar que pessoas foram presas e transportadas para outros países sem respeitar qualquer norma de assistência judicial", precisou o deputado suíço Dick Martin, encarregue da investigação do Conselho da Europa sobre a detenção de presumíveis terroristas islamitas na Europa pelos serviços secretos norte-americanos (CIA).

Dick Martin, que falava no final de uma reunião da Comissão das Questões Jurídicas e dos Direitos do Homem da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa - que agrupa 45 Estados membros - adiantou que "os elementos recolhidos até agora permitem reforçar a credibilidade das alegações referente ao transporte e detenção temporária de pessoas detidas, à margem de qualquer processo judicial, em países europeus".

Estados Unidos "nunca desmentiram"

"É inevitável constatar que as alegações nunca foram formalmente desmentidas pelos Estados Unidos", adiantou Martin, que também condenou a "ausência de informação e de explicações sobre este assunto" pela secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice, na recente viagem que efectuou à Europa.

Na declaração, hoje divulgada por Martin, o Conselho da Europa "pede com insistência a todos os Governos dos Estados-membros para se comprometerem plenamente na investigação da verdade sobre voos dos respectivos territórios por aviões que tenham, nestes últimos anos, transportado pessoas detidas e presos à margem de qualquer processo judicial".

A possibilidade dos serviços secretos norte-americanos terem utilizado aeroportos europeus para transferir islamitas para países terceiros para serem interrogados, ou torturados, e da existência de prisões secretas na Europa tem sido um assunto polémico no seio da opinião pública e da classe política europeias.

SIC/LUSA

 
At 14 de dezembro de 2005 às 12:49, Anonymous Anónimo said...

A prioridade é a chuva, e não os supostos grandes.

 
At 14 de dezembro de 2005 às 14:18, Anonymous Anónimo said...

Afinal foram outros que andaram por cá.....




O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Diogo Freitas do Amaral, deslocou-se hoje ao Parlamento, a pedido do Bloco de Esquerda e do PCP, para negar a existência de voos ilegais da CIA em Portugal.

Num longo discurso, Freitas do Amaral explicou detalhadamente que o Governo português não autorizou, nem lhe foi solicitado, o sobrevoo ou aterragem de aeronaves ao serviço de qualquer estado estrangeiro que transportassem prisioneiros para países onde haja ou tenha havido centros de detenção ilegais ou perigo de aplicação de tortura e tratamentos degradantes.

O ministro de Estado afirmou que desde Setembro de 2001 se verificaram cerca de 1300 notas verbais e comunicações referentes a pedidos e avisos norte-americanos sobre o sobrevoo e aterragem e que os voos cuja referência tem vindo a público «são todos voos civis de aeronaves».

Apesar de desconhecer a existência dos voos noticiados pela imprensa, o ministro entendeu encetar diligências diplomáticas para aferir a existência de alguma situação desconforme com o direito nacional, internacional ou com acordos bilaterais celebrados, nomeadamente, com os Estados Unidos.

No final, resultaram reforçadas as suas convicções que não sobrevoaram, nem aterraram, em Portugal, voos civis fretados pelos serviços secretos norte-americanos à revelia das disposições legais.

O MNE assegurou, ainda, não existirem em território nacional quaisquer centros de detenção ilegais mantidos pelos Estados Unidos e onde alegadamente se recorra à tortura como método de interrogatório

 
At 14 de dezembro de 2005 às 14:28, Anonymous Anónimo said...

O PODER; O QUERER E O MANDAR:

