segunda-feira, 27 de novembro de 2006

NOVO LIVRO DE JOSÉ LUIS PEIXOTO É LANÇADO HOJE EM LISBOA



Há sempre personagens no nosso infinito interior

Este é o meu livro mais optimista. Dos que eu já publiquei é o único que não descreve uma única situação de morte. Aqui só relato nascimentos, diz José Luís Peixoto a propósito do seu novo romance Cemitério de pianos, que lança hoje em Lisboa.

Tudo o que eu escrevo, paradoxalmente, afasta-se bastante de mim e ao mesmo tempo também se aproxima. Assim acontece com Cemitério de pianos. O livro nasceu de uma situação concreta e autobiográfica. Mas apesar de existir esse ponto de partida o romance é todo ele ficcional.

O que está em causa em Cemitério de pianos é a transcendência. Neste livro a morte não surge como um fim absoluto. As pessoas morrem e acabam por deixar alguma coisa. De certa forma acontece uma espécie de ressurreição nesse acto da morte.

Para José Luís Peixoto em Cemitério de pianos a questão da morte é sempre vista pelo lado da vida. Nessa medida acho que é um romance que fala de optimismo.

Os narradores do livro são um pai e um filho que em épocas diferentes, mas por vezes sobrepostos, vão contando a história da família. E entre estes surge ainda a personagem de Francisco Lázaro, um atleta português que, no ano de 1912, morreu de insolação após ter cumprido 30 quilómetros de maratona nos Jogos Olímpicos de Estocolmo.

Escrevi a partir da história dele mas não se trata de um romance histórico. O que para mim foi mais interessante foi a própria história de Francisco Lázaro. Quanto mais se sabe sobre ele mais interessante se torna. De certo modo Francisco Lázaro representa aquele Portugal que, por vezes, é capaz de se entusiasmar de uma maneira exacerbada e, ao mesmo tempo é capaz de um desânimo grande e, de certa forma, acabar por morrer na praia.

No romance de José Luís Peixoto, Francisco Lázaro é um carpinteiro que se especializou em carpintaria de automóveis e que, paralelamente, é responsável por uma oficina onde repara pianos.

Neste espaço existe uma zona onde estão os pianos que já não têm concerto. É aí que acontecem muitas das situações essenciais do romance. Ao mesmo tempo esta oficina serve de metáfora da continuidade. Os pianos estão ali de certa forma mortos mas as peças deles continuam a viver noutros pianos. E depois, os pianos estão ligados à música e a música é o indizível, explica o escritor.

Em Cemitério de pianos, José Luís Peixoto diz que se identifica com todos os personagens. Sinto que os encontro todos dentro de mim. Através da escrita cheguei à conclusão de que assim como o mundo é infinito para fora de nós, também todas as pessoas carregam dentro de si um mundo igualmente infinito. E é aí que estão as personagens.

Diz o autor de Morreste-me e de Uma casa na escuridão que não sente que nenhum livro seu seja triste. Isto tem a ver com a vivência que tenho dos próprios livros. A verdade é que muitas vezes eles são pretextos para confrontar questões a que eu próprio, antes de escrever, não conseguia dar resposta. A escrita, pela sua própria natureza, obriga a organizar, a gerir, a pensar sobre os assuntos. Então para mim os livros são sempre uma resposta a essas questões. Uma resposta que nunca é definitiva.



Ana Vitória

2 Comments:

At 27 de novembro de 2006 às 22:33, Anonymous Anónimo said...

Cemitério de Pianos, o novo livro de José Luís Peixoto «conta a história de uma família em várias gerações, com narradores alternados que são o pai e o filho».

Ambos carpinteiros e reparadores de piano, na «oficina onde trabalham há uma divisão onde estão empilhados os restos dos pianos, e onde decorrem alguns dos momentos mais emblemáticos do livro», que dá o nome ao livro.

Com as narrações alternadas de um núcleo familiar, a obra pretende retratar o «perpetuamento» daquilo que passa das «gerações anteriores para as seguintes».

O filho é Francisco Lázaro, um corredor português que morreu de insolação durante a maratona de Estocolmo, em 1912.
Segundo José Luís Peixoto, esta personagem representa «um certo Portugal, capaz dos maiores entusiamos e das maiores desilusões».

Escolheu o maratonista também porque partilha o nome com São Lázaro, personagem que «segundo a Bíblia, ressuscitou com Jesus».

Através da irónica morte de Francisco Lázaro, José Luís Peixoto quis também «abordar a morte de uma forma optimista», tema aliás recorrente na sua literatura.

«Reflecte a descrença de que a morte é uma passagem de tudo para o nada», afirma o autor, «não devemos ter medo dela. Devemos sim ter consciência de que a morte pode ser uma valorização da vida - todos os fins são inícios».

Cemitério de Pianos é apresentado no amanhã, terça-feira, no Porto, no Teatro do Campo Alegre, às 22h e em Ponte de Sor, quarta-feira na Biblioteca Municipal, às 18 horas .

 
At 13 de dezembro de 2006 às 19:08, Anonymous Anónimo said...

Este romance traduz uma mensagem que acho muito importante que é a seguinte:
os pianos inuteis sem concerto, vão continuar vivos ao darem para concertar pianos novos que estejam estragados...assim eles(os pianos)nunca morrem completamente existe algo deles que continua sempre vivo; isso também acontece na vida um "pai" morre mas vai haver "um Filho,um Neto" que nasce assim essa pessoa nunca morre completamente(embora tenha morrido continua viva) tal como os pianos...

 

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