ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Habituem-se... ´
CONCELHO - PONTE DE SÔR
Candidato-------------------------Votos
CAVACO SILVA ..................2.966.......32,93 %
MANUEL ALEGRE ..............2.540...... 28,20 %
JERÓNIMO SOUSA ............1.904...... 21,14 %
MÁRIO SOARES .................1.135...... 12,60 %
FRANCISCO LOUÇÃ .............421........ 4,67 %
GARCIA PEREIRA................... 40........ 0,44 %
20 Comments:
Era vê-los com uma beiça maior que os porcos que a minha avó tem lá na quinta...
Ontem os habitantes do concelho deram uma grande lição ao Partido Socialista e aos Taveiras Pintos.
Coitado deles, hoje e com os resultados do concelho é só azia...
Os resultados são, aparentemente, esclarecedores. Vencer é convencer que se vai ter o poder e se vai utilizá-lo. Os antigos gregos inventaram a retórica para que assim, na sua democracia, todos tiveram hipóteses iguais de persuadir os cidadãos.
Mas, como alertava Platão, isto não tinha nada a ver com estar certo ou estar errado, o que importava era ganhar. Com argumentos ou votos. Foi o que se passou ontem. Os portugueses necessitavam de alguém que permitisse agitar um sonho de futuro que não se esgotasse na perspectiva que só o Euromilhões resolve os problemas de cada cidadão. No dia seguinte, no entanto, há certezas. Mas continuam as dúvidas. Qual é o rumo do país? Conseguirá, nos próximos anos, deixar de lacrimejar para começar a dispensar lenços e xailes? É isso que efectivamente é importante neste primeiro dia pós-presidencial. Esquecidas as retóricas é fundamental entender que os próximos anos vão ser decisivos para um país que está entediado consigo próprio. Portugal enjoou. Um Presidente pode ajudar a sair o país desse desígnio dos maus marinheiros. Mas não é o homem do leme. É, apenas, o aconselhador da rota e da forma de evitar os recifes onde ocorrem tantos naufrágios. De um Presidente não se pode esperar que seja o nadador-salvador do país.
Mudança nem sempre rima com esperança. É um facto que Cavaco Silva triunfa porque a maioria dos portugueses deposita uma enorme esperança nele. Mas terá de fazer melhor, muito melhor do que mostrou nesta campanha, para estar à altura das mudanças.
Aníbal Cavaco Silva tem de assumir uma outra atitude. Durante a corrida, o candidato foi receoso, defensivo, cauteloso, evasivo, conservador nos equilíbrios, enfim, um designado pelo «status quo».
E o grande construtor dos consensos. Não será possível. Não será pelo menos admissível que Cavaco venha a ser o «Presidente dos consensos», como prometeu.
O país não pode ficar mais cinco anos a contemplar o Palácio de Belém, à espera de um Presidente com sobressaltos reformistas nos dias de evocação, do 25 de Abril ao 5 de Outubro, passando pelo 10 de Junho, ou nos apelos da abertura do ano judicial e das mensagens de Ano Novo.
Como pode Cavaco ser aliado do Governo na reforma da justiça, elegê-la como decisiva para uma sociedade mais justa e uma economia mais competitiva, e ao mesmo tempo garantir compreensão a quem resiste à mudança?
O sobressalto reformista é isso mesmo: inquietação permanente, mas sobretudo consequente, capaz de produzir novas formas de organização, novas respostas aos diagnósticos de sempre. Enfim, a crise que se supera com um salto em frente.
É esta outra transformação a aguardar. Se, até agora, o candidato se limitava a anunciar a catástrofe, a cavalgar sobre a crise, a assumir a pose do homem providencial. Se o candidato até podia regozijar-se com o facto de Portugal ser ultrapassado pela República Checa. Enquanto Presidente, não.
Como Presidente, Cavaco tem a responsabilidade de participar na solução. Senão o que é isso de «cooperação estratégica» que prometeu ao Governo?
Senão estiver ao lado de quem reforma, se fugir às coisas mais sensíveis, porém absolutamente necessitadas de decisões corajosas, de medidas impopulares, Cavaco corre o risco de ficar na História. Não como um grande Presidente, mas como profeta da desgraça.
O prof. Cavaco Silva anda, há quase dez anos, a alertar para a crise económica anunciada, a escrever sobre as reformas estruturais e, sobretudo, a criticar quem, primeiro, não foi capaz de prever a crise e, depois, de a resolver.
Pois bem, chegou o momento de abdicar do conforto da sala de aulas e entrar nos problemas. Agora, a crise vai bater-lhe à porta, todos os dias, no Palácio de Belém. E será, a partir dali, que se submeterá ao escrutínio decisivo. Aquele que, enquanto candidato, se furtou.
O país precisa de estabilidade institucional, mesmo que tal implique, e vai implicar, confronto e agitação social. O país votou ontem em Cavaco, com a mesma esperança que há menos de um ano deu uma maioria absoluta a Sócrates.
Mas a esperança nele depositada não rimava novamente com a mudança. Cavaco é o novo salvador, alguém capaz de, num acto prodigioso e sobrenatural, tirar o país do buraco.
Sócrates está a governar no sentido correcto, mas só perde eleições. Terá ganho um aliado ontem?!
Cavaco Silva e o Governo de Sócrates convergem em tudo menos no papel no Estado na educação e na promoção da inovação – o que significa que caberá à economia marcar o ritmo desta convivência entre São Bento e Belém.
Portugal tem novo presidente da República: Aníbal Cavaco Silva. O resto deste texto poderia dedicar-se à análise dos resultados eleitorais, focando na derrota de Mário Soares e na surpreendente acumulação de votos de Manuel Alegre. Podia, igualmente, sublinhar a subida do PCP de Jerónimo de Sousa e o desastre eleitoral de Francisco Louça. Podia, até, escalpelizar a legitimidade da eleição de Cavaco por pouco mais de trinta mil votos. Podia, mas há alternativa: olhar os desafios de Portugal.
O país, hoje com novo presidente como antes com Sampaio, tem os mesmos problemas pela frente: um Estado gordo, que esgota grande parte dos recursos totais do país e que consome uma fatia substancial da energia de cada português com o propósito único de se alimentar. Esse problema, como se sabe, foi identificado e logo atacado pelo Governo de José Sócrates. Ou seja, existe um Governo consciente dos problemas do país e que tem mostrado vontade de os atacar. E não cola a leitura de que este resultado é um voto contra as políticas do Governo. Isso sente-se na rua, na oposição, e essa, como José Sócrates lembrou, revela um nível de conflitualidade social pouco relevante.
