sábado, 14 de outubro de 2006

O GOVERNO CONSEGUE TRANSFORMAR O INSUCESSO EM SUCESSO



Este Verão, como se sabe, foi publicada a Estragégia Nacional para as Florestas, com pompa e circunstância. Muito a propósito, foi definida como metas em termos de destruição pelos fogos um patamar de 100 mil hectares - ou seja, abaixo disso considerar-se-ia um ano positivo. Ora, este ano não se atingirá, em princípio, os 100 mil hectares, logo 2006 é um ano oficialmente bem sucedido, como muito bem tem sido destacado por quase todos os quadrantes, comunicação social incluída.

No entanto, convém recordar que, há sete anos, um Governo socialista - no qual estavam vários ministros do actual Governo, incluindo o primeiro-ministro José Sócrates- diria que agora se estaria muito longe do sucesso.
Com efeito, em 1999 foi publicado o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa, um extenso documento que ocupou 50 páginas do Diário da República de 30 de Abril desse ano.
Dado que se considerava que no período 1992-1997 tinha ardido muito (um total de 473.312 hectares, uma média anual de 78.885 hectares), o então Governo socialista estipulava várias metas faseadas, que eram, de facto, tecnicamente correctas.

Assim, para o período 1998-2003 deveria haver uma redução de 20% (em relação ao período 1992-1997), significando que seria apenas admissível uma área ardida total de 378.650 hectares - ou seja, uma média anual de 63.108 hectares. E o que aconteceu?
Arderam afinal 1.050.861 hectares - ou seja, uma média anual de 175.144 hectares. Significa então que em vez de uma redução de 20%, tivemos um aumento de 122%. Noutra perspectiva, ardeu 2,8 vezes mais do aquilo que se prometera.

O mesmo Plano era ainda mais ambicioso para o período 2003-2008 (ainda em curso), pois em relação ao período 1992-1997 apontava para uma redução de 50%. Ou seja, nestes seis anos apenas seria admissível arder, no conjunto, 236.656 hectares, o que daria uma média anual de 39.442 hectares.

Porém, tendo passado apenas quatro anos, já se contabilizam 963.738 hectares (incluindo os 70.231 hectares apontados pela DGRF para este ano), o que dá por agora uma média anual de 240.935 hectares.
Significa portanto que em vez de uma redução média de 50%, em relação ao período de referência (1992-1997), regista-se actualmente um aumento de 205%!
Ou, noutra perspectiva, em média ardeu seis vezes mais do aquilo que o Governo socialista de António Guterres prometera. E se se reparar, mesmo neste ano de 2006 (um «oficial sucesso» com os seus «provisórios» 70.231 hectares) estamos muito acima - quase duas vezes mais - do valor médio (39.442 hectares) apontado pelo plano socialista de 1999.

Mas, claro, mudando-se a fasquia por decreto consegue-se sempre transformar algo de péssimo, em algo de bom.
Porém, não é por isso que a floresta portuguesa se tornará sustentável.
Pelo contrário, com as actuais metas da Estratégia Nacional, o Governo apenas se está a iludir e a iludir-nos (com a ajuda da comunicação social), pois julga-se que tudo vai bem, quando afinal tudo continua mal.
Isto é, o país até pode cumprir as metas políticas, mas a floresta nunca se tornará economicamente sustentável.

P.V.


Aqui em baixo, para uma melhor percepção do que destaco, coloco, por distrito, a área ardida neste ano e a respectiva classificação tendo em conta os últimos 10 anos (1997-2006).
Ver-se-á que mantêm-se os motivos para recear o futuro.

Aveiro - 2.312 hectares (4º pior ano)
Braga - 9.925 hectares (3º) este valor é substancialmente superior à média 1996-2005 (cerca de 5.600 hectares por ano)
Lisboa - 684 hectares (10º)
Porto - 6.096 hectares (6º)
Beja - 1.240 hectares (6º)
Bragança - 2.847 hectares (9º)
Castelo Branco - 1.626 hectares (9º)
Coimbra - 905 hectares (9º) curiosamente, o ano em que menos ardeu foi o de 2004 (524 hectares) e o que ardeu mais foi o de 2005 (50.803 hectares); este caso mostra só por si que jamais se pode fazer uma festa quando se tem um valor baixo num determinado ano.
Évora - 6.346 hectares (2º) este valor é o triplo da média 1996-2005 (cerca de 2.170 hectares por ano)
Faro - 139 hectares (10º)
Guarda - 5.251 hectares (10º)
Leiria - 4.096 hectares (3º)
Portalegre - 624 hectares (6º)
Santarém - 2.847 hectares (valor da DGRF, 8º)
Setúbal - 898 hectares (7º)
Viana do Castelo - 16.211 hectares (2º) este valor é o quase o dobro da média 1996-2005 (cerca de 8.470 hectares por ano)
Vila Real - 3.913 hectares (8º)
Viseu - 6.405 hectares (8º)
PORTUGAL - 72.364 hectares (valor provisório, 8º)

2 Comments:

At 15 de outubro de 2006 às 23:48, Anonymous Anónimo said...