Ontem, na TV pública [R.T.P.], discutia-se a opção governamental pelo grande obra que é o TGV.
De Espanha, veio uma reportagem quase lourinha, a tecer loas à velocidade em grande.
No estúdio, o responsável do Ministério respectivo:
Mário Lino.
O qual aceitou debater com o responsável por ideias económicas peregrinas já adoptadas pelos socialistas no antigamente e talvez no presente :
José Silva Lopes.
O debate, a bem dizer, nem existiu.
Silva Lopes, cortou logo cerce qualquer veleidade, ao dizer que não faz sentido um investimento de milhões e milhões, para se ganhar uma hora na viagem de comboio de Lisboa ao Porto.
Aliás, também disse, convencendo qualquer céptico que não seja ministro deste governo ou se chame Vital Moreira, que uma melhoria nas linhas existentes, com um custo muitíssimo inferior e sem qualquer comparação, reduziria a quase nada a desvantagem comparativa actual.
Os argumentos de peso de um economista de peso, e respeitado até no Governo, apesar disso, valem zero para este governo apostado na "modernidade"!
Já está tudo decidido e programado.
Debates para quê?
Há dias, em Coimbra, Costa Andrade, o penalista de renome merecido e um dos melhores teóricos de direito penal que temos em Portugal , foi confrontado em directo e na presença do autor - Rui Pereira - da futura lei de enquadramento da política criminal que vai definir as prioridades da investigação criminal em Portugal e assentar o princípio da responsabilização do PGR em sede parlamentar.
Que disse Costa Andrade na conferência e perante esse responsável máximo por essa lei e por uma Unidade de missão para reformar leis penais, chamado Rui Pereira?
Que a lei não tinha ponta por onde fosse possível pegar-lhe, em termos de coerência legislativa e perante os princípios de direito penal conhecidos e aceites até constitucionalmente.
Desmontou ponto por ponto, as contradições flagrantes que se mostram a quem sabe ler e reduziu a pó a argumentação de Rui Pereira a defender a vantagem de uma lei dessas.
A lição só não foi totalmente humilhante porque Costa Andrade referiu explicitamente que prefere criticar os amigos do que os inimigos.
A estes, ignora-os.
Rui Pereira , foi ainda muito bem apanhado neste blog {marinquieto.blogspot.com } , em contradição flagrante, aliás, com o que afirmava há cerca de dez anos sobre esses mesmos assuntos:

"Se tais instruções (1) pretendem vincular o Ministério Público a certos critérios no exercício da acção penal [pense-se, por exemplo, na possibilidade de exercer os poderes processuais previstos nos artºs 16º nº3 (intervenção do tribunal singular), 280º (arquivamento do processo) e 401º nº1, alínea a), e 410º nº1, do Código de Processo Penal (recurso no exclusivo interesse do arguido), então elas contrariam a autonomia do Ministério Público e o disposto no nº2 do artº 221º da Constituição (2)".
Rui Pereira
Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa
(1) Do Ministro da Justiça ao Ministério Público, à luz do artº 59º.a) da Lei Orgânica do Ministério Público aprovado pela Lei 47/86, entretanto revogado.
(2) Actual nº2 do artº 219º.in Ministério Público: Instrumento do Executivo Ou Órgão do Poder Judicial?
IV Congresso do Ministério Pùblico - 1994 Cadernos da Revista do Ministério Público nº6

O ministro da Justiça, tem referido como pedra de toque da sua argumentação de defesa das medidas no sector, e perante a contestação de alguns dos visados, mormente magistrados, que a legitimidade que assiste ao Governo em propor e aplicar medidas legislativas, é superior à do poder jucidial. Razão?
- O voto e a escolha em eleições. É o argumento básico e final para terminar qualquer discussão e mostrar quem manda,

Pergunta-se então: o Governo foi escolhido eleitoralmente por via directa?
O programa, mormente o da Justiça, foi sufragado pelos eleitores por via directa do voto?
Estes sabiam o que estavam a escolher no momento do voto, ou foi antes uma espécie de cheque em branco que lhe entregaram?
Parece claro, o que aconteceu. Tudo decorre da aprovação parlamentar e do voto de uma maioria, neste caso absoluta.

Na OTA; no TGV; na Justiça; nas Forças Armadas e nas de Segurança e em todos os sectores onde o descontentamento se espalha como nódoa em azeite, a autoridade com laivos de autismo, deste governo, legitima-se no voto e na maioria absoluta que foi concedida ao partido que o apoia.
Tem aliás, o apoio explícito dos que apreciam o mando férreo e sem oposição entravadora.

Uma procuração que o povo entregou a um partido para legislar e governar é usada por um governo saído desse partido como uma crédito ilimitado de confiança sem barreiras políticas.
Pode haver quem mostre o absurdo de uma medida;
Quem denuncie a irresponsabilidade de certas políticas concretas; Quem aponte a evidência dos erros e das asneiras.