E o novo presidente? Cavaco Silva não apontou estas patologias quando esteve no Governo, mas empenhou-se noutras que, na sua época, foram tão relevantes como aquelas que agora motivam José Sócrates. Isto é, a febre que Cavaco revelou para introduzir mais e melhor dinâmica de mercado num país estagnado é semelhante ao empenho com que o actual primeiro-ministro se bate pelas reformas. Pelo que se podia afirmar: está tudo bem quando acaba bem. Mas e se não acaba? Os desafios persistirão. Olhem-se, pois, os grandes desafios e, com base neles, perceba-se então o que pode baralhar estas vontades naturais de Cavaco Silva e de José Sócrates.
Desafio um: a reforma da segurança social. O Governo procura devolver sustentabilidade a um fundo comum que faliu há muito tempo. Para isso, aposta sobretudo na intransigência da cobrança às dívidas fiscais e na tentativa de introduzir alguma responsabilidade nos cidadãos. Isto é, em vez de se falar apenas de direitos, discutem-se também responsabilidades. Muito bem. Mas Cavaco pode querer mais, sobretudo se revelar vontade de dar músculo aos seus 50,6% dos votos. Pode pedir reforma mais radical, forçando a discussão do plafonamento com que o ministro Vieira da Silva não concorda. Não interessa quem tem razão: interessa que é um foco de conflito e que, nesses termos, teria poucas possibilidades de gerar consensos. E Portugal precisa de um modelo novo e eficaz.
Desafio dois: a reforma da administração pública. Melhor dito: o esvaziamento urgente de muitos ministérios (que servem para pouco) e a racionalização de metodologias de um monstro que consome consigo mesmo mais de metade daquilo que produz. Ou seja, é preciso que Sócrates mantenha o empenho e que Cavaco o suporte evitando os vetos e, sobretudo, amplificando a urgência das medidas em cada declaração pública. Dirá a análise política que o país poderá, neste caso, dormir descansado. Sobra um risco: se Cavaco quiser que estas reformas se façam ainda mais do lado da despesa. Isto é, ainda com mais cortes no que já existe - o que pode deixar a personalidade agressiva de José Sócrates justamente aí, na vontade de ganhar conflitos apenas pelo prazer da vitória.
Desafio três: a educação. Aqui antecipam-se conflitos mais complexos. Isto é, a ministra da Educação tem uma visão mais estatizante do sistema de ensino do que aquele que se conhece a Cavaco Silva. E o sistema, para quem acredita nas leis do mercado e no poder do indivíduo, precisa de menos Estado. Não é dizer que educar não está na cartilha dos deveres públicos. É dizer que se educa melhor com concorrência, porque esta dá liberdade de escolha a todos - e não apenas aqueles que têm dinheiro para exercer livremente a opção entre ensino público e ensino privado. Cavaco, estando empenhado nesta matéria, terá de ser mais assertivo e exigir (como presidente) apenas isso: maior liberdade de escolha aos alunos.
Desafio quatro: a inovação. Melhor dito: a capacidade de projectar Portugal no mundo não apenas pelo sol algarvio, mas pelas suas mentes brilhantes. De novo possibilidade de conflito: Cavaco é um homem da economia, fiel ao princípio de que mercados livres funcionam melhor do que mercados fechados. José Sócrates, durante a campanha eleitoral, também sublinhou a validade da concorrência, mas acreditar não chega. Inovar é acreditar no inesperado, e o Plano Tecnológico precisa disso: menos planeamento central e mais criatividade. O recente caso em torno da abertura do MIT em Portugal revela, por exemplo, que Mariano Gago quer uma parceria limitada com um Instituto, e que os americanos, claro, preferem ter acesso a todas as cabeças – e não apenas a essas que frequentam o Instituto.
O que permite uma conclusão simples: Cavaco e o Governo de Sócrates convergem em tudo menos no papel no Estado na educação e na promoção da inovação – o que significa que caberá à economia marcar o ritmo desta convivência entre São Bento e Belém. Quer dizer: se a economia nacional crescer, estes assuntos serão secundários – porque em equipa vencedora não se mexe. Se a economia fraquejar, então estes serão os dois assuntos que regressam sempre à agenda. E são esses, mais do que quaisquer outros, que podem determinar o futuro de Portugal.
Enquanto via e ouvia ontem Cavaco na varanda a céu aberto do CCB - que obrou - lembrei-me do seguinte, até para preencher aqueles tempos mortos que ele mentalmente digeria enquanto processava mais informação de circunstância para dizer à turba que agitava as bandeiras sedenta de novidades: mesmo nas condições mais precárias e até desiumanas, os portugueses parecem rebuscar forças terríveis no fundo de qualquer baú a fim de recuperarem da desgraça que nos tolhe a todos - pessoas, empresas, sociedade, Estado.
Esta "saloia" deriva prende-se precisamente com a busca de sentido para a vida, para a vida de Portugal e dos portugueses - que hoje vivem imersos num "mundo cão", com a economia, a sociedade e o Estado a ensanduicharem os tugas com cada vez mais impostos sem que daí decorra qualquer contrapartida para a saúde, a educação, o ambiente, segurança e protecção sociais entre muitas outras políticas púbicas...
É, pois, esta busca de sentido para a vida que Cavaco deveria estar a pensar enquanto afinava o carburador para deixar passar a gasolina e permitir a combustão dessa energia pelo motor - que em Portugal explode pouco e mal.
Será a dois tempos... O aumento dos combustíveis era, desde já, uma medida que Belém deveria opôr-se, até por razões de Estado, ié, por machadar ainda mais as condições de produtividade e de competitividade nacionais.
Mas o dr. Sampaio é como é = a ele próprio, e sendo assim não é nada. Aliás, Samapio só fala algo entendível quando lê um papel, como diria o prof. Marcelo.
Deste modo, aqueles tempos mortos na caixa negra mental de Cavaco eram, presumimos, interrogações a que o próprio Cavaco não tem a mais pequena ideia de como se resolvem.
Mas ele é um bom aluno e aprende depressa.
É que se não o fôr os portugueses, ié, os "prisioneiros" desta nave doente que se chama Portugal - transformam-se em meros objectos de decoração duma paisagem inerte, já sem cor e sem finalidade, em suma, sem sentido.
Quando a dia 9 de Março Cavaco tomar posse - os portugueses, cada um dos portugueses, deve dar o grito de dignidade humana, de revolta, para mostrar o sinal da luta revelando, como Camões, que por vezes é o povo forte que faz forte o rei-Presidente.
Ao invés de rei-fraco /Sampaio enfraquecer o fraco povo... que já somos.
