segunda-feira, 25 de junho de 2007

O DESVARIO DOS SOCIALISTAS

A partir do final dos anos 30, o Estado Novo lançou-se na volúpia das grandes obras públicas. Sob o comando de Duarte Pacheco, acumulando o cargo de ministro das Obras Públicas com o de presidente da Câmara de Lisboa, lançaram-se os grandes projectos emblemáticos do regime, ao estilo arquitectónico grandiloquente do fascismo italiano: a Gare Marítima de Alcântara, o Estádio Nacional, o Técnico, a ponte de Vila Franca, o aterro de Belém, destinado a preparar o terreno para o que viria a ser o culminar dessa imensa demonstração de capacidade de realização e modernismo: a Grande Exposição do Mundo Português, de 1940. Lá longe, no outro extremo da Europa, também o estalinismo se lançava nos grandes projectos megalómanos servidos por uma arquitectura monumental e esmagadora, como que destinada a mostrar aos cidadãos que eles nada eram ao pé da dimensão imensa do Estado.

Não pretendo que as grandes obras públicas dos países pobres tenham apenas uma função de propaganda dos regimes.
Muitas foram e continuam a ser úteis, mas todas elas ilustram duas crenças comuns à direita e à esquerda: a crença de que para muitos males nada melhor do que poucas e grandiosas soluções, de que as obras públicas monumentais são o instrumento mais apetecível; e a crença de que o Estado é o motor da economia.
Portugal conhece várias destas demonstrações, saldadas por outros tantos elefantes brancos: Sines, Cahora-Bassa, Alqueva, a Exponor, o CCB.

Todos os dias pagamos a factura dessas ilusões.

Eu acredito, pelo contrário, que, para muitos males simultâneos, devem existir muitas e adequadas soluções.
Parece-me fácil e barato pôr termo às condições miseráveis e degradantes que ainda se vivem em tantos hospitais públicos; parece-me fácil e barato acabar de vez com as condições de vida humilhantes de tanta gente nas grandes cidades, aproveitando os terrenos públicos, em lugar de os entregar à especulação imobiliária.
O que me custa a entender é que se queiram gastar biliões num aeroporto novo cuja necessidade está por provar, e mais uns biliões num TGV para o qual se desconfia que não haverá utilizadores que o justifiquem, ao mesmo tempo que há gente a viver como nos subúrbios de África e a tratar da saúde em hospitais que parecem saídos da Idade Média.
Custa-me a aceitar a convivência entre o luxo e a miséria, entre um país pobre e um Estado esbanjador.

Os nossos socialistas modernos têm dois fascínios fatais: as obras públicas e os interesses privados.
A simbiose que daqui resulta é a pior possível.
O Estado, empenhado em mostrar grande obra a qualquer preço, contrata com os grandes interesses privados tudo e mais alguma coisa: as estradas, as telecomunicações, o ensino, a saúde, a defesa. E dá de si tudo o que tem para dar: terrenos e dinheiros públicos, património e paisagem, empreitadas e fornecimentos, concessões e direitos de toda a espécie.
A confusão de funções, de papéis e de interesses entre o público e o privado que daqui resulta é total e perturbante.
Anteontem, na apresentação do TGV (e tal como já havia sucedido com a da Ota), o Governo falou, não para o país ou os seus representantes, mas para uma plateia seleccionada dos grandes clientes privados dos negócios públicos: bancos, seguradoras, construtoras, empresas de estudos, gabinetes de engenharia e escritórios de advocacia. E o discurso foi lapidar: Meus amigos: temos aqui 600 quilómetros de TGV a construir e dez mil milhões de euros a gastar. Cheguem-se à frente e tratem de os ganhar!.

Dois dias antes, na Assembleia da República, o PS uniu-se como um todo para votar contra a proposta do PP, apoiada por toda a oposição, para que o estudo de uma alternativa à Ota contemplasse também aquela que é a solução que o bom-senso defende: a da chamada Portela±1.
No dia seguinte, no Público, o americano do MIT Richard Neufville, uma autoridade mundial em aeroportuária, explicava por que razão a questão do aeroporto de Lisboa se resolveria melhor e infinitamente mais barato com o simples aproveitamento de uma pista já existente e a construção de infra-estruturas mínimas e eficazes para as low-cost.
Mas os deputados socialistas, representantes nominais do interesse público, não querem sequer que a solução seja considerada.
Porquê?
A resposta só pode ser uma: porque na Ota e no TGV estão em jogos muitos interesses, muitos biliões, que o Governo promove e protege e que o partido compreende.