ATÉ OS BOMBEIROS DISCORDAM:

Duarte Caldeira quer análise serena do cenário traçado por António Costa

Bombeiros recusam "triunfalismos" no combate aos incêndios



O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, recusou assumir "triunfalismos" quanto aos resultados positivos do combate aos incêndios florestais e defendeu uma análise mais serena do cenário hoje traçado pelo ministro da Administração Interna, António Costa.

O governante congratulou-se hoje em Monchique pela reduzida área ardida (72 mil hectares) face a anos anteriores e elogiou a articulação entre as diversas forças de segurança no terreno.

"Estamos satisfeitos com os resultados, mas a análise técnica deve ser feita com serenidade e sustentabilidade, adversárias da análise política que precisa de resultados imediatos", disse à Lusa o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Mostrando-se satisfeito com os resultados obtidos e reconhecendo alguma "justeza" nas medidas implementadas este ano - nomeadamente a criação dos Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro da GNR -, o responsável sublinhou, contudo, que ainda é prematuro avançar com conclusões.

"Seria mais prudente dar tempo a uma avaliação técnica", afirmou Duarte Caldeira, sustentando que falta ainda reunir muita informação e analisar o conjunto de incêndios cuja área ardida ultrapassou os 500 hectares, um género de ocorrência que este ano se saldou em 25 no total.

Lembrando que, num passado recente, a área ardida em 2006 só encontra paralelo no ano de 1999, aquele responsável considerou que o que realmente melhorou este ano foi a organização interinstitucional, não tanto o combate no terreno, mas o que fica "a montante".

Por outro lado, disse o mesmo responsável, é preciso ter em conta que em 2006 Portugal já não atravessava a situação de seca extrema que caracterizou 2005 - factor que potencia o estado combustível dos solos -, pelo que as condições meteorológicas também podem ter contribuído para um menor número de ocorrências.

Duarte Caldeira criticou ainda o que classifica de "sobrevalorização" concedida à actuação dos Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro da GNR, dizendo que as brigadas heli-transportadas da GNR e as dos bombeiros tiveram uma taxa de sucesso equivalente para o mesmo número de ocorrências.

"O custo anual dos Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro da GNR para o país é 20 vezes superior às brigadas profissionais heli-transportadas dos bombeiros", afirmou Duarte Caldeira, alertando para a necessidade de ponderar qual a viabilidade daquela força em termos de custo-benefício.

Duarte Caldeira alertou ainda para a necessidade de formação dos bombeiros, já que, apesar de ter havido algum investimento nessa matéria, não atingiu 25 por cento do total dos bombeiros envolvidos no combate aos fogos.

15.10.2006 - 19h34 Lusa

 
At 16 de outubro de 2006 às 19:29, Anonymous Anónimo said...

O Governo anda eufórico. Com a economia a crescer acima do que previra, não passa um dia sem que o primeiro-ministro e o ministro da Economia não soltem um incontido: "Eu não disse?".
Tudo estaria bem se este triunfalismo não corresse o risco de sair pela culatra. A nível interno e externo.

Internamente porque a revisão do crescimento económico, que Manuel Pinho já admitiu que o Governo vai fazer, é da competência de Teixeira dos Santos. E o ministro das Finanças, para além do desconforto evidenciado publicamente, já fez saber a Pinho e Sócrates que não achou piada à "invasão" do seu domínio.

O maior problema, contudo, reside na frente externa: se a economia está assim tão bem, porque faz o Governo finca-pé nas reformas (nomeadamente na Administração Pública, Educação e Saúde)? E porque se apresta para cortar as dotações da maioria dos ministérios e o investimento público em 2007?

Há ainda outro problema: o triunfalismo atingiu o auge no dia em que os sindicatos fizeram a maior manifestação de rua desde que o Governo tomou posse. Não que a "manif" tenha qualquer significado por aí além. Mas os eleitores não são estúpidos. E até os indefectíveis de Sócrates podem começar a achar que o primeiro

 

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