Tudo isso vale nada...
Na Assembleia absoluta da consciência do poder executivo sem oposição eficaz.
É esta a democracia desejável, num país ocidental?
O paradigma desejável é o do
" posso, quero e mando"?

 
At 14 de dezembro de 2005 às 14:30, Anonymous Anónimo said...

A pergunta sem resposta

50 perguntas com resposta – este é o título do mais didático dos documentos sobre o TGV ontem divulgado ao cidadão comum. Esclarece dúvidas pertinentes: a razão da prioridade às duas linhas; as estações previstas; a duração das viagens; o início da exploração; os investimentos; o preço da viagem de Lisboa ao Porto e a Madrid; etc, etc, etc.
Está ali, tim-tim por tim-tim, tudo muito bem explicado, numa linguagem simples e acessível. Nenhum dos milhões de utentes previstos pode, a partir deste manual de instruções, queixar-se que falta informação sobre o formidável meio de transporte do futuro.

É assim para os utentes, pois os contribuintes não foram contemplados no rol de esclarecimentos. Essa é a pergunta sem resposta: a malta gostava de saber quais os meios que o Estado conta ter para suportar este pesado compromisso.

Faz-se, é certo, uma tímida aproximação, quando o «questionário oficial» elabora a tese de as dificuldades económicas presentes não serem motivo para recusar o investimento.

A questão está mal colocada. Evidentemente que nenhuma razão conjuntural é pretexto. Seja para apoiar, seja para atacar um projecto com horizonte de várias décadas.

A pergunta do Governo deveria ser colocada ao contrário: será que um investimento de quase 8 mil milhões não eterniza a crise orçamental do Estado? e, por conseguinte, não implicará um agravamento sucessivo da carga fiscal que, essa sim, compromete a competitividade da economia?

Como é óbvio, a sociedade exige conhecer a programação anual deste pesado investimento. Com o mesmo rigor e detalhe das «50 perguntas com resposta» divulgadas.

É dever destes governantes, porque são eles que estão a assumir a responsabilidade política desta decisão com impacto nos impostos a suportar pela próxima geração, quanto nos custa, ano a ano, o TGV.

Não é aceitável, e não dignifica pessoas de bem, se escamotearem esta exigência com exercícios metafísicos sobre cenários de desorçamentação da despesa. Dentro ou fora de um OE, a factura existe e só há duas formas de a pagar: ou impostos cobrados hoje ou impostos pagos amanhã.

Faço a cobrança desta injustificável e deliberada omissão do Governo com a mesma convicção de quem, já aqui, defendeu que o financiamento não deve ser o único critério na avaliação de um projecto de transporte estruturante.

Mas é, com certeza, um critério. E relevante, porque, antes de todos os impactos positivos que se podem projectar, é preciso garantir que ele seja financeiramente sustentável.

O Governo já estava em falta na apresentação dessas garantias para um plano rodoviário que, toda a gente já percebeu, não se paga sem portagens. Agora fica duplamente devedor da demonstração de que este país pode pagar Ota, TGV e Scut sem novos aumentos de impostos.

Se a opção for essa, anuncia-se catástrofe. O efeito-PIB evapora-se e o emprego será temporário. A alta velocidade será útil para quem fugir daqui. E o eng. Sócrates não recebeu esse mandato, no dia em que conquistou a maioria absoluta.

 
At 14 de dezembro de 2005 às 14:33, Anonymous Anónimo said...

