HELENA ROSETA CANDIDATA A LISBOA
Helena Roseta desvinculou-se ontem do PS e anunciou de imediato a intenção de concorrer à presidência da Câmara Municipal de Lisboa como independente. Intenção deliberada: Lisboa merece melhor. Seja qual for o caminho a seguir, ele terá de passar por ouvir os lisboetas e dar espaço à sua participação activa nas decisões sobre a sua cidade. Frases contidas na carta de demissão, dirigida a José Sócrates, que a arquitecta fez questão de entregar pessoalmente na sede nacional do partido.
Não estou disponível para actuar com esta degradação. Não aceito o triunfo do tacticismo de todos os partidos - incluindo o PS - sobre os interesses da cidade. Nem que se tenha deixado nas mãos do PSD a chave de uma solução para a qual todos deviam estar a contribuir, afirma Roseta nesta carta. É a segunda missiva que dirige ao secretário-geral do partido. Na primeira, com data de Fevereiro, a arquitecta alertava Sócrates para a gravíssima crise política e de confiança em que já então mergulhara o município de Lisboa.
Na opinião de Helena Roseta, em declarações ao DN, a estratégia socialista para a principal autarquia do País não tem pés nem cabeça. Ex-presidente do município de Cascais na década de 80, quando ainda militava no PSD, Roseta considera ter experiência autárquica suficiente, vontade política e sensibilidade social para protagonizar uma candidatura a Lisboa. E tem também disponibilidade: o seu segundo e último mandato como presidente da Ordem dos Arquitectos termina em Outubro.
O PS só tem feito disparates em Lisboa, considera Roseta, que devolveu o cartão de militante para evitar as sanções disciplinares reservadas aos socialistas que apoiem candidaturas alternativas às do partido em todos os escrutínios excepto nos presidenciais. Já na corrida a Belém, em Janeiro de 2006, a ex-deputada do PS destoou da linha oficial apoiando Manuel Alegre, que ultrapassou o candidato do partido, Mário Soares.
Quero ter toda a liberdade de manobra, afirma Roseta, que a partir de hoje lança as bases da sua candidatura, que define como um movimento da sociedade civil contra os aparelhos anquilosados dos partidos. Uma candidatura que é para levar por diante, assegura, a menos que haja uma coligação de todas as forças de esquerda em Lisboa. E mesmo assim, ressalva, tudo depende das pessoas que se candidatarem.
O PS não comenta esta demissão, considerando apenas que se trata de uma decisão pessoal da arquitecta, segundo o porta-voz do partido, Vitalino Canas.
Já Manuel Alegre reagiu em termos muito críticos, lamentando que o PS veja sair sem uma palavra uma ex-dirigente que é uma figura popular no País. Na sua opinião, Roseta poderia ser uma excelente candidata do PS em Lisboa. Não se lhe dá uma resposta, fosse ela qual fosse. Isto é uma falta de consideração, lamentou o deputado socialista. Em declarações à Lusa, Alegre confessa manter hoje uma relação crítica com o partido. E protesta: Quando se deixa sair a qualidade e se promove a mediocridade isso significa que as coisas não estão bem. Só um partido que está doente, cego, é que se dá ao luxo de subestimar e de prescindir de uma pessoa como a Helena Roseta.
Pedro Correia
D.N.
Não estou disponível para actuar com esta degradação. Não aceito o triunfo do tacticismo de todos os partidos - incluindo o PS - sobre os interesses da cidade. Nem que se tenha deixado nas mãos do PSD a chave de uma solução para a qual todos deviam estar a contribuir, afirma Roseta nesta carta. É a segunda missiva que dirige ao secretário-geral do partido. Na primeira, com data de Fevereiro, a arquitecta alertava Sócrates para a gravíssima crise política e de confiança em que já então mergulhara o município de Lisboa.
Na opinião de Helena Roseta, em declarações ao DN, a estratégia socialista para a principal autarquia do País não tem pés nem cabeça. Ex-presidente do município de Cascais na década de 80, quando ainda militava no PSD, Roseta considera ter experiência autárquica suficiente, vontade política e sensibilidade social para protagonizar uma candidatura a Lisboa. E tem também disponibilidade: o seu segundo e último mandato como presidente da Ordem dos Arquitectos termina em Outubro.
