MENTIRA DESPUDORADA.
Não havia nada que Aznar e o “bando dos quatro” das Lajes (Bush, Blair, Aznar e Barroso) soubessem então que lhes permitisse fundamentar a invasão do Iraque, e o que hoje se sabe de novo é apenas a confirmação de que eles mentiram então, quando disseram que tinham provas e relatórios e informações indesmentíveis. Nenhum dos dois principais argumentos que utilizaram para justificar a invasão do Iraque tinha, na altura, a menor sustentação material: nem a existência de armas de destruição maciça nem o aproveitamento do Iraque como santuário do terrorismo islâmico e especificamente da Al-Qaeda. Em três anos de inspecções, progressivamente consentidas por Saddam Hussein, nunca os inspectores da ONU encontraram rasto de quaisquer armas e até ao fim disseram que não poderiam concluir num sentido ou noutro, se não os deixassem terminar a sua tarefa. Por isso mesmo, e antes que eles concluíssem a tarefa e declarassem que não havia quaisquer armas, é que os Estados Unidos se opuseram à continuação das inspecções, declararam a acusação provada graças às suas próprias informações classificadas e precipitaram o desencadear da guerra, à revelia da ONU. A única “prova” que os americanos apresentaram ao mundo foi um relatório exibido por Colin Powell na ONU (mais tarde viria a declarar ter sido ele próprio enganado) e que o então ministro dos Estrangeiros francês, Dominique de Villepin, classificou tranquilamente de falso e forjado, sem qualquer réplica de Powell. A menos que se aceite a extraordinária tese então defendida aqui no Expresso pelo arq.º José António Saraiva de que só invadindo é que se poderia saber se havia ou não armas, é evidente que o “bando dos quatro” não dispunha de qualquer «casus belli» que, com um mínimo de seriedade política, permitisse tomar uma decisão tão grave quanto a de invadir um país soberano e cujas consequências - como era de prever e foram previstas por muitos - se viriam a revelar de tal forma trágicas, do ponto de vista humano e político.
O que hoje sabemos de novo é apenas a extensão da má-fé com que actuaram. Sabemos que Blair utilizou relatórios dos serviços secretos deliberadamente censurados na parte que não convinha e acrescentados de outras partes não verificadas. Sabemos que a Casa Branca ignorou e escondeu todos os relatórios que diziam não existir sombra de relação entre o Iraque e a Al-Qaeda nem quaisquer informações sobre a existência das armas invocadas, chegando ao ponto de expor publicamente como agente da CIA a mulher do seu embaixador no Sudão, como represália por este se recusar a mandar as informações que Bush queria receber. Sabemos, portanto, que eles não se limitaram a mentir: forjaram os fundamentos das próprias mentiras, para vender à opinião pública, como justa e necessária, uma guerra que se revelaria, quer ética quer politicamente, completamente ilegítima e estúpida. Os mais de 1300 americanos mortos no Iraque e as dezenas de milhares de iraquianos mortos na guerra civil desencadeada pelo sr. Bush, mancham o sorriso, as memórias e a consciência de Aznar e os seus sócios nesta aventura.
E o mesmo se pode dizer do 11 de Março na Estação de Atocha, em Madrid, sobre o qual Aznar teve o desplante de vir agora dizer, contra todas as evidências e conclusões policiais, que ainda não está esclarecido. Ou seja, ainda não se saberá se os 191 mortos do 11 de Março foram assassinados pela ETA ou pela Al-Qaeda. Aznar diz que não sabe, mas na altura disse que sabia, disse aos espanhóis que tinha sido a ETA, por que isso lhe convinha duplamente: confirmava a sua razão em não negociar nunca com a ETA e ao mesmo tempo evitava que alguém o pudesse responsabilizar pela resposta do terrorismo islâmico ao apoio que tinha dado à invasão do Iraque.
Miguel Sousa Tavares
3 Comments:
verdade crua e dura...ao contrario do artigo dele na semana passada q fiquei pasmado pela superficialidade q n lhe é costume...
Qual será a pelatura em que Durão estará interessado para depois de largar o cargo de presidente da Comissão Europeia?
Perante a cobardia colectiva dos políticos europeus foi Durão Barroso, homem conhecido pela sua coragem, que veio em defesa do Papa, o que nos lança uma dúvida, se dias antes a comunicação social dava conta de reuniões em Lisboa que faziam supor que Durão preparava o seu regresso a Portugal o que pretenderá Durão com este gesto? A última vez que Durão defendeu alguém ocorreu quando foi às Lajes servir os cafés e assegurar que Bush era um bom rapaz.
Com Durão Barroso nada é grátis.
Se um Papa é indolente num discurso tal não se justifica que um bando de fanáticos que fazem da morte um sistema de vida - ameace todo o Ocidente cristão.
Mas o mais curioso é que foi alguém que aos 20 anos era maoista e ateu que andava vestido de túnica que logo correu em seu socorro procurando granjear os apoios na cristandade que não tem conseguido angariar junto dos europeus, dada a sua medíocre prestação política. Hoje, como na altura, dizemos: o que a Europa perdeu só por não ter na sua liderança um actor político ultraqualificado (António Vitorino) à sua frente ainda é cedo para calcular.
De Barroso não reza a História, ou melhor dele todos guardaremos a imagem de um transfuga, de um irresponsável que ficou com o rabinho apertado no burgo, (até Manela Ferreira leite - madrinha de A. Preto - lhe deixou de falar) alguém desmesuradamente ambicioso, gulososo e sedento de poder que com a ajuda do Godfather G.W.Bush & Blair e Azneira o colocaram em Bruxelas.
Se Jesus fosse Presidente da República na altura em que a fuga ocorreu estou convencido que barroso andaria hoje com a guilhotina a pescoço.
Mas este apoio político descarado do "transmontano de Bruxelas" ao Papa Bento XVI, não passou duma jogada abominável para garantir uma boa velocidade de cruzeiro da sua alma para céu depois de se saber que o dito está sendo politicamente atropelado na Europa e, por isso, já prepara o seu futuro.
Infelizmente, de Guterres as análises também não são muito abonatórias, daí algum terrível paralelismo..
A partir do momento em que os agentes políticos são oportunistas a este ponto até dá vontade de lhes dizer que a Europa não é nenhuma teocracia, já se deu o cisma no Ocidente e a Deus o que é de Deus, a César o que é de César.
Mas há quem queira dançar nos dois palcos ao mesmo tempo. Ser político e padre.
Por este prisma afirmamos: a igreja está cada vez mais caótica, parabólica e sacana.
Da Europa não se diz nada porque, em rigor, nada há para dizer.
O nome desse vazio tem um cunho: o "transmontano de Bruxelas", e o seu selo é agora também conhecido como o Padre Zé Barroso...
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