terça-feira, 17 de outubro de 2006

LUIZ PACHECO

Luiz Pacheco é, talvez, o maior filho da mãe e libertino, a pessoa mais corrosiva e anarca, até mais a intratável do meio literário português destes últimos 100 anos.
Mas há um lado nele, quiça psicopatológico, que nos atravessa a todos e que a todos nos faz rever nele: uns de forma assumida; outros envergonhada e ocultamente. Pergunto-me porquê e só encontro um fundamento para esta adesão meio literária, meio escrabosa, espelhando alguns dos seus comportamentos
.

É que passamos toda a infância a treinar a interacção correcta e alinhadinha com as outras pessoas, imitando-as, brincando com elas, jogando esse jogo social do políticamente correcto, oprimindo e recalcando milhares de pulsões, desejos e mais um comboio de perigos da alma e do corpo. Ou seja, tivémos de fazer teatro para nos fazermos aceitar pela sociedade, fomos escravos da cultura porque, na realidade, estamos com medo que nos descubram a careca.
É também por isso que coramos e os intestinos se revoltam quando nos descobrem a tal careca.


Luiz Pacheco já há muito que arrancou os cabelos todos, revela-se despido, puro e duro, ostenta toda a sua sinceridade.
Por Braga, por Lisboa, por Setúbal, por qualquer parte onde ele esteja ou se projecte como homem ou como artista.
Ao vermos essa força da Natureza reconhecemos no outro uma virtude e um defeito: a virtude da coragem e da assunção de se Ser como se É; e o defeito dos excessos que rompem com todos os equilíbrios sociais necessários à convivência entre os homens.


Julgo que é isto que nos faz parar para ver Luiz Pacheco a debitar camiões de lucidez numa personalidade histriónica como a dele, carregada de um excesso de emotividade, desconforto, um estilo discursivo exuberante, dramatizado, teatralizado, revelando até aspectos mais íntimos da sua vida que o homem comum embora estando preparado para ouvir sente, por pudor e por força da tal educação do jogo social, uma total impreparação para os aceitar. E depois como é cínico e hipócrita acaba mesmo por os repelir.

Mas no plano tecnico-literário ficará um legado:

O legado de Luiz Pacheco que ainda não tem arrumação classificatória definitiva, creio.
Ao mesmo tempo rolava na RTP1 um tal Prós & Contras em que um ministro Big Mac António Costa estava com vontade de partir a cara a um tal Sadam das Beiras como se auto-denominou o sr. Ruas, que, curiosamente, também passou o programa com vontade de partir a cara ao Big Mac.
Então não valerá mais a pena ser como o Luiz Pacheco - do que fingir que se é diferente dele??? e fazer estas figuras...

Grandes entrevistas destas não faz Judite de Sousa, esta limita-se apenas a entrevistar personagens menores do nosso tecido politico-mediático, o último dos quais foi um tal Nobres Guedes (por causa duns sobreiros no Ribatejo e de mais umas broncas que fronteiram na corrupção que nunca se consegue provar); e antes dele foi M.Mendes, chefe dum partido que alberga caciques com problemas com a lei mas que ainda mantém a ligação de deputados na AR.


O Luiz Pacheco comparado com estes outros sujeitos não passa de um menino do couro...



Pedro Manuel

3 Comments:

At 18 de outubro de 2006 às 00:11, Anonymous Anónimo said...

REQUIEM POR UM CAVALO

Um solícito correspondente meu de Lisboa, aliás profissional de Teatro distintíssimo e com uma invejável carreira de muitos anos, dá-me a infausta notícia que faleceu um cavalo que fazia parte do elenco da peça "As Fúrias", de Agustina Bessa-Luís. E que há opiniões divergentes, aguardando o resultado da autópsia: ou o bichinho se terá suicidado, em melancólico protesto contra o pendor passadista da obra; ou deixou-se ir embora para o Além das Bestas, roído de inveja pela maneira como jovens talentos (Eunice Munhoz, Raul Solnado, Lia Gama) ofuscavam as patadas vaidosas que ele exibia em cena, mais uma vez se verificando que vaidades irritadas e manias de preponderância no mundo do espectáculo não serão exclusivas dos humanos. Seja como for, morreu.
Felizmente, não assisti. Viver na Província tem suas vantagens: em Setúbal, o TAS leva agora Molière em travesti western, mas duvido que o Carlos César tenha tido subsídio suficiente para rechear o palco do Luisa Todi de vacas, cavalos e mais bicharada (bisontes, baleias, golfinhos, etc.). Há muitos anos, sim, vi também um cavalo em cena. Foi no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Noite inolvidável, essa! Era uma ópera - e que ópera aquela, "Dom João IV", se bem me lembro. O autor - da música, do libreto, da montagem - era um excêntrico, Conde da Esperança, Dom Qualquer Coisa Barahona. Ali não havia subsídios, era tudo da algibeira do velhadas, apaixonadíssimo por uma cantora que fazia de diva, super vedeta, como se tivesse garganta para tanto. A certa altura, entrava um cavaleiro a cavalo... Lembro-me, eu, o Manuel de Lima e o João de Freitas Branco, a rir desalmadamente no intervalo e o João a comentar muito sério, falando do Senhor Conde: - Temos de arranjar uma bolsa da Gulbenkian, para este rapaz!
Ora o que o meu correspondente de Lisboa não me soube dizer, e averiguei em fonte fidedigna, é que o cavalo que faleceu no Teatro Nacional D. Maria II era bisneto do cavalicoque operático do Senhor Conde da Esperança. A carreira do Teatro (declamado, lírico) estava-lhe, pois, no sangue... com toda a propriedade o podíamos classificar de autêntico animal de palco. Ignoro como Filipe La Férica conseguiu colmatar a falha no seu cartel de Artistas. Aposto, de ciência certa, que nunca arranjará um animal com tal pedigree. Aqui lhes deixo o meu sentido voto de pesar.

