A ARCA DE NOÉ
Triste Sina a do PSD
Estávamos no tempo do Governo Guterres e o PSD era liderado por Marcelo Rebelo de Sousa quando um antigo alto quadro daquele partido comentava-me à hora do almoço que o até que se livrasse de Durão Barroso, Santana Lopes e Marques Mendes o PSD teria que fazer a sua travessia do deserto, entendida esta como uma longo período fora do governo.
Acertou e não acertou, inesperadamente Durão Barroso chegou ao governo e para surpresa de todos partiu para Bruxelas, deixando Santana Lopes aos comandos do país, talvez inspirado no piloto que se entregou ao libido com a hospedeira e deixou o avião entregue ao macaco. Não acertou porque a passagem do PSD foi efémera, mostrando ao país que sem os dirigentes de outras épocas e com uma geração de dirigentes a viver dos rendimentos adquiridos com o poder, o PSD é um partido de dirigentes medianos mas suficientemente argutos para impedirem a sua substituição.
Cumpriu-se o destino traçado ao PSD por esse amigo que hoje vive recuado, beneficiando da tolerância de Sócrates para com os bafejados com altos cargos no tempo de Durão Barroso.
Durão Barroso e Santana Lopes já mostraram o que valem e portugueses já os conhecem de gingeira, agora chegou a vez de ser Marques Mendes o timoneiro de uma Arca de Noé de onde já fugiu uma boa parte da bicharada. E, como se a desgraça não bastasse, Luís Filipe Menezes já se está a oferecer para prolongar o ciclo de incompetência iniciado por Durão Barroso.
Por mais que Pacheco Pereira tente dar consistência ideológica ao PDS, a verdade é que este partido assemelha-se mais a uma Arca de Noé onde se junta a bicharada que pretende povoar o poder com as suas espécies, do que uma associação política a que se adere por convergência de projectos.
JER
5 Comments:
stá em curso um "programa especial de recuperação do dr. Barroso", o PERB. Ele é visitas a tudo o que é exposição, ele é entrevistas "íntimas" a revistas - como se um produto típico do "livrinho vermelho" se deixasse enredar em intimidades -, ele é entrevista à SIC, ele é convite do PR para aquela reunião clandestina sobre a globalização em Sintra, ele é o "irrepreensível" de Santana Lopes na televisão e o seu contrário no livro sobre 2004, em suma, ele é uma presença constante em Portugal e menos numa Europa que apenas o tolera. Barroso quer ver-se livre da Comissão Europeia com a mesma rapidez com que se viu livre dos portugueses que o elegeram e do governo do país. Deus manda-nos ser bons, mas não nos recomenda ser parvos. Durão Barroso anda para aí a derramar a sua frieza e o seu cinismo "patrióticos" para o que der e vier, como se fossemos todos ceguinhos. Se calhar até somos. Depois não digam que ninguém avisou.
Hoje dei com Durão Barroso a falar da defesa dos interesses de Portugal a propósito de uma qualquer reunião comunitária de cujo tema não me apercebi, e por momentos questionei-me se o ex-primeiro-ministro não estaria a sofrer de um qualquer problema de memória que o levasse a pensar que ainda governava Portugal. À medida que se aproxima o fim do seu mandato e quando a sua credibilidade está em queda na Europa o presidente da Comissão arma-se em provedor dos interesses de Portugal, esquecendo que o cargo o impede de assumir esse papel, ainda que de forma paternalista, e que a defesa dos interesses do país é do Governo legitimamente eleito. Portugal não precisa de padrinho, e muito menos de um padrinho à espanhola.
A "ideia" de um procurador especial "político" para chafurdar no lixo, designadamente provocado pela "política, e que não vai para os tribunais ou que os tribunais e a investigação competente entendem não ter merecimento, não lembra ao careca, como diria Marcelo. Acontece que ocorreu ao PS e, por simpatia, ao PSD.
Este regime, se não existisse, tinha que ser inventado.
Sempre que surge uma oportunidade, Durão Barroso reaparece. Em Portugal, onde pensa continuar a sua carreira política. Uma conferência, uma exposição, a celebração do segundo aniversário da sua Comissão – ontem no "prime time" informativo da SIC.
O tempo vem longe, mas para Durão o futuro sempre foi uma preocupação. Com inquietações acrescidas quando há feridas ainda por lamber – a saída para Bruxelas exige regulares intervenções para que as sequelas do passado possam ser amaciadas. O ideal seria a renovação do mandato. Não é fácil, parece mesmo uma hipótese longínqua. A relação de proximidade com Blair não terá sequência num provável Cameron, o entendimento com Merckel já conheceu melhores dias. E Paris é uma incógnita, sendo que a possibilidade Sarkozy não o favorece. Mas ninguém espere que Durão atire a toalha ao tapete. Ele sabe que um regresso em 2014 seria a colheita ideal para uma grande escolha nas presidenciais de 2016. Ele "é um poderoso comunicador e é muito bom a lidar com os diversos governos". Quem o diz – em entrevista a este jornal – é Michael Burrell, especialista em "public affairs". Burell sintetiza o essencial: "Em Portugal há um lobista muito eficaz, o Sr. Durão Barroso". Que um dia, sem ninguém esperar, chegou à presidência da Comissão Europeia. E que, ainda a aterrar em Bruxelas, logo começou a preparar a próxima paragem.
Pérolas Santanistas
Não sou, nem nunca fui
p. 23: "Não sou nem nunca fui marxista, mas penso que as condições de
vida das pessoas influenciam, de modo determinante, o seu
comportamento".
Depois de D. João II
p. 40: Durão Barroso "tornou-se um dos Portugueses mais influentes no
Mundo, depois de D. João II".
Na cadeira
p. 57: "Nunca me sentei na cadeira do presidente do Partido, quando
não o era, e devo dizer que não senti nenhuma emoção especial quando
isso aconteceu pela primeira vez".
Curiosamente
p. 98: "Curiosamente, sempre que ia almoçar ou jantar a São Julião da
Barra - sendo outro o forte -, Paulo Portas fazia-me lembrar a
figura de Salazar".
Cada vez mais
p. 114: "Cada vez mais a Humanidade procurará o fundo do mar".
Simplificando
p. 121: "Simplificando: para mim, a Família está para a sociedade
como o Mar está para Portugal".
Direito próprio
p. 123: "Os meus amigos não têm lugar por direito próprio nas equipas
que constituo".
Consentâneo
p. 126: "Entregar a Agricultura ao CDS/PP parecia-me consentâneo com
um partido tradicionalista".
O essencial
p. 141: "O essencial é invisível".
À vontade
p. 166: "Sempre tive a ideia - certamente injusta para os que não
falam desse modo - de que quem reflecte muito nos assuntos prefere
falar de improviso. Quem pensa nos assuntos, chega a conclusões e
prefere falar de improviso. E quem não teve tempo nem confiança
naquilo em que pensou, não pode estar tão à vontade."
(Best of da fraseologia santanista segundo o livro de Pedro Miguel Santana Lopes, "Percepções e Realidades: 2004", Alêtheia, 2006).
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