sexta-feira, 7 de julho de 2006

ONDE JÁ VIMOS O MESMO FILME?

O poder e a prepotência

Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, decidiu obrigar as entidades que recebem subsídios da autarquia a assinar um protocolo, no qual se obrigam a não criticar o município e, por decorrência, quem nele manda.

É conhecido o autoritarismo de Rio, embora haja quem considere essa característica apenas a manifestação de «carisma» e de «liderança». O abuso de poder é específico de quem se julga o centro do mundo. Desconheço se Rio se considera como tal - o centro; mas a sentença devolve-nos para os foros da autocracia.

De resto, a circunstância não é nova. Ainda não há muito tempo, o presidente do Grupo BES retirou a publicidade ao «Expresso», condenando assim uma notícia que o semanário publicara nas suas austeras colunas. Creio que Francisco Pinto Balsemão pediu desculpas a Ricardo Salgado, este aceitou-as, e o «Expresso» voltou a adquirir os benefícios da propaganda ao BES.

As pressões de toda a ordem e feitio, já são feitio e ordem na sociedade portuguesa, cuja frágil democracia está cada vez mais abalada.
Quem manda, rigorosamente, no País não é José Sócrates (como querem fazer-nos crer), mas sim o poder económico. E os parlamentares, esses, coitados!, lá estão em São Bento para compor o número que lhes ordenam.
Há anos, o eng.º Belmiro de Azevedo foi mandado ouvir na Assembleia da República.
Foi ele, porém, quem os mandou ir? e estar, às 8 horas, em ponto - se quisessem. E eles quiseram e estavam.

Belmiro, aliás, é «o homem mais poderoso» de Portugal, segundo um curioso inquérito do «Expresso», sempre dado a estas coisas normativas. Belmiro, de resto, é um empresário astuto e severo que pôs em prática um dos princípios fundamentais da economia moderna: coloca à frente de tudo o desafio e o risco, não em detrimento da devoção à instituição (ao Grupo), mas em conflito com a relação do tempo do assalariado. Esse propósito permite-lhe medir a amplitude das mudanças em curso. Belmiro de Azevedo não precisa de dizer, aos seus «colaboradores», o que deseja seja feito. Eles sabem-no, e fazem-no. Chamam a isto a «cultura Sonae» do «homem Sonae».
Quem não quiser, abotoe os atacadores e marche para outro patrão.

Obediência à estratégia é, afinal, o chamado modelo do «capitalismo flexível».
A partitura pode ser facilmente aplicável a outras instituições.
Como a Câmara do Porto, ou como o «Expresso».
A partir de certa altura, quando situações desta natureza se convertem em regra (e está a parecê-lo e a sê-lo), as exigências já não são apostas mas sim ameaças. Hipoteca-se, assim, a consciência individual em nome da noção de empresa, tomada de forma implacável e inclemente.

Segundo ensinou Bourdieu, o trabalho perdeu a sua linearidade narrativa e, até, a sua coerência. A linearidade advinha da relação de estabilidade; a coerência, das relações de recompensa futura. A verdade é que a crispação do tempo actual transformou perfeitamente irracionais e ilógicas as organizações que assentavam em normas unívocas.

O antigo enquadramento social está pulverizado, e os melhores dirigentes sindicais conhecem muito bem os novos prolegómenos, que giram em torno do medo e da depressão.
A instabilidade no emprego e a falta deste criaram as condições determinantes do actual estado de coisas. Porém, também vai destruir, a longo prazo, a lealdade para com a empresa. Por enquanto, os empresários beneficiam dessa insegurança. Mas só por enquanto. E recuso-me a aceitar que um homem como Belmiro de Azevedo desconheça as variações de um sistema que pode, certamente, vir a atingi-lo.

Mas ele representa o poder que se consolidou em si mesmo, e combate, tenazmente, aquilo que pode prejudicar os resultados e atentar contra as modalidades do seu empreendimento.
Ao passo que Rui Rio serve-se de um poder que lhe foi atribuído pelos «outros», e de um dinheiro que pertence, exclusivamente, aos contribuintes.
As diferenças de mando emanam dessa evidência sem argumentos contraditórios.

B.B.

5 Comments:

At 7 de julho de 2006 às 15:19, Anonymous Anónimo said...

Onde é que ele anda?

Não é que se sinta muito a sua falta mas começa a ser preocupante o desaparecimento de Marques Mendes, não porque se sinta muito a sua ausência e muito menos a sua falta, mas porque para a democracia ter uma aparência de normalidade convém que haja uma oposição, nem que seja um simulacro ou mesmo uma réstia de oposição. E com um Ribeiro e Castro mais preocupado em ganhar as ajudas de custo do Parlamento Europeu, um Jerónimo de Sousa ocupado com a tarefas de um líder do proletariado no meio de uma grande turbulência social provocada pelas greves dos professores e um Louçã que já não é o que era, até se sente a falta de Marques Mendes.

A última vez que foi visto foi à saída de um jogo da bola na Alemanha, numa fase em que o Togo ainda era candidato a campeão do mundo, e nunca mais foi visto. Desde então o cacique das Beiras já lançou uma intifada contra a ocupação dos exercito do Ambiente, os agricultores deixaram de fazer manifs porque substituíram os adubos pelos frascos de bronzeador, o Cavaco elogiou o Sócrates duas ou três vezes e até o Santana Lopes apareceu, deixou de andar por aí para se sentar por ali, para os lados de São Bento.

Com o desaparecimento de Marques Mendes já vamos na segunda legislatura sem oposição, primeiro foram os magistrados que tiraram o pio ao PS com o processo da Casa Pia, agora foi Marques Mendes que perdeu o pio sem razão aparente.

Quanto a saber se a procura de Marques Mendes inclui as duas possibilidades, vivo ou morto, pouco importa, quando passou a liderar o PSD no pressuposto de que seria um candidato a primeiro-ministro adquiriu desde logo o estatuto de nado morto.

 
At 7 de julho de 2006 às 15:24, Anonymous Anónimo said...

O CACIQUE

Presidente da Câmara da terra,
Sou dono do destino desta gente,
Dou-lhe emprego, mostro-lhe o dente,
Sou o senhor feudal sempre na berra.

Ganhar é o mais fácil nesta guerra.
O voto é tão barato e felizmente
Para o comprar e ser-se presidente
Basta só o charme que o poder encerra.

Algumas aldrabices, esquemas baços,
Muito ajudam a estar sempre na moda
Que o poder também tem e cria laços.

Cartilha do poder? Eu sei-a toda:
Beijos, sorrisos, tachos e abraços.
Quanto ao resto, o povo que se foda!

Ponte de Sor, 7/10/05
Santana-Maia
In:BOCAGE MEU IRMÃO

 
At 10 de julho de 2006 às 10:17, Anonymous Anónimo said...

A REALIDADE SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

‘Prontsh’ acabou-se o nosso mundial, ficámos em quartos e os alemães fizeram-nos o favor de nos meter três golos sem grandes penalidades por marcar para que o recobro fosse mais rápido, pondo-se um fim abrupto à anestesia. A realidade segue dentro de momentos.

Vamos ter saudades dos Marcelo Rebelo de Sousa a comentar a bola exibindo umas camisolas de betinho com cor azul cueca. Agora vamos passar a ter a seca de o aturar a falar de política, vestido a rigor e com vinte centímetros de manga de camisa a sair do casaco.

Para aqueles que andaram preocupados com as escolhas do treinador da selecção fiquem sabendo que ainda antes de Scolari meter o Nuno Gomes em jogo, José Sócrates mexeu na sua equipa e meteu Freitas do Amaral no banco do hospital a tratar da vértebra C7.

Enquanto andámos entretidos a ver as alegrias e tristezas da Victoria Beckham e a tentar perceber se as meninas que os realizadores mostravam nas bancadas eram namoradas de algum dos jogadores por cá foram quatro mulheres condenadas por terem feito abortos. E se no mundial os exames de doping deram negativo por cá a PJ foi mais eficaz e sem quaisquer regras obteve resultados positivos nos exames ginecológicos que algumas mulheres foram amavelmente “convidadas” a fazer.

De resto, o país está mais ou menos na mesma, o Marques Mendes continua o débil político que todos conhecemos, Sócrates continua a inaugurar páginas na web já que a OTA ou o TGV dá um pouco mais de trabalho, o Ribeiro e Castro continua a ser cozido em lume brando e Jerónimo de Sousa já deverá estar a preparar a próxima Festa do Avante.

 
At 10 de julho de 2006 às 11:09, Anonymous Anónimo said...

A Lei da Rolha

Quando somos confrontados com tentativas de proibição da liberdade de expressão, quando se tentam impor regulamentos que a jurisprudência de instituições e de tribunais colocam fora do quadro constitucional, algo de essencial pode estar em causa no regime democrático.

A tentativa de Rui Rio impedir a livre expressão de forças políticas e sociais deveria convocar à reflexão política quem tem preocupações democráticas. No entanto, só um ainda restrito grupo de personalidades e sectores tem acompanhado com genuína e forte atitude cívica a indignação pública, sobretudo protagonizada pelos comunistas portuenses. Toda esta história me faz lembrar Brecht quando contava que "primeiro haviam sido os comunistas mas ninguém se havia verdadeiramente preocupado … até que lhes arrombaram as casas e os levaram também!..."

Custa a entender o posicionamento quase circunstancial de socialistas e outros sectores, custa mesmo a entender o alheamento dos que, pertencendo ou apoiando esta maioria autárquica, conservam, ao que julgamos, ideias claras de preservação e de defesa das liberdades. No entanto, e como a situação assume contornos de facto bem perigosos, tenho ainda esperança que o apego democrático de uma maioria cívica acabe por honrar a tradição liberal do Porto e suas gentes.

Para quem, contudo, julga que o que se está a passar no Porto é um mero acto desgarrado de um presidente de câmara deslocado no tempo, o melhor é conhecer o que está o ocorrer noutras instâncias e com outros protagonistas.

Ocorre o exemplo dos que há tempos foram à residência oficial de Sócrates entregar um abaixo-assinado. Como em centenas de iniciativas do género feitas desde 1974, duas ou três pessoas entregaram o documento nos serviços enquanto as restantes aguardavam no exterior. Até aqui nada de novo. Só que, há alguns dias, essas pessoas foram constituídas arguidas e acusadas de terem organizado uma manifestação ilegal! Como se fossem criminosos, como se os serviços não tivessem sido avisados, como se o grupo tivesse muito mais de uma dúzia de pessoas, como se tivesse havido qualquer "perturbação da ordem pública", enfim, como se não tivesse havido um 25 de Abril em Portugal!

O que se pretende, nos dois casos, é limitar e impedir a liberdade de expressão e de reunião, condicionar e proibir a capacidade de comunicar e anunciar o que nos vai na alma ou o que pensamos, liberdades fundamentais pelas quais tantos lutaram duramente. E pelas quais os portugueses estarão dispostos a voltar a lutar caso o bom senso não seja recuperado.

 
At 13 de julho de 2006 às 22:35, Anonymous Anónimo said...

O cabrão do Belmiro é um gajo prépotente, ou se está do lado dele ,ou então estás fodido!

 

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