segunda-feira, 27 de novembro de 2006

UMA "ESTÓRIA" MUITO MAL CONTADA

Quase não foi notícia, a informação passou desapercebida, ninguém achou que devia comentar, quase pareceu normal que o presidente do BCP tenha pedido uma audiência ao Procurador-Geral.


Mas que levará o presidente do BCP a tal gesto?
Colaborar com a justiça na luta contra o branqueamento de capitais, assegurar que os despachos da DGCI que beneficiam as suas contas não resultam da gestão de influências, pôr-se à disposição da justiça para combater o crime económico?

Pelo Correio da Manhã fiquei a saber que se trata apenas de uma visita de cortesia:
«Paulo Teixeira Pinto pediu uma audiência ao Procurador-geral da República (PGR) e será recebido por Pinto Monteiro no próximo dia 29, pelas 16h00. Segundo apurou o CM, o que levou o presidente do banco Millennium BCP (um dos investigados na ‘Operação Furacão’) a pedir uma audiência à PGR prende-se com “razões de mera cortesia”.

O presidente do Millennium BCP pediu uma audiência ao senhor procurador, que não conhece pessoalmente, para lhe apresentar cumprimentos, tal como o faz em relação a todos os demais titulares de órgãos de soberania ou cargos oficiais”, afirmaram ao CM fontes do banco”.»

Ficamos a saber que o presidente do Millennium faz questão de ser recebido por todos os titulares de órgãos de soberania, só não se percebe bem porque motivo o presidente de uma empresa, neste caso um banco, tem tal tarefa na sua agenda.

Será que o senhor Joaquim, o merceeiro da minha rua, também seria recebido pelos titulares dos órgãos de soberania?
Acho que não, ainda que nunca me tenha cruzado com alguma lei que estabeleça o montante do capital ou da fortuna pessoal considerado mínimo para que o presidente de uma empresa seja recebido pelo Procurador-Geral da República.

Imaginem a gargalhada que se ouviria na Procuradoria-Geral da República se por lá fosse recebida uma carta do senhor Joaquim a solicitar uma audiência ao senhor Procurador-Geral só para lhe apresentar cumprimentos?

Pois é, mas o senhor Joaquim tem os seus impostos em dia, no contencioso da DGCI nunca houve um processo com o seu nome, nem beneficiou de nenhum despacho manhoso para o ajudar a escapar às suas obrigações contributivas, e muito menos a sua mercearia está referenciada na Operação Furacão.
Mas em Portugal vale mais o poder do capital representado por um tal Paulo Teixeira Pinto do que a honestidade do senhor Joaquim, e ainda por cima este não ganha nos arredondamentos para encher a vista dos lisboetas com a maior árvore de Natal da Europa.


Também não entendo porque motivo Marques Mendes ficou tão incomodado por o Procurador-Geral reuniu com o primeiro-ministro e mais dois ministros e deixou de vigiar as reuniões agendadas pelo Procurador-Geral, agora que ele vai reunir com o marido de uma destacada dirigente do PSD, até há pouco tempo vice-presidente do partido, cargon que deixou por assumir funções na CML.

Se não fosse um país onde a gestão de simpatias tem tão bons resultados, diria que estamos perante uma parolice nacional, já alguém viu o presidente de um banco inglês das dimensões do BCP ser recebido pelo Procurador-Geral do Reino Unido?
Coitado, não poderia fazer mais nada.

O Dr. Paulo Teixeira Pinto deveria explicar aos portugueses porque motivo acha tão importante ser cortês com o Procurador-Geral da República, e este deveria garantir que está disponível para receber todos os portugueses que queiram ter o mesmo gesto de cortesia, e com a mesma celeridade com que vai receber o distinto banqueiro, gestor de um dos bancos que é alvo da Operação Furacão.

JER