Eis o legado de Belém nesta última década sentimentalóide e choramingueira...
E é aqui que bate o ponto: Cavaco, de per se, vale pouco.
Mas se os prisioneiros que são 10 milhões - resolverem começar a bater os pés e a gritar - com o tal sentido - desconfio que rápidamente recuperaremos os valores espirituais, as crenças e as motivações que nos trarão de novo o amor-próprio, a noção de colectividade mas também a de indivualidade (porque isto não é o comité central do PCP, bem entendido!!!) e, desse modo, construir um ser-pensante português com um PIB mais elevado. E como é que isso se faz?
Senão com liberdade, amor-próprio, trabalho e, já agora, alguma arte. Reunir tudo isto num cesto é identificar o tal "sentido" ou desígnio que hoje tristemente nos falta.
Resumindo: temos de ajudar o Cavaco a partir o bolo-rei, doutro modo ele não se aguenta com tanta talhada.. E para sinalizar essa necessidade de o ajudar deixamos aqui uma reflexão criativa do grande Chaplin... que era um verdadeiro comunista, talvez quem melhor e mais percebeu o natureza do sistema capitalista do mundo moderno e o satirizou.
Também aqui o bom do Cavaco terá de perceber uma coisa - até para afastar as aleivosias do sistema banco-burocrático que o circunda como tubarão em roda das focas.... O capitalismo é hoje tão essencial - como essencial é regulá-lo e discipliná-lo...
Portanto, dr. Cavaco sempre que pensar no capitalismo em Portugal lembre-se do dr. Santana...
No início da década de 70 o Primeiro-Ministro de Portugal viaja até ao Brasil.
Leva consigo uma extensa comitiva de ministros, gestores, empresários, intelectuais e, claro, jornalistas.
Não sabemos se Carneiro Jacinto já andava na alta roda nessa altura..
- A viagem destinava-se a recuperar a confiança do Governo brasileiro, ainda magoado com os actos hostis do tempo do gonçalvismo, e assim obter investimentos nos vários domínios.
O ambiente era quente, como se pode calcular, mas o dr. Soares não se dispensou de dar um espectáculo, que - décadas volvidas, revelam bem a sua maneira de ser e estar na vida.
- Irrompeu por entre a multidão, ante a sua demagogia parva, para tentar mostrar aos índigenas que era um verdadeiro estadista. E na ânsia de aumentar essa popularidade fácil, por entre gestos e gaffes, Soares resolveu entrar num bar e dizer: Vou aqui abraçar o Manel, meu patrício. Ao que o outro respondeu no sotaque respectivo - de que se chamava Pablo e era galego.
- Soares ficou desconcertado perante tamanha gaffe que cometera. Ora temos aqui insistentemente dito que esta candidatura era completamemte absurda, não passava duma pura "birra de velho mimado" - com o devido respeito que os velhos nos merecem a todos.
- Mas esta estória, de certo modo, revela o desconcerto, o carácter deslocado de Soares perante certas circunstâncias. Quer a resposta embaraçosa de Pablo, quer estes mais que previsíveis resultados eleitorais, traduzem a laser a conduta de Soares - obstinada e inapropriada. Tamanho é o fascínio pelo poder que, um dia, por volta da década de 70 - H. Albert Kissinger - tinha a noção que se tratava do maior afrodisíaco.
- No caso de Soares não funcionou, por isso lhe dedico aqui este comentário - que é também co-extensivo a todos aqueles perdedores - subjectivos e objectivos - das eleições presidenciais de Janeiro de 2006.
1) Cavaco Silva enterrou definitivamente Soares e o soarismo;
2) O centro-direita elege pela 1ª vez um PR - recuperando the great dream de Sá Carneiro - para grande frustração de Santana Lopes - que continua a andar por aí, ao vento... não sei se sob os repuchos dos riachos do CCB...
3) Cavaco Silva "partiu" a outra perna a José Sócrates ou talvez não, já que poderá alavancá-lo a prazo. We shall see.
4) Com Cavaco Silva passará a funcionar uma hot-line entre Belém-Bruxelas/Durão-Bill Gaitas/Seattle - para retomar aqui a expressão de JAM - com misturas de prof. Pardal e Veigas, Moreias e Compª
5) Manuel Alegre foi a novidade desta nova sociologia eleitoral do País que rasgou o mapa político de Soares (que já era uma velha cartilha), como se a poesia fosse erguida ao topo da pirâmide para cair logo de seguida, com o pano no tetaro de Moliére.
Manuel Alegre hoje é um triste vencedor - e comprou todo o odioso e um passivo tremendo nos seios PS - que irá ajustar contas com ele. E por falar em seios:
- Ana Gomes - já se encarregou dessa caça às bruxas temperada por uma noite de facas longas - em que a prórpia, aliás, já é pródiga.
Há meses quis queimar na fogueira José Lamego quando este se "vendeu" ao Iraque sob comando do maoista Durão.
É sempre ela - a mensageira do funeral, já começa a ser mórbido. Sugerimos que o faça com lenço escuro e avental grená... e depois dê uma conferência no epicentro do Campo Pequeno... que ainda creio existir.
Srª drª Ana Gomes - abra uma agência funerária e monte uma revista de diplomacia a que pode chamar: Necrologia Política das Necessidades.
Não se esqueça de arranjar dois patrocínios: Gulbenkian e FLAD. Ah, pode também pedir um apoio à Fudação Mário Soares - que agora, para ser compensada pelo desastre, deverá recolher mais fundos governamentais, designadamente do amanuense Amado - que julgo ser ministro da Defesa...
6) Jerónimo de Sousa segurou o velho eleitorado da cintura industrial da grande Lisboa, vendeu o seu pacote político - menos chato do que Carlos Carvalhas e honrou a memória de Álvaro Cunhal - que estará no túmulo dando voltas de satisfação empunhando inúmeras medalhas de Lenine, Stalin para lhe ofertar no Edén.
Vale hoje mais do o PCP. Pessoalmente, sai vencedor, e qualquer dia terá o mesmo futuro que José Lamego e inventa-se um "Iraque" só para ele.
Se não for possível - ele que vá para o Irão - onde o potencial do átomo é maior.
7) Francisco Louçã continua economista e líder do BE - é hoje um homem mais conhecido no país. Terá, porventura, o mesmo problema de Freitas do Amaral de há 20 anos... Who pay the bill boy??
O Freitas do Amaral ainda pode dar pareceres e fazer-se pagar a peso de ouro, o Anacleto parlamenta... É curto, o que significa que vai haver peditório nacional.
Como já há um milhão de gays em Portugal (não se inclui também as "fufas"), conforme noticiava o Expresso há dias, não será difícil resgatar esse passivo.