Temos agora a questão do TGV.
Das três linhas previstas - Porto/Vigo, Porto/Lisboa e Lisboa/Madrid -, apenas a Porto/Lisboa se mostra necessária e eventualmente rentável - e isto porque a experiência de um anterior governo socialista com os pendulares, após milhões investidos e estudos feitos, se revelou um fiasco. Mas Porto/Vigo e Lisboa/Madrid ninguém sabe para que servirão.
Não há estudos sobre a utilização prevista e a relação custo-benefício da sua construção.
Depois de tranquilamente nos esclarecerem que, quanto aos custos de construção, a hipótese de a sua amortização ser realizada com as receitas de exploração é totalmente para esquecer, a própria secretária de Estado dos Transportes duvida de que, por exemplo, a linha para Madrid consiga ser auto-sustentável. Ou seja, depois de um investimento de dez mil milhões de euros a fundo perdido, preparam-se para aceitar tranquilamente um défice permanente de exploração.
Quanto é que ele poderá vir a ser, ninguém sabe, porque não se estudou o mercado para saber se haverá passageiros que justifiquem três comboios diários para Madrid.

Mas, para que os privados, que ficarão com a concessão por troços, não se assustem com a vulnerabilidade do negócio, o Governo garante-lhes antecipadamente o lucro, propondo-se pagar-lhes segundo a capacidade instalada e não segundo a capacidade utilizada.
Isto é, se num comboio com trezentos lugares só trinta forem efectivamente ocupados, o Governo garante às concessionárias que lhes pagará pelos 270 lugares vazios.
Todos os dias, três vezes ao dia para Madrid e eternamente, até eles estarem pagos e bem pagos.
Eis o que os socialistas entendem por obras públicas e iniciativa privada!

Alguma coisa deve estar tremendamente confusa na cabeça dos socialistas e do engenheiro José Sócrates.
Eles não perceberam que não são nenhuma comissão liquidatária dos dinheiros e património públicos em nome dos superiores interesses da economia (agora, vai a ria de Alvor, em projecto PIN...).
Eles não perceberam que o interesse público não é construir aeroportos e comboios de luxo de que o país não precisa, para estimular a economia e encher de dinheiro fácil empresários que não sobrevivem sem o Estado; que não é entregar todo o património natural e a paisagem protegida a especuladores imobiliários sem valor nem qualificação; que não é emprestadar o CCB ao comendador Berardo para lhe resolver o problema de armazenamento da sua colecção de arte.
Se isto é a esquerda, que venha a direita!


Miguel Sousa Tavares

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7 Comments:

At 25 de junho de 2007 às 13:19, Anonymous Anónimo said...

quando é o dignissio exm.o senhor rei da bugalheira e arredores se digna a abrir as piscinas de ponte de sor. está com dor de corno das piscinas fantásticas de de galveias. é que um dia deste a malta de ponte de está toda a banhos em galveias e ainda bem porque realmente as pisicnas são um regalo. em ponte de sor estão fechadas....

 
At 25 de junho de 2007 às 14:22, Anonymous Anónimo said...

Somos um país de culpados. Mesmo quando o Governo não nos culpa directamente pelo estado anémico do país, faz com que fiquemos com a sensação que somos uma espécie de bandoleiros à solta que assaltamos Portugal. Parece que, se não existissem portugueses como nós, este era um sítio feliz para se viver.
Temos sol e temos, sobretudo, um Governo que é como um pica-pau: nunca pára de fazer barulho. O Governo culpa-nos. É capaz de ser verdade, se pensarmos um pouco. Gastamos muito. Fazemos pouco. Ganhamos muito. Tomamos muitos comprimidos. Estudamos pouco. Não queremos a Ota. Não queremos pagar mais taxas moderadoras na saúde e que nos poderão fazer poupar milhões de euros. Não queremos fechar serviços de saúde. Imagine-se, mesmo, que dentro dos próprios deputados do PS há quem duvide da santidade da actuação do Governo neste sector: como é possível? Procuramos, imagine-se, felicidade e uns anos de reforma. Duvidamos das estatísticas que o Governo generosamente nos fornece e que mostram que o país caminha para o paraíso. O Governo é bonzinho como o Floribella. Só os portugueses é que não entendem que o país se pode tornar uma telenovela se ele governar sem ser questionado. E sem o chatearem. Não temos vergonha de passar a vida a envergonhar este Governo que até permite que a oposição possa ter ideias depois dele próprio as ter abençoado. Os portugueses não merecem o Governo que elegeram. Só há uma solução: é percebermos que estamos a mais neste país. E irmos embora daqui.

