ONDE JÁ VIMOS O MESMO FILME?
O poder e a prepotência
Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, decidiu obrigar as entidades que recebem subsídios da autarquia a assinar um protocolo, no qual se obrigam a não criticar o município e, por decorrência, quem nele manda.
É conhecido o autoritarismo de Rio, embora haja quem considere essa característica apenas a manifestação de «carisma» e de «liderança». O abuso de poder é específico de quem se julga o centro do mundo. Desconheço se Rio se considera como tal - o centro; mas a sentença devolve-nos para os foros da autocracia.
De resto, a circunstância não é nova. Ainda não há muito tempo, o presidente do Grupo BES retirou a publicidade ao «Expresso», condenando assim uma notícia que o semanário publicara nas suas austeras colunas. Creio que Francisco Pinto Balsemão pediu desculpas a Ricardo Salgado, este aceitou-as, e o «Expresso» voltou a adquirir os benefícios da propaganda ao BES.
As pressões de toda a ordem e feitio, já são feitio e ordem na sociedade portuguesa, cuja frágil democracia está cada vez mais abalada.
Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, decidiu obrigar as entidades que recebem subsídios da autarquia a assinar um protocolo, no qual se obrigam a não criticar o município e, por decorrência, quem nele manda.
É conhecido o autoritarismo de Rio, embora haja quem considere essa característica apenas a manifestação de «carisma» e de «liderança». O abuso de poder é específico de quem se julga o centro do mundo. Desconheço se Rio se considera como tal - o centro; mas a sentença devolve-nos para os foros da autocracia.
De resto, a circunstância não é nova. Ainda não há muito tempo, o presidente do Grupo BES retirou a publicidade ao «Expresso», condenando assim uma notícia que o semanário publicara nas suas austeras colunas. Creio que Francisco Pinto Balsemão pediu desculpas a Ricardo Salgado, este aceitou-as, e o «Expresso» voltou a adquirir os benefícios da propaganda ao BES.
As pressões de toda a ordem e feitio, já são feitio e ordem na sociedade portuguesa, cuja frágil democracia está cada vez mais abalada.
Quem manda, rigorosamente, no País não é José Sócrates (como querem fazer-nos crer), mas sim o poder económico. E os parlamentares, esses, coitados!, lá estão em São Bento para compor o número que lhes ordenam.
Há anos, o eng.º Belmiro de Azevedo foi mandado ouvir na Assembleia da República.
Foi ele, porém, quem os mandou ir? e estar, às 8 horas, em ponto - se quisessem. E eles quiseram e estavam.
Belmiro, aliás, é «o homem mais poderoso» de Portugal, segundo um curioso inquérito do «Expresso», sempre dado a estas coisas normativas. Belmiro, de resto, é um empresário astuto e severo que pôs em prática um dos princípios fundamentais da economia moderna: coloca à frente de tudo o desafio e o risco, não em detrimento da devoção à instituição (ao Grupo), mas em conflito com a relação do tempo do assalariado. Esse propósito permite-lhe medir a amplitude das mudanças em curso. Belmiro de Azevedo não precisa de dizer, aos seus «colaboradores», o que deseja seja feito. Eles sabem-no, e fazem-no. Chamam a isto a «cultura Sonae» do «homem Sonae».
Belmiro, aliás, é «o homem mais poderoso» de Portugal, segundo um curioso inquérito do «Expresso», sempre dado a estas coisas normativas. Belmiro, de resto, é um empresário astuto e severo que pôs em prática um dos princípios fundamentais da economia moderna: coloca à frente de tudo o desafio e o risco, não em detrimento da devoção à instituição (ao Grupo), mas em conflito com a relação do tempo do assalariado. Esse propósito permite-lhe medir a amplitude das mudanças em curso. Belmiro de Azevedo não precisa de dizer, aos seus «colaboradores», o que deseja seja feito. Eles sabem-no, e fazem-no. Chamam a isto a «cultura Sonae» do «homem Sonae».
Quem não quiser, abotoe os atacadores e marche para outro patrão.
Obediência à estratégia é, afinal, o chamado modelo do «capitalismo flexível».
Obediência à estratégia é, afinal, o chamado modelo do «capitalismo flexível».
A partitura pode ser facilmente aplicável a outras instituições.
Como a Câmara do Porto, ou como o «Expresso».
A partir de certa altura, quando situações desta natureza se convertem em regra (e está a parecê-lo e a sê-lo), as exigências já não são apostas mas sim ameaças. Hipoteca-se, assim, a consciência individual em nome da noção de empresa, tomada de forma implacável e inclemente.