Vivemos numa sociedade que é um triângulo que procura estar equilibrado:
O executivo,
o legislativo e
o judiciário.
Mas, neste momento, nenhum deles dispensa a malagueta.
O drama tornou-se o palco de Portugal.
E é isso que os candidatos presidenciais, que actuam tão defensivamente que Cassius Clay poderia dançar à sua frente para os derrotar por KO num único assalto, evitam.
O sector legislativo vive à espera que o executivo puxe a corda para levantar a mão.
O judicial, a começar pela invenção poética de um anterior executivo socialista, Souto Moura, tropeça nas suas próprias fraquezas.
O executivo vê a televisão, esperando aparecer no telejornal.E agora, nas ruas, a polícia mostra como se tornou uma presa fácil no país de brandos costumes em que ainda acreditamos habitar.
O Estado português parece a Torre de Pisa.
Os candidatos parecem sofredores a caminho de um destino semelhante a Maria Antonieta: antes presidentes um dia do que incógnitos parte da sua vida.
Leia-se o livro recente de Maria Filomena Mónica e aprenda-se alguma coisa.
Estamos a voltar a um Portugal de há 50 anos.
Com televisão, marcas de renome internacional, hipermercados, Otas, TGVs e auto-estradas.
Mas sem ideias de futuro, como então.

 
At 14 de dezembro de 2005 às 14:35, Anonymous Anónimo said...

SOBRA SEMPRE A FACTURA

No caso do TGV, há argumentos que valem zero. Dizer que a alta velocidade faz bem ao PIB e que cria emprego, que despolui ou que diminui os acidentes, que aproxima o Porto de Lisboa ou que contraria o centralismo madrileno é uma adição de soma nula.
E dizer que o TGV não encaixa com a Ota, que as bitolas da alta velocidade não encaixam em nada, que o plano de Mário Lino esquece problemas técnicos bicudos que se hão-de traduzir em despesa não programada ou que o país não tem dinheiro é também uma subtracção de resultado nulo.

A discussão do TGV está inquinada porque as coisas foram postas a preto e branco. Para o Governo, no prato esquerdo da balança só há TGV e no prato direito também só há TGV. Para os opositores, a questão é a mesma: nem TGV nem TGV.

Agora só faltam os Camões para cantar a gesta da alta velocidade e para humilhar os velhos do Restelo e, depois, 500 anos de historiadores para carpir a monumental asneira que levou Portugal às aventuras das Índias.

Uma suave loucura costumeira apropria-se dos portugueses sempre que nos defrontamos com a angústia das grandes decisões. Afinal temos um fado que é o de dizer mal de tudo antes das coisas acontecerem e depois, excluindo os historiadores, somos sempre os primeiros a elogiar o que foi feito.

Nesta questão do TGV, como na da Ota, na do CCB, na da Expo’ 98, na do Alqueva, na do Euro 2004 e, lembram-se?, como na da ponte Salazar, há sempre prós e contras, vantagens e desvantagens, custos e receitas, certezas e incertezas, riscos calculáveis e incalculáveis. Medos e paixões.

Este Governo não faz assim diferente de todos os outros de que há memória: ergueu a sua bandeira bem alto e transformou uma equação num dogma. Porém, como sempre, sobra uma factura que ninguém quer pagar. Nem os Governos seguintes, nem os contribuintes.

O investimento no TGV podia ser comparado com mil e um outros grandes projectos indispensáveis para o país. Mas essa análise comparativa ninguém a quer fazer.

E, no entanto, se dessem oito mil milhões de euros a qualquer português apareceriam sempre 100 mil novos postos de trabalho e o PIB ficaria muito animado.

 
At 14 de dezembro de 2005 às 17:07, Anonymous Anónimo said...

Realmente, modernizar, para estes nossos políticos e empresários caviladores, é fazer umas obras de fachada, de que por vezes pouco beneficiamos, não um desenvolvimento sustentado, com por exemplo o repovoamento do interior do país e o pagamento de ordenados europeus.

 
At 14 de dezembro de 2005 às 17:30, Anonymous Anónimo said...

VALE A PENA RELER O QUE JOSÉ LUÍS SALDANHA SANCHES, ESCREVEU NO JORNAL "EXPRESSO" EM AGOSTO DE 2005:

«O ENGENHEIRO José Sócrates começou o seu mandato com medidas impopulares e corajosas. Sabendo-se que os reformadores costumam ter aplausos tímidos de quem acha as reformas necessárias e críticas sonoras dos interesses atingidos, Sócrates nem se pode queixar de falta de apoio. Surgiu, então, um largo leque de economistas (mais largo que o PS) a aplaudir as suas medidas e a justificá-las.

