FAZER HOJE OS ERROS DE AMANHÃ
Os planos florestais
A política pode ser a nobre arte de fazer hoje os erros de amanhã.
Isto é, decidir mal agora o que nos vai ser cobrado com juros num futuro próximo.
Muitos políticos em Portugal licenciaram-se nesta actividade.
E continuam a praticá-la militantemente como se a experiência não servisse para nada.
O país, por exemplo, arde.
Num ano descobre-se que era por falta de meios de combate às chamas.
No outro descortina-se que foi por falta de prevenção.
O resultado é simples: o país desertifica-se.
Da sua riqueza natural. E dos homens e mulheres que ainda estavam no interior.
O Estado, condoído, compra «kleenex» cada vez que o fumo das chamas lhe faz comichão nos olhos.
Nem os crocodilos choram tanto. Compreende-se a farsa em que se tornou esta história.
Depois de se perder a mais salutar riqueza florestal do país descobre-se que a utilização de meios para a reflorestação da área ardida não foi cumprida.
Por falta de dinheiro?
Não.
Havia fundos.
Mas como mudou o Governo, alterou-se a política florestal. E aí estamos a fazer os erros de que nos vamos queixar amanhã.
A floresta portuguesa está cansada de planos paradisíacos.
Tem pesadelos cada vez que se apresenta um.
Porque eles são como as flechas de Guilherme Tell: acercam sempre nas maçãs erradas.
F. S.
2 Comments:
Que o ministro da Administração Interna centre as causas dos incêndios florestais na prevenção até se compreende, mas o mesmo não é aceitável no ministro da Agricultura que sabe muito bem que as causas são bem mais profundas e merecem outro tipo de abordagem, designadamente, pelo seu próprio ministério. Há algumas décadas os meios de combate eram diminutos, a prevenção não existia, a mancha florestal era muito maior e os incêndios não eram o flagelo a que temos assistido. Não basta falar em prevenção e atribuir as culpas a questões ambientais, a questão é de ordem sociológica e deveria estar no centro da atenção do ministro da Agricultura.
Portugal é o pior em fogos na Europa do Sul
Portugal tem a pior performance da Europa do Sul no combate aos incêndios. Em 2005, apesar de não ter tido a maioria do número de ocorrências dessa região (que inclui ainda Espanha, Itália, Grécia e França Mediterrânica), a mais problemática em termos de fogos florestais, teve 57% da área ardida. O que significa que ardem mais hectares nos incêndios em Portugal. Espanha, por exemplo, teve 36% do número de fogos, mas apenas 31% da área ardida.
O relatório de 2005 - publicado pelo Centro Comum de Investigação (CCI) da Comissão Europeia no âmbito do projecto Sistema Europeu de Informação em Fogos Florestais (EFFIS) - assinala, por exemplo, os "excelentes resultados" alcançados pela Itália na área da prevenção de fogos florestais e no sistema de combate. Nesse ano, arderam nesse país 47 575 hectares, o que representa face a 2003 uma redução da ordem dos 48%. A média de cada incêndio do país é inferior a 6 hectares. Em Portugal, é de 9,5 e na vizinha Espanha apenas de 6,85 hectares.
Os números não dão conta de uma situação totalmente desconhecida, mas revelam uma dimensão preocupante: só Portugal ultrapassou em 2005 a média dos últimos 25 anos (de 1980, primeiro ano com registos, até 2004). Mas a situação é ainda pior quando comparados os números do ano passado com a média da última década: houve um aumento de um terço no número de incêndios e de 77% na área ardida. Foi, aliás, o ano com maior número de ignições desde 1980. Registaram-se 35698 incêndios, que correspondem a 338 262 hectares ardidos.
O drama dos incêndios, refere o relatório do CCI, aconteceu num ano de grande seca. O projecto EFFIS, para além do mapeamento de áreas ardidas através de imagens de satélite, tem também uma componente de previsão, através da publicação diária de mapas de risco. Nesse âmbito e referente ao período dos últimos cinco anos, foi possível verificar que o risco de incêndio foi maior em 2005, quando comparado com os anos anteriores. A seca severa que afectou a grande maioria do território português tem assim, assinala o documento, um papel na dimensão dos incêndios, já que "durante 11 meses consecutivos, o nível de pluviosidade foi quase insignificante ou muito abaixo dos valores normais".
Mas Portugal não foi o único país com problemas graves de seca, ainda que tenha sido o mais afectado. De acordo com o relatório de 2005, "Portugal e Espanha, em particular, enfrentaram condições meteorológicas severas no início da estação e novamente em Julho e Agosto". No país vizinho, 2005 foi o pior ano da última década em termos de número de incêndios, mais ainda melhor que 2000 no que diz respeito a área ardida. Com perto de 180 mil hectares consumidos pelas chamas, em pouco mais de 26 mil fogos, Espanha foi também "significativamente influenciada" pelas condições de "seca acumulada".
O objectivo do projecto EFFIS é fornecer informação para a protecção de florestas contra os incêndios, harmonizando os dados no território europeu. Em 2005, foram emitidos mapas de risco desde 1 de Maio até 31 de Outubro, e enviados às autoridades competentes dos vários estados-membros.
Elsa Costa e Silva
No: D.N.
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