Segundo ensinou Bourdieu, o trabalho perdeu a sua linearidade narrativa e, até, a sua coerência. A linearidade advinha da relação de estabilidade; a coerência, das relações de recompensa futura. A verdade é que a crispação do tempo actual transformou perfeitamente irracionais e ilógicas as organizações que assentavam em normas unívocas.
O antigo enquadramento social está pulverizado, e os melhores dirigentes sindicais conhecem muito bem os novos prolegómenos, que giram em torno do medo e da depressão.
Segundo ensinou Bourdieu, o trabalho perdeu a sua linearidade narrativa e, até, a sua coerência. A linearidade advinha da relação de estabilidade; a coerência, das relações de recompensa futura. A verdade é que a crispação do tempo actual transformou perfeitamente irracionais e ilógicas as organizações que assentavam em normas unívocas.
O antigo enquadramento social está pulverizado, e os melhores dirigentes sindicais conhecem muito bem os novos prolegómenos, que giram em torno do medo e da depressão.
A instabilidade no emprego e a falta deste criaram as condições determinantes do actual estado de coisas. Porém, também vai destruir, a longo prazo, a lealdade para com a empresa. Por enquanto, os empresários beneficiam dessa insegurança. Mas só por enquanto. E recuso-me a aceitar que um homem como Belmiro de Azevedo desconheça as variações de um sistema que pode, certamente, vir a atingi-lo.
Mas ele representa o poder que se consolidou em si mesmo, e combate, tenazmente, aquilo que pode prejudicar os resultados e atentar contra as modalidades do seu empreendimento.
Mas ele representa o poder que se consolidou em si mesmo, e combate, tenazmente, aquilo que pode prejudicar os resultados e atentar contra as modalidades do seu empreendimento.
Ao passo que Rui Rio serve-se de um poder que lhe foi atribuído pelos «outros», e de um dinheiro que pertence, exclusivamente, aos contribuintes.
As diferenças de mando emanam dessa evidência sem argumentos contraditórios.
B.B.
B.B.
5 Comments:
Onde é que ele anda?
Não é que se sinta muito a sua falta mas começa a ser preocupante o desaparecimento de Marques Mendes, não porque se sinta muito a sua ausência e muito menos a sua falta, mas porque para a democracia ter uma aparência de normalidade convém que haja uma oposição, nem que seja um simulacro ou mesmo uma réstia de oposição. E com um Ribeiro e Castro mais preocupado em ganhar as ajudas de custo do Parlamento Europeu, um Jerónimo de Sousa ocupado com a tarefas de um líder do proletariado no meio de uma grande turbulência social provocada pelas greves dos professores e um Louçã que já não é o que era, até se sente a falta de Marques Mendes.
A última vez que foi visto foi à saída de um jogo da bola na Alemanha, numa fase em que o Togo ainda era candidato a campeão do mundo, e nunca mais foi visto. Desde então o cacique das Beiras já lançou uma intifada contra a ocupação dos exercito do Ambiente, os agricultores deixaram de fazer manifs porque substituíram os adubos pelos frascos de bronzeador, o Cavaco elogiou o Sócrates duas ou três vezes e até o Santana Lopes apareceu, deixou de andar por aí para se sentar por ali, para os lados de São Bento.
Com o desaparecimento de Marques Mendes já vamos na segunda legislatura sem oposição, primeiro foram os magistrados que tiraram o pio ao PS com o processo da Casa Pia, agora foi Marques Mendes que perdeu o pio sem razão aparente.
Quanto a saber se a procura de Marques Mendes inclui as duas possibilidades, vivo ou morto, pouco importa, quando passou a liderar o PSD no pressuposto de que seria um candidato a primeiro-ministro adquiriu desde logo o estatuto de nado morto.
O CACIQUE
Presidente da Câmara da terra,
Sou dono do destino desta gente,
Dou-lhe emprego, mostro-lhe o dente,
Sou o senhor feudal sempre na berra.
Ganhar é o mais fácil nesta guerra.
O voto é tão barato e felizmente
Para o comprar e ser-se presidente
Basta só o charme que o poder encerra.
Algumas aldrabices, esquemas baços,
Muito ajudam a estar sempre na moda
Que o poder também tem e cria laços.
Cartilha do poder? Eu sei-a toda:
Beijos, sorrisos, tachos e abraços.
Quanto ao resto, o povo que se foda!
