quarta-feira, 19 de abril de 2006

POBRE PAÍS O NOSSO...

Economia de casino




Traz borrasca o boletim da Primavera do Banco de Portugal.
O diagnóstico actualizado ao estado da economia mata ilusões e obriga a descer à terra. E isto não é o pior, porque nas finanças públicas a descida é até aos infernos.


Pois é, apesar do castigo fiscal, não obstante a política de contenção na função pública, eis que o nosso Estado volta aos níveis de desequilíbrio financeiro estrutural dos tempos do eng. Guterres.

Dito assim, desta forma, parece cruel. E é.
É cruel a realidade que José Sócrates começou por desvalorizar e, depois, passou a omitir.
A crise orçamental é um problema grave
.

O banco central vem lembrar que, ao contrário do que o primeiro-ministro dizia, essa crise não passa com crescimento económico.
Défice público estrutural agrava-se em 2005 e isso nada tem a ver com a conjuntura económica, porque o efeito cíclico está expurgado.

Tal como não tem qualquer relação com receitas extraordinárias.
Nem sequer com os juros da dívida pública.

O significado disto é fácil de explicar: as reformas estruturais são, na prática, reduzidas a uma brincadeira.
Que não diverte ninguém, uma vez que os impostos não pararam de subir – afinal, a única reforma comum aos orçamentos dos sucessivos governos.

O primeiro-ministro completou o primeiro ano de mandato com frase o pior está para vir.
Efectivamente, Durão Barroso e Santana Lopes quase não promoveram uma reforma com impacto nas raízes dos défices persistentes do Estado.

Seria injusto não reconhecer que Sócrates nada mudou.
Porque, nesta matéria, simplesmente ficou pior. E os motivos estão identificados: sistema de pensões, encargos com a saúde, despesas com pessoal.


É verdade que o Governo socialista de Sócrates é diferente do Governo socialista de Guterres.
Sócrates anuncia medidas duras.
Aumentar a idade de reforma na função pública é uma ousadia que nenhum dos antecessores se atrevera.


Mas que adianta, se a medida só produz efeitos plenos dentro de dez anos?

O ministro das Finanças desabafa num programa de televisão que o sistema de segurança social não é sustentável, mas que decisões vão ser tomadas para corrigir a trajectória hoje – e não, outra vez, dentro de cinco ou dez anos?

Sócrates entusiasmou os agentes económicos com um estilo que, no fecho das contas, não produziu resultados.
A consolidação orçamental é uma urgência, mas o primeiro-ministro ainda pensa que basta um processo de intenções.
Não basta.

E seguir na boa direcção também já não é suficiente.
É preciso velocidade.
É preciso acabar com a política das meias-tintas.
É preciso flexibilizar a economia para preservar o modelo social.
Para evitar aumentos de impostos futuros.

O país precisa de um choque de liberdade.
Não aquela que Abril nos deu, porque essa já está conquistada.
A liberdade que deixe os competentes sobreporem-se aos instalados e os eficazes conquistarem o espaço dos protegidos.
Senão continuaremos a viver numa economia de casino.
Com a certeza de que, pela primeira vez, a geração seguinte viverá pior do que a anterior.


Sérgio F.
N.R.:Pode ler o relatório do Banco de Portugal - Boletim Económico - Primavera 2006
Versão completa

2 Comments:

At 21 de abril de 2006 às 12:16, Anonymous Anónimo said...

Os relatórios do Banco de Portugal e do Fundo Monetário Internacional parecem notícias velhas, mas não são. O país vai mal. Talvez não tenha emenda.

Já pensaram na qualidade das toalhas de banho portuguesas? Depois de ler um belíssimo e extenso artigo sobre o assunto no “Wall Street Journal”, todos os dias de manhã, quando meto o pé fora do duche, medito sobre a questão. É verdade, o tema não tem grande espessura intelectual, nem doutrina escrita, nada que o torne digno destas páginas cor de salmão. No entanto, é este o único assunto politicamente aceitável nos dias que correm.

Explico-me. Um dia depois de o boletim de Primavera do Banco de Portugal ter deixado bem claro que o Governo de José Sócrates terá muitas dificuldade em cumprir o défice prometido (4,6% do PIB); e horas depois de o FMI ter escrito a lápide do cadáver – a economia portuguesa será, em 2007, a mais desequilibrada do mundo desenvolvido – todas as notícias servem de salva-vidas para a depressão colectiva que nos ataca.

Não há dúvida: a vida corre-nos mal. Na verdade, a vida continua a correr-nos muito mal. Já ninguém ousa pedir que o IVA volte ao normal, que o IRC se torne mais competitivo, que o IRS o acompanhe ou que a nossa orla marítima se torne mais bonita. Para que conste, são tudo assuntos fora da agenda, assuntos para rico, assuntos que hoje não podem ocupar os esforços e a atenção do Governo. Ontem, hoje, amanhã e nos próximos anos o país continuará com a corda ao pescoço, sem espaço para respirar, sufocado pelas dívidas, acossado pelos compromissos com Bruxelas, perdido no meio dos números. Assim, não se vive, sobrevive-se. Assim, não há saída: estamos em saldo.

Evidentemente, há quem não esteja. No domingo, o presidente do Governo espanhol deu uma longa entrevista de cinco horas e dez páginas ao jornal “El Mundo”. Quanto espaço dedicou Zapatero à economia? Alguns parágrafos, não mais do que três, o suficiente para dizer algumas generalidades que confirmam o que já se sabia: o crescimento da espanhol mantém-se forte, acima da média europeia e com boas perspectivas de crescimento. Palavras sábias que resumem o essencial e deixam espaço para que se discuta o resto. O resto é tudo o que sobra além da economia. Ou seja, o presente e o futuro de Espanha, da Europa e do Mundo.

Tem José Sócrates tempo para estas trivialidades filosóficas. Impossível. Sócrates – como Durão Barroso e Santana Lopes antes dele – anda de lapiz atrás da orelha a fazer contas à vida da nação. Em Espanha discutem-se as autonomias, procura-se uma trégua com a ETA, debate-se o casamento homossexual. Em Portugal, fala-se do défice público, do desemprego, das previsões do FMI, das baldas dos deputados, dos cortes nas viagens dos ministros. E daqui não saímos. Daqui não podíamos sair: não nos podemos dar a esse luxo, não o podemos sustentar.

É por isso que o assunto das toalhas é o último recurso: ele toca no essencial. As toalhas ‘Woolfson’ fabricadas em Portugal e elogiadas pelo “Wall Street Journal”, são o que Portugal não é: competitivo nos mercados estrangeiros, apreciado pela qualidade. Numa palavra: viável.

 
At 5 de janeiro de 2010 às 23:10, Anonymous Anónimo said...

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