8)O Garcia Pereira vai dar uma volta de barco, sai da Barra do Tejo - acompanhado por uma caixa de garrafas de "Visky" de Sacavém e já martelado no Prior-Velho, embebeda-se e afoga-se de seguida. Temo bem que amanhã a Marinha Portuguesa vá dar com ele plasmado e já irreconhecível encarpado numa rocha das praias do Guincho rodeado de gaivotas para afiar o bico..
Em suma:
- Cavaco Silva ganhou capital simbólico acumulado ao longo destes 10 anos de pousio político.
Tem 6 meses para aquecer o lugar e um ano para estar em força a coadjuvar o governo e "ajudar" a modernizar e desenvolver o País.
O PSD que se cuide porque as ajudas sopradas de Belém nunca serão no sentido de consolidar a actual liderança do PSD.
Amigos amigos...
António Borges espreita, Manuela Ferreira Leite também, nem que seja só para chatear Marques Mendes, o outro anda por aí...
Afinal, quem é o outro?!
Ainda se fala no Vasco Sant...
Afinal, agora é que vamos conhecer Cavaco Silva e provar do seu bolo-rei. Pois em 10 anos um homem muda muito.
Esperemos que tenha mudado, para melhor...
Veremos quantas favas têm os próximos bolos-rei dos portugueses..
PS 1: - Joaquim Aguiar - um dos homens mais talentosos em Portugal, vai agora para Belém.
Nem que seja por sugestão de Eanes - que, certamente, já fez a recomendação.
Aquilo precisa ser arejado, já que os ventiladores não funcionam, segundo o dito do sr. Carneiro Jacinto - que era jornalista e foi para assessor, ou era ambas as coisas at the same time. Ou então os ventiladores não funcionavam por ele passar por lá...
Não percebi bem.
Sempre que vou ao talho comprar bifes de perú fixo-me no butcher e lembro-me sempre do Carneiro Jacinto, ainda não sei bem porquê..
Mas hei-de descobrir... Serão "irmões"..
PS 2: - Não seria de admirar que o sr. Jorge Coelho proponha o nome de Mário Soares para próximo Secretário-Geral da ONU - no programa - Quadratura do Círculo. E como Soares tem "óptimas" ligações à América de G. W. Bush - a eleição está no papo ... Não "hadem" que sim, pois então!!!
Cavaco Silva ganhou e vai ser o legítimo Presidente da República, para o bem ou para o mal terá um mandato de cinco anos durante os quais exercerá os poderes que a Constituição da República lhe confere.
Não creio que Pinto Balsemão, Rui Machete ou Morais Sarmento lhe digam o que deve fazer ou como deve fazer, sob pena de não conseguir um segundo mandato, pois com todas as vantagens não ultrapassou os 50,6%.
Os 0,6% que Cavaco conseguiu acima dos 50% significa que ganhou graças às asneiras da esquerda, à disputa do mesmo eleitorado à custa de críticas cruzadas e de alguns golpes baixos.
Parece ridículo mas foi Cavaco Silva quem menos criticou a esquerda ou o governo de Sócrates. Os mesmos 0,6% não teriam resistido a uma intervenção mais activa de Sócrates , ou a uma melhor gestão da imagem por parte de Alegre e Soares cujas campanhas tiveram ao nível de uma junta de freguesia.
Esta diferença quase mínima prova também que muitas das sondagens foram manipuladas, o eleitorado português não é tão idiota que em menos de duas semanas tenha mudado a orientação do voto em 12% sem que nada de significativo tenha sucedido.
As sondagens divulgadas foram uma vergonha protagonizada pela SIC, Expresso, RTP, Público e Diário de Notícias, em particular os órgãos de comunicação social de Balsemão, cujos empregados continuam a tratar os portugueses como atrasados mentais.
Todavia, as sondagens não mudaram nada, apenas expuseram a falta de honestidade e de formação democrática e a cobardia de alguns jornalistas.
Sócrates derrotado?
É evidente que Sócrates dispunha de elementos que indicavam a vantagem de Manuel Alegre sobre Soares, e nestas condições uma intervenção activa só favoreceria Alegre, que poderia ir à segunda volta.
Alegre seria a figura da esquerda, mas depois da campanha que fez dificilmente teria o pleno dos seus votos, Cavaco poderia ser eleito por uma margem bem superior aos 50,6%.
Depois dos ataques a tudo e a todos e em particular ao BE e ao PCP, corria-se o risco de Cavaco ter uma votação quase equivalente a uma maioria constitucional.
A actuação de Sócrates é criticável, pode ser considerada cínica, mas do seu ponto de vista poderá ter sido um mal menor.
O que os apoiantes de cavaco pretendiam era uma votação equivalente ou quase equivalente a uma maioria constitucional, e afinal teve pouco mais do que a maioria absoluta do PS; neste ponto Sócrates venceu, e a vitória de Alegre foi fraca, não serviu nem vai servir para nada, a não ser para massajar o seu ego, tem menos apoio no país do que teve quando se candidatou a líder do PS.
Cavaco conta com um mandato de cinco anos e Sócrates ainda tem mais três para governar, ou seja, o sucesso de Cavaco depende do sucesso de Sócrates e é muito duvidável que Cavaco, que dispensou os partidos, vá apoiar a oposição dirigida por homens fracos como Ribeiro e Castro e Marques Mendes.
Muito antes de Sócrates cair Paulo Portas “despede” o Ribeiro e Castro, enquanto Marques Mendes ai cuidando do PSD até que Manuela Ferreira Leite ou António Borges o substituam.
Dos três líderes partidários Sócrates é o único que vai sobreviver.
Cavaco não teve a vitória que pretendia, Marques Mendes e Ribeiro e Castro passaram a ter um contrato a prazo, Sócrates continua primeiro-ministro , Santana Lopes anda por aí, Guterres anda lá por fora, Durão anda por Bruxelas até ao próximo passeio no Mediterrâneo, e a maioria dos portugueses vão ficar por cá.
Foram umas eleições presidenciais em que quase todos ficaram com um sabor a derrota na boca.
Os únicos que poderão estar felizes é um Sócrates que se está a revelar um artista na arte do cinismo político, e os que desejavam que Cavaco ganhasse mas sem exageros, Paulo Portas e Santana Lopes, estes últimos porque poderão ter evitado uma travessia do deserto mais longa do que seria de esperar.
1. A direita com expressão partidária (PSD e CDS) continua em minoria no país. Se, ontem, tivesse ido a votos, mesmo com o descontentamento popular contra o governo socialista, não teria obtido maioria no parlamento. A não ser que esteja genuína e ingenuamente convencida, que os 50,6% dos votos de Cavaco são seus.