 
At 25 de junho de 2007 às 14:24, Anonymous Anónimo said...

Não sei se o Estado ainda se define a si próprio como “uma pessoa de bem”.

Aqui há uns anos fazia questão em apresentar-se como tal mas os costumes mudam: agora também já quase ninguém dá o lugar às senhoras. Mas a questão é que se o Estado, aqui há uns tempos, ainda pretendia passar por “pessoa de bem”, agora parece que faz gala em exibir-se como um labrego, de mau carácter, por vezes mesmo um bandalho.

Casos recentes. Uma professora, sexagenária e doente oncológica, foi obrigada por uma junta médica a regressar à escola e a cumprir 31 dias de trabalho para poder voltar a meter baixa e continuar a receber salário, acabando por conseguir a aposentação uma semana antes de morrer. Uma cidadã escreveu um ‘e-mail’ ao Governo denunciando a hipótese da empresa onde trabalhava, e que estava em processo de dissolução, estar em situação de fuga ao Fisco. O ‘e-mail’ foi reencaminhado pelos destinatários para a administração da empresa, identificando a autora. A administração não procedeu disciplinarmente, mas cortou drasticamente a indemnização paga à cidadã, pela dissolução da empresa. Um cidadão, no exercício particular da cidadania, participou num protesto contra a entrega do Teatro Municipal do Porto a um empresário privado. A Câmara do Porto filmou a manifestação, isolou a imagem do cidadão e pespegou com ela no ‘site’ da Câmara, identificando o manifestante pelo nome e pelas funções profissionais que desempenha.

Passam-se coisas destas e parece que nada se passa. O Estado é um espremedor, um aparelho que não tem alma, nem sensibilidade, nem educação, não lida com pessoas, com cidadãos, mas com meros utentes e pagantes compelidos dos gastos e vícios públicos. E trata-os mal, ainda por cima.

 
At 25 de junho de 2007 às 16:56, Anonymous Anónimo said...

OPA sobre o país

24.06.2007, António Barreto Retrato da Semana (in Público)

"É a tentativa visível e crescente de o Governo tomar conta, orientar e vigiar. Quer saber tudo sobre todos. Quer controlar.

Não. Não se trata do lançamento de mais uma OPA sobre empresa ou clube desportivo. É, simplesmente, a tentativa visível e crescente de o Governo tomar conta, orientar e vigiar. Quer saber tudo sobre todos. Quer controlar.

Quando o Governo de Sócrates iniciou as suas funções, percebeu-se imediatamente que a afirmação da autoridade política era uma preocupação prioritária. Depois de anos de hesitação, de adiamentos e de muita demagogia, o novo primeiro-ministro parecia disposto a mudar os hábitos locais. Devo dizer que a intenção não era desagradável. Merecia consideração. A democracia portuguesa necessita de autoridade, sem a qual está condenada. Lentamente, o esforço foi ganhando contornos. Mas, gradualmente também, foi-se percebendo que essa afirmação de autoridade recorria a métodos que muito deixavam a desejar. Sócrates irrita-se facilmente, não gosta de ser contrariado. Ninguém gosta, pois claro, mas há quem não se importe e ache mesmo que seja inevitável. O primeiro-ministro importa-se e pensa que tal pode ser evitado. Quanto mais não seja colocando as pessoas em situação de fragilidade, de receio ou de ameaça.

Vale a pena recordar, sumariamente, alguns dos instrumentos utilizados. A lei das chefias da Administração Pública, ditas de "confiança política" e cujos mandatos cessam com novas eleições, foi um gesto fundador. O bilhete de identidade "quase único" foi um sinal revelador. O Governo queria construir, paulatinamente, os mecanismos de controlo e informação. E quis significar à opinião que, nesse propósito, não brincava. A criação de um órgão de coordenação de todas as polícias parecia ser uma medida meramente técnica, mas percebeu-se que não era só isso. A colocação de tal organismo sob a tutela directa do primeiro-ministro veio esclarecer dúvidas. A revisão e reforma do estatuto do jornalista e da Entidade Reguladora para a Comunicação confirmaram um espírito. A exposição pública dos nomes de alguns devedores fiscais inscrevia-se nesta linha de conduta. Os apelos à delação de funcionários ultrapassaram as fronteiras da decência. O processo disciplinar instaurado contra um professor que terá "desabafado" ou "insultado" o primeiro-ministro mostrou intranquilidade e crispação, o que não é particularmente grave, mas é sobretudo um aviso e, talvez, o primeiro de uma série cujo âmbito se desconhece ainda. A criação, anunciada esta semana, de um ficheiro dos funcionários públicos com cruzamento de todas as informações relativas a esses cidadãos, incluindo pormenores da vida privada dos próprios e dos seus filhos, agrava e concretiza um plano inadmissível de ingerência do Estado na vida dos cidadãos. Finalmente, o processo que Sócrates intentou agora contra um "bloguista" que, há anos, iniciou o episódio dos "diplomas" universitários do primeiro-ministro é mais um passo numa construção que ainda não tem nome.