O PS só tem feito disparates em Lisboa, considera Roseta, que devolveu o cartão de militante para evitar as sanções disciplinares reservadas aos socialistas que apoiem candidaturas alternativas às do partido em todos os escrutínios excepto nos presidenciais. Já na corrida a Belém, em Janeiro de 2006, a ex-deputada do PS destoou da linha oficial apoiando Manuel Alegre, que ultrapassou o candidato do partido, Mário Soares.
Quero ter toda a liberdade de manobra, afirma Roseta, que a partir de hoje lança as bases da sua candidatura, que define como um movimento da sociedade civil contra os aparelhos anquilosados dos partidos. Uma candidatura que é para levar por diante, assegura, a menos que haja uma coligação de todas as forças de esquerda em Lisboa. E mesmo assim, ressalva, tudo depende das pessoas que se candidatarem.
O PS não comenta esta demissão, considerando apenas que se trata de uma decisão pessoal da arquitecta, segundo o porta-voz do partido, Vitalino Canas.
Já Manuel Alegre reagiu em termos muito críticos, lamentando que o PS veja sair sem uma palavra uma ex-dirigente que é uma figura popular no País. Na sua opinião, Roseta poderia ser uma excelente candidata do PS em Lisboa. Não se lhe dá uma resposta, fosse ela qual fosse. Isto é uma falta de consideração, lamentou o deputado socialista. Em declarações à Lusa, Alegre confessa manter hoje uma relação crítica com o partido. E protesta: Quando se deixa sair a qualidade e se promove a mediocridade isso significa que as coisas não estão bem. Só um partido que está doente, cego, é que se dá ao luxo de subestimar e de prescindir de uma pessoa como a Helena Roseta.
Pedro Correia
D.N.
Etiquetas: Helena Roseta
16 Comments:
Agora é que são elas
O anúncio da candidatura independente de Helena Roseta à Câmara Municipal de Lisboa veio baralhar todas as contas dos principais partidos.
PS e PSD, que neste momento ainda não têm candidato, correm o risco de ter um independente a entrar directamente no seu espaço político, isto a confirmar-ser também a candidatura de António Carmona Rodrigues.Caso este não avance, o que acredito, o PS tem um problema grave em mãos e poderá mesmo ver a CML voltar às mãos do PSD. Agora sim, Paula Teixeira da Cruz deve avançar. Tem o caminho livre, pelo menos até haver uma decisão definitiva de Carmona.Helena Roseta poderá fazer uma boa campanha. É combativa, domina os assuntos (é bastonária da Ordem dos Arquitectos) e entra num eleitorado que até pode secar candidaturas como a de José Sá Fernandes. Não duvido que venha a ser eleita vereadora. Tem a vantagem de ter toda a estrutura de campanha que serviu Manuel Alegre nas últimas presidenciais e que rendeu cerca de um milhão de votos. O Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC) é uma máquina que tem estado a aquecer os motores, agora poderá carburar e destilar todo o seu ódio e discordância pelas propostas políticas do PS da era Sócrates. Alegre vai estender uma passadeira vermelha para Roseta chegar aos Paços do Concelho.
Ao cabo de largos meses de crise, quando finalmente os partidos maioritários na Câmara Municipal de Lisboa se resignaram, um a deixar o poder, outro a submeter-se a eleições, com a Câmara finalmente prestes a cair, o que é que se discutia na ‘entourage’ do presidente da autarquia?
Discutiam-se nomeações de última hora para mandatos de quatro anos em administrações de empresas municipais, uma das quais constituída de fresco, alterações orçamentais e o loteamento de terrenos do antigo estádio José Alvalade. Ou seja, já ninguém sentia necessidade de disfarçar que a partilha do bolo foi uma das questões que fez arrastar a crise, muito para além do que o regular funcionamento da Câmara e os interesses da cidade e dos munícipes recomendavam.
Curioso é que na discussão sobre o assunto havia socialistas de ambos os lados. Nuno Gaioso Ribeiro, que foi número 2 de Manuel Maria Carrilho – lembram-se? – era contra nomeações de última hora, ao passo que Rosa do Egipto era um dos nomeados. O que só confirma que nestas questões não há ideologia e nem mesmo política, mas essencialmente interesses.
É o mesmo caso da intensa discussão sobre se, caindo a Câmara, deverá haver eleições apenas para o executivo camarário ou também para a Assembleia Municipal. Ao longo de semanas e mais semanas foi isso que se discutiu e que atrasou qualquer solução. O PSD queria manter a maioria na Assembleia, em caso de perder a Câmara, o PS não queria gerir a Câmara em minoria na Assembleia. Até que alguém se lembrou que sem eleições para os dois órgãos não há subvenção estatal para a campanha eleitoral. Foi quanto bastou para um “amplo consenso”.