2. A direita só chega ao poder em coligação, pré ou pós- eleitoral, dos dois referidos partidos. Nem Francisco Sá Carneiro, fundador e líder carismático do PSD, se atreveu a tentar conquistar sozinho a maioria absoluta dos lugares do parlamento: fez a AD e nela juntou o PSD com o CDS, o PPM e alguns independentes. Em mais de trinta anos de eleições democráticas, só por duas vezes consecutivas o PSD obteve sozinho aquela maioria. Curiosamente, com o homem que ontem voltou a repetir o feito.
3. A entrada, de novo, de Cavaco Silva no jogo político retirará ao personagem a dimensão sebastianista com que alguma direita foi alimentando o mito. Com a sua ida para Belém, a direita ficará mais uma vez desprovida da sua única referência mítica, referências sem as quais dificilmente consegue ter vida própria. Cavaco passou, desde ontem, de expectativa a responsável e não irá queimar o seu capital político em jogadas de bastidores. Fará aquilo que lhe compete: acompanhará o governo no melhor e no pior. Os sistemas de governo semipresidencialistas têm destas coisas: são, como os casamentos, supostamente para toda a vida.
O BORDEL DA REPÚBLICA
Era uma noite de Inverno, fria e chuvosa. Relâmpagos riscavam em ziguezague os ares tenebrosos. A chuva fustigava as janelas do bordel da Madame República. O vento assobiava nas frinchas. Os trovões assustavam as meninas. Mas foi nessa noite que a velha República mandou chamar seis das suas meretrizes mais procuradas: a Maria Villaret, a Cavaca, a Manuela Alegrona, a Jerónima, a Chica Louçã e a Grácia Pereira.
A Maria Villaret, que era a mais velha, representava o género acabado de rameira sabida, com quilómetros de rodagem, quer em campanhas várias, quer na cama do "bem comum". Nascera em berço de oiro. O lugar que conheceu tão alto acontecimento era uma casa de despadrado enriquecido. De tanto ano de ripanço e homem afoito, a Maria lograra ser conhecida como "a puta de todos os portugueses".
Era de outra extracção a Cavaca, exemplo académico de self made bitch: começara nas bombas de gasolina do pai, seduzindo motoristas e ajudantes de frete. Ao subir a pulso a corda da vida, de TIR em TIR, acabou em York, no país dos ingleses — de onde regressou graduada na economia dos lençóis.
A Alegrona, sempre de saia rodada, afigurava-se a mais lírica. De um lado para o outro do bordel, recitava amiúde a alcalina Sophia, com pH positivo, e fascinava os clientes com cantares maviosos e de metro acertado. Bacorejava-se no mundo da noite que nascera homem — desonroso passado que ainda agora esconderia por detrás da voz tonitruante e das mãos calosas. Parece que aquele ser tremebundo fora operado em Argel onde, à falta de bisturi cirúrgico, o caparam rente fazendo uso de um cunhal delgado. Seja como for, constituía exemplo de excepção da "ética republicana", conjunto de princípios de higiene prescritos pela Madame República com vista a salvaguardar a saúde dos clientes.
A Jerónima laborava à noitinha no bordel com o estatuto de estudante-prostituta (ou prostituta-trabalhadora?) Era a única sindicalizada. Ademais, criara com umas amigas de outras casas uma associação de acompanhantes, usando de eufemismo muito em voga: «Pessoas de Companhia Profissionais».
Muitos se interrogavam sobre o que andaria ali a fazer a Chica Louçã, filha de boas famílias, aparentada de marqueses e educada na Linha. Para mais, a Chica mal se dava com as outras, e sobretudo rabujava com a Grácia Pereira, menina pueril de quem todos gostavam. Esta Grácia distinguia-se por ter dois clientes monárquicos, certinhos e pontuais, que mal entravam à sala de recepção, indagavam:
— Ela está livre?
E como lhes respondessem que sim, louvavam os dois em coro:
— Grácias a Deus!
Pois nessa noite todas as seis se dirigiram aos aposentos da Madame República. A Alegrona ia a cantar uma musiqueta de sua lavra em pentassílabos bem medidos:
Menina noviça
De nome Alegrona,
Sou rude, roliça,
Rameira e maçona.
As outras, inchadas de malícia, zombavam com as possibilidades que a rima em «-ona» consentia — e adulteravam-lhe o último verso.
— Vá lá, meninas, sejam fraternas — pedia a Alegrona, espraiando a saia pelo corredor fora, em passinhos suaves de bailarina aposentada.
Chegaram finalmente à sala da patroa. À Madame, essa noitada de Inverno lhe parecera adequada ao que pretendia, que era marcar fundo no espírito das meninas o que ia dizer-lhes. E sem mais delongas, deu começo à arenga:
— Sabeis o carinho que vos tenho. Por mim, continuaria sendo vossa tutora por muitos e bons anos. Mas estou exausta. Não posso prosseguir. Sei que vou morrer em breve. Sinto já que poucos anos terei de vida. Quero que me façam aqui uma promessa solene em sessão secreta.
— Ó diabo, hoje não trouxe o avental — disse a Maria.
— E o meu está para lavar — aditou a Alegrona.
A República sossegou-as:
— Não é preciso nenhum avental. A sessão é secreta, mas desprovida de formalidade.
Ergueu-se a custo. E continuou:
— Quero que cada uma percorra o país para conquistar novos clientes. A concorrência é feroz. Há cada vez mais gente a exercer esta actividade. Quero, enfim, que cada uma abra a sua própria casa.
— Ai que giro! — interrompeu a Chica. — Vamos de terra em terra e depois fazemos a nossa própria casa. É como na história dos Três Porquinhos...!
— Não digas disparates — emendou a Cavaca. — Isto de andar de terra em terra chama-se marketing comercial moderno.
— Ora, ora — interrompeu a Maria Villaret. — O nome que se dá a esses périplos é presidências abertas.
— Chamemos-lhe antes "Putas em tournée" — propôs a Madame. — É mais prático.
E concluiu:
— Beijem os homens, as mulheres e as criancinhas. Cativem! Seduzam! E agora, meus amores, jurem que hão-de cumprir esta vontade.
As seis meninas dobraram um joelho em terra. Levantaram a mão direita e, a uma só voz, passadas de um religioso pavor, disseram:
— Juramos, Madame!
...«a noite das facas longas...»