Não se trata de imperícia. Se fosse, já o rumo teria sido corrigido. Não são ventos de loucura. Se fossem, teriam sido como tal denunciados. Nem são caprichos. É uma intenção, é uma estratégia, é um plano minuciosamente preparado e meticulosamente posto em prática. Passo a passo. Com ordem de prioridades. Primeiro os instrumentos, depois as leis, a seguir as medidas práticas, finalmente os gestos. E toda a vida pública será abrangida. Não serão apenas a liberdade individual, os direitos e garantias dos cidadãos ou a liberdade de expressão que são atingidos. Serão também as políticas de toda a espécie, as financeiras e as de investimento, como as da saúde, da educação, administrativas e todas as outras. O que se passou com a Ota é bem significativo. Só o Presidente da República e as sondagens de opinião puseram termo, provisoriamente, note-se, a uma teimosia que se transformara numa pura irracionalidade. No país, já nem se discutem os méritos da questão em termos técnicos, sociais e económicos. O mesmo está em vias de acontecer com o TGV. E não se pense que o Governo não sabe explicar ou que mostra deficiências na sua política de comunicação. Não. O Governo, pelo contrário, sabe muito bem comunicar. Sabe falar com quem o ouve, gosta de informar quem o acata. Aprecia a companhia dos seus seguidores, do banqueiro de Estado e dos patrícios das empresas participadas. Só explica o que quer. Não explica o que não quer. E só informa sobre o que lhe convém, quando convém.

Éverdade que o clima se agravou com o tempo. Nem tudo estava assim há dois anos. A aura de determinação cobria as deficiências de temperamento e as intenções de carácter. Mas dois conjuntos de factos precipitaram tudo. O caso dos diplomas e da Universidade Independente, a exibir uma extraordinária falta de maturidade. E o novo aeroporto de Lisboa, cujo atamancado processo de decisão e de informação deixou perplexo meio país. A posição angélica e imperial do primeiro-ministro determinado e firme abriu brechas. Seguiu-se o desassossego, para o qual temos agora uma moratória, não precisamente a concedida aos estudos do aeroporto, mas a indispensável ao exercício da presidência da União Europeia.

De qualquer modo, nada, nem sequer este plano de tutela dos direitos e da informação, justifica que quase todos os jornais, de referência ou não, dêem a notícia de que "o professor de Sócrates" foi pronunciado ou arguido ou acusado de corrupção ou do que quer que seja. Em título, em manchete ou em primeira página, foi esta a regra seguida pela maior parte da imprensa! Quando as redacções dos jornais não resistem à demagogia velhaca e sensacionalista, quase dão razão a quem pretende colocá-las sob tutela... "

 
At 25 de junho de 2007 às 19:19, Anonymous Anónimo said...

Então as piscinas das Galveias são um regalo oh parasita comuna?! Quem diria!! Para quem se preocupa com ilegalidades nas obras de Montargil, é de estranhar como conseguem apoiar as piscinas das Galveias.

 
At 25 de junho de 2007 às 23:54, Anonymous Anónimo said...

Os vigaristas vão sendo desmascarados, o PS está cheio de podridão, vigaristas, corruptos a quem as verdades os incomodam muito, é no governo é nos departamentos regionais é nas câmaras. Os blogues eles não conseguem controlar nem com ameaças nem com processos, vamos sabendo as verdades na hora, eles vão sendo desmascarados.

 
At 26 de junho de 2007 às 10:48, Anonymous Anónimo said...

quando é que abrem as piscinas de ponte sor. já deviam ter aberto no dia 1 junho. será que o bugalheira não tem dinheiro para por lá pessoal? que vergonha de socialistas da merda

 

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