Há políticos que só entendem uma linguagem: é acenar-lhes com a cenoura.
Se os socialistas tivessem vergonha na cara, entregavam todos o cartão.
Esta senhora aparece agora como uma salvadora de Lisboa, mas não me esqueço que ela já foi presidente da camara de Cascais e teve um mandato vergonhoso
A.Soares
ANTÓNIO COSTA, O FERRARI E O BURRO
Se bem me lembro, numa das suas encarnações político-partidárias como candidato do PS à Câmara de Loures, António Costa teve a original ideia de colocar um burro a "correr" com um Ferrari ou coisa parecida.
Parece que os iluminados membros do secretariado nacional do PS o preferem - ao dr. Costa, não ao burro ou ao Ferrari - como candidato lisboeta.
Se for assim, isso implica mexer no governo o que é infinitamente mais importante do que mexer em Lisboa. Seja de burro ou de Ferrari.
Para as presidenciais, o PS avançou com Mário Soares como candidato oficial.
Manuel Alegre "correu em pista própria", e sabe-se o que sucedeu.
Para a presidência da CML (e segundo o «Sol»), o PS avança com António Costa como candidato oficial.
Helena Roseta prepara-se para "correr em pista própria".
Quem quer tramar António Costa?
António Costa veio do Parlamento Europeu, para onde tinha sido eleito há menos de um ano, e assumiu o cargo de Ministro da Administração Interna no governo de José Sócrates onde mais nenhum tinha o seu estatuto político, caso não se considere ,para o efeito, a presença do democrata-cristão independente Freitas do Amaral.Apanhou com os fogos de verão logo para principiar e agora dedica-se, a nível nacional, ao cartão único e à coordenação das polícias, e a nível europeu, ao alargamento do espaço Schengen na sua qualidade de membro ministerial da troika presidencial da UE.Neste nível é considerado muito bom e a sua acção várias vezes referida na imprensa especializada.Ou seja, se há um ministro fundamental para a cada vez mais próxima presidência portuguesa da UE esse ministro é o MAI.Pois muitos fazem circular insistentemente o seu nome como candidato do PS à Câmara de Lisboa, o que o obrigaria a sair do governo qualquer que fosse o resultado eleitoral.Não vejo onde possa estar a racionalidade política dessa opção.
Incomoda-me
Incomoda-me que Helena Roseta se tenha desfiliado do PS após terem passado três meses sobre uma carta escrita ao Secretário-geral do PS sem qualquer resposta. Detesto a gestão política pelo silêncio, a corrosiva guerra de nervos. Ela tem efeitos perniciosos sobre a coesão dos grupos, mas conheço gente demais, por vezes até bem intencionada, que abusa desses silêncios convencida que assim fica mais vincada a assimetria da sua posição de poder sobre quem discorda ou diverge. Elegantemente, Roseta diz que as pessoas são livres de responder ou não às cartas que recebem, mas discordo dela nesse ponto. Qualquer militante tem direito a uma resposta, seca e curta que seja, do Secretário-Geral do partido a que pertence, quando se lhe dirija de forma urbana e cordata.
José Sócrates era livre de dizer a Roseta que não conta com ela. Ou de lhe dizer que não tinha nada que lhe dizer o que pensava fazer em Lisboa. Só não era livre de não lhe responder.
Irrita-me que qualquer dia um militante do PS tenha que invocar o Código de Procedimento Administrativo para se dirigir aos orgãos do seu partido. Afinal somos só uma associação de cidadãos livres, um pouco de respeito mútuo não custa nada a ninguém e fica bem a todos.
ISTO VAI LINDO VAI...
«CML: Membros Secretariado PS querem candidatura António Costa
Membros do Secretariado Nacional do PS querem que o ministro António Costa seja o candidato do partido a presidente da Câmara Municipal de Lisboa e esperam para breve um sinal do «número dois» do Governo. Estes dirigentes socialistas disseram à agência Lusa que o cenário de uma candidatura do ministro de Estado e da Administração Interna «é neste momento praticamente o único que está em cima da mesa» e «o que mais entusiasma» a maioria da direcção nacional do partido.