A OTA e o TGV alteraram tudo. A mesma coligação que tinha justificado o aumento do IVA e aplaudido os primeiros passos de Sócrates voltou a falar para condenar sem apelo nem agravo os novos investimentos públicos.

Percebe-se bem porquê: depois do Centro Cultural de Belém, da Expo-98 e dos dez estádios, estamos como estamos. E desta vez não estamos perante a falácia «post hoc, ergo propter hoc».

É muito bom ter um Centro Cultural em Belém mas é pena que já nem haja dinheiro para pagar a temporada de ópera do S. Carlos. A Expo-98 criou um belo espaço urbano, mas não ajuda nada a equilibrar a balança de pagamentos. E a ideia que os dez estádios acabaram a recessão em 2004 é uma história da carochinha que só pode caber na cabeça do dr. Silva Pereira. E já nem queremos falar das comissões e das derrapagens que caracterizam o investimento público em Portugal.

Só com uma fé ilimitada na intervenção do Estado na economia, com aquela fé que remove montanhas e que conduz à paralisia cerebral, se pode aplaudir o investimento público português. É preciso, por exemplo, acreditar que a Caixa Geral de Depósitos possa ser hoje outra coisa senão uma estância de repouso para políticos de diferentes quadrantes em trânsito para indemnizações e reformas de vários tipos.

Quando o pobre eleitor que olha para a televisão em férias se recorda que um investimento de milhões e milhões como o Metro do Porto continua a ter à sua frente o major Valentim «batatas» Loureiro, começa a sentir-se mal ou é de repente acometido por uma variante lusa do neo-liberalismo selvagem. Tudo menos o investimento público!

E depois ainda faltam as tais reformas: em Outubro vamos ter todo o folclore das eleições autárquicas e a apresentação do Orçamento que tem de reduzir o défice. Sem mais espaço para habilidades contabilísticas e sob o olhar atento da Comissão Europeia.

Onde vão ser os cortes desta vez, com o eng. Sócrates a esquecer as reformas e a falar de milhões?

E a recuar no regime de aposentação da função pública ou nos sistemas de saúde da PSP.

Nesta situação, que Governo poderemos ter?

O PS tem a maioria absoluta, mas está a perder de dia para dia aquele mínimo de legitimação que poderia permitir-lhe fazer as reformas a que não tem maneira de escapar. Vai encontrar em Outubro uma situação social degradada e um sector privado exangue e incapaz de continuar a sustentar o sector público com os seus direitos adquiridos e inviáveis.

Se não fosse o euro teríamos as divisas a acabar e em Portugal uma delegação do Fundo Monetário Internacional à espera que o Governo desvalorizasse o escudo e reduzisse os salários reais para reequilibrar a balança de pagamentos. Com o euro, que cria uma moeda que não pode ser desvalorizada, esse papel cabe à Comissão, mas os problemas subjacentes são os mesmos.

Até desse ponto de vista (o regime monetário) a nossa situação é parecida com a da Argentina, que tinha a sua moeda ligada ao dólar mas não conseguia controlar o défice do Orçamento. E tinha também políticos tão prestigiados como os nossos.

Crise económica, crise política. Se a perda do ministro das Finanças for apenas a primeira perda de um ministro das Finanças e tivermos aquela tão sul-americana dança de cadeiras nas pastas económicas, saberemos também que, com ou sem maioria, o Governo está a prazo.

Mas depois de Sócrates, o quê? Um outro governo PS? Não se vê qual. Novas eleições e governo PSD? Sabe-se lá como reagiriam os eleitores e qual seria o nível de abstenção.

Seja como for, as perspectivas são todas más. Que PSD poderia ser alternativa a este se o Governo deixar de conseguir governar?

Sintomas de que isso pode acontecer não faltam.

Quando se ouve falar em défice-obsessão ou em défice-prisão, estamos perante o conhecido movimento de recusa da realidade. Quer dizer que começa a haver no Governo quem pense que isto não pode ser assim tão mau e tem de haver outras alternativas.

A Ota e o TGV são essa busca desesperada de alternativas. E uma mudança de rumo que pode ser o fim do Governo.

Se o fizer perder o único crédito que tinha - a coragem de tomar medidas difíceis - sem que desapareça a necessidade de as tomar, como vai conseguir governar?

