terça-feira, 18 de abril de 2006

É SÓ SUOR?



Os portugueses em geral e os fazedores de opinião em particular ficaram indignadíssimos com o facto de 119 dos 230 deputados terem antecipado as mini-férias da Páscoa acrescentando ao calendário pascal uma até agora inexistente quarta-feira santa.

Ora a verdade é que raramente os eleitos terão representado tão fielmente os respectivos eleitores. Com uma única diferença: os portugueses em geral gostariam de ter mini-férias, alargadas com tolerâncias de ponto e outros artifícios, antes e depois da Paixão e da Páscoa, saindo mais cedo e voltando mais tarde de um período de descanso, regeneração e revigoramento de forças. Os deputados tiverem tudo isso e ainda anteciparam a partida. E porquê? Porque podem.

O caso era ontem comentado criticamente como um mau exemplo em tempos de crise, quando está na ordem dos dias uma oratória de exortação do sacrifício e de aumento da produtividade. Nenhuma voz se ergueu para lhes dar sequer o benefício da dúvida de que a antecipação da partida se destinaria a “contactos com o eleitorado”, figura regimental que habitualmente se acrescenta aos fins-de-semana. Ninguém os elogiou por se disponibilizarem a retemperar forças para poderem depois atirar-se com mais ganas ao processo legislativo. Ninguém realçou este esforço dos eleitos para se aproximarem dos intentos mais ocultos dos eleitores. Ninguém relevou a coragem de fazerem aquilo que todos, ou quase todos, afinal querem mas não podem: baldar-se de vez em quando.

Ora a questão é esta: os deputados são feitos da mesma massa do comum dos portugueses, com os mesmos defeitos e qualidades. E assim, podendo, baldam-se, o que é humano e português. Agora, se algum dos faltosos erguer alguma vez a voz no hemiciclo para pregar sacrifícios para o povo merece a eleição de hipócrita da legislatura.


João P. Guerra

6 Comments:

At 18 de abril de 2006 às 14:07, Anonymous Anónimo said...

Há valores que não se adquirem em qualquer supermercado de reformas institucionais ‘prêt-à-porter’. Ou se têm ou não se têm.

A semana política ficou marcada pela mega-azeta que 119 deputados da nação resolveram fazer às votações parlamentares agendadas para a passada quarta-feira. Faltar aos deveres, para os quais foram eleitos, em vésperas de Sexta-feira Santa, não é, certamente, aos olhos dos portugueses uma atitude muito católica.

O caso nem sequer é original, mas não serão episódios como este que irão contribuir para aumentar a confiança na nossa democracia. No dados do último relatório completo disponível do Eurobarómetro, referente à Primavera de 2005, apenas 41% dos portugueses se consideravam satisfeitos com a forma como a nossa democracia funciona. Abaixo deste valor apenas quatro países e todos eles recém-chegados quer ao clube europeu, quer ao clube democrático: Polónia, Hungria, Eslováquia e Lituânia.

A opinião corrente do estado de descrédito nas elites governantes, nos políticos e em particular nos parlamentares, é assim corroborada pelos estudos de opinião. Males de uma democracia imberbe, de uma economia enfraquecida, de um país com falta de cultura cívica, triste fado lusitano? Talvez nem tanto.

Na ancestral democracia britânica, há um par de anos atrás, o ‘The Times’ escancarou na primeira página uma fotografia da House of Commons com as suas míticas bancadas simétricas vazias. Dos 659 deputados apenas 20 compareceram ao debate. Com o avançar da tarde as baixas aumentaram e apenas 12, isso mesmo uma dúzia, de resistentes concluíram a sessão.

Esta pequena história serve para questionar a singularidade da patologia de que enferma o Parlamento português. Mas não só. Um dos remédios recorrentemente apontados para curar a crónica irresponsabilidade de que parecem padecer os representantes do povo seria a introdução de círculos uninominais, de forma a responsabilizar os deputados perante os eleitores locais. Ora, como a notícia do ‘The Times’ ilustra, nesta matéria seria bom que não acreditássemos em (re)formas institucionais milagrosas. Mais. No mesmo relatório do Eurobárometro já citado, três democracias de referência, com três sistemas eleitorais perfeitamente distintos, mas todas elas com parlamentares eleitos através de círculos uninominais, apresentam valores abaixo dos 40% de cidadãos portugueses que declararam tender a confiar no Parlamento. A saber: Alemanha (35%), França (33%) e Reino Unido (36%).

