segunda-feira, 20 de novembro de 2006

A COISA SAIU-NOS CARA



A pouca vergonha de 350 mil euros queimados


Esta época de incêndios não trouxe apenas nove mortos e mais 75 mil hectares ardidos. Soube-se no sábado, por uma pequena notícia no Correio da Manhã, que o Governo encomendou um estudo à consultora McKinsey & Company para analisar a coisa e tal.


O ministro António Costa, feliz da vida, teve ainda o desplante em destacar a sintonia de análise entre o Ministério da Administração e o dito estudo da empresa - ou, por outras palavras, que tudo correu bem, claro -, referindo também que o mais interessante deste estudo foi a monotorização das medidas tomadas para 2006 e a sistematização das medidas e sua calendarização. Ou seja, concluiu alegremente que os 350 mil euros não serviram para nada, nem sequer para o Governo aprender.


Sinceramente, penso que começa a ser abjecta a encomenda de estudos pagos a peso de ouro com dinheiros públicos (e, por regra de fraquíssima qualidade), ainda mais quando existem recursos na Administração Pública para os elaborar com menores custos (e, às tantas, com melhor qualidade). E mesmo que não houvesse técnicos disponíveis, atentem no montante em causa: 350 mil euros daria para pagar a 10 técnicos a receber 2.500 euros mensais (nada mau) durante um ano inteiro, incluindo subsídio de férias e 13º mês. Além disto tudo, quando uma empresa de consultoria recebe tão elevada maquia, claro que faz aquilo que o cliente gostaria de ouvir. Mais ainda porque , durante todo o Verão, o Governo não parou de clamar que estava tudo a ser um sucesso. Em suma, para encomendar um encómio - que era isso que o ministro António Costa pretendia -, a coisa saiu-nos cara: mais 350 mil euros dos nossos impostos derretidos em estupidez...

Pedro Almeida

2 Comments:

At 20 de novembro de 2006 às 21:24, Anonymous Anónimo said...

Andamos a ser gozados

O desabafo é de um velho bombeiro, há dias, à porta do seu quartel, quando falávamos das diferenças entre as dificuldades do passado e as da actualidade.
A esse propósito veio o “andamos a ser gozados”, e não ficou por aí. Lembrou-me os tempos em que iam para a serra para apagar fogos com pouco mais que as mãos.
“A farda de caqui era cada um de nós que a pagava, e os capacetes, não havia para todos”.

O velho bombeiro recordou-me também o sufoco de dias e dias de fogo de outros tempos, sem outros reforços “para além de nós mesmos, dias a fio sem ir à cama”.

Eram tempos heróicos, em que o eventual défice de formação era substituído pela garra, pelo improviso ou pela raiva de vencer um inimigo tão desproporcionado.

Durante décadas, foi-se alimentando a imagem do bombeiro como um homem bom, robusto, iletrado, generoso, ingénuo e muito dedicado.

Esta imagem perpetuou-se, mas a realidade foi-se afastando cada vez mais dessa representação.

Os bombeiros, como toda a sociedade, evoluíram, foram ganhando novas competências, novas capacidades, novos meios.

O velho bombeiro recorda as muitas etapas vencidas, a chegada do primeiro par de aparelhos respiratórios, o primeiro “autonevoeiro”, a nova ambulância “pão de forma”: “evoluímos muito, e ainda bem, e ninguém vai parar essa evolução, de que a gente mais nova que cá temos é um bom exemplo, e ainda bem”.

Mas a evolução, que hoje é já incontornável, exige recursos, exige vontade de todos.
É importante que, nesse domínio, a sociedade lance aos próprios bombeiros os desafios que irão melhorar a sua capacidade de intervenção.
Mas, sempre que abraçam com generosidade esses desafios, invariavelmente ficam sozinhos com os encargos de vária ordem que isso acarreta.
Quantos bombeiros passaram a dispor de equipamento de mergulho, de salvamento de grande ângulo, embarcações, ambulâncias totalmente equipadas para suporte de vida, equipamento para desencarceramento? E, destes equipamentos, quantos tiveram que ser suportados integralmente ou em boa parte pelos bombeiros?

Ao grau de exigência com que esses equipamentos passaram a ser requeridos pela sociedade, por força da evolução das técnicas de socorro e da chamada vida moderna, não correspondeu o mesmo compromisso na cobertura dos seus custos.

O velho bombeiro resume bem esta situação com a frase: “Os tempos mudam, mas a hipocrisia, pelos vistos, acompanha e não muda”.

De facto, os tempos mudam mas os apoios, mesmo que aumentados relativamente ao passado a que se refere aquele bombeiro, de facto, continuam a ser mitigados com palavras doces e palmadinhas nas costas, e quase sempre aquém da realidade.

Os subsídios avulsos continuam a fazer história nessa lógica de, como me disse o velho bombeiro, “quererem galinha gorda por pouco dinheiro e pensarem que, por sermos bombeiros, temos o dom de fazer milagres para além do razoável”.

Essa postura avulsa e deficitária, tantas vezes posta em prática pelo Estado e por outras entidades, incluindo autarquias, leva a que, na realidade, queiram transformar os bombeiros em galinhas gordas por pouco dinheiro. E, ao longo da história dos bombeiros, o ditado vai sendo repetido.

É certo que o voluntariado assume diversas vantagens e, também, a económica.
Mas querer reduzi-lo e tirar partido dele apenas nessa lógica, não é uma postura séria.
Mas é precisamente isso que é mais frequente verificar-se.

O velho bombeiro pede-me para aguardar, vai ao cacifo e volta com uma fotocópia do Despacho nº 21 482/2006 e diz-me que, “depois do que temos estado aqui a falar, isto é o máximo, e depois não digam que não temos razão quando repetimos que andam a gozar connosco”.

O despacho garante o pagamento até 30 de Setembro de ajudas de custos aos 326 elementos da GNR deslocados nos centros de meios aéreos, justificadas com a “imprescindibilidade” da presença da GNR naqueles locais.

Para justificar o dito despacho, o velho bombeiro aponta várias vezes para o papel onde se lê ser atribuída à GNR “a execução de acções de prevenção e de intervenção de primeira linha, em todo o território nacional, em situação de emergência de protecção e socorro, designadamente nas ocorrências de incêndios florestais ou de matérias perigosas, catástrofes e acidentes graves, em que inúmeras vezes as condições climatéricas são adversas, agravando tal facto a deficiente estrutura rodoviária das serras e seus acessos”.
E o velho bombeiro remata: “Andamos a ser gozados!”

 
At 21 de novembro de 2006 às 21:41, Anonymous Anónimo said...

Não meu caro Sr.

Os 350.000 euros não foram em vão. Foram para uma empresa de "amigos".

 

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