RAMALHO EANES
Não tenho heróis.
Quando tinha nove anos, morreu Salazar.
De férias, nas termas do Vimeiro, lembro-me do funeral a preto-e-branco na sempre oficiosa RTP e de toda a gente de pé, na sala onde estava a televisão, quando tocou o hino.
Marcello foi-me mais familiar pelas conversas que ouvia religiosamente, tal como aprendia com O Tempo e a Alma de José Hermano Saraiva.
O 25 de Abril de 1974 apanhou-me com treze anos.
Gostava vaga e romanticamente do Spínola - aquelas primeiras deambulações épicas pelo país real de um PR fardado a preceito e de pingalim impressionavam - e só com Soares e com Sá Carneiro percebi que havia política para além da tropa.
Em trinta anos, no entanto, houve um homem que sempre respeitei e que me habituei a ver como, passe o cliché, um modelo de seriedade.
Por ocasião do seu doutoramento, Jorge Miranda, que também foi meu professor por três vezes, chamou-lhe herói da democracia.
De facto, se tivesse de escolher um grande português contemporâneo, o meu voto ia para o General António Ramalho Eanes.
Atípico - não jacobino nem educado na oposição intelectual pequeno-burguesa e da classe média alta ao Estado Novo, como Cunhal ou Soares, ou liberal, como Sá Carneiro -, formado para a democracia no terreno duro de África onde aprendeu a ser um patriota sem ser reaccionário, refractário aos dictames e jargões do regime que ajudou a construir depois do 25 de Novembro de 1975, discreto, solitário e irrepreensível em matérias de interesse público, o General Eanes é, nos dias que correm, um exemplo de probidade que deve ser constantemente recordado.
Andou bem o Expresso ao entrevistá-lo por ocasião do seu 72º aniversário.
Conheci-o em 1980 e posso considerá-lo um amigo da mesma maneira que a História, um dia, o recordará com um dos grandes amigos do país.
Eanes gostou sempre mais desta terra do que Portugal, alguma vez, gostou dele.
De facto, esta choldra piolhosa não merece homens de carácter como Ramalho Eanes.
Fez, como poucos, o que pôde.
João G.
Quando tinha nove anos, morreu Salazar.
De férias, nas termas do Vimeiro, lembro-me do funeral a preto-e-branco na sempre oficiosa RTP e de toda a gente de pé, na sala onde estava a televisão, quando tocou o hino.
Marcello foi-me mais familiar pelas conversas que ouvia religiosamente, tal como aprendia com O Tempo e a Alma de José Hermano Saraiva.
O 25 de Abril de 1974 apanhou-me com treze anos.
Gostava vaga e romanticamente do Spínola - aquelas primeiras deambulações épicas pelo país real de um PR fardado a preceito e de pingalim impressionavam - e só com Soares e com Sá Carneiro percebi que havia política para além da tropa.
Em trinta anos, no entanto, houve um homem que sempre respeitei e que me habituei a ver como, passe o cliché, um modelo de seriedade.
Por ocasião do seu doutoramento, Jorge Miranda, que também foi meu professor por três vezes, chamou-lhe herói da democracia.
De facto, se tivesse de escolher um grande português contemporâneo, o meu voto ia para o General António Ramalho Eanes.
Atípico - não jacobino nem educado na oposição intelectual pequeno-burguesa e da classe média alta ao Estado Novo, como Cunhal ou Soares, ou liberal, como Sá Carneiro -, formado para a democracia no terreno duro de África onde aprendeu a ser um patriota sem ser reaccionário, refractário aos dictames e jargões do regime que ajudou a construir depois do 25 de Novembro de 1975, discreto, solitário e irrepreensível em matérias de interesse público, o General Eanes é, nos dias que correm, um exemplo de probidade que deve ser constantemente recordado.
Andou bem o Expresso ao entrevistá-lo por ocasião do seu 72º aniversário.
Conheci-o em 1980 e posso considerá-lo um amigo da mesma maneira que a História, um dia, o recordará com um dos grandes amigos do país.
Eanes gostou sempre mais desta terra do que Portugal, alguma vez, gostou dele.
De facto, esta choldra piolhosa não merece homens de carácter como Ramalho Eanes.
Fez, como poucos, o que pôde.
João G.
1 Comments:
este artigo está muito bom, bem cmo a ideia q lh sobressai.
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