LUIZ PACHECO

 
At 18 de outubro de 2006 às 00:17, Anonymous Anónimo said...

Do Luiz Pacheco, belas letras e malas artes

Nesta noite que passou, passar mal por passar mal passei boa parte a ler aos pedaços um livrito que tinha levado da tabacaria, vi-o lá a olhar para mim e era só dois ou três euros nem perdia muito. Trata-se de uma recolha de textos de Luiz Pacheco, dispersos por tempos e publicações várias e que "o Independente" resolveu compilar e oferecer aos leitores por tuta e meia, a ver se escoa o raio do jornal. Obra meritória, o livrinho não a porcaria do jornal que foi logo fora. Como sabem alguns de vocês, os que sabem pois claro, o Pacheco é um velhadas deveras ordinário mas que anda metido na nossa desgraçada república das letras - republicazinha bem pequenina mas tão ordinária como o Pacheco só que mais disfarçada - a bem dizer desde que o mundo é mundo. Coisas das mafias literárias, das edições, dos livros, das revistas, dos autores, dos grupos, dos influentes, dos prémios, de tudo, e sobretudo do mais escabroso, o Pacheco sabe. Acrescente-se que o gajo, pese embora a ordinarice, tem talento, e não deita açúcar no tinteiro, quer dizer que deita cá para fora uma escrita assim a modos que autêntica, ao natural, sem tiques delicodoces. Não é sempre, que bem se topa quando ele está a fazer-se à fotografia, a compor o retrato, olhem pra mim como sou cru e verdadeiro, ou a tecer loas com volta na ponta, ou a ajustar contas pouco literárias, mesmo que às vezes envolvam letras.O certo é que ler o Pacheco me parece exercício útil e salutar, instrutivo mesmo. Aprende-se. Pela escrevinhação, com fulgor e expressividade raras neste tempo de prosas chochas, escribas feitos a encher chouriços em redacções avençadas e escritores feitos por encomenda, a preço fixo, à peça, tanto por mês, com casa posta e trapinhos por conta da editora, a não sei quantas folhas A4 por semana. E pelas histórias, que o gajo está cheio, conheceu-os a todos, aquilo é só despejar.Some-se que o malandro tem intuição crítica e saber de ofício, velho tarimbeiro de olho vivo, e atira certeiro quando vai por aí sem concessões, e percebe-se o meu interesse. Vão ler também. Ainda hoje dão barrigadas de rir aquelas sacanices de andar a contar as frases que o Namora surripiou do Vergílio Ferreira, e mais ainda as reacções do meio - fazia parte das regras ver e calar, patifaria era denunciar... E quantos mais sonâmbulos chupistas, ou só sonâmbulos ou só chupistas, povoam as crónicas!...
Vão lá ler se fazem favor

 
At 18 de outubro de 2006 às 00:23, Anonymous Anónimo said...

Veio o Barroso, disse-nos que estávamos de tanga, “tangueou-nos”, foi para Bruxelas e ficámos com o ‘dito cujo’ à mostra. Deixou nos seu lugar o Santana Lopes que achou que o que Portugal precisava era de uns “shots”, a versão de direita do PREC, e foi o que se viu.

Acabou o discurso da tanga, a austeridade passou a ter fundamentação científica, Sócrates nunca nos disse o que quer, o primeiro-ministro é um executor das conclusões de estudos, ganhamos menos e pagamos mais impostos por causa do estudo do Constâncio, vamos pagar a OTA porque os estudos provaram que era indispensável, foram estudos inquestionáveis que determinaram o traçado do TGV, e as SCUTS foram confirmadas por estudos a posteriori que concluíram pelas suas vantagens económicas.

Viemos numa “estudiocracia”, temos uma governação científica, longe vão os tempos em que os primeiros-ministros gostavam de ser apelidados de timoneiros, os homens do leme, agora o país navega com G'PS', Sócrates governa-nos como se fosse um piloto automático a seguir as coordenadas exactas definidas pelos estudos.

Só que nesta política e estudos e automatismos parece não haver lugar à esperança, é possível estudar o défice, construir modelos econométricos para estimar o crescimento, e até o director-geral dos impostos consegue ajustar a evolução da receita fiscal ao seu próprio calendário promocional, mas nada disso nos aquece a alma.
Os funcionários públicos sujeitam-se a tudo por causa do défice, os mais pobres emagrecem com o salário cada vez mais mínimo por causa da competitividade, a classe média paga o que falta porque não convém reduzir a capacidade dos ricos e os pobres já deram tudo o que tinham a dar, e tudo porque está tudo estudado.

Só falta fazer um estudo que diga a Sócrates como criar esperança nos portugueses que não têm nenhum primo no PSI20 ou não estão em idade de emigrar, para que os portugueses sintam que têm futuropara além do inferno da crise não bastam as infantilidades como a do coitado do ministro da Economia.
Com tanto estudo feito, Sócrates ainda não percebeu que não explicou as suas medidas aos que fazem os sacrifícios, não lhes disse o que têm a ganhar com isso nem quando.
São cada vez mais os portugueses que começam a perder a esperança, cilindrados por uma política científica onde abundam os axiomas e faltam os afectos.
A variável esperança parece ter sido esquecida nos estudos do Eng. Sócrates

 

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