O facto é que o negligente comportamento dos deputados, mais não é do que a, infeliz, consequência de um sistema político desacreditado e que persiste em desprestigiar a que deveria ser a mais nobre das actividades, regida a todos os títulos pelos mais elevados padrões éticos. Mas desenganem-se aqueles que pensam que a coisa se resolve com a alteração do sistema eleitoral. Há valores que não se adquirem em qualquer supermercado de reformas institucionais ‘prêt-à-porter’. Ou se têm ou não se têm.

 
At 18 de abril de 2006 às 16:29, Anonymous Anónimo said...

Entreolham-se, num plano desnivelado pautado pelo tempo que dista, mas são o mesmo, i.é, muitos num só, apesar de já cá não estar. Foi mas ficou, e deixou-nos muitas, muitas coisas a que chamamos materiais culturais, pedaços de pensamento, fragmentos de humano que hoje lemos em páginas pensadas e escritas por aquela mente.
Em Portugal sempre custou Ser Livre, seja no Maio de 68, seja nos novos Maios de 68 que hoje vivemos, encarpados nas incertezas da história.
Afinal, só somos livres, só temos Ética e Moral na política - se o conseguirmos ter antes na vida privada, civil e até íntima. António José Saraiva, que aqui vemos e evocamos, foi um desses expoentes em Portugal. A "estórieta" da balda da xusma de deputados - que reflecte aquilo que os mais esclarecidos já sabiam - é só mais uma prova de que não temos guia no presente, daí a necessidade de mergulhar na história recente para recuperar esses velhos (novos) guias, referências, faróis ético-morais. Que, no caso vertente, legou a Portugal um património simultaneamente estético-literário, filosófico, cultural e também político.
Enfim, foi o (e um) autor de A História da Cultura em Portugal, obra pioneira, que não teve ainda sucedâneo.
Este comentário é dedicado a António José Saraiva e ao simbolismo cultural que ele deixou em todos nós, excepto nos deputados, é claro!!!
A propósito, já leram a Correspondência entre António José Saraiva e Óscar Lopes?
Sugira-se a Jaime Gama presidente da AR, que quando tiver concluída a Acta parlamentar que irá apurar que o País tem pela um bando de irresponsáveis inimputáveis - que deveria automáticamente perder o mandadato e ir procurar emprego na sociedade, se adquira - em igual número - de exemplares esta Obra de grande valia Cultural e, depois de pagas as respectivas multas dos senhores deputedos à Nação, se obrigasse cada um deles a fazer um resumo do livro por escrito, e a apresentar o mesmo em 48 h. ao País.
Seria um 1º passo para induzir na cabeça destes senhores um momento de ética e de moral, e também de reflexão e de responsabilidade que que hoje manifestamente não têm, mas que doravante os deverá fazer pensar duas vezes antes de agirem. Os burros sempre aprenderam à força...
Além de aprenderem a escrever português e um pouco de cultura geral, para a generalidade dos deputados, é claro!!!
Veriam, assim, cada um desses faltosos e todos no seu conjunto, como combinar a moral de responsabilidade (de origem maquiavélica e atende aos fins) com a moral de convicção (de origem bíblica e kantiana e atende aos princípios) para, no final, se concluir, como fez M. Weber, que não há incompatibilidade entre ambas as morais. E também para saber o que custa Ser Livre em Portugal.
PS: Este caso da xusma de deputados que temos suscita ainda a vontade de perguntar onde fica o Exílio...
Não tanto para que os cidadãos se pirem, mas antes para enviar o respectivo endereço aos ditos. Pois, como já sabemos, a circunstância de os ditos estarem no hemiciclo - a coçarem o testículo esquerdo de manhã e o direito à tarde, por entre o envio de mensagens SMS, sorna, muita sorna e folheanços do Record e da Bola, e também do CM - the best papers in town - ou fora dele é exactamente la même chose... E assim, merda por merda, sempre se poupariam uns valentes milhares de euros ao erário público e Portugal penhorava-se menos.

 
At 18 de abril de 2006 às 16:33, Anonymous Anónimo said...

Ética?!... Cadê ela?

Falta de quorum impede votações semanais na Assembleia da República
Por falta de quórum ficaram por realizar as votações semanais da Assembleia da República.
O regulamento exige a comparência em plenário de mais de metade dos deputados. Mas na quarta-feira dia 12 de Abril de 2006, 52 por cento dos parlamentares não foi à Assembleia.