«Se António Costa quiser ser o candidato a presidente da Câmara de Lisboa, será ele seguramente o candidato. Tudo depende da vontade dele», afirmou um desses membros do Secretariado Nacional do PS.
António Costa encontra-se desde quarta-feira em visita oficial a Marrocos e regressa hoje ao início da noite a Lisboa.
Confrontado com a possibilidade de uma candidatura de António Costa à autarquia de Lisboa, o gabinete do «número dois» do Governo recusou-se a fazer qualquer comentário à agência Lusa, o mesmo tendo feito o porta-voz do PS, Vitalino Canas.
Da parte do gabinete do secretário-geral do PS, José Sócrates, apenas se transmite que «não ainda qualquer decisão tomada» sobre o candidato do partido à Câmara de Lisboa e que os nomes que circulam «são pura especulação».
Membros do Secretariado Nacional do PS sustentaram que a candidatura de António Costa «é a mais forte que o partido pode ter» para disputar as eleições intercalares, embora também reconheçam que a saída do «número dois do executivo» apresenta «a desvantagem» de forçar o primeiro-ministro, José Sócrates, a remodelar a sua equipa.
Entre os elementos do Secretariado da Comissão Política da Concelhia de Lisboa do PS o nome de António Costa não motiva qualquer resistência.
Apesar de a concelhia socialista da capital nunca ter escondido a sua preferência por uma candidatura do deputado António José Seguro - que, entretanto, fez saber que estava indisponível para esse desafio -, esta estrutura também incluiu o nome de António Costa na sua lista de candidatos desejáveis à presidência da Câmara.
Na mesma lista entregue na semana passada pelo Secretariado da Concelhia à direcção nacional do PS, além de Seguro e Costa, constavam a deputada Maria de Belém e a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.»
Diário Digital / Lusa
A isto chama-se descarada e intensa pressão pública. No limiar do desespero político. É óbvio que os tais membros do secretariado estão a pressionar em nome de José Sócrates. Depois da candidatura de Helena Roseta ter subido a fasquia, o secretário-geral do PS precisa desesperadamente do melhor candidato possível. Costa, evidentemente, enquadra-se nesse perfil.
Adiante. Percebo, muito claramente, o que Sócrates tem a ganhar com a candidatura de António Costa. Porém, do seu ponto de vista, avaliados os prós e os contras, os desafios e as oportunidades, o quadro que emerge é ligeiramente diferente.
Ainda bem que o PS escolheu antonio costa porque assim dá a vitória a Helena Roseta.
Com tantas candidaturas à câmara no horizonte, e sem subvenções, não estou certo que haja bragaparques que chegue para todos.
Com a aproximação eleições intercalares para a autarquia de Lisboa o debate em torno do funcionamento dos partidos vai regressar ainda os partidos não adiantaram nenhum candidato e já há três “independentes” (pintados de fresco) disponíveis para se candidatarem, Helena Roseta, Fontão de Carvalho e Carmona Rodrigues.
Mesmo sendo os piores exemplos de independentes, são gente que viveu à sombra dos partidos ou que beneficiaram deles para obterem protagonismo pessoal, não deixa de ser verdade que os partidos portugueses são cada vez menos partidos para passarem a ser organizações semi-secretas onde as teias de relacionamento pessoal e os interesses que giram à sua volta são mais importantes do que os vínculos ideológicos que unem os seus militantes.
Os partidos que têm estado no poder há muito que deixaram de ser partidos, são “Cavalos de Tróia” que servem para conquistar o poder e repartir o saque por aqueles que o empurram.
O PSD de Marques Mendes nada tem que ver com o de Santana Lopes e comparad com o de Sá Carneiro apenas tem ligeiras semelhanças, o que o caracteriza não é uma ideologia mas sim quem lá manda e os que os suportam, que serão os primeiros beneficiários caso o actual líder chegue ao poder.
O PS de Sócrates é muito mais próximo do PSD de Cavaco Silva do que o PS de Ferro Rodrigues, se o PS de Ferro fosse Governo o PS de Sócrates teria mais argumentos para fazer oposição do que o PSD de Sócrates tem para se opor ao actual governo.
Os aparelhos partidários há muito que deixaram de ter valores, princípios ou ideologia, unem-se em torno de capos (os homens do aparelho) a quem cabe partilhar os saques e apoiam aquele que as sondagens indicam como os mais fortes. Os mesmos que no passado ridicularizaram Marques Mendes são os seus actuais defensores, da mesma forma que os que diziam cobras e lagartos de Sócrates, quando este andava a mendigar concelhias, são os que agora promovem o culto da personalidade e quase agridem quem ouse criticar o chefe.Mais do que debater o que é ser esquerda ou o que é ser direita talvez mereça a pena discutir o que deve ser um partido no século XI e questionar porque razão num mundo de cada vez mais democracia os partidos são organizações cada vez menos transparentes.