Há ilações a tirar e «reflexões» a fazer, avisam socialistas. Congresso antecipado pode não ser a solução. «É preciso ir mais fundo», diz Vítor Ramalho
Numa noite em que altos dirigentes do PS falaram em «ilações» a tirar desta derrota presidencial, Vítor Ramalho considera que um congresso extraordinário «é insuficiente» e é necessário «ir mais longe». Paulo Pedroso, por seu turno, fala em «reflexão profunda» no Largo do Rato.
Explicando o resultado de Manuel Alegre, o segundo candidato mais votado, Ramalho, membro da comissão política de Soares, acredita que foi um «discurso populista e fácil» que granjeou votos ao deputado. «A maior parte do eleitorado não tem preferências partidárias, e com um discurso facilitador e crítico dos partidos, [Manuel Alegre] acabou por acolher votos».
Para Vítor Ramalho, o que fica deste «combate, em termos de futuro, é a determinação de Mário Soares». O dirigente socialista explicou ainda que, depois da derrota nas autárquicas, «a máquina ficou atordoada» e «não podia ter uma alma galvanizador, que acabou por surgir só no final».
Recuando na história, Ramalho vê similitudes entre a votação de Manuel Alegre e o fenómeno PRD. «O país está a viver uma crise de valores, e por isso responde ao que é novo. Como respondeu no passado ao surgimento do PRD».
À saída, Paulo Pedroso afirmou que «o PS partiu com muito atraso para esta eleição». E pede uma «reflexão profunda» dentro do Largo do Rato, não querendo no entanto falar em congresso extraordinário. Também Pedroso, à semelhança de todos os actores políticos desta noite, pôs a tónica na estabilidade. «O país precisa acima de tudo de estabilidade governativa».
Concordante com esta perpectiva, Correia de Campos acredita que «Cavaco Silva será um presidente não só dos que o elegeram, mas de todos os portugueses». O ministro da Saúde «não tem dúvidas de que a coabitação [entre Belém e S. Bento] far-se-á a bem do país».
Também presentes nesta noite, em que se sentir a decepção e a derrota no hotel Altis, estiveram também Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência, Maria de Lurdes Rodrigues, ministro da Educação, Idália Moniz, ex-secretária de Estado, José Lello, deputado, a ex-ministra Maria João Rodrigues, os eurodeputados Capoulas Santos, Sérgio Sousa Pinto e Edite Estrela.
TAL PRESIDENTE, TAL PRIMEIRO-MINISTRO
A falta de educação e de respeito pelas mais elementares normas de uma noite eleitoral não tem desculpa, o comportamento de Sócrates não só é reprovável, como revela uma arrogância que começa a provocar os seus danos na imagem do primeiro-ministro. Que se saiba, Sócrates não era candidato a PR, e até se pode dizer que quase nem se deu pela sua presença durante a campanha eleitoral, para benefício de Cavaco Silva. Ao iniciar a sua intervenção interrompendo o candidato que ficou em segundo lugar revelou um inaceitável desprezo pelo mais importante discurso de derrota da noite, José Sócrates revelou uma faceta terceiro-mundista até aqui escondida, e não venha dizer que foi sem querer, pois todos os jornalistas que estavam na sala estavam a obter sinal via rádio da intervenção de Alegre, e não terão faltado os que avisaram Sócrates. Nunca o presidente e o primeiro-ministro tiveram personalidades tão semelhantes.
Sócrates quer deixar Alegre a falar sozinho. E se o golpe televisivo – falar por cima do candidato – sugeriu um pedido de desculpas, a dúvida legítima outras interpretações.
Fica a mancha que fortalece aqueles que destrunfam um milhão de votos, pedindo mais e melhor desforra. Alegre vai certamente desiludi-los: chegou ao insuportável patamar do último passo, aquele que pede terra firme. Chega-lhe ter abalado o sistema e o poder de quem o desvalorizou. Sócrates, em primeiro lugar – o chefe humilhado por um partido que lhe desobedeceu, partilhando a rebeldia de Alegre, para castigar a forma como o processo foi conduzido. Muitos dos votos que somaram mais de um milhão são eleitores socialistas. Provavelmente a maioria. E é isso que Sócrates não quer ver. Vê, mas rejeita a imagem, refugiando-se no seu poder, esperando que a adversidade acabe por não passar de uma ficção. É o pior que pode acontecer. Raramente se evita a consequência: a paz podre solidifica e contamina o que poderia ter sido preservado. E quando se acorda, já é tarde.
Todos acreditam que os militantes não sabotam a estratégia dos partidos e as ideias iluminadas dos seus líderes. Nestas eleições presidenciais Manuel Alegre foi o submarino que torpedeou, na linha de água, os porta-aviões Mário Soares e José Sócrates. Cavaco ganhou. Como numa prova olímpica.
Pelos milímetros que dão a vitória ou a derrota. Mas Alegre teve o condão de, no caldeirão onde se cozinhou a sua candidatura estilo «sopa da pedra», trocar as voltas a toda a esquerda. Alegre não representa uma «nova esquerda». Mostrou, simpaticamente, que Sócrates ou Louçã são fantasmas de uma esquerda que já não existe e de que eles querem ser os guardiões. Louçã é o pretoriano da esquerda que se leva tão a sério como a direita que já se reformou. Sócrates julga ter o «franchising» de Blair em Portugal. Pensa que é o príncipe modernizador do país, tecnocrata entre as margens esquerda e direita. Só que lá, em Buckingham, está uma Rainha. Em Belém vai estar um Presidente frio. Sócrates conviveu mal com os votos de Alegre. Será o sapo da sua vida política. Mas, como percebeu demasiado tarde, em Belém terá alguém mais complicado para coabitar. A economia será o rio que os dividirá. E que poderá colocar Sócrates como o menino-traquinas que sucedeu a Santana Lopes.
Contados os votos, definido o próximo Presidente da República, a voz das urnas continua a ressoar. O eleito não é o único e, às vezes, nem sequer o maior vitorioso, e as decorrências históricas de qualquer eleição vão sempre além da posse dos vitoriosos nos cargos conquistados. Aqui vai o que me dizem as urnas sobre os vários candidatos.
Cavaco Silva – É, objectivamente, o vitorioso. Sem pôr em causa a indiscutível legitimidade do mandato conquistado no último domingo, não se pode porém negar que, se o domingo fosse o seguinte, o resultado poderia ser outro. Livrou-se por uma unha negra de uma segunda volta com consequências imprevisíveis e elegeu-se quando a sua candidatura começava uma curva descendente. A margem da vitória não lhe permite chegar a Belém com ares de D. Sebastião, e ainda bem.
