O AUTOMÓVEL E OS IMPOSTOS
O monstro(Estado português) está viciado em impostos: tem o apetite de um ogre, com as exigências de requinte de um Pantagruel.
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Quando compramos um automóvel em Portugal podemos afirmar com segurança que metade do seu valor são impostos.
Se alguém perguntar a um possuidor de um automóvel se este é confortável, económico e seguro, o proprietário pode em alternativa dar uma de duas respostas: ou dizer que tem um carro da marca x, confortável e que anda muito bem. Ou dizer que tem um imposto automóvel sobre o qual incide IVA, e que só gasta 7 litros aos 100…
Qualquer das descrições é igualmente exacta, embora o Estado prefira a primeira, pois a segunda é impopular e, traz-lhe, pela mão da Comissão Europeia, muitos problemas.
É do conhecimento geral que, tanto Portugal como a Polónia incluem o montante do imposto automóvel, presentemente ISV, no valor tributável do IVA.
Por palavras mais simples, pagamos IVA sobre Imposto Municipal Sobre Veículos.
O Estado Português já sabia que era só uma questão de tempo até que a Comissão Europeia notificasse Portugal para alinhar a legislação nacional com o direito comunitário. Isto é, deixar de aplicar IVA sobre o ISV.
No processo C-98/05, o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (TJCI), analisou se, no caso de fornecimento de meios de transporte, o valor tributável do IVA deve ou não incluir o montante do Imposto de matrícula, que normalmente o fornecedor paga às autoridades fiscais e o comprador paga depois ao fornecedor, juntamente com o preço do veículo.
O processo em causa referia-se à Dinamarca, mas tem uma natureza semelhante ao caso português.
Segundo o acórdão do Tribunal de Justiça da Comissão Europeia, no quadro de um contrato de venda que preveja que o distribuidor entregue um veículo já matriculado por um preço que englobe um imposto de matrícula que pagou antes da entrega do veículo, o montante desse imposto não pode ser incluído no valor tributável do IVA a aplicar à venda do veículo.
Tal encontra justificação, em primeiro lugar, no facto do imposto de matricula ser aplicado a título da matricula do veículo e não a título do fornecimento do mesmo e, em segundo lugar, na circunstância de o referido imposto ser pago pelo fornecedor do veículo por conta do cliente.
Mas o que é que isto quer dizer na prática?
– pode perguntar o caro leitor.
Quer dizer que teremos de esperar um ano e meio a dois anos até que Portugal seja condenado pelo Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias, dado que o Ministro das Finanças já disse não se conformar com a posição da Comissão e que irá recorrer.
O Estado Português pode ter consciência que vai ser condenado mas isso não o impede de atirar o problema para a frente e, entretanto, arrecadar milhões de euros para alimentar a máquina do Estado. Aliás, o monstro tem um apetite de um ogre, com as exigências de requinte de um Pantagruel.
Ou seja, escusado será dizer, que o Estado Português está viciado em impostos, muitos impostos, cada mais impostos, e não quer cortar na gordura, no desperdício e na despesa improdutiva.
E o que pode o cidadão comum fazer para receber o seu dinheiro de volta?
A primeira coisa é não esperar que o Estado se comporte exemplarmente, pois não o vai fazer. Assim, o que se sugere é que se junte com mais um grupo de amigos, ou colegas, e iniciem uma acção contra o Estado, com os fundamentos mencionados no presente artigo.
Essa acção terá que ser proposta nos tribunais tributários e, só após o esgotamento das possibilidades de recurso em Portugal, é que poderá dirigir-se ao TJCE.
Ora, dada a falta de celeridade da justiça portuguesa, pode desde já instaurar o processo, porque entretanto, o TJCE decidirá, condenando o Estado Português, e os tribunais tomarão em consideração essa mesma decisão, dando razão aos contribuintes.
E, se calhar, até consegue receber mais algum dinheirinho, caso peça uma indemnização pelos prejuízos causados, com a agravante de que o Estado conhecia, ou devia conhecer, que estava a exigir aos contribuintes um imposto em violação de lei, mais especificamente do sistema comum de IVA na União Europeia.
É que o desconhecimento da lei não aproveita a ninguém…nem ao Estado.
Tiago Guerreiro
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