Helena Roseta desistiu do PS. É natural, muitos de nós estamos a desistir do PS, mesmo os que não são militantes.
Tudo o que se tem passado na Câmara de Lisboa é uma vergonha para todos os partidos. Não se pode conceber que o calculismo político, os arranjinhos, as cobardias e o aparelhismo tolham desta forma a governação da capital do país.
É bom e meritório que ainda existam pessoas que estejam dispostas a lutar pelas suas ideias, que tenham ambição de participar porque acreditam nelas e nas suas propostas, à margem do emperramento partidário.
Seria muitíssimo bom que se gerassem grupos de cidadãos que se mobilizassem e apoiassem essas pessoas. A tal sociedade civil de que tanto se fala e que tão pouco se vê.
António Barreto, no seu último e excelente programa da série Portugal, Um Retrato Social, falou da administração pública, da falta de produtividade de toda a administração pública, da corrupção, do poder autárquico, dos interesses que se movem e se entrecruzam, dos que se sentem donos nos vários sectores da administração, da promoção do partidarismo e da falta de importância do mérito e da competência.
Mas não é obrigatório, não é preciso que assim seja. Há que perceber e que intuir que a administração pública é para servir o público, que os serviços existem para servir a população e não as classes profissionais que integram os vários sectores, que é possível fazer mais e melhor.
Os nossos governantes deveriam ser os primeiros a pensar no bem comum.
O PS e, especificamente, José Sócrates, têm uma enorme responsabilidade nesta trapalhada. Quem é a figura que se prestará a concorrer como cabeça de lista? António José Seguro, João Soares, Manuel Maria Carrilho, Ana Gomes, Sérgio Sousa Pinto, António Vitorino (o eterno), Edite Estrela, Vitalino Canas, Maria de Belém? Quem será a misteriosa arma secreta?
E porque não Helena Roseta, enquanto ainda era militante do PS? Porque não tem currículo, peso político, porque é uma não alinhada?
Espero que haja outras pessoas a avançarem como independentes para as eleições intercalares em Lisboa, pessoas com vontade de trabalhar, que discutam as várias opções, as ideias que cada uma tem para a cidade, por exemplo Maria José Nogueira Pinto.
É tempo de abanar o status quo. E além disso, era muito mais interessante!
Armadilha
Não me parece boa ideia (pelo contrário) a aventada candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. Primeiro, tratando-se de um dos esteios mais sólidos do Governo, com dossiers pesados em curso, a sua saída vai dar um sinal de enfraquecimento do executivo, para além da dificuldade de encontrar um substituto do seu gabarito. Segundo, mesmo que tenha boas hipóteses de vencer as eleições, o lugar de presidente da câmara municipal da capital é um verdadeiro "assadouro" político nas actuais circunstâncias, dada a caótica situação do município, o seu estado de falência financeira e a manutenação de uma maioria do PSD na assembleia municipal, o que inviabiliza qualquer gestão eficiente.
Não compreeendo como é que Sócrates pode patrocinar uma solução tão arriscada e problemática, desde logo para o Governo.
Vital Moreira
O candidato socialista, seja ele quem for, pelo andar da carruagem, terá três candidatos rivais no arco que vai do BE ao PS: Ruben de Carvalho, José Sá Fernandes e Helena Roseta. Goste-se ou não deles, todos são candidatos credíveis. Todos conhecem bem os dossiers de Lisboa. Pela parte que lhes toca, o candidato socialista não terá a vida fácil.
Tal como não terá a vida fácil por ser o candidato oficial de Sócrates, i.e. do Governo. Será ele o único penalizado pelo voto de protesto que inevitavelmente se fará sentir.
Pior. Nesta altura, é mais ou menos garantida a pulverização dos votos à esquerda, o mesmo não sendo ainda claro se acontecerá à direita.
Em suma, a única coisa que joga a favor do candidato socialista é o descontentamento popular com o actual executivo camarário, mas mesmo isso me parece muito relativo.