Ética não é?!...
Pois...
A cáfila sem vergonha que usurpou o poder tem cada vez menos vergonha.
O FARTAR VILANAGEM destes crápulas que já nem um cabelo tem de fora do monte de esterco onde habitam, não tem limites.
Cada vez urge mais a VALORIZAÇÃO DA ABSTENÇÃO.
Não é possível suportar mais a canalha que nos "governa"... ou ainda lhes merecem algum crédito?

Aí ao lado vai já alguma discussão sobre o assunto.
MUITO EM BREVE iremos realizar um encontro para falarmos deste assunto.
A presença de TODOS não vai ser demais;
Adere e participa.

 
At 18 de abril de 2006 às 16:36, Anonymous Anónimo said...

Portugal é o país onde mais se utiliza a palavra «produtividade» e menos ela é praticada.
Como os melhores exemplos vêm sempre de cima, 119 deputados, num total de 230 que compõem o Parlamento português, optaram por não comparecer na quarta-feira em São Bento.
Acreditamos que os senhores deputados faltaram ao exercício do cargo para que foram eleitos pelos motivos mais fortes:
fazer compras,
ir às aulas do professor de dicção,
ir à praia para bronzear as ideias ou simplesmente ver o último DVD do «Noddy».
Estão no seu direito. Relativamente ao seu dever, é outra coisa.
Pede-se aos portugueses mais produtividade.
Os reformados, depois de uma vida inteira a descontar, voltam a pagar com base no valor da reforma.
Os senhores deputados, que fazem e aprovam leis que afectam 10 milhões de portugueses, dão o exemplo.
Imaginemos que os trabalhadores dos sectores básicos de transporte ou de serviços decidiam ir todos embora durante uns dias.
O país, literalmente, parava. Sobre isso estamos mais descansados:
a presença ou a ausência dos senhores deputados em São Bento não faz o país parar.
Este funciona independentemente deles.
Agora questiona-se uma coisa:
os senhores deputados já imaginaram o exemplo que dão ao país?

 
At 19 de abril de 2006 às 11:48, Anonymous Anónimo said...

Na semana passada soubemos que os nossos deputados foram duplamente desastrados, em primeiro lugar baldaram-se com o argumento do trabalho político, o que nem é novidade para ninguém, e, em segundo lugar, baldarem-se todos ao mesmo tempo permitindo aos seus eleitores saberem o que andam a fazer os seus dignos representantes. Isto é, não bastava sabermos que os nossos deputados se baldam, como ainda por cima constatarmos que são palermas ao ponto de o fazerem sem cuidar do quórum, dando uma imagem de estupidez pois não souberam baldar-se. Ao menos que fizessem como muitos dos dirigentes deste país, que usassem um casaco para andar e outro para ocupar a cadeira.

O que aconteceu na Quarta-feira só foi grave por causa da falta de quórum, se tivesse havido votação ninguém levaria a mal que um ou outro deputado já estivesse a fazer trabalho político algures na Praia dos Tomates.

Muito mais grave do que sucedeu foi o que se seguiu, os portugueses ficaram a saber que os seus dignos representantes trabalham à base de regulamentos e raspanetes. Na próxima votação o deputado que ajudei a escolher não está no hemiciclo porque é seu dever representar-me, está com medo das multas ou do raspanete do líder do partido ou mesmo do Presidente da República.

Isto é, agora temos um parlamento que trabalha à base de raspanetes, como se fosse um clube de futebol do regional. Jogador que falte ou se atrase paga uma multa, e se a bandalheira se generalizar é o presidente do clube que vai dizer das suas ao balneário.

 
At 19 de abril de 2006 às 13:02, Anonymous Anónimo said...

De facto e vergonhoso que quando o nosso Governo pede sacrificios, as empresas fecham, ha salarios em atraso, etc.,etc....os senhores que mais ganham neste Pais e menos produzem, sim que para aquilo que fazem 20 deputados chegavam e sobejavam, vejam agora o que nao se poupava neste pais.
Portanto esses srs nao tem o minimo de razao quando pedem aos Portugueses sacrificios, sim que eles tba os fazem viajando sempre em executiva com altos vencimentos ee ajudas de custo, mas produtividade onde esta?
Vejamos os deputados eleitos pelo nosso Distrito, alem de defenderem os seu emprego o que tem feito por nos?
NADA
Sejam coerentes e nao atirem pedras a quem produz neste Pais
O sr Presidente da Republica faz bem em puxar-les as orelhas, ma so que devia fazer era expulsar todos aqueles que se baldam desta maneira indecente eprovocatoria.
Votat neste Pais para isto para que?
E PURA PERDA DE TEMPO

 

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