Manuel Alegre – Antes de mais nada, o dever de lealdade para com o leitor obriga-me a declarar que, depois de superar uma profundíssima antipatia por Manuel Alegre (que persiste, embora superada), acabei por lhe dar o meu voto. Fez, de longe, a melhor campanha – a mais proponente, clara, anti-demagógica, anti-populista e intelectualmente honesta – e as boas campanhas devem ser premiadas (tanto como as más devem ser punidas). Objectivamente derrotado, é, no entanto, o grande vitorioso desta eleição. Não sei o que fará com os votos que recebeu (o meu incluído) e nem me interessa muito. Manuel Alegre desempenhou na perfeição o papel que se lhe exigia e, por isso, foi recompensado, mas o «fenómeno Manuel Alegre» só será efectivamente importante se for maior do que o próprio Manuel Alegre. E o grande mérito dessa candidatura foi a de mostrar o vigor da mobilização extra-partidária sem, no entanto, negar jamais aos partidos o papel que lhes cabe na democracia. Não foi um candidato contra os políticos. Foi um político, claramente assumido como tal, com história partidária conhecida por todos e perfeitamente assumida pelo candidato, a mostrar o tamanho da crise da representação partidária e a necessidade de os partidos se abrirem ao que se passa fora deles caso queiram continuar a ser os principais canais de representação política dos portugueses.
Mário Soares – É precisamente por acreditar que o lugar de Soares na história de Portugal já está reservado e que este triste episódio não o reduzirá em nada, que me sinto perfeitamente à vontade para dizer que a sua candidatura começou mal, continuou pior e acabou vergonhosamente. O autismo com que reagiu à derrota (como se não tivesse sido Manuel Alegre, muito mais do que Cavaco, quem o venceu) é típico de tudo aquilo de que os portugueses que votaram em Alegre mostraram estar fartos. Ou seja, não aprendeu nada com a derrota, o que a torna ainda mais acachapante. E portou-se muito mal ao assumir a eleição de Cavaco à primeira volta quando os votos ainda não estavam apurados e aquele que poderia disputar uma eventual segunda volta ainda não tinha assumido publicamente a derrota.
Jerónimo de Sousa – A disputa particular entre Jerónimo e Louçã foi vencida por Alegre. O PCP não ganhou nem perdeu nada com esta eleição.
Francisco Louçã – Teve uma reacção pífia a um resultado pífio. Tão autista quanto Soares, tentou minimizar a sua própria e intransferível derrota, metendo-a no rol genérico da derrota da esquerda.
Garcia Pereira – Cumpriu o valoroso papel de dar voz aos pequenos, mas não deixou de ser pequeno.
As televisões – É nelas que acontece a eleição, e mostraram-se, mais uma vez, aquém das suas responsabilidades. A interrupção da transmissão da declaração de Manuel Alegre foi uma vergonha – para as emissoras e, claro, para Sócrates.
PS: Os passeios públicos em torno da escola onde votei estavam tomados por carros. É o povo a agredir o civismo para cumprir o dever cívico de votar. E viva Portugal.
Pouco depois de deitar água na fervura de um PS à beira de um ataque de nervos, travando os que reclamavam um congresso extraordinário para ajustar contas com Manuel Alegre, José Sócrates borrou a pintura.
Foi quando o líder do PS se sobrepôs à declaração do candidato rebelde, mobilizando as atenções das televisões. Numa noite de espectáculo, Sócrates forçou o ‘zapping’ de todas as câmaras de TV, discursando em directo da sede nacional do PS e com a bandeira socialista em fundo. Pouco depois, o gabinete do primeiro-ministro declarava que José Sócrates desconhecia que o segundo candidato mais votado estava a fazer a sua comunicação. E o próprio líder do PS comentou que não lhe passara pela cabeça calar Manuel Alegre. “Por amor de Deus, é exactamente o contrário”, disse. “Exactamente o contrário” não se vê como pudesse ser.
O PS está no governo com apoio de uma maioria parlamentar. E, segundo vários comentadores, vai ter no próximo PR “o melhor apoiante do primeiro-ministro”, como disse, por exemplo, António Borges. Mas o Governo precisará de outras bases de apoio político e dificilmente sobreviverá a um PS esfrangalhado, barricado atrás de 14 por cento dos votos dos fiéis incondicionais e reclamando vingança contra os “hereges”. Até porque, sendo o voto secreto, ninguém saberá ao certo onde estão, onde começam e acabam os “hereges”, sabendo-se apenas que muitos dirigentes e outras destacadas figuras socialistas primaram pela ausência na campanha do candidato oficial do partido.
A preparação de um “congresso contra Alegre”, notícia publicada no derradeiro dia da campanha, entretanto desmentida pelo próprio líder do PS que nesse sentido estaria a ser aconselhado, seria a maior asneira que os socialistas poderiam fazer. Mas, verdade se diga e como se viu, não seria a primeira.
Terminado o ciclo eleitoral, e sem eleições à vista nos próximos três anos, é tempo de Portugal debater menos e fazer mais.
Terminou, finalmente, o inusitado ciclo eleitoral que no espaço de apenas onze meses levou Portugal a votos por três ocasiões. No último ano, o país político só conheceu três períodos: o pré-eleitoral, o eleitoral e o pós-eleitoral. O carrossel começou com as eleições legislativas antecipadas de 20 de Fevereiro de 2005, continuou a girar com as autárquicas de 16 de Outubro e prolongou-se até às presidenciais do passado domingo. Se a estas quisermos somar as eleições europeias de Junho de 2004, então poderemos contabilizar quatro eleições em 19 meses.
Foi um período politicamente intenso, onde o país conheceu três primeiros-ministros, três líderes da oposição, uma dissolução da Assembleia da República e um novo Presidente. Viveu-se um constante frenesim entre congressos partidários, definição de estratégias e audiências em Belém. Nenhum cargo de eleição ou de escolha política esteve particularmente a salvo. Nenhum programa ou directriz de governação parecia suficientemente sólida e duradoura.
Paralelamente, o debate político estendeu-se à sociedade civil. À medida que os sinais de crise económica se aprofundavam e os actos eleitorais se sucediam, os portugueses discutiam os problemas do país e a melhor forma de os solucionar. As televisões organizaram inúmeros grandes debates sobre o estado da nação e cada português teve a oportunidade de fazer um curso intensivo em finanças públicas e economia política. Foi como se todo o país estivesse a participar de uma gigantesca sessão de ‘brainstorming’ ou de psicanálise colectiva. Ao contrário do que é comum dizer-se, se há coisa que não faltou em Portugal no último ano foi reflexão e debate.