Adenda: a única coisa que está a correr bem a este Governo é o aumento das cobranças fiscais e a convicção generalizada de que começa a haver algum perigo nas formas mais cruas de fraude fiscal. E ainda falta uma coisa: a melhor utilização dos sinais exteriores de riqueza em relação aos numerosos contribuintes que não declaram ou declaram valores insignificantes.

Saldanha Sanches, in Expresso.»

 
At 15 de dezembro de 2005 às 10:01, Anonymous Anónimo said...

PODEMOS E DEVEMOS ATRAIR NOVAMENTE A CHUVA.

Joaquim

 
At 15 de dezembro de 2005 às 12:19, Anonymous Anónimo said...

Enquanto andamos entretidos "a brincar" às presidenciais, o governo vai apresentando as obras "do regime":
a OTA, o TGV, uma refinaria. Perante a habitual plateia dos betoneiros do mesmo regime - certamente dewvidamente municiados com números de telemóveis de gente estimável do PS e do PSD -, Mário Lino e o próprio Sócrates explicaram a necessidade imperiosa do TGV para deixarmos de ser "periféricos" e entrarmos, gloriosos, na "rede europeia de transportes ferroviários".
Muito bem.
Não enjeito o propósito, meritório, de facto, e, sem dúvida, patriótico.
Acontece que "não é por muito madrugar que amanhece mais cedo". Ou seja, não passamos a ser menos periféricos do que sempre fomos e continuaremos a ser por causa de umas linhas de comboio.
A raça que vai dentro das carruagens é a mesma de sempre. E, depois, é extraordinário fazerem-se contas a cerca de sete mil e quinhentos passageiros/dia na "linha" Lisboa-Madrid.
Quanto aos custos, nem vale a pena falar.
Em apenas uma semana, uma "estimativa" cresceu "só" cerca de quatrocentos mil euros.
A insistência em linhas insignificantes para deleite de meia dúzia de interessados e outra tanta de curiosos, também merece nota no cardápio dos betoneiros, com certeza.
Enfim, "Madrid me mata".

 
At 15 de dezembro de 2005 às 12:23, Anonymous Anónimo said...

Coitado este ministro é padrinho do Pinto Bugalheira?

Esta "estória" é igual à das chamadas eróticas do Pinto Bugalheira?

Pobres coitados?

 
At 15 de dezembro de 2005 às 14:36, Anonymous Anónimo said...

O ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que não há no Ministério, entre as cerca de 1300 notas verbais e comunicações norte -americanas sobre o sobrevoo ou aterragem em território nacional desde Setembro de 2001, “registo de qualquer pedido de autorização apresentado por via diplomática para qualquer voo da CIA” envolvendo “transporte de prisioneiros” para países onde “haja ou tenha havido centros de detenção ilegais ou perigo de aplicação de tortura e tratamentos degradantes”.

Ficam assim algumas outras hipóteses em aberto.

Hipótese A – Os voos da CIA, que escalaram Portugal transportando detidos em violação da legislação nacional, do direito internacional ou de acordos bilaterais, realizaram-se sem qualquer pedido de autorização por via diplomática.

Hipótese B – Os voos da CIA, etc., etc., foram precedidos de pedido de autorização mas não por via diplomática.

Hipótese C - Os pedidos de autorização para os 59 voos da CIA que transitaram por Portugal nos últimos três anos deram entrada no expediente de outro departamento governamental.

Hipótese D - Os pedidos de autorização para os voos da CIA não apresentaram manifesto de carga, de passageiros ou destino final.

Acontece que, por um lado, segundo uma investigação do Conselho da Europa, são cada vez mais fortes os indícios sobre o trânsito pelo continente de voos secretos da CIA transportando prisioneiros. Por outro lado, a posição geográfica e estratégica e o alinhamento de Portugal dão toda a credibilidade às notícias que relatam a visita frequente de tais aviões.

O Parlamento Europeu pediu aos estados-membros que apurem a verdade e as investigações tiveram já início em diversos países da Europa. E Portugal irá ficar-se por uma declaração que nem sequer é um desmentido?

 

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