Uma missão e uma visão para Lisboa
A capital não necessita de quem lhe prometa o céu, mas de quem, lavando-lhe humildemente os pés, a prepare para as caminhadas de um futuro a que só Lisboa pode ambicionar.
Talvez não seja necessário prometer apenas "sangue, suor e lágrimas" aos lisboetas para apresentar uma candidatura séria à Câmara de Lisboa. Mas será indispensável falar verdade aos eleitores e dizer-lhes que estes são tempos de emergência na cidade-capital.
Quem quer que se candidate à presidência da Câmara de Lisboa deve, se quiser fazê-lo com seriedade e, suspeito, se quiser ser eleito, evitar fazer qualquer promessa gloriosa. Bem pelo contrário: deve tornar claro que este não é tempo de promessa, antes tempo de arrumar uma casa que a irresponsabilidade de sucessivas gestões autárquicas (para além de muitos outros motivos que não se podem agora detalhar) deixou em cacos. A edilidade Lisboa não é hoje apenas um fidalgo arruinado que ainda simula a opulência apesar de já nem ter dinheiro para pagar as velas: a este fidalgo já nem a simulação de opulência é possível porque ninguém lhe dá crédito pois sabe que, se o fizer, enfrentará mais uma calote.
Vamos ser claros: talvez ainda não falte o papel higiénico nas casas de banho dos Paços do Concelho, tal como ainda não deixou de acender as luzes que alumiam, à noite, a estátua do Marquês, mas isso pode acontecer e antes do final do ano. Tal como podem ficar salários por pagar se não for possível contrair mais empréstimos. Tal como as ruas podem deixar de ser lavadas por faltar água nas torneiras municipais. Em Lisboa o problema vai muito para além da dívida monstruosa da sua autarquia. Em Lisboa o problema começa na impossibilidade de conservar o que, de forma megalómana, se foi construindo, continua na impossibilidade continuar a manter a mais kafkiana burocracia de toda a nossa administração pública e acaba no que está à vista de todos e Paulo Varela Gomes descrevia há dois dias neste jornal: uma das mais belas e mais marcantes cidades do mundo sucumbe ao mau urbanismo, definha entre ruínas de casas vazias, cheira mal quando nos afastamos das artérias mais importantes.
Lisboa necessita de quem por ela se sacrifique em nome de uma missão - pôr ordem em casa devastada e armadilhada - sem a qual não se pode construir uma visão - a de devolver Lisboa ao seu estatuto de grandeza.
Lisboa necessita de quem tenha lido o arquitecto Keil do Amaral e percebido como uma cidade sem grandes monumentos é uma cidade monumental. Tal como necessita de alguém que ouça o mais avisado conselho sobre a gestão da capital, um conselho que ouvi formular, há mais de 25 anos, a Nuno Portas, porventura o mais respeitado dos nossos urbanistas: a capital não precisa de grandes obras, antes de infindáveis retoques que lhe permitam cerzir uma malha urbana violentada, rasgada e atormentada.
Túneis? Casinos? Palácios de congressos? Ambiciosos museus? Mais parques de estacionamento? Mais habitação social? Festas vistosas e muito fogo-de-artifício? Seria bom, seria mesmo um enorme sinal de maturidade que os lisboetas escorraçassem quem lhes vier com tais conversas. Ou quem entrar em campanha como quem entra num ajuste de contas, numa competição para saber quem mais hipotecou o futuro de Lisboa.
Peçam antes uma cidade com menos burocratas, uma câmara com menos funcionários, uma edilidade com menos empresas de gestão não transparente. Peçam antes quem saiba dizer "não" aos que fazem de Lisboa o seu feudo para a especulação, aos que vivem das mordomias e sinecuras municipais, aos que complicam o que devia ser fácil para justificar o seu emprego e o seu pequeno poder de burocrata.
Se a cidade necessita de ser recomposta, "cerzida", e dispensa obras grandiosas, todas as estruturas e processos municipais têm de ser questionados, revistos e reduzidos ao que é a sua missão: servir bem, depressa e com equidade os cidadãos.
Para os lisboetas ainda não chegou a hora de verterem o seu sangue, o seu suor e as suas lágrimas - mas para os lisboetas só devem servir os que estiveram dispostos a fazê-lo por eles. Pois se não o fizerem já, se para Lisboa vieram movidos por outras ambições, serão os lisboetas que pagarão o preço de outros equívocos. E também todos os portugueses, pois Lisboa também é deles.
José Manuel Fernandes,
no:Público, 12-05-2007 |
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