Terminado que está o ciclo eleitoral, e sem eleições à vista nos próximos três anos, é tempo pois de Portugal debater menos e fazer mais. O período de estabilidade política que se vislumbra no horizonte é o terreno ideal para que o país se concentre, mais do que nas palavras, na acção. E se este é um repto que encaixa em primeiro lugar em toda a classe política, não deixa de o ser para todos os portugueses.
Onde se devem então concentrar os esforços de Portugal nos próximos tempos? Que desígnios nacionais devem servir de motivação para uma nova etapa da vida da nação? À cabeça de todos, a competitividade empresarial do país. Só com um enfoque determinado na melhoria das condições para o estabelecimento de empresas, para o seu desenvolvimento e qualidade da sua gestão, será possível criar mais emprego e gerar mais riqueza. Uma visão demasiado tecnocrática, um discurso neoliberal? Olhem que não. Se há coisa para a qual o longo período de debate nacional que vivemos contribuiu foi para que compreendêssemos os limites da capacidade do Estado como elemento de geração e de redistribuição de riqueza. Portugal precisa, avidamente, de uma maior presença e dinamismo do sector privado na sociedade e já compreendeu que não pode continuar a ver o Estado como o paizinho omnipresente a quem nunca faltará dinheiro no bolso para pagar a semanada.
Que papel fica então reservado para os agentes políticos neste novo quadro? Um papel, certamente, mais discreto, mas não menos digno. O de actuarem, mais do que como actores do desenvolvimento económico, como garantes da confiança e das condições institucionais para esse desenvolvimento. Agregando desígnios estratégicos, nunca deixando que a motivação dos cidadãos baixe, mas, acima de tudo, dando espaço para que a sociedade portuguesa solte a sua criatividade e a sua afirmação sem medo de ser feliz.
Um cavaco em Belém mais um cavaco em são Bento mais um cavaco na Câmara Municipal?
Estou fodido!
Podes não estar
Passa na farmácia e compra pastilhas para a azia, MAS de efeito prolongado.
A. Soares
Surpresas e pistas do 22 de Janeiro
Poucos esperavam, no fundo, que Cavaco Silva não ganhasse logo à primeira volta, mas quase ninguém apostaria em que a sua vitória fosse por margem tão escassa, longe, muito longe do plebiscito anunciado. E se a hipótese de Manuel Alegre suplantar Mário Soares era um cenário previsível, não o era nem a larga distância que acabou por separá-los nem sobretudo a surpreendente votação obtida por Alegre, ultrapassando todos os precedentes conhecidos de candidatos sem apoio partidário.
A surpresa "negativa" de Cavaco e a surpresa "positiva" de Alegre não alteram, obviamente, a evidência dos resultados a direita (uma direita difusa e complexada em que o próprio vencedor recusa reconhecer-se no plano ideológico) ganhou as presidenciais e a esquerda perdeu. Mas os significados dessa vitória e dessa derrota estão longe de ser lineares e, independentemente dos seus efeitos imediatos, permitem lançar pistas para redesenhar a paisagem política portuguesa.
Perderam os que desejariam ver Cavaco investido de poderes providenciais que permitiriam uma alteração do regime constitucional num sentido presidencialista. Mas, muito provavelmente, o primeiro a ficar aliviado com a modéstia relativa do seu triunfo terá sido o novo Presidente. Cavaco declarara temer a "demasiada esperança" nele depositada. E os eleitores acabaram por testemunhar que a sua esperança era, afinal, tão modesta como a vitória do candidato mais votado. É um sinal tranquilizador para a estabilidade institucional, para uma relação "normal" entre o Presidente eleito e o Governo socialista, mas, acima de tudo, para a dissipação da mitologia sebastiânica que fora encenada em torno da candidatura do vencedor prometido.
Mas o 22 de Janeiro trouxe também sinais perturbadores para o establishment político e partidário é que os dois candidatos mais votados acabaram por aparecer, cada qual no seu campo, como outsiders políticos (seja porque Cavaco fez disso um factor essencial da sua estratégia eleitoral, seja porque Alegre se viu obrigado a isso ao ser preterido pela direcção do PS a favor de Mário Soares). Apesar do carácter discutível e até artificial dessa "marginalidade" ou dessa "rebeldia", Cavaco e Alegre beneficiaram claramente da distância e do divórcio que os cidadãos vêm manifestando em relação aos aparelhos partidários.
Se, no que se refere a Cavaco, será ainda prematuro falar de atritos com os partidos que o apoiaram (mas que à sua sombra se eclipsaram), já o mesmo não se pode dizer a propósito de Alegre e do Partido Socialista. Aqui, a rebeldia do candidato pôs a nu uma desafectação dramática entre o PS e o respectivo eleitorado, sobretudo tendo em conta que o candidato oficial socialista era o seu pai-fundador, o que confere ao caso uma dimensão suplementar quase edipiana.
Por mais que se proclame que as votações presidenciais se esgotam formalmente no momento da eleição, nem a direita escapará ao efeito tutelar e inibidor da presença de Cavaco em Belém (o que causará dificuldades acrescidas à oposição parlamentar ao Governo socialista, num previsível cenário de coabitação pacífica entre o Presidente e o primeiro-ministro) nem o aparelho do PS resistirá incólume às marcas do movimento de desautorização e rebeldia provocado pela candidatura de Alegre.
A direita corre assim o risco de ficar politicamente prisioneira de Cavaco, enquanto o PS tenderá a ficar assombrado pela "insurreição" de Alegre quando a fractura exposta da autoridade de José Sócrates sobre o partido não puder ser já disfarçada. Aliás, é bem possível que um primeiro sintoma prenunciador dessa fractura tenha sido a extraordinária coincidência das aparições televisivas de Sócrates e Alegre na noite de 22 de Janeiro.
Os profissionais do cinismo político pretendem que as benesses da ocupação do poder dissolvem rapidamente os efeitos corrosivos das aventuras rebeldes. Só que isso não explica como é que Alegre obteve uma votação tão expressiva e deixou Mário Soares a seis pontos de distância, depois de uma campanha improvisada e errática, em que não contou com o apoio de nenhum "notável" socialista, nem sequer dos que estiveram com ele na disputa pela liderança partidária.
A questão não reside, pois, apenas em saber qual o capital que Alegre pode extrair da sua votação no interior do PS, mas sobretudo se o eleitorado socialista que votou Alegre contra a vontade do directório partidário não mudou já a paisagem política do partido. Será mais com isso do que com Cavaco que Sócrates e o aparelho do PS deverão preocupar-se. A não ser que não tenham aprendido nada com o 22 de Janeiro.
Vicente Jorge Silva
In Diário de Notícias
25.Janeiro.2006
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