terça-feira, 19 de setembro de 2006

NÃO APAGUEM A MEMÓRIA

Em 5-1-63 completava eu 177 dias de prisão preventiva e sem culpa formada.
Faltavam três dias para o máximo permitido por lei.
Fui posto em liberdade, mas… preso imediatamente a seguir à porta da cadeia do Aljube e transferido para Caxias!

No dia 8-1-63, conduzido à sede da P.I.D.E., fui ali informado de que fora posto em liberdade três dias antes e preso de novo à porta da cadeia… porque novas actividades subversivas haviam sido desenvolvidas dentro da cadeia ou à porta da cadeia. […]

Não fui submetido a nenhum interrogatório durante esta 4.ª prisão, nem me foi nunca fornecida qualquer explicação para ela.

E assim se foi arrastando a minha 4.ª detenção, que, ultrapassando o que a lei permite, se prolongou por mais sete meses.
E todavia, ao completarem-se 180 dias, eu tinha uma carta de protesto ao director da P.I.D.E. e cópias da mesma aos ministros do Interior e da Justiça.
Nenhuma resposta obtive.
O meu advogado, dr. António Alçada Baptista, apresentou então um requerimento de «Habeas Corpus».

A 14-8-63 […] fui posto em liberdade (?), mas com residência fixa na vila de Ponte de Sor, distrito de Portalegre.

Fiquei sob custódia da GNR.
Dois guardas à paisana e armados vigiavam dia e noite a porta da pensão A Ponte em que me encontrava alojado e seguiam-me a dez metros de distância em todas as deslocações pela vila, cujos limites estava proibido de ultrapassar.
[…]
Correspondência censurada e telefone vigiado.
[…]
Proibição de usar qualquer meio de locomoção que não fossem as próprias pernas, nem mesmo uma bicicleta.
Proibição de pregar e de ouvir confissões, sob pena de prisão.


Joaquim da Rocha Pinto de Andrade

6 Comments:

At 19 de setembro de 2006 às 15:13, Anonymous Anónimo said...

Ainda me lembro de o ver a passear na entao vila.
Nunca mais visitou a Ponte de Sor?
Esta quase na mesma so mudaram os interlucutores.
Se s econtrariam os poderes estabelecidos la veem os castigos. tanto na radio como nos jornais, claro em alguma imprensa escrita e de bom tom o pseudo jornalista receber avencas da camara para bajular o seu presidente.
Como ve pouco mudou na nossa terra
Feliicdades

 
At 19 de setembro de 2006 às 17:28, Anonymous Anónimo said...

Esse senhor já fez mais pela imprensa escrita da nossa terra do que outro individuo qualquer. tenham tino no que escrevem

 
At 19 de setembro de 2006 às 17:41, Anonymous Anónimo said...

Tenha tino o sr.anónimo das 5:28:41 PM.
Faça uma leitura de toda a imprensa do concelho de Ponte de Sor.
Já agora leia o jornal "A Mocidade"
e depois veja bem o que escreveu.
Não conhece?
Procure há na vila colecções completas do primeiro ao último número.

 
At 19 de setembro de 2006 às 17:45, Anonymous Anónimo said...

Ai, ai, ai,...
Se o Costuras fosse vivo ele dizia tudo...

 
At 19 de setembro de 2006 às 21:08, Anonymous Anónimo said...

Caro Padre Joaquim P. Andrade
Em nome da nossa amizade permite-me que te trate assim, como te conheci no longo ano de 1960.
Fui um dos poucos que privou contigo aquando da sua prisão em Ponte de Sor, ainda recordo as nossas longas conversas.
Felizmente podemos assistir à chegada da liberdade aos nossos dois paises, apesar de muitas lutas e derrotas conseguimos a libertação dos nossos povos.
A noite foi muito longa, mas um dia novo nasceu.
Um abraço para ti Joaquim

 
At 20 de setembro de 2006 às 14:06, Anonymous Anónimo said...

Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capas relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.

¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas, banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas se conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.


Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento, vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche,
noche, que noche nochera.


La Virgen y San José
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La Virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa,
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tres sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.


¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas, banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar,
sin peines para sus crenchas.


Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos en fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo se les antoja
una vitrina de espuelas.


La ciudad, libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entraron a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
huyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de moneda.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando detrás fugaces
remolinos de tijeras.

En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la guardia civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborios
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas;
en un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la tierra,
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.

¡Oh ciudad de los gitanos!
La guardia civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.

¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.

Federico García Lorca
1898 - 1936

 

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