Ponte de Sor, 7/10/05
Santana-Maia
In:BOCAGE MEU IRMÃO
A REALIDADE SEGUE DENTRO DE MOMENTOS
‘Prontsh’ acabou-se o nosso mundial, ficámos em quartos e os alemães fizeram-nos o favor de nos meter três golos sem grandes penalidades por marcar para que o recobro fosse mais rápido, pondo-se um fim abrupto à anestesia. A realidade segue dentro de momentos.
Vamos ter saudades dos Marcelo Rebelo de Sousa a comentar a bola exibindo umas camisolas de betinho com cor azul cueca. Agora vamos passar a ter a seca de o aturar a falar de política, vestido a rigor e com vinte centímetros de manga de camisa a sair do casaco.
Para aqueles que andaram preocupados com as escolhas do treinador da selecção fiquem sabendo que ainda antes de Scolari meter o Nuno Gomes em jogo, José Sócrates mexeu na sua equipa e meteu Freitas do Amaral no banco do hospital a tratar da vértebra C7.
Enquanto andámos entretidos a ver as alegrias e tristezas da Victoria Beckham e a tentar perceber se as meninas que os realizadores mostravam nas bancadas eram namoradas de algum dos jogadores por cá foram quatro mulheres condenadas por terem feito abortos. E se no mundial os exames de doping deram negativo por cá a PJ foi mais eficaz e sem quaisquer regras obteve resultados positivos nos exames ginecológicos que algumas mulheres foram amavelmente “convidadas” a fazer.
De resto, o país está mais ou menos na mesma, o Marques Mendes continua o débil político que todos conhecemos, Sócrates continua a inaugurar páginas na web já que a OTA ou o TGV dá um pouco mais de trabalho, o Ribeiro e Castro continua a ser cozido em lume brando e Jerónimo de Sousa já deverá estar a preparar a próxima Festa do Avante.
A Lei da Rolha
Quando somos confrontados com tentativas de proibição da liberdade de expressão, quando se tentam impor regulamentos que a jurisprudência de instituições e de tribunais colocam fora do quadro constitucional, algo de essencial pode estar em causa no regime democrático.
A tentativa de Rui Rio impedir a livre expressão de forças políticas e sociais deveria convocar à reflexão política quem tem preocupações democráticas. No entanto, só um ainda restrito grupo de personalidades e sectores tem acompanhado com genuína e forte atitude cívica a indignação pública, sobretudo protagonizada pelos comunistas portuenses. Toda esta história me faz lembrar Brecht quando contava que "primeiro haviam sido os comunistas mas ninguém se havia verdadeiramente preocupado até que lhes arrombaram as casas e os levaram também!..."
Custa a entender o posicionamento quase circunstancial de socialistas e outros sectores, custa mesmo a entender o alheamento dos que, pertencendo ou apoiando esta maioria autárquica, conservam, ao que julgamos, ideias claras de preservação e de defesa das liberdades. No entanto, e como a situação assume contornos de facto bem perigosos, tenho ainda esperança que o apego democrático de uma maioria cívica acabe por honrar a tradição liberal do Porto e suas gentes.
Para quem, contudo, julga que o que se está a passar no Porto é um mero acto desgarrado de um presidente de câmara deslocado no tempo, o melhor é conhecer o que está o ocorrer noutras instâncias e com outros protagonistas.
Ocorre o exemplo dos que há tempos foram à residência oficial de Sócrates entregar um abaixo-assinado. Como em centenas de iniciativas do género feitas desde 1974, duas ou três pessoas entregaram o documento nos serviços enquanto as restantes aguardavam no exterior. Até aqui nada de novo. Só que, há alguns dias, essas pessoas foram constituídas arguidas e acusadas de terem organizado uma manifestação ilegal! Como se fossem criminosos, como se os serviços não tivessem sido avisados, como se o grupo tivesse muito mais de uma dúzia de pessoas, como se tivesse havido qualquer "perturbação da ordem pública", enfim, como se não tivesse havido um 25 de Abril em Portugal!
O que se pretende, nos dois casos, é limitar e impedir a liberdade de expressão e de reunião, condicionar e proibir a capacidade de comunicar e anunciar o que nos vai na alma ou o que pensamos, liberdades fundamentais pelas quais tantos lutaram duramente. E pelas quais os portugueses estarão dispostos a voltar a lutar caso o bom senso não seja recuperado.
O cabrão do Belmiro é um gajo prépotente, ou se está do lado dele ,ou então estás fodido!
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