sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A CULPA FOI DO DIA NÃO

ou

a culpa foi da cegonha

Castro Guerra, secretário de Estado-adjunto da Indústria e Inovação, é um vidente. Tem uma bola de cristal onde descobriu que os responsáveis pelo aumento da electricidade são os consumidores.

Espera-se que a declaração faça escola e quiçá, seja nomeada para o Nobel.
Ainda não se sabe para que categoria, mas não faltarão hipóteses.

Ao descobrir que os responsáveis pelo aumento são os consumidores, Castro Guerra ajudará a que os seus colegas digam que os culpados nos problemas na educação são os alunos e nos hospitais são os utentes.
Se não houvesse consumidores de electricidade, alunos ou doentes, não haveria défice.
A vida de um secretário de Estado seria muito melhor.
Poderia mesmo ser deslocalizado para o Burkina Faso.
Para se descobrir o que pensa efectivamente Castro Guerra tem de se comprar um microscópio. Porque, com base nas suas declarações, na electricidade não há um apagão.
Há confusão.
Na sua cabecinha, que ainda não gera watts. Para Castro Guerra a culpa do custo da electricidade não é de um anterior Governo.
São os portugueses.
Os que votaram no secretário de Estado.
No fundo Castro Guerra está a culpar quem o elegeu.
Espera-se que os portugueses tirem as ilações do que ouviram.
Quando os políticos começam a culpar os outros é porque não sabem o que fazer nas áreas que lhes competem. E, assim sendo, confessam-se incompetentes para o cargo.
Poderia ser pior.
Castro Guerra poderia ter descoberto que a culpa do aumento tinha sido da cegonha.
Mas teve medo que, assim, ninguém o levasse a sério.

F.S.

10 Comments:

At 20 de outubro de 2006 às 14:47, Anonymous Anónimo said...

Fomos esta semana surpreendidos pelo anúncio de um importante aumento na electricidade para 2007. A Entidade Reguladora veio agora informar-nos de que a partir de Janeiro a electricidade terá de aumentar em valores que chegam a atingir mais de 15% no mercado residencial. Dizem-nos que tínhamos sido avisados. O leitor recorda-se. Eu também não. Dizem-nos até que a culpa da dimensão do aumento é nossa porque continuamos a consumir muita electricidade. Este assunto merece ser analisado em várias dimensões.

Primeiro, vamos ao papel do regulador. A razão pela qual as entidades reguladoras devem ter competências na determinação dos preços prende-se com o facto de as empresas vendedoras nos mercados que tutelam terem um relevante poder de mercado. No uso desse poder de mercado, deixados à sua liberdade, os vendedores tenderiam a colocar preços mais elevados do que os razoáveis para terem uma rentabilidade consentânea com o nível de risco da actividade. No caso da electricidade, preços assim mais elevados são especialmente negativos para a actividade económica, afectando todo o tipo de empresas, e para os cidadãos. É por isso que, neste domínio, se deve pedir à ERSE que tome decisões que, salvaguardando a rentabilidade normal dos produtores e distribuidores (e há métodos para saber quanto isso é), protejam essencialmente os consumidores finais, sejam eles empresariais ou residenciais. Ora, não parece que tal se esteja a passar neste caso.

O presidente da ERSE vem explicar que há que recuperar o que os vendedores de electricidade deixaram de ganhar durante 2006, em virtude da existência de uma lei que impediu aumentos superiores à taxa de inflação. Eu não li nem ouvi uma única referência, por parte da ERSE, à rentabilidade destas empresas. A questão que tem de ser respondida é se elas foram de facto economicamente prejudicadas pela limitação das subidas das tarifas. Foram os seus resultados mantidos deste modo artificialmente inferiores ao que teriam tido se o mercado fosse competitivo? Infelizmente não tem sido por aí a linha de justificação.

Segundo, dizem-nos que tínhamos sido avisados. Não está em causa se fomos ou não avisados. Está em causa que o que quer que tenha sido feito não ajudou a proteger os consumidores. Em vez de proceder a avisos aos consumidores, o regulador tinha a obrigação de ter alertado a tutela de que impedir que o preço fosse subindo em linha com os custos durante 2006 não era a melhor maneira de proteger os consumidores. E não era a melhor maneira de nos proteger em dois sentidos. Por uma lado, é sempre preferível deixar os preços flutuar como ocorreria num mercado competitivo (não regulado), por forma a que em cada momento os consumidores tomem decisões baseados nos preços correctos. Por outro lado, porque, como se está a ver agora, isso criou uma pressão enorme para uma subida forte no preço que, mesmo que se justificasse na óptica da eficiência dos recursos, necessariamente levanta tensões fortes e não vai ser possível de concretizar. O regulador teria feito o seu papel se, dentro do quadro legal vigente, tivesse encontrado outras maneiras de aumentar o custo do consumo de electricidade (por exemplo através de um imposto especial ou de qualquer outra forma legal; e estou certo que existiria alguma). Assim, o regulador pura e simplesmente não protegeu os consumidores.

Terceiro, este comportamento por parte do regulador tem efeitos negativos sobre a percepção que os cidadãos têm da sua necessidade e interesse. Mas erros como este, num país ainda sem tradição de regulação, é muito desencorajador. Mesmo aqueles, como eu, que reconhecem a necessidade de regulação começam a pensar duas vezes sobre se será assim que lá vamos.

Retirando alguns casos mais estabelecidos, a regulação económica em Portugal ainda está a dar os primeiros passos. Infelizmente situações como esta não ajudam a estabelecer a reputação e confiança que se precisa que tenhamos nos reguladores. Pelo contrário, só vêm acentuar a importância de procurar intensificar condições de concorrência que retirem razão de ser aos reguladores. Para quando um mercado integrado de energia que permita que, sem grandes custos de transacção (por exemplo através da internet), cada um de nós pudesse escolher fornecedores espanhóis. Que diferença que isso faria em 2007.

 
At 20 de outubro de 2006 às 22:00, Anonymous Anónimo said...

Um mau momento

O secretário de Estado da Indústria que afirmou que a culpa do aumento do preço da energia eléctrica era dos consumidores justifica-se dizendo que foi um mau momento. Dias antes o ministro justificou-se dizendo que o que disse era uma infantilidade. É burrice a mais num único ministério, resta a Sócrates escolher um bom momento, o momento que demitirá esta equipa incompetente.

 
At 20 de outubro de 2006 às 22:01, Anonymous Anónimo said...

TEIMOSIA E INCOERÊNCIA

Habitualmente concordo com a forma directa com que Sócrates critica as opiniões que não aceita, eu costumo fazer o mesmo, mas é uma incoerência tratar de forma dura a oposição e ser tolerante com afirmações de membros do seu governo, já sucedeu com o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais logo no dia da posse, com o secretário de Estado das Administração Interna com a questão da alcoolémia e sucedeu agora com o secretário de Estado da Indústria.

As declarações deste último a propósito do aumento dos preços da energia eléctrica são graves e não só pelo impacto político, pois o homem comportou-se como um elefante numa loja de cristal. Mas é ainda mais grave porque revela incompetência e alinhamento com os interesses das empresas do sector eléctrico, é grave que o homem que tutela a indústria demonstre um total desprezo pelo impacto do aumento dos custos da energia, quer ao nível do consumo, mas principalmente no aumento dos custos para a indústria.

Não foi um mau momento como o próprio disse hoje, foi um momento de um secretário de Estado incompetente, um momento suficiente para que neste momento ele já não pertencesse ao governo.

E se os consumidores respondessem ao secretário de Estado ligando todos os seus electrodomésticos em simultâneo?

 
At 20 de outubro de 2006 às 22:02, Anonymous Anónimo said...

AFINAL A CULPA NÃO ERA DOS CONSUMIDORES

Manuel Pinho assegura que aumentos vão ser inferiores ao anunciado:

«O ministro da Economia afirmou hoje que o aumento das tarifas de electricidade vai ficar entre os seis e os oito por cento e que o Governo considera “inaceitável” o aumento de 15,7 por cento proposto pela entidade reguladora do sector.»
In:Público

Dê-se conhecimento ao secretário de Estado idiota

 
At 20 de outubro de 2006 às 22:22, Anonymous Anónimo said...

Quem foi o burro que disse que os burros estão em vias de extinção?.

 
At 20 de outubro de 2006 às 22:27, Anonymous Anónimo said...

Conta da luz sobe 15,7%

As famílias portuguesas vão pagar mais 15,7 por cento na factura da electricidade a partir de 1 de Janeiro de 2007. Esta é a proposta da entidade ...

Nem sei se valerá a pena comentar isto. Isto não é uma subida de preços da electricidade, é já um choque, senão mesmo uma electrocução. Mas creio já valer a pena ler e meditar neste testemunho de Vitor Crespo no Marketeer 500 (Paixão da educação), onde o mesmo revela a sua frustração por ter acreditado no PS. A frustração é tanta, que ele até pede o regresso do PSD. Só não vejo como se cura um mal com outro ainda maior, mas talvez haja um milagre...

Em suma: carestia + frustração = electrocução. Talvez o nosso destino seja regressar a África... Lá, ao menos, não precisamos da Net, de cozinhar os alimentos e, logo aí, poupamos imenso nessas duas coisas. O regresso à economia de escambo também seria uma boa opção, se fosse concretizável.

 
At 21 de outubro de 2006 às 15:57, Anonymous Anónimo said...

Interrogo-me sobre quantas asneiras deverá um membro do governo dizer para que seja demitido e depois de ouvir a justificação do ministro da Economia disse para justificar um aumento máximo de 6% no preço da electricidade não entendo como o secretário de Estado da Energia ainda está em funções. Foi o secretário de Estado que não teve a coragem de pedir a demissão ou será que Sócrates acha que a sua equipa não tem erros de casting?

Porque será que tenho a estranha sensação de que Marques Mendes preferiria que o aumento do preço da electricidade fosse mesmo de 15%? O líder do PSD parece ter ficado mais irritado quando o governo decidiu intervir limitando o preço.

Estarei enganado se disser que o PSD foi o partido que mais se excitou com as manifestações, sabendo que não sendo capaz de desestabilizar acabar por ser o maior beneficiário da fragilização de Sócrates?

 
At 22 de outubro de 2006 às 23:02, Anonymous Anónimo said...

Na minha opinião, continua sem ser bem explicada, pela generalidade da comunicação social, as verdadeiras razões dos preços da electricidade dispararem este ano. Na verdade, o que está em causa não é bem a revogação de um diploma que impedia que a evolução do preço da electricidade ultrapassasse a taxa de inflação, decorrente da liberalização do sector eléctrico. Ou melhor, as coisas estão relacionadas, embora o que efectivamente aconteceu é que o Estado (ou seja, o dinheiro dos contribuintes) deixou de financiar a produção de electricidade. E, portanto, antes era o contribuinte a financiar os preços baixos; agora é o consumidor a pagar os preços. Parece confuso, não é?

No entanto, é de uma grande simplicidade - e eu ainda vou tentar simplificar mais. Até ao ano passado, as centrais de produção termoeléctrica funcionavam como uma espécie de padaria em que o Estado assegurava a matéria-prima. Ou seja, o Estado assumia as flutuações dos preços dos combustíveis primários, pelo que as empresas acabavam apenas por receber uma margem de lucro pela transformação de combustível primário em electricidade. Significava isso que o Estado é que estava a arcar com os aumentos do petróleo (e do resto dos combustíveis, por tabela), mas isso não era reflectido nos preços ao consumidor.

Ora, como esses contratos expiraram, as empresas têm agora que incorporar os custos
directamente aos consumidores, já que o Estado deixou de lhes dar a «almofada» para suportar os custos dos combustíveis. Daí que o aumento directo de cerca de 15% proposto pela ERSE. Ou seja, o Estado poupa dinheiro, mas os consumidores gastam mais dinheiro. Até aqui tudo justo, mas fica a questão pertinente: para onde irá agora o dinheiro que o Estado recebia antes dos contribuintes para que a electricidade não aumentasse?

 
At 22 de outubro de 2006 às 23:06, Anonymous Anónimo said...

«O ÚLTIMO A SAIR QUE APAGUE A LUZ»
ANARCAS
Chega ao fim a pior semana de vida do actual Governo. Sem que ninguém, até ao momento, tenha cessado funções. A começar no secretário de Estado adjunto da Indústria e Inovação, António Castro Guerra, que teve o "topete" (como diria o saudoso professor Freitas do Amaral) de culpar os consumidores pelo aumento de 15,7% das tarifas de electricidade para 2007, anunciado pela entidade reguladora do sector. Logo desautorizado pelo ministro das Finanças, que considerou "excessivo" este aumento, e depois pelo próprio ministro da Economia, que manteve a tradição de funcionar ao retardador, Castro Guerra continua em actividade, parecendo aguardar que seja o primeiro-ministro a passar-lhe guia de marcha, o que até é capaz de lhe valorizar o currículo. Na desautorizadíssima "entidade reguladora", ao que parece, também ainda não se registaram demissões. Garantido é que ninguém sairá da EDP. Não admira: em 2005, esta foi a empresa que apresentou mais lucros no País. O que não impedirá os portugueses de pagarem no próximo ano facturas bem mais pesadas de energia eléctrica - um acréscimo que oscilará entre os 6% e 8%, como já admitiu Manuel Pinho, com ar benevolente. A trapalhada é tanta que justifica o recurso a uma frase feita: o último a sair que apague a luz.

 
At 23 de outubro de 2006 às 12:48, Anonymous Anónimo said...

Na semana passada o ministro da Economia anunciou o fim da crise e a entrada do País no paraíso do crescimento. Foi depois obrigado a "corrigir o tiro", provavelmente após uma reprimenda de Sócrates. E o caso não era para menos pois o País não podia ouvir um ministro a anunciar o "reino dos céus" no mesmo dia em que era aprovado o Orçamento e o Governo batia na tecla da continuidade, do apertar do cinto e da imposição de mais sacrifícios aos portugueses. Definitivamente, o dr. Pinho enganara-se no guião, aquele será por certo o tom a usar lá mais para a frente, quando se aproximarem eleições.

A equipa da Economia continua entretanto a navegar noutro planeta. Numa semana decretou o fim da crise, na seguinte meteu definitivamente as mãos pelos pés, ofendeu o País e mentiu - é a palavra correcta - mentiu descaradamente aos portugueses.

Depois do Secretário de Estado Guerra ter dito, de dedo em riste, que os responsáveis pelo aumento de 16% da energia eléctrica anunciado pela Entidade Reguladora eram … os consumidores, (isto é, todos nós que ligamos lâmpadas e máquinas de lavar), o que mais admira é que o próprio não tenha percebido a enormidade do que afirmara e não tenha corrido a demitir-se.

Mas se o Secretário de Estado insultou, o Ministro falseou a realidade. É que os aumentos propostos nem eram inesperados nem podiam ser surpresa para o Governo, muito menos para o Ministro da Economia. A legislação que o Governo - este Ministro, este Governo - tinha aprovado levou o responsável pela Entidade Reguladora a dizer há muito tempo, preto no branco, que os próximos aumentos podiam atingir valores altos, da ordem de grandeza dos propostos. Tudo isto foi público, foi afirmado no Parlamento, era do conhecimento do Dr. Pinho.

A verdade é que, mais uma vez, o país reagiu indignado e o alerta vermelho surgiu quando o Governo percebeu que, com estes aumentos, teria mais uma bomba relógio na residência oficial. Por isso, Teixeira dos Santos mandou Pinho mudar a legislação e passar para dez anos o período de correcção. Assim, ainda se podia aproveitar e fazer a rábula do bonzinho pois só daqui a muitos meses é que se perceberá que a energia "só" sobe 6% em 2007, (coisa pouca para aumentos salariais de 1,5%...), mas irá subir, pelo menos outro tanto, não se sabe bem quantos anos mais!

É que, afinal, a energia "tem" mesmo que aumentar pois só assim é que as Endesas e as Iberdrolas vêem liberalizar o mercado e se promoverá a concorrência para, depois